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Como sobreviver ao trauma? | Jean-Paul Mari | TEDxCannes

  • 0:19 - 0:21
    Bom dia.
  • 0:23 - 0:27
    No dia 8 de abril de 2003,
  • 0:28 - 0:32
    eu estava em Bagdá
    para cobrir a guerra do Iraque.
  • 0:32 - 0:37
    No momento em que os americanos
    entravam com seus tanques em Bagdá,
  • 0:38 - 0:44
    nós, alguns jornalistas, estávamos
    hospedados no hotel Palestine,
  • 0:44 - 0:49
    e por coincidência, a guerra
    estava vindo na nossa direção,
  • 0:49 - 0:52
    ela estava abaixo de nós,
    diante das nossas janelas.
  • 0:52 - 0:56
    Bagdá estava coberta
    de fumaça negra, de petróleo,
  • 0:57 - 1:00
    tudo fedia, mal dava para ver
    o que estava acontecendo.
  • 1:00 - 1:02
    E eu, é claro,
    tinha que escrever um artigo,
  • 1:02 - 1:06
    pois é quando as coisas acontecem
    que temos que escrever um artigo.
  • 1:06 - 1:09
    Então, eu estava no meu quarto
    no 16º andar, dividido:
  • 1:09 - 1:12
    ora eu escrevia, ora eu ia até a janela
  • 1:12 - 1:14
    para ver o que estava acontecendo.
  • 1:15 - 1:17
    Até que em algum momento
    houve um choque violento.
  • 1:17 - 1:20
    Fazia três semanas que a cidade
    estava sendo bombardeada
  • 1:20 - 1:23
    por mísseis e bombas de meia tonelada,
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    mas naquele momento,
    pude sentir o choque.
  • 1:29 - 1:33
    Senti que ele tinha ocorrido
    muito perto de mim.
  • 1:33 - 1:36
    Decidi então descer
    para ver o que estava acontecendo.
  • 1:36 - 1:41
    Desci até o 15º andar
  • 1:41 - 1:44
    e vi pessoas gritando
    pelos corredores, uns jornalistas.
  • 1:44 - 1:46
    Entrei num quarto
  • 1:46 - 1:51
    e logo percebi que um projétil
    tinha atingido esse quarto.
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    Havia alguém ferido.
  • 1:55 - 1:57
    Próximo à janela estava um homem,
  • 1:57 - 2:01
    um cinegrafista, chamado Taras Protsuyk,
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    que estava deitado de bruços.
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    Como eu já tinha trabalhado
    num hospital, decidi prestar socorro.
  • 2:12 - 2:16
    Virei o cinegrafista, e quando o fiz,
  • 2:18 - 2:24
    ele estava aberto do esterno ao púbis,
    mas eu não vi absolutamente nada.
  • 2:24 - 2:31
    Tudo que eu via era uma mancha branca,
    perolada, brilhante, que me cegava
  • 2:31 - 2:33
    e eu não entendia nada.
  • 2:33 - 2:37
    Então a mancha se dissipou
    e pude ver que a ferida era muito grave.
  • 2:37 - 2:40
    Com a ajuda de alguns colegas,
    o enrolamos num lençol
  • 2:40 - 2:44
    e descemos num elevador
    que parou em todos os 15 andares
  • 2:44 - 2:47
    e em seguida o pusemos num carro
    que o levaria até o hospital.
  • 2:47 - 2:51
    Ele morreu a caminho do hospital
    e o cinegrafista espanhol, José Couso,
  • 2:51 - 2:54
    que estava no 14º andar
    e também tinha sido atingido,
  • 2:54 - 2:56
    pois o obus tinha caído
    entre os dois andares,
  • 2:56 - 2:59
    morreu na mesa de operação.
  • 2:59 - 3:06
    Quando voltei, após o carro ter saído,
    ainda tinha que escrever um artigo.
  • 3:06 - 3:09
    Então, fui para o hotel.
  • 3:10 - 3:14
    Voltando para o hall,
    com os braços ensanguentados,
  • 3:14 - 3:17
    fui parado por um empregado iraquiano
  • 3:17 - 3:21
    que me pediu para acertar
    os dez dias de taxas que eu devia.
  • 3:21 - 3:23
    É claro que o mandei pastar.
    Pensei comigo mesmo:
  • 3:23 - 3:27
    "Deixa isso pra lá. Deixa isso pra lá.
  • 3:29 - 3:31
    Se quiser escrever,
    tem que deixar isso pra lá."
  • 3:31 - 3:34
    E foi o que fiz, subi,
    escrevi o artigo e o enviei.
  • 3:34 - 3:35
    Mas depois,
  • 3:37 - 3:41
    além da dor de ter perdido dois colegas,
  • 3:42 - 3:44
    havia algo mais me incomodando.
  • 3:44 - 3:48
    Eu revia aquela mancha,
    brilhante e perolada,
  • 3:50 - 3:53
    mas eu não entendia
    o que ela significava.
  • 3:53 - 3:56
    Bom, depois a guerra passou...
  • 3:58 - 4:00
    E um tempo depois, eu pensei:
    "Não é possível."
  • 4:00 - 4:04
    Não posso ficar sem saber o que houve,
  • 4:04 - 4:06
    pois não era a primeira vez
    que isso acontecia
  • 4:06 - 4:08
    e não acontecia somente comigo.
  • 4:08 - 4:11
    Eu já tinha visto esse tipo de coisa
    acontecer com outras pessoas
  • 4:11 - 4:14
    nos meus 20 ou 35 anos de reportagens.
  • 4:15 - 4:19
    Eu já tinha visto coisas que me afetavam,
  • 4:19 - 4:22
    como esse homem
    que conheci no Líbano, um veterano.
  • 4:22 - 4:24
    Com 25 anos, ele já tinha 5 de guerra.
  • 4:24 - 4:29
    Como ele era veterano, nós o seguíamos.
    Ele rastejava à noite com muita confiança.
  • 4:31 - 4:33
    Era um bom militar,
    um verdadeiro soldado.
  • 4:33 - 4:36
    Nós o seguíamos pois sabíamos
    que com ele estaríamos seguros.
  • 4:36 - 4:40
    Me contaram, e depois confirmei,
  • 4:40 - 4:43
    que um dia, enquanto ele jogava
    cartas na caserna,
  • 4:43 - 4:49
    alguém entrou num cômodo, ao lado,
    descarregou uma arma e ela disparou.
  • 4:49 - 4:53
    A simples deflagração, o tiro,
  • 4:53 - 4:57
    o fez se esconder
    debaixo da mesa como uma criança.
  • 4:57 - 5:01
    Ele estava em pânico, ele tremia;
    depois disso, ele não conseguiu mais
  • 5:02 - 5:06
    se recuperar e nem combater,
    e ele acabou se tornando, e eu o vi,
  • 5:06 - 5:09
    crupiê num cassino em Beirute,
    pois ele não conseguia mais dormir.
  • 5:09 - 5:11
    Era um trabalho adequado
    para a condição dele.
  • 5:12 - 5:14
    Então, pensei comigo mesmo,
  • 5:15 - 5:22
    o que é essa coisa
    que pode matar sem lesão aparente?
  • 5:23 - 5:25
    O que acontece?
  • 5:26 - 5:28
    O que é essa coisa desconhecida?
  • 5:28 - 5:34
    Ela acontecia com muita frequência
    para ser somente um acaso.
  • 5:34 - 5:37
    Decidi pesquisar sobre o tema,
    pois era o que eu sabia fazer.
  • 5:37 - 5:42
    Pesquisei em livros,
  • 5:43 - 5:48
    bibliotecas, museus,
    falei com psiquiatras, etc.
  • 5:48 - 5:53
    E acabei descobrindo que algumas pessoas,
    principalmente os psiquiatras militares,
  • 5:53 - 5:55
    sabiam o que era essa coisa.
  • 5:55 - 5:59
    Nós estávamos diante de algo
    que nós chamamos de trauma
  • 5:59 - 6:04
    e que os americanos chamam de PTSD,
    transtorno de estresse pós-traumático.
  • 6:04 - 6:11
    Descobri que era algo que já existia,
    mas que ninguém falava no assunto.
  • 6:14 - 6:17
    E em que consiste exatamente esse trauma?
  • 6:17 - 6:20
    Em um encontro com a morte.
  • 6:21 - 6:23
    Não sei se vocês já viram
    a morte de perto.
  • 6:23 - 6:29
    E não me refiro a cadáveres ou
    ao corpo de um avô na cama do hospital,
  • 6:29 - 6:33
    nem a alguém que tenha sido atropelado.
  • 6:34 - 6:39
    Estou falando do encontro
    com o vazio da morte.
  • 6:40 - 6:46
    Isso é algo que não deveríamos poder ver.
  • 6:46 - 6:51
    Os idosos já diziam que não se deve
    encarar o Sol nem a morte.
  • 6:51 - 6:56
    O homem não deve encarar o vazio da morte.
  • 6:56 - 7:03
    Mas, se eventualmente isso acontece,
    podemos não reparar de imediato,
  • 7:03 - 7:06
    podemos levar dias, semanas,
    meses ou até anos para perceber.
  • 7:06 - 7:13
    Até que um dia essa coisa explode,
    porque ela finalmente atinge o cérebro.
  • 7:15 - 7:19
    É como se fosse uma janela,
    entre uma imagem e o cérebro,
  • 7:19 - 7:22
    que se instalou no interior
    do cérebro e não sai mais.
  • 7:22 - 7:26
    Ela vai ocupar todo o espaço do cérebro.
  • 7:27 - 7:33
    E é assim que, de repente, homens
    e mulheres não conseguem mais dormir,
  • 7:34 - 7:37
    têm ataques de ansiedade
    e de pânico horríveis.
  • 7:37 - 7:39
    Pânico mesmo, não de pequenos medos.
  • 7:39 - 7:43
    Essas pessoas não querem mais dormir,
    pois quando dormem,
  • 7:43 - 7:48
    elas têm sempre o mesmo pesadelo,
    veem sempre a mesma imagem.
  • 7:48 - 7:49
    Que imagem é essa?
  • 7:49 - 7:53
    É a imagem, por exemplo,
    de um combatente que entra num edifício
  • 7:53 - 7:55
    e dá de cara com outro combatente,
    que aponta a arma para ele.
  • 7:55 - 7:58
    Ele vê a arma, o cano
  • 7:59 - 8:01
    e de repente esse cano aumenta
    de tamanho, se deforma,
  • 8:02 - 8:06
    vira algo macio e engole tudo.
    Aí, ele diz...
  • 8:08 - 8:13
    Depois ele vai dizer: "Eu vi a morte,
    me vi morto, estou morto."
  • 8:13 - 8:16
    E é a partir desse momento
    que ele sabe que está morto.
  • 8:17 - 8:22
    Não é uma percepção,
    ele está convencido que está morto.
  • 8:22 - 8:25
    E nesse momento,
    alguém chega ou sai,
  • 8:25 - 8:29
    a arma não atira, mas tanto faz,
    ele morreu nesse momento.
  • 8:29 - 8:31
    Pode ser também o cheiro de valas comuns.
  • 8:31 - 8:33
    Vi várias em Ruanda.
  • 8:33 - 8:36
    Pode ser a voz de um amigo
    pedindo socorro,
  • 8:37 - 8:40
    pois está sendo trucidado,
    mas ninguém pode fazer nada.
  • 8:40 - 8:42
    Essa voz pode ser ouvida.
  • 8:42 - 8:47
    E aí, todas as noites, durante semanas
    ou meses, a pessoa vai acordar
  • 8:48 - 8:51
    em transe, em pânico,
    assustada como uma criança.
  • 8:51 - 8:58
    Eu vi homens chorarem,
    como crianças, ao verem a mesma imagem.
  • 8:58 - 9:03
    Assim, essa imagem aterrorizante,
  • 9:05 - 9:07
    a imagem do vazio da morte,
  • 9:07 - 9:10
    a qual chamamos de "analogon",
    imagem que esconde outra coisa,
  • 9:10 - 9:11
    acaba invadindo a mente das pessoas.
  • 9:11 - 9:14
    Elas não podem fazer mais nada.
    Nada mesmo!
  • 9:14 - 9:16
    Não podem mais trabalhar,
    não conseguem mais amar.
  • 9:16 - 9:20
    Em casa, não reconhecem ninguém.
    Não se reconhecem mais.
  • 9:22 - 9:27
    Elas se escondem, ficam fechadas em casa.
  • 9:27 - 9:30
    Conheci algumas pessoas que deixavam
    um pote com moedas
  • 9:30 - 9:33
    do lado de fora da casa,
    no caso de passar alguém.
  • 9:33 - 9:37
    De repente, elas têm vontade de morrer,
    de se matar, de se esconder, de fugir.
  • 9:37 - 9:40
    Elas querem ser amadas,
    mas detestam os outros.
  • 9:40 - 9:46
    Algo invade suas mentes o tempo todo
  • 9:46 - 9:51
    e faz com que vivam
    um verdadeiro calvário.
  • 9:51 - 9:53
    E ninguém os compreende.
  • 9:53 - 9:56
    Os outros dizem: "Você não tem nada,
    está bem, não está ferido.
  • 9:56 - 9:58
    Foi à guerra e voltou intacto."
  • 9:58 - 10:03
    Essas pessoas vivem um martírio
    e algumas acabam se suicidando,
  • 10:04 - 10:07
    afinal se suicidar
    é apenas atualizar a agenda.
  • 10:07 - 10:09
    Como elas já se consideram mortas,
    o suicídio é normal.
  • 10:09 - 10:11
    Ele representa o fim da dor.
  • 10:11 - 10:14
    Uns se suicidam, outros terminam
    em baixo da ponte, começam a beber.
  • 10:14 - 10:19
    Todo mundo se lembra de um avô, de um tio,
  • 10:19 - 10:21
    de um vizinho que bebia,
    que não falava muito,
  • 10:21 - 10:23
    que era rabugento, que batia na mulher
  • 10:23 - 10:27
    e que acabou se afogando
    na bebida ou morrendo.
  • 10:27 - 10:31
    Por que essas pessoas não se abrem?
    Por que não falamos sobre isso?
  • 10:31 - 10:34
    Porque isso é tabu.
  • 10:34 - 10:38
    Não podemos falar, pois não há palavras
    para descrever o vazio da morte.
  • 10:38 - 10:40
    E os outros também não querem escutar.
  • 10:40 - 10:42
    Na volta da minha primeira
    reportagem, me disseram:
  • 10:42 - 10:44
    "Ele voltou de uma reportagem!"
  • 10:44 - 10:46
    Me prepararam um jantar
    com velas e convidados.
  • 10:46 - 10:49
    "Conte-nos como foi." E eu contei.
  • 10:49 - 10:52
    Ao cabo de 20 minutos,
    todo mundo me olhava torto
  • 10:52 - 10:54
    e a anfitriã estava super sem graça.
  • 10:54 - 10:55
    Foi horrível.
  • 10:55 - 10:58
    E foi então que percebi
    que tinha estragado a noite.
  • 10:58 - 11:02
    Então agora já não conto mais e as pessoas
    ainda não estão prontas para escutar.
  • 11:02 - 11:03
    Elas dizem: "Ah, pare!"
  • 11:03 - 11:07
    Estou falando de algumas pessoas? Não.
    Isso é extremamente frequente.
  • 11:07 - 11:12
    Um terço dos soldados mortos no Iraque...
    Mortos não, perdão pelo lapso.
  • 11:12 - 11:17
    Um terço dos soldados iraquianos
    e americanos no Iraque sofrem do PTSD.
  • 11:17 - 11:22
    Em 1939, ainda havia 200 mil soldados
    da Primeira Guerra Mundial
  • 11:22 - 11:27
    nos hospitais psiquiátricos ingleses.
  • 11:27 - 11:31
    O número de americanos
    mortos no Vietnã foi 54 mil.
  • 11:31 - 11:36
    Em 87, o governo americano
    recenseou 102 mil, o dobro,
  • 11:36 - 11:39
    de suicídios de veteranos.
  • 11:39 - 11:41
    O dobro de mortos
    em combate que no Vietnã.
  • 11:41 - 11:45
    Como vocês podem perceber
    é uma coisa que cobre tudo,
  • 11:45 - 11:47
    as guerras modernas e as antigas.
  • 11:47 - 11:49
    Nós encontramos relatos em textos antigos.
  • 11:49 - 11:52
    Se está documentado, escrito,
    por que não falamos sobre isso?
  • 11:52 - 11:55
    Por que não falávamos sobre isso?
  • 11:55 - 12:02
    O problema é que se essas pessoas
    não falarem, elas acabarão se afundando.
  • 12:02 - 12:10
    A única maneira de curar...
    pois a boa notícia é que isso tem cura.
  • 12:11 - 12:14
    O grito de Munch, de Goya, etc.,
    sim, eles têm cura!
  • 12:14 - 12:20
    A única maneira de curar esse trauma,
    esse encontro com a morte,
  • 12:20 - 12:28
    que tanto assusta e que pode matar,
    é falar sobre ele.
  • 12:28 - 12:30
    Alguém já dizia:
  • 12:30 - 12:34
    "A linguagem é o que une os homens."
  • 12:34 - 12:36
    Se não usamos a linguagem,
    não somos nada.
  • 12:36 - 12:39
    Afinal, somos humanos graças a linguagem.
  • 12:39 - 12:42
    E diante dessa imagem
    de horror, indescritível,
  • 12:43 - 12:47
    pois o que nos obceca
    é a imagem do vazio,
  • 12:47 - 12:49
    a única maneira de sair dessa situação
  • 12:50 - 12:52
    é colocá-la em palavras.
  • 12:52 - 12:56
    Porque essas pessoas se sentem excluídas,
    nós não queremos vê-las
  • 12:56 - 12:58
    e elas não querem ver ninguém.
  • 12:58 - 13:00
    Elas se sentem sujas,
    contaminadas e envergonhadas.
  • 13:00 - 13:04
    Alguém disse: "Sabe doutor,
    não ando mais de metrô para evitar
  • 13:04 - 13:07
    que os outros vejam nos meus olhos
    o horror que carrego em mim."
  • 13:07 - 13:08
    Outro disse...
  • 13:08 - 13:12
    Ele tinha uma doença de pele assustadora,
    fez um tratamento de seis meses,
  • 13:12 - 13:14
    passou de um médico a outro,
    até que um dia disseram-lhe:
  • 13:14 - 13:16
    "Procure um psiquiatra."
  • 13:16 - 13:18
    Na segunda sessão -
  • 13:18 - 13:20
    a doença de pele dele
    ia daqui até os pés -
  • 13:20 - 13:24
    o psiquiatra perguntou:
    "Por que você está nesse estado?"
  • 13:24 - 13:27
    O homem respondeu: "Porque estou morto,
    estou em fase de decomposição."
  • 13:27 - 13:31
    Como vocês podem perceber,
    essa coisa afeta profundamente as pessoas.
  • 13:31 - 13:38
    É só falando que se cura;
    é preciso colocar esse horror em palavras,
  • 13:38 - 13:42
    em termos compreensíveis,
    conseguir controlá-lo e falar sobre isso.
  • 13:42 - 13:46
    É preciso encarar a morte.
  • 13:46 - 13:52
    Se conseguirmos fazer isso,
    se falarmos sobre isso,
  • 13:52 - 13:55
    aí sim, pouco a pouco,
    com muita conversa
  • 13:55 - 13:59
    conseguiremos recuperar
    a humanidade perdida.
  • 13:59 - 14:03
    Isso é muito importante.
    O silêncio pode matar!
  • 14:03 - 14:07
    O que significa isso?
    Significa que se depois...
  • 14:07 - 14:11
    Ah, é claro, perdemos
    a insustentável leveza do ser,
  • 14:11 - 14:13
    a ilusão da eternidade,
    que faz com que estejamos aqui,
  • 14:13 - 14:17
    afinal se estamos aqui é porque estamos
    convencidos de que somos imortais.
  • 14:17 - 14:18
    Mas, não somos!
  • 14:18 - 14:21
    Senão, não estaríamos aqui.
    Diríamos: "Pra quê?"
  • 14:21 - 14:23
    Essas pessoas perderam
    a ilusão da imortalidade.
  • 14:23 - 14:27
    Elas perderam a leveza.
    Mas encontraram outra coisa.
  • 14:27 - 14:30
    Significa que se conseguirmos
    encarar a morte,
  • 14:31 - 14:36
    enfrentando-a em vez de se esconder...
  • 14:37 - 14:40
    Conheço algumas pessoas,
    como o Michaël de Ruanda,
  • 14:40 - 14:47
    a Carole do Iraque, o Philippe do Congo,
    todas essas pessoas que conheci.
  • 14:47 - 14:49
    Sorj Chalendon se tornou
    um grande escritor
  • 14:49 - 14:51
    e deixou de ser repórter
    depois de um trauma.
  • 14:51 - 14:53
    Tenho quatro ou cinco amigos
    que se suicidaram,
  • 14:53 - 14:56
    que não conseguiram superar os traumas.
  • 14:56 - 15:01
    Se conseguirmos encarar a morte,
  • 15:01 - 15:04
    se nós, humanos mortais,
  • 15:04 - 15:08
    conscientes de que somos
    humanos e mortais,
  • 15:08 - 15:13
    se conseguirmos enfrentá-la
    e desmistificá-la,
  • 15:13 - 15:17
    afinal ela é a terra mais desconhecida
    entre as terras desconhecidas,
  • 15:17 - 15:19
    pois ninguém nunca a viu.
  • 15:20 - 15:22
    Se conseguirmos desmistificá-la,
  • 15:22 - 15:25
    sim, poderemos morrer,
  • 15:28 - 15:31
    sobreviver e reviver,
  • 15:31 - 15:36
    mas mais fortes que antes.
    Bem mais fortes.
  • 15:36 - 15:37
    Obrigado.
  • 15:37 - 15:39
    (Aplausos)
Title:
Como sobreviver ao trauma? | Jean-Paul Mari | TEDxCannes
Description:

DESCRIÇÃO
Entre os soldados americanos que estiveram no Vietnã, houve duas vezes mais mortos após a guerra que durante o combate. Por quê? O que está acontecendo? O que é transtorno de estresse pós-traumático? Em que consiste esse transtorno e como podemos curá-lo? Jean-Paul Mari aborda esse assunto, que ainda é tabu, através da sua experiência pessoal e profissional como repórter de guerra dos principais conflitos dos últimos anos.

BIOGRAFIA
Jornalista, repórter de prestígio, psicólogo e fisioterapeuta, Jean-Paul Mari publicou centenas de reportagens no estrangeiro, além de vários livros. Também dirigiu o documentário "Irak, quand les soldats meurent", o filme "Sans Blessures Apparentes", baseado no seu livro homônimo e recebeu diversos prêmios. Ele é o criador e moderador do site "grands-reporters.com" além de ser o autor do romance "La tentation d'Antoine" (Éd. Robert Laffont), que acaba de ser publicado.

Esta palestra foi dada num evento TEDx local, produzido independentemente das Conferências TED.

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Video Language:
French
Team:
closed TED
Project:
TEDxTalks
Duration:
15:51

Portuguese, Brazilian subtitles

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