Ultrapassar as Nossas Barreiras Interiores | Anwar Dafa-Alla | TEDxBerlin

Esta palestra foi feita num evento local TEDx, produzido independentemente das Conferências TED.

Com que limites e barreiras somos confrontados enquanto indivíduos, enquanto sociedade? Quem ou o quê é que define estas limitações? Quais são os resultados dessas barreiras que podem até resultar em limitações científicas ou artísticas para nós enquanto indivíduos e para a sociedade enquanto um todo? Estão definidas arbitrariamente ou são impostas devido à sua necessidade? São obstáculos ou são benéficas? O que acontece se ultrapassarmos essas barreiras?

[Ultrapassar Barreiras]

Muito obrigado.

Adoro-vos a todos.

Obrigado.

(Aplausos)

Eu sou do Sudão.

O que veem atrás de mim

são imagens típicas que encontram
fazendo uma pesquisa no Google.

Escrevem "Sudão" e encontram
este tipo de imagens.

Este é o Sudão que os media reconhecem.

Este é o Sudão que estou a desenvolver.

As comunidades intelectuais em ação.

As pessoas, quando se juntam,

mudam as situações do ponto A
para o ponto B.

No Sudão, temos algumas barreiras

que devemos ultrapassar
assim que possível.

Para seguirmos na direção do futuro.

Temos barreiras no ensino.

Temos uma elevada taxa de iliteracia.

Temos um problema com
o acesso a informação.

Temos um problema com as línguas.

Temos mais de 70 línguas no Sudão.

A sério!

70 línguas, para não falar nos dialetos.

O árabe é a língua predominante
e oficial no Sudão.

Então, as pessoas comunicam em árabe,

até mesmo no Sudão do Sul,
o país recentemente formado,

há uma versão do árabe
chamada de árabe juba.

As tribos do sul comunicam umas
com as outras usando esta língua,

o árabe juba.

Bem, eu sou professor.

Tenho paixão pelo ensino

e sei o quão importante é

para o desenvolvimento
de qualquer nação

e como é crucial ter a educação

no seio do desenvolvimento.

Em 2009, estive na Coreia do Sul.

Sim, isto é a Coreia,
Chungbuk Daehakgyo.

Estava a fazer o doutoramento
em Ciências Informáticas.

E nós temos uma cultura de partilha

de tudo o que nos vem parar às mãos.

Eu envio um vídeo a um amigo,

ele envia-me um link, etc.

E um dia,

estávamos concentrados
na prospeção de dados

e pesquisa multidisciplinar e por aí.

Um dia, Ibrahim Musa,

que estava a fazer o mestrado
na Coreia do Sul,

enviou-me um link para esta palestra.

Na altura era do YouTube.

"Como as estatísticas enganam os júris".

Foi tão interessante para mim.

Sou um investigador.

E faço muitas apresentações.

Sabem como são as apresentações
em meios académicos.

Tão aborrecidas!

Certo? É chato.

(Risos)

Mas agora, há conteúdo sobre estatísticas

e há um elemento de narração.

Foi tão interessante para mim!

Então os neurónios da pesquisa ficaram...

(Pum!)

Eu precisava saber de
onde saiu este vídeo.

Então, fui ao website TED.com.

E um dos links falava
de um "Open Translation Project"

(Projeto Aberto de Tradução).

Por causa desse vídeo,

o que eu senti cá dentro

foi que este vídeo e este conteúdo
deviam ser partilhados

com os meus amigos,

os meus colaboradores de pesquisa,

os meus colegas, os meus amigos,

os meus irmãos, as minhas irmãs,

a minha nação.

Então, como é que posso fazer isso?

Então descobri este "Open Translation Project",

onde posso usar as legendas,
traduzi-las para árabe

e dá-las sem custos aos meus
amigos, como presente,

à minha filha, como uma
garantia para o futuro dela,

agradecer ao orador ou oradora

que fez a palestra de graça.

E desde junho de 2009,

tenho feito uma viagem maravilhosa,

mergulhando profundamente

em todos os tipos de ciências.

Do espaço aos profundos mares azuis,

do jardim-de-infância à docência.

Todo o tipo de histórias.

Foi maravilhoso.

É e continuará a ser uma
história maravilhosa.

Conheci pessoas fascinantes,

pessoas incríveis,
pessoas extraordinárias,

através deste "Open Translation Project".

Tivemos diferentes workshops aqui e ali.

Discutimos como podemos melhorar isto,

como podemos levar o Projeto daqui

para outro nível.

Já nos encontrámos algumas vezes,

duas vezes nos Estados Unidos,
duas vezes no Reino Unido.

E estamos sempre juntos no Facebook.

Sim.

Sim.

Eu sou um dos tradutores voluntários
mais ativos no TED.

E sim, já dediquei mais de dois anos
em horas de trabalho.

(Aplausos)

Faço isto

porque é ultrapassar
barreiras por natureza.

Estamos a ultrapassar
a barreira da língua,

a barreira das ideias,

a barreira da nacionalidade,

a barreira das religiões.

Qualquer que seja a barreira.

Dois anos em horas de trabalho.

Honestamente, não as contei.

A minha amiga é que fez as contas.

(Risos)

Ela disse: "Ok, tens dois anos
a traduzir TEDTalks".

Eu disse: "Ok, valeu a pena".

Mas não foi apenas por isso.

Não se tratou apenas de traduzir
e ultrapassar barreiras.

Há mais qualquer coisa.

Eu traduzi a palestra de JD Schramm.

Ele falava da prevenção da
segunda tentativa de suicídio.

A palestra é mesmo maravilhosa.

A ideia de salvar vidas.

Tentam suicidar-se uma vez, são salvos.

Voltam a tentar.

Então, tentar evitá-lo
é uma grande ideia, certo?

Depois, fui à conferência TEDActive.

E vi-o falar no palco.

Ao vivo, como eu
agora, à vossa frente.

Enquanto falava, ele disse:

"Eu e o meu marido..."

Eu olhei para o meu amigo,
um colega tradutor e disse:

"Ele disse 'o meu marido'?"

(Risos)

Ele disse: "Sim."

"Ele é gay".

Nesse momento, vivi
um conflito de emoções.

Devido à minha educação social,

um muçulmano criado e
crescido no Sudão.

Eu sei que há gays, eu sei que
existe a homossexualidade.

Mas esta foi a primeira vez

que vi alguém dizer
abertamente "Eu sou gay"

e "o meu marido".

E eu estive envolvido na
tradução da palestra dele.

(Risos)

(Aplausos)

Foi um período de conflito para mim.

Não se trata de ultrapassar as barreiras
da linguagem e os obstáculos.

Trata-se agora de ultrapassar
as minhas barreiras interiores.

As minhas crenças...

A minha educação cultural...

Devo dizer isto ao meu amigo?

Devo partilhar isto com os
que consomem as palestras,

o mundo de língua árabe?

Há 300 milhões de pessoas
a falar a língua árabe.

A TED celebrou mil milhões
de visualizações de TEDTalks.

Uma grande parte deste consumo

veio dos países de expressão árabe.

Tenho tanto orgulho nisto.

Mas devo partilhar isto
com a minha comunidade?

Há aqui outra questão.

Não se trata de "ele ser ateu",

ou judeu ou cristão.

Eu traduzi todo o tipo de
palestras de oradores.

Trata-se de se ser homossexual
na minha cultura,

como a minha cultura está a
compreender este conceito específico.

Mas tem que haver aqui
um ultrapassar de barreira.

Certo?

A palestra que traduzi ainda é a mesma.

A ideia que traduzi ainda é a mesma.

A única coisa que mudou foi a minha perceção.

Certo?

Certo?

E então?

(Risos)

E então?

E então?

Eu precisava ultrapassar
a minha barreira interior.

Eu precisava partilhar isto
com a minha comunidade.

Com toda a gente.

Para ultrapassar a minha barreira interior.

A ideia continuava a mesma.

A lição?

Que lição aprendi com esta experiência?

Não se trata de quantas
traduções tenho publicadas,

mas sim de como compreendi
a essência daquilo que faço.

Qual é a essência do que faço?

Traduzo ideias.

Partilho conhecimento.

Não estou a personalizar coisas.

Então, ultrapassei a minha barreira interior.

Ultrapassei a minha barreira interior.

Vocês fariam isso?

E vocês?

E vocês?

E vocês?

Obrigado.

(Aplausos)