Return to Video

Do que minhas filhas precisam | Marcos Piangers | TEDxUnisinos

  • 0:07 - 0:10
    Eu não conheci meu pai biológico.
  • 0:10 - 0:13
    A minha mãe fez amor com alguém,
  • 0:13 - 0:16
    e depois nunca mais me contou
    quem era esse cara.
  • 0:17 - 0:20
    Aí quando você é criança ou jovem,
    você começa a criar, né?
  • 0:20 - 0:23
    Você assiste a Star Wars e acha
    que você é o Luke Skywalker
  • 0:23 - 0:28
    e em algum momento vai vir o Darth Vader
    e te levar para o lado negro da força.
  • 0:28 - 0:30
    Eu fiquei pensando: "Mano,
    quem será que é meu pai?"
  • 0:30 - 0:32
    Meus primos começaram com umas histórias,
  • 0:32 - 0:34
    de que meu pai era
    um mergulhador aventureiro,
  • 0:34 - 0:36
    que morreu antes de eu nascer.
  • 0:36 - 0:40
    E aí eu descobri que minha mãe era amiga
    do Falcão, do Inter, e aí eu disse:
  • 0:40 - 0:41
    "Meu, é o meu pai." (Risos)
  • 0:41 - 0:43
    "Meu pai é o Falcão
    do Inter, velho." (Risos)
  • 0:43 - 0:46
    "E um dia eu vou ser afilhado
    da Cristina Ranzolin."
  • 0:46 - 0:47
    (Risos)
  • 0:48 - 0:49
    E aí depois eu fiquei pensando:
  • 0:49 - 0:53
    "Pô, eu podia ser filho
    do Eike Batista, né velho?"
  • 0:53 - 0:54
    O cara mais rico. Não agora!
  • 0:54 - 0:58
    Mas na época que ele era mega rico,
    eu pensei: "Cara, esse podia ser meu pai."
  • 0:58 - 1:00
    Esse cara podia aparecer do nada e dizer:
  • 1:00 - 1:03
    "Piangers eu sou seu pai,
    e agora você é bilionário."
  • 1:03 - 1:05
    E eu: "Yes, papai, te amo!"
  • 1:05 - 1:07
    (Risos)
  • 1:08 - 1:10
    E aí em março desse ano,
    março de 2015,
  • 1:10 - 1:13
    a minha mãe descobriu um câncer no útero.
  • 1:14 - 1:15
    E...
  • 1:16 - 1:18
    ela decidiu contar quem é meu pai.
  • 1:19 - 1:21
    E o meu pai não é o Eike Batista.
  • 1:21 - 1:22
    (Risos)
  • 1:23 - 1:24
    O meu pai é só um cara, meu.
  • 1:24 - 1:26
    É só um cara.
  • 1:26 - 1:31
    É um cara com quem ela se relacionou,
    engravidou e eu nasci.
  • 1:33 - 1:36
    E essa é a história mais
    comum do mundo, velho.
  • 1:36 - 1:39
    Essa é a história mais
    comum do Brasil, cara.
  • 1:40 - 1:42
    Crianças nascendo sem os pais.
  • 1:43 - 1:45
    E a minha mãe foi meu pai.
  • 1:46 - 1:48
    E isso é uma lástima!
  • 1:48 - 1:50
    Porque ela me criou superbem,
  • 1:50 - 1:52
    mas é uma lástima para uma mulher
  • 1:52 - 1:56
    assumir todas as responsabilidades
    de ser pai, mãe, avó
  • 1:57 - 2:00
    e, enfim, professora
    e tudo ao mesmo tempo.
  • 2:00 - 2:04
    É uma lástima para criança,
    porque a criança cresce mais insegura.
  • 2:04 - 2:09
    E acho que por algum tempo eu fui
    meio agressivo no que eu falava ou fazia
  • 2:09 - 2:12
    porque justamente
    eu sentia essa insegurança.
  • 2:13 - 2:16
    E por último é uma lástima
    para o pai, velho,
  • 2:16 - 2:18
    porque ele não sabe o que ele perdeu.
  • 2:18 - 2:21
    Ele não sabe o que ele perde.
  • 2:21 - 2:24
    Cada cara que abandona
    uma mulher grávida
  • 2:24 - 2:27
    não sabe o que está perdendo, mano,
  • 2:27 - 2:28
    porque ter um filho...
  • 2:28 - 2:32
    Eu não sei como é ter um pai,
    mas eu sei como é ter um filho, mano,
  • 2:32 - 2:35
    e é a melhor coisa do mundo, velho.
  • 2:35 - 2:38
    Eu tenho duas filhas,
  • 2:38 - 2:42
    e às vezes eu acordo
    com uma me dizendo: "Papai!"
  • 2:42 - 2:45
    E é como se o sol estivesse do meu lado,
  • 2:45 - 2:47
    me iluminando;
    você se sente quentinho, cara.
  • 2:47 - 2:51
    Cada abraço de uma criança de três anos
    te economiza uma grana de psicólogo,
  • 2:51 - 2:54
    de psiquiatra daqui
    alguns anos, entendeu, mano.
  • 2:54 - 2:55
    (Risos)
  • 2:55 - 2:58
    Cada vez que você anda de mãos dadas
    com sua filha de dez anos,
  • 2:58 - 3:02
    e ela te contando histórias, você se sente
    a pessoa mais sortuda do mundo, cara.
  • 3:02 - 3:06
    E é isso que esses caras que abandonam
    mulheres grávidas perdem:
  • 3:06 - 3:08
    uma série de histórias, cara,
  • 3:08 - 3:13
    e uma série de momentos emocionantes,
    divertidos, interessantes.
  • 3:14 - 3:19
    E cada vez mais eu vejo que pais estão
    mais preocupados em ser mais presentes
  • 3:19 - 3:21
    e mais carinhosos, mais atenciosos.
  • 3:21 - 3:23
    E me parece que a gente
    vive um Zeitgeist,
  • 3:23 - 3:27
    um momento em que os pais
    são mais participativos, cara,
  • 3:27 - 3:31
    em que os pais querem essas historinhas,
    querem esse acordar perto dos filhos,
  • 3:31 - 3:34
    querem levar eles na creche,
    querem curtir essas historinhas.
  • 3:34 - 3:37
    E eu acho que a gente
    está chegando num ponto
  • 3:37 - 3:39
    em que a gente é
    os melhores pais da história,
  • 3:39 - 3:42
    porque lá nos anos 80, 70,
    vocês se lembram como eram os pais?
  • 3:42 - 3:43
    Os pais eram tipo mafiosos, tá ligado?
  • 3:43 - 3:46
    Você estava brincando de Lego
    na sala, chegava o pai: "Ohhh!"
  • 3:46 - 3:49
    Sua mãe dizia:
    "Chegou o pai, chegou o pai!"
  • 3:49 - 3:52
    Você saia correndo, todo mundo escondido,
    fingia que estava dormindo.
  • 3:52 - 3:55
    "Ai, acho que ele não me viu,
    acho que ele não me viu." Sabe?
  • 3:55 - 3:56
    Era um apavoro!
  • 3:56 - 3:58
    Mas agora, os nossos filhos
    nos acordam chutando:
  • 3:58 - 4:01
    "Pai, acorda!", e a gente:
    "Ai, filho eu te amo."
  • 4:01 - 4:02
    (Risos)
  • 4:02 - 4:05
    Porque a gente ama isso.
    A gente ama ser pai!
  • 4:05 - 4:07
    E isso é incrível!
  • 4:07 - 4:08
    A gente está sempre com culpa:
  • 4:08 - 4:11
    "Meu, eu sou um péssimo pai,
    não sei se eu escolhi a escola certa,
  • 4:11 - 4:14
    não sei se meu filho se alimenta bem."
  • 4:14 - 4:16
    Mas vocês se lembram como era nos anos 80?
  • 4:16 - 4:20
    A nossa mãe nos dava Ki-suco
    e bolacha Maria de almoço!
  • 4:20 - 4:21
    Eu andava no banco de trás sem cinto!
  • 4:21 - 4:23
    Hoje em dia minhas filhas
    têm a cadeirinha.
  • 4:23 - 4:26
    Fez sete anos, eu troco a cadeirinha
    rapidamente, no dia, saca?
  • 4:26 - 4:29
    Eu ia na cachorreira
    do Fiat 147, lá atrás.
  • 4:29 - 4:31
    Acontecia isso com vocês também? (Risos)
  • 4:31 - 4:34
    Nossos pais não estavam nem aí, velho!
    A gente é os melhores.
  • 4:34 - 4:36
    A melhor geração de pais está aqui:
  • 4:36 - 4:41
    os pais mais atenciosos, prestam
    mais atenção e que anotam essas histórias,
  • 4:41 - 4:44
    porque eu comecei a anotar
    essas histórias desde o primeiro dia
  • 4:44 - 4:46
    que a minha primeira
    filha nasceu, lá em 2005.
  • 4:47 - 4:51
    As pessoas falavam: "Ah, é amor
    à primeira vista, é um momento mágico!"
  • 4:51 - 4:52
    Não é, mano!
  • 4:53 - 4:54
    É tipo Alien. (Risos)
  • 4:54 - 4:58
    É um bebê saindo da barriga da sua mulher!
    A sua mulher toda estropiada!
  • 4:58 - 4:59
    Aquele bebê cheio de sangue!
  • 4:59 - 5:03
    As pessoas tinham me dito:
    "Você vai se apaixonar pela primeira vez."
  • 5:03 - 5:06
    Assim, amor a primeira vista.
    Não mano! É assustador!
  • 5:06 - 5:09
    Na primeira noite, minha mulher
    estava dando de mamar de um lado,
  • 5:09 - 5:11
    dando de mamar do outro.
  • 5:11 - 5:13
    Ela não aguentou mais, dormiu,
    e aí era comigo.
  • 5:13 - 5:17
    Eu chamei a enfermeira e disse assim:
    "Pelo amor de Deus, alguém me ajuda."
  • 5:17 - 5:19
    E a enfermeira disse:
    "Não velho, agora é com você."
  • 5:19 - 5:21
    (Risos)
  • 5:27 - 5:29
    Esse momento, era para ser romântico
  • 5:29 - 5:31
    porque as pessoas
    te dizem que é romântico.
  • 5:31 - 5:35
    E eu comecei a escrever sobre isso.
    Mano, eu não achei romântico.
  • 5:35 - 5:38
    E da primeira vez que as minhas filhas
    começaram a falar e contar histórias,
  • 5:38 - 5:41
    a minha filha, aos 5 anos,
    disse que queria casar.
  • 5:41 - 5:43
    Falei: "Por que você quer casar tão cedo?"
  • 5:43 - 5:46
    Ela disse: "Porque eu também
    quero mandar em alguém." (Risos)
  • 5:46 - 5:49
    E uma vez a gente estava
    andando no shopping,
  • 5:49 - 5:51
    eu mostrei o Papai Noel para ela:
    "Olha o Papai Noel!"
  • 5:51 - 5:54
    Ela olhou para mim e falou:
    "Pai, não é o Papai Noel,
  • 5:54 - 5:56
    é um cara vestido de Papai Noel." (Risos)
  • 5:56 - 5:59
    Aí minha segunda filha nasceu
    e é completamente ao contrário disso.
  • 5:59 - 6:00
    A primeira é supercerebral.
  • 6:00 - 6:04
    A segunda é super festiva, ela acredita
    em tudo: fadas, coelho, Papai Noel.
  • 6:04 - 6:05
    Ela acredita em lobo mau.
  • 6:05 - 6:08
    Às vezes eu digo para ela: "Eu sou
    o lobo mau", e ela: "Ah!" (Risos)
  • 6:08 - 6:10
    E eu digo: "Não, eu sou teu pai."
  • 6:10 - 6:14
    Daí ela: "Ai, que bom pai, o lobo mau
    tava aqui agora a pouco." (Risos)
  • 6:15 - 6:19
    E essas histórias eu fui escrevendo
    porque é incrível ser pai.
  • 6:20 - 6:23
    E esses textos foram para a internet,
  • 6:23 - 6:27
    e passaram a alcançar mais
    de 1 milhão de pessoas toda semana.
  • 6:27 - 6:30
    E aí, a gente transformou isso num livro,
  • 6:30 - 6:32
    um livro chamado "O Papai é Pop".
  • 6:34 - 6:36
    E aí a gente lançou esse livro.
  • 6:36 - 6:40
    E eu esperava que fosse
    vender, tipo, 300 cópias.
  • 6:40 - 6:43
    E aparentemente, o livro
    encontrou uma audiência
  • 6:43 - 6:47
    nesses pais que não abandonaram
    mulheres grávidas,
  • 6:47 - 6:50
    esses pais que decidiram ser pais, velho.
  • 6:50 - 6:53
    decidiram participar da maior
    missão de um ser humano,
  • 6:53 - 6:55
    que é criar uma outra pessoa, mano.
  • 6:55 - 6:59
    E esses pais leem os livros, se emocionam,
    e compartilham as suas histórias.
  • 6:59 - 7:02
    E esse é o meu pagamento, velho.
  • 7:02 - 7:07
    É isso que alimenta minha alma hoje:
    pais que contam como é bom ser pai,
  • 7:07 - 7:09
    e pais que abandonaram seus filhos
  • 7:09 - 7:11
    e voltam a conversar com os filhos
    por causa do livro,
  • 7:11 - 7:17
    e mães que criaram os filhos sozinhas
    e que agora ouvem essas histórias,
  • 7:17 - 7:19
    se identificam com a minha mãe
    e compartilham,
  • 7:19 - 7:24
    e criam uma comunidade de pessoas
    que se ajudam na paternidade,
  • 7:24 - 7:28
    na maternidade e na criação dessas
    pessoas incríveis que mudam a nossa vida.
  • 7:29 - 7:31
    E o livro chegou
    entre os mais vendidos do Brasil,
  • 7:31 - 7:35
    me levou para a Globo e eu fiquei amigo
    do Henri Castelli, tá ligado?
  • 7:35 - 7:36
    (Risos)
  • 7:36 - 7:39
    Que é a coisa mais bizarra
    do mundo para mim.
  • 7:40 - 7:44
    E o livro já vendeu mais de 50 mil
    exemplares, e isso gera dinheiro,
  • 7:45 - 7:48
    e toda a grana a gente vai devolver,
  • 7:48 - 7:52
    para crianças em situação
    de fragilidade social, meu,
  • 7:52 - 7:54
    para crianças que precisam de grana.
  • 7:54 - 7:55
    As minhas filhas estão bem.
  • 7:55 - 7:59
    Eu tenho o meu trabalho,
    faço minhas histórias,
  • 7:59 - 8:01
    consigo pagar o colégio delas.
  • 8:01 - 8:03
    Esse dinheiro do livro
    vai voltar para crianças,
  • 8:03 - 8:07
    porque o meu pagamento são as histórias
    que as pessoas compartilham.
  • 8:08 - 8:11
    As minhas filhas não precisam
    de grana mais, de mais dinheiro.
  • 8:11 - 8:13
    Eu não preciso de mais dinheiro.
  • 8:13 - 8:16
    As minhas filhas e eu, a gente precisa
    de um mundo mais justo para elas, velho.
  • 8:16 - 8:19
    A gente precisa de um mundo
    em que as mulheres
  • 8:19 - 8:22
    ganhem as mesmas coisas que os homens,
    que elas não sejam assediadas,
  • 8:22 - 8:26
    que a intimidade delas
    não vaze na internet.
  • 8:28 - 8:31
    A gente precisa de um mundo
    onde não aconteça com as minhas filhas
  • 8:31 - 8:34
    o que aconteceu com a minha mãe, velho,
  • 8:34 - 8:39
    que homens simplesmente abandonem
    mulheres grávidas e digam: "Te vira."
  • 8:39 - 8:42
    E ontem eu estava falando
    isso para a minha filha:
  • 8:42 - 8:45
    "Eu quero um mundo em que você ganhe
    a mesma coisa que os homens, Anita".
  • 8:45 - 8:48
    E ela me disse: "Não, pai,
    eu quero ganhar muito mais."
  • 8:48 - 8:50
    (Risos)
  • 8:51 - 8:55
    As duas histórias que eu mais ouço
    nos lançamentos do livro são,
  • 8:55 - 9:00
    primeira: "Eu também fui mãe solteira",
    ou "A minha mãe me criou sozinha",
  • 9:01 - 9:05
    a história mais comum do Brasil, velho,
    uma das histórias mais comuns do mundo.
  • 9:06 - 9:08
    E a segunda história que eu mais ouço
  • 9:08 - 9:12
    é: "Meu pai era incrível; eu amo meu pai."
  • 9:12 - 9:13
    Muito obrigado.
  • 9:13 - 9:16
    (Aplausos)
Title:
Do que minhas filhas precisam | Marcos Piangers | TEDxUnisinos
Description:

Marcos Piangers não conheceu o pai biológico. Por muitos anos, ele tentou descobrir quem seria o cara que nunca conheceu. Com discurso divertido e irreverente, o comunicador e apresentador do Pretinho Básico, Marcos Piangers, fez uma reflexão sobre sua própria vida, que é semelhante à história de milhares de pessoas que não sabem quem são seus pais.

As histórias sobre a paternidade se transformaram no livro Papai é Pop, assinado por Piangers. Um dos livros mais vendidos do Brasil, conta sobre a relação dele com suas duas filhas, Anita e Aurora. Marcos Piangers contou para os participantes do evento que todo dinheiro arrecadado será doado para instituições que cuidam de crianças vulneráveis. “Isso alimenta a minha alma”, finaliza Piangers.

Piangers trabalha com comunicação jovem e plataformas digitais no Grupo RBS, desde 2001. Nascido em Florianópolis, desde 2006 vive em Porto Alegre, onde participa do programa Pretinho Básico, da rádio Atlântida, ganhador do prêmio Melhores 2014 do iTunes, da Apple. Já deu aulas sobre humor e pensamento criativo, cobriu Olimpíadas e Copa do Mundo. Seu livro, Papai é Pop, é um dos mais vendidos do Brasil em 2015.

Esta palestra foi dada num evento TEDx, que usa o formato de conferência TED, mas é organizado de forma independente por uma comunidade local. Para saber mais, visite: http://ted.com/tedx

more » « less
Video Language:
Portuguese, Brazilian
Team:
closed TED
Project:
TEDxTalks
Duration:
09:22

Portuguese, Brazilian subtitles

Revisions Compare revisions