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Ajudem a descobrir ruínas antigas - antes que seja tarde demais

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    Enquanto arqueóloga,
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    perguntam-me muitas vezes
    qual é a minha descoberta preferida.
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    A resposta é fácil:
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    o meu marido, Greg.
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    (Risos)
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    Conhecemo-nos no Egito,
    na minha primeira escavação.
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    Foi a minha primeira lição sobre encontrar
    coisas maravilhosas e inesperadas.
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    Foi o começo de uma parceria
    arqueológica incrível.
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    Anos depois, pedi-o em casamento
    em frente da nossa estátua preferida
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    do Príncipe e da Princesa
    Rahotep e Nofret,
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    no Museu do Cairo,
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    que data de há 4600 anos.
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    Pensei que, se ia pedir a Greg
    que passasse comigo o resto da vida,
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    devia pedir-lhe
    em frente de duas pessoas
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    que tinham jurado permanecer juntos
    por toda a eternidade.
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    Estes símbolos perduram
    porque, quando olhamos para eles,
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    estamos a olhar para espelhos.
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    São lembretes poderosos
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    de que a nossa humanidade comum
    não mudou.
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    A emoção da descoberta arqueológica
    é tão poderosa como o amor,
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    porque a História Antiga é a amante
    mais sedutora que se possa imaginar.
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    Muitos arqueólogos
    dedicaram a vida
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    a desvendar os mistérios do passado
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    sob um sol tórrido,
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    com ventos glaciais
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    e em selvas tropicais impenetráveis.
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    Muitos são os que procuram.
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    Poucos são os que encontram.
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    Todos adoram, no templo da possibilidade,
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    uma descoberta que mude a História.
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    No meu primeiro dia no Egito,
    trabalhei num sítio
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    no Delta egípcio nordeste,
    chamado Mendes, com 4200 anos,
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    num cemitério.
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    Esta é uma fotografia minha
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    — estou no sétimo céu.
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    Na escavação, rodeada
    de arrozais verde-esmeralda,
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    descobri um pote intacto.
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    Quando o virei,
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    descobri uma impressão digital
    humana deixada por quem fez o vaso.
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    Por momentos, o tempo parou.
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    Não sabia onde estava.
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    Porque, naquele momento, percebi
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    que, quando escavamos,
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    estamos a procurar pessoas,
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    em vez de coisas.
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    Nunca estamos tão presentes como
    quando estamos no meio do grande passado.
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    Não sei dizer quantas vezes
    estive em frente das Pirâmides de Gizé,
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    e fiquei de respiração suspensa.
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    Sinto-me a pessoa
    mais afortunada do mundo.
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    São um monumento ao esplendor humano
    e a tudo o que é possível.
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    Muita gente não acredita
    que esse esplendor é humano,
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    pensa que foram extraterrestres
    que as construíram.
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    Mas isso é ridículo.
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    Basta aproximarmo-nos pessoalmente
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    e vermos a mão oculta do homem
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    nas marcas do cinzel deixadas
    pelas ferramentas que as construíram.
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    A Grande Pirâmide de Gizé
    foi construída, uma pedra de cada vez,
  • 3:00 - 3:03
    com 2,3 milhões de blocos,
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    com uma incrível eficácia burocrática.
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    Não são as pirâmides
    que resistiram ao teste do tempo,
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    foi o engenho humano.
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    É o esplendor humano que partilhamos.
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    A História pode ser cíclica,
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    mas nós somos únicos.
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    Eu adoro o que faço
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    porque aprendo que não mudámos.
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    Leio anedotas sobre sogras
    da Mesopotâmia
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    de há 3500 anos.
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    (Risos)
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    Oiço vizinhos a praguejar
    uns com os outros
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    há 4600 anos, no Egito.
  • 3:44 - 3:49
    E o que mais me agrada,
    de há 3300 anos, em Luxor
  • 3:49 - 3:54
    é uma inscrição que descreve estudantes
    que fazem gazeta para irem beber.
  • 3:54 - 3:56
    (Risos)
  • 3:56 - 3:58
    Rapazes de hoje.
  • 3:58 - 3:59
    (Risos)
  • 4:00 - 4:03
    Vejo a arquitetura mais incrível,
  • 4:04 - 4:06
    vejo esculturas espantosas
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    — esta é basicamente
    uma "selfie" de pedra —
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    e vejo que sempre gostámos
    de exibir joias.
  • 4:13 - 4:16
    Também sempre escrevemos nas paredes
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    e tivemos obsessão por gatos...
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    (Risos)
  • 4:19 - 4:21
    ... durante milhares de anos.
  • 4:21 - 4:22
    (Risos)
  • 4:22 - 4:24
    (Aplausos)
  • 4:27 - 4:30
    Os arqueólogos preservam
    a memória cultural
  • 4:30 - 4:32
    e são os porta-vozes
  • 4:32 - 4:35
    de milhares de milhões de pessoas
    e de milhares de culturas
  • 4:35 - 4:37
    que existiram antes de nós.
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    Boa ciência, imaginação
    e um pouco de fé
  • 4:40 - 4:44
    são a aposta tripla que usamos
    para despertar os mortos.
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    No ano passado,
  • 4:46 - 4:50
    os arqueólogos fizeram
    descobertas incríveis, incluindo
  • 4:50 - 4:53
    novos antepassados humanos
    da África do Sul,
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    utensílios de há 3300 milhares de anos
  • 4:57 - 4:59
    — são os utensílios mais antigos
    jamais descobertos —
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    no Quénia.
  • 5:00 - 5:04
    E isto, entre uma série de utensílios
    médicos
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    encontrados no barco
    do Barba Negra, em 1718.
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    Estamos a ver um utensílio médico
    usado para tratar a sífilis.
  • 5:13 - 5:15
    Au!
  • 5:15 - 5:16
    (Risos)
  • 5:16 - 5:18
    Por cada uma destas coisas,
  • 5:18 - 5:21
    há milhares de outras descobertas
    incrivelmente importantes
  • 5:21 - 5:22
    feitas pelos meus colegas,
  • 5:22 - 5:25
    que nunca aparecem nas primeiras páginas.
  • 5:25 - 5:31
    Mas eu creio que a coisa mais importante
    que os arqueólogos fazem
  • 5:31 - 5:35
    é reconhecer que existiram
    pessoas no passado
  • 5:35 - 5:37
    que viveram uma vida
    que vale a pena conhecer.
  • 5:38 - 5:41
    Já imaginaram
    o que seria o mundo hoje
  • 5:41 - 5:45
    se reconhecêssemos todos
    os seres humanos da mesma forma?
  • 5:48 - 5:50
    Numa escavação, temos um problema.
  • 5:51 - 5:53
    Muitas vezes, tem este aspeto.
  • 5:53 - 5:55
    Não vemos nada.
  • 5:55 - 5:56
    Onde é que vamos começar a escavar?
  • 5:56 - 5:58
    Isto é de um sítio a sul do Cairo.
  • 5:58 - 6:00
    Vejamos uma imagem vista do espaço.
  • 6:01 - 6:03
    Também não vemos grande coisa.
  • 6:03 - 6:06
    Estamos a olhar
    para uma imagem de satélite WorldView-3,
  • 6:06 - 6:09
    que tem uma resolução de 30 cm.
  • 6:09 - 6:11
    São 10 polegadas.
  • 6:11 - 6:15
    Isso significa que podemos ampliá-la,
    a 650 km no espaço,
  • 6:15 - 6:17
    e vemos os vossos "tablets".
  • 6:18 - 6:19
    Como é que eu sei isto?
  • 6:20 - 6:23
    É porque eu sou uma arqueóloga espacial.
  • 6:24 - 6:26
    Vou repetir.
  • 6:26 - 6:29
    Eu sou uma arqueóloga espacial.
  • 6:30 - 6:32
    (Aplausos)
  • 6:32 - 6:33
    Obrigada.
  • 6:33 - 6:37
    Isso significa que uso imagens de satélite
    e processo-as usando algoritmos.
  • 6:37 - 6:40
    Observo as diferenças subtis
    no espetro luminoso
  • 6:40 - 6:42
    que indicam coisas enterradas
    debaixo do chão
  • 6:42 - 6:45
    que eu despois escavo e analiso.
  • 6:45 - 6:47
    A propósito,
  • 6:47 - 6:49
    a NASA tem um programa
    de Arqueologia Espacial,
  • 6:49 - 6:51
    portanto, é um trabalho a sério.
  • 6:51 - 6:52
    (Risos)
  • 6:53 - 6:54
    Vamos olhar outra vez.
  • 6:54 - 6:56
    Estamos de volta ao sítio
    a sul do Cairo.
  • 6:56 - 6:58
    Não vemos nada.
  • 6:58 - 7:01
    Fixem os olhos neste retângulo vermelho.
  • 7:01 - 7:04
    Quando processamos a imagem,
    usando algoritmos
  • 7:04 - 7:07
    — pensem numa TAC feita no espaço —
  • 7:07 - 7:09
    é isto que vemos.
  • 7:10 - 7:14
    Esta forma retilínea é um túmulo antigo
  • 7:14 - 7:17
    que era desconhecido
    e não fora escavado.
  • 7:17 - 7:21
    Vocês são as primeiras pessoas
    a vê-lo em milhares de anos.
  • 7:22 - 7:25
    (Aplausos)
  • 7:27 - 7:30
    Penso que mal arranhámos
    a superfície
  • 7:30 - 7:33
    em termos do que falta descobrir.
  • 7:33 - 7:35
    Só no Delta egípcio,
  • 7:35 - 7:39
    escavámos menos de 0,001 %
  • 7:39 - 7:42
    do volume total dos sítios egípcios.
  • 7:42 - 7:45
    Quando somamos a isso
    os milhares de outros sítios
  • 7:45 - 7:47
    que a minha equipa e eu descobrimos,
  • 7:47 - 7:50
    pensamos que isso
    é uma gota de água em comparação
  • 7:51 - 7:53
    com o que nos falta descobrir.
  • 7:53 - 7:55
    Quando olhamos para o trabalho incrível
  • 7:55 - 7:58
    que os meus colegas estão a fazer
    por todo o mundo,
  • 7:58 - 7:59
    e em tudo o que estão a encontrar,
  • 7:59 - 8:05
    penso que há milhões
    de sítios arqueológicos desconhecidos
  • 8:05 - 8:06
    por encontrar.
  • 8:07 - 8:09
    Descobri-los
  • 8:09 - 8:13
    será abrir todo o potencial
    da nossa existência.
  • 8:14 - 8:17
    Mas temos um problema.
  • 8:17 - 8:19
    No ano passado,
  • 8:19 - 8:22
    vimos terríveis notícias nos jornais
  • 8:22 - 8:26
    de uma destruição terrível
    a ocorrer em sítios arqueológicos,
  • 8:26 - 8:29
    e de uma pilhagem maciça
    por pessoas como o Estado Islâmico.
  • 8:30 - 8:33
    O Estado Islâmico destruiu
    templos em Palmira.
  • 8:34 - 8:35
    Quem faz explodir um templo?
  • 8:35 - 8:38
    Destruíram o Túmulo de Jonas.
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    Temos visto pilhagens
    maciças em sítios
  • 8:43 - 8:46
    que parecem crateras da lua.
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    Conhecendo o desejo do Estado Islâmico
    em destruir vidas humanas,
  • 8:51 - 8:56
    para eles, é uma extensão natural
    destruir também a identidade cultural.
  • 8:56 - 8:59
    Inúmeros exércitos invasores
    fizeram o mesmo ao longo da História.
  • 9:00 - 9:04
    Sabemos que o Estado Islâmico
    beneficia com a pilhagem dos "sites",
  • 9:04 - 9:06
    mas não sabemos até que ponto.
  • 9:06 - 9:10
    Isso significa que qualquer objeto
    transacionado hoje no Mercado,
  • 9:10 - 9:11
    proveniente do Médio Oriente,
  • 9:11 - 9:14
    pode estar a financiar o terrorismo.
  • 9:15 - 9:17
    Quando um sítio é pilhado,
  • 9:17 - 9:22
    é como se um "puzzle" a que já faltam
    90% das peças
  • 9:22 - 9:25
    ficasse com o resto obscurecido,
    totalmente irreconhecível.
  • 9:26 - 9:28
    É uma identidade da Antiguidade
    que eles apagam.
  • 9:29 - 9:31
    Sabemos que há dois tipos
    de pilhagem:
  • 9:31 - 9:34
    pilhagem feita por elementos
    criminosos, como o Estado Islâmico,
  • 9:34 - 9:36
    e a pilhagem mais local
  • 9:36 - 9:38
    feita por quem está
    desesperado por dinheiro.
  • 9:38 - 9:41
    Nós faríamos o mesmo
    para alimentar a nossa família.
  • 9:42 - 9:44
    Eu não culpo os saqueadores locais.
  • 9:44 - 9:48
    Culpo os intermediários,
    os traficantes sem ética
  • 9:48 - 9:51
    e um mercado internacional de arte
  • 9:51 - 9:56
    que beneficia de leis ambíguas
    ou da sua não existência.
  • 9:57 - 10:02
    Sabemos que a pilhagem ocorre
    a uma escala mundial e está a aumentar
  • 10:02 - 10:05
    mas neste momento não temos
    qualquer forma de a impedir.
  • 10:05 - 10:07
    Mas isso está a começar a mudar.
  • 10:07 - 10:12
    A minha equipa e eu completámos
    um estudo sobre a pilhagem no Egito.
  • 10:12 - 10:14
    Observámos informações
    de fontes abertas
  • 10:14 - 10:17
    e mapeámos toda a pilhagem no Egito
  • 10:17 - 10:20
    desde 2002 a 2013.
  • 10:20 - 10:25
    Encontrámos provas de pilhagem
    e destruição de sítios em 267 sítios,
  • 10:25 - 10:29
    e mapeámos mais
    de 200 000 fossos de pilhagem.
  • 10:30 - 10:31
    É espantoso.
  • 10:31 - 10:33
    Juntando estes dados todos
  • 10:33 - 10:36
    — vemos os poços de pilhagem
    aqui marcados.
  • 10:36 - 10:42
    Num dos sítios, a pilhagem piorou
    a partir de 2009, 2011, 2012
  • 10:42 - 10:44
    — centenas e centenas de poços.
  • 10:44 - 10:45
    Juntando estes dados todos,
  • 10:45 - 10:48
    descobrimos que,
    contrariamente à opinião popular,
  • 10:48 - 10:53
    a pilhagem não começou a piorar no Egito
    em 2011, depois da Primavera Árabe,
  • 10:53 - 10:57
    mas em 2009, depois da recessão global.
  • 10:58 - 11:00
    Mostrámos assim, com os megadados
  • 11:00 - 11:04
    que a pilhagem é fundamentalmente
    uma questão económica.
  • 11:05 - 11:08
    Se nada fizermos para impedir
    este problema
  • 11:08 - 11:12
    todos os sitios do Egito serão afetados
    pela pilhagem, em 2040.
  • 11:13 - 11:16
    Portanto, estamos num momento crítico.
  • 11:16 - 11:19
    Somos a geração com todas as ferramentas
    e todas as tecnologias
  • 11:19 - 11:20
    para impedir a pilhagem.
  • 11:20 - 11:23
    mas não estamos a trabalhar
    suficientemente depressa.
  • 11:26 - 11:31
    Por vezes, um sítio arqueológico
    pode surpreender-nos pela sua resistência.
  • 11:31 - 11:34
    Acabo de voltar do terreno
  • 11:34 - 11:37
    onde chefio uma missão em conjunto
    com o Ministro das Antiguidades do Egito
  • 11:37 - 11:39
    num sítio chamado Lisht.
  • 11:39 - 11:44
    O sítio data do Reino Médio do Egito,
    entre 2000 e 1750 a.C.
  • 11:44 - 11:47
    O Reino Médio foi o período
    do Renascimento do Egito antigo.
  • 11:47 - 11:50
    Depois de uma época
    de intensas lutas internas
  • 11:50 - 11:51
    e de problemas ambientais,
  • 11:51 - 11:53
    o Egito recuperou
  • 11:53 - 11:57
    com um renascimento incrível
    de arte, arquitetura e literatura.
  • 11:57 - 12:00
    É um período de tempo preferido
    para o estudo do Egito,
  • 12:00 - 12:04
    porque nos ensina muito
    sobre como podemos sobreviver e florescer
  • 12:04 - 12:06
    depois de grandes desastres.
  • 12:06 - 12:10
    Neste sítio, já tínhamos mapeado
    inúmeros poços de pilhagem.
  • 12:10 - 12:12
    Lisht é um sítio real,
  • 12:12 - 12:14
    devia haver aqui milhares
    de pessoas sepultadas
  • 12:14 - 12:17
    que viveram e trabalharam
    na corte do Faraó.
  • 12:17 - 12:20
    Vemos isto antes e depois:
    vemos dezenas de poços de pilhagem,
  • 12:20 - 12:21
    na parte norte de Lisht.
  • 12:21 - 12:24
    Isto aqui é a parte sul de Lisht,
    antes e depois.
  • 12:25 - 12:27
    Quando visitámos o sítio
    pela primeira vez,
  • 12:27 - 12:29
    vimos os túmulos
    de muitos funcionários de alta patente
  • 12:29 - 12:31
    que tinham sido saqueados.
  • 12:31 - 12:34
    Vou pôr em perspetiva
    o que foi levado.
  • 12:34 - 12:39
    Imaginem uma área de dois metros por dois,
    cheia de caixões, joalharia
  • 12:39 - 12:41
    e estatuetas incríveis.
  • 12:41 - 12:44
    Multipliquem isso por mil.
  • 12:45 - 12:48
    Foi isso que levaram.
  • 12:48 - 12:49
    Quando começámos a trabalhar,
  • 12:49 - 12:52
    o meu codiretor egípcio, Mohamed Youssef,
    veio ter comigo e disse:
  • 12:52 - 12:55
    "Temos que trabalhar
    neste túmulo em especial.
  • 12:55 - 12:57
    "Foi atacado por saqueadores.
  • 12:57 - 12:59
    "Se não fizermos nada,
    eles hão de voltar".
  • 12:59 - 13:02
    Claro que concordei, mas pensei
    que não íamos encontrar nada.
  • 13:02 - 13:05
    Pensava que os saqueadores
    tinham roubado tudo.
  • 13:05 - 13:07
    Começámos a descobrir
    os relevos mais incríveis.
  • 13:08 - 13:10
    Olhem para esta pintura
    — é assombrosa.
  • 13:10 - 13:12
    Começámos a encontrar
    inscrições gravadas.
  • 13:12 - 13:14
    Até os títulos do proprietário do túmulo
  • 13:14 - 13:17
    — tinha títulos como
    "Superintendente do Exército"
  • 13:17 - 13:18
    "Superintendente do Tesouro".
  • 13:18 - 13:20
    Comecei a ter esperança.
  • 13:20 - 13:23
    Talvez, talvez encontrássemos
    o nome dele.
  • 13:23 - 13:26
    Para os antigos egípcios,
    deixar o nome para a eternidade
  • 13:26 - 13:28
    era o seu objetivo.
  • 13:28 - 13:30
    Um dia,
  • 13:30 - 13:31
    ele apareceu.
  • 13:32 - 13:36
    É este o nome
    do dono do túmulo: Intef.
  • 13:36 - 13:39
    Vejam-no, escrito aqui,
    em hieróglifos.
  • 13:39 - 13:42
    Trabalhando em conjunto
    com a minha equipa egípcia,
  • 13:42 - 13:46
    restaurámos o nome de alguém
    de há 3900 anos.
  • 13:46 - 13:49
    (Aplausos)
  • 13:54 - 13:56
    Trabalhando em conjunto
    com os meus colegas egípcios,
  • 13:56 - 13:58
    festejámos este momento
    de descoberta partilhada.
  • 13:58 - 14:01
    O que estávamos a fazer em conjunto
    era correto e verdadeiro.
  • 14:02 - 14:04
    Encontrámos esta porta falsa
    incrível, quase intacta.
  • 14:04 - 14:07
    Nela, lemos sobre Intef
    e as suas inscrições.
  • 14:07 - 14:10
    Quase podemos vê-lo
    ali sentado.
  • 14:11 - 14:16
    Percebi que tudo o que
    eu tinha pensado sobre sítios pilhados
  • 14:16 - 14:17
    estava completamente errado.
  • 14:18 - 14:21
    Todos os dias, nos sítios
    trabalhávamos com 70 egípcios,
  • 14:21 - 14:23
    colegas e amigos.
  • 14:24 - 14:27
    Perante tanto ódio e ignorância
  • 14:27 - 14:29
    contra as pessoas do Médio Oriente,
  • 14:29 - 14:33
    cada momento no sítio
    era uma manifestação de paz.
  • 14:33 - 14:36
    Quando trabalhamos com pessoas
    diferentes de nós,
  • 14:36 - 14:38
    que não pensam como nós,
    nem falam como nós,
  • 14:38 - 14:41
    a nossa missão partilhada
    de descoberta arqueológica
  • 14:41 - 14:44
    apaga todas as diferenças superficiais.
  • 14:45 - 14:47
    Aprendemos naquela estação
  • 14:47 - 14:49
    que a arqueologia
    não tem a ver com o que encontramos,
  • 14:50 - 14:53
    tem a ver com o que
    provamos ser possível.
  • 14:53 - 14:57
    Por vezes, quando viajamos,
    encontramos família há muito perdida
  • 14:57 - 14:59
    — não aqueles com quem
    partilhamos os genes,
  • 14:59 - 15:01
    mas uma entrada partilhada
    no livro da vida.
  • 15:02 - 15:04
    Este é Omer Farrouk, meu irmão.
  • 15:05 - 15:10
    Omer é um gufti duma aldeia
    a norte de Luxor, chamada Guft.
  • 15:10 - 15:12
    Os guftis fazem parte duma
    tradição consagrada em egiptologia.
  • 15:12 - 15:15
    Ajudam a escavar
    e organizam equipas de trabalho.
  • 15:15 - 15:18
    Omer é o meu diretor de operações
    e diretor financeiro.
  • 15:18 - 15:20
    Eu não podia passar sem ele.
  • 15:21 - 15:25
    Um dia, há muitos anos,
    quando eu ainda era uma jovem licenciada
  • 15:25 - 15:29
    e Omer era um jovem gufti
    que não falava bem inglês,
  • 15:29 - 15:31
    ficámos a saber, por acaso,
  • 15:31 - 15:33
    que tínhamos nascido no mesmo ano,
  • 15:34 - 15:36
    no mesmo mês,
  • 15:36 - 15:39
    e no mesmo dia,
    com a diferença de seis horas.
  • 15:41 - 15:42
    Gémeos.
  • 15:42 - 15:43
    (Risos)
  • 15:44 - 15:46
    Separados pelo oceano,
    mas ligados para sempre
  • 15:46 - 15:49
    porque o Egito Antigo
    é a nossa mãe.
  • 15:49 - 15:51
    Soube que havíamos de trabalhar
    sempre juntos
  • 15:51 - 15:53
    — não no meu cérebro
  • 15:54 - 15:58
    mas naquela parte da alma
    que sabe que nem tudo tem explicação.
  • 16:00 - 16:02
    (Em árabe): Omer, meu irmão,
  • 16:03 - 16:06
    sempre te amarei.
  • 16:06 - 16:10
    (Em inglês): Omer, meu irmão,
    sempre te amarei.
  • 16:11 - 16:14
    Pouco antes da minha primeira
    escavação no Egito,
  • 16:14 - 16:17
    o meu mentor, o famoso egiptólogo
    Professor William Kelley Simpson,
  • 16:17 - 16:19
    chamou-me ao seu gabinete.
  • 16:19 - 16:23
    Entregou-me um cheque
    de 2000 dólares e disse:
  • 16:23 - 16:25
    "Isto é para as tuas despesas.
  • 16:25 - 16:28
    "Que tenhas uma aventura gloriosa
    este verão.
  • 16:28 - 16:31
    "Um dia, farás o mesmo
    a outra pessoa qualquer".
  • 16:32 - 16:36
    Assim, o meu desejo do Prémio TED
    é, em parte, um reembolso, mais os juros
  • 16:37 - 16:38
    (Risos)
  • 16:38 - 16:42
    pela generosidade e gentileza
    de um grande ser humano.
  • 16:44 - 16:46
    O meu desejo é:
  • 16:46 - 16:51
    Desejo que descubramos os milhões
    de sítios arqueológicos desconhecidos
  • 16:51 - 16:53
    em todo o mundo.
  • 16:53 - 16:58
    Se criarmos um exército do século XXI
    de exploradores globais,
  • 16:58 - 17:01
    encontraremos e protegermos
    a herança oculta do mundo
  • 17:01 - 17:05
    que contém pistas
    da resistência coletiva da Humanidade
  • 17:05 - 17:07
    e da sua criatividade.
  • 17:07 - 17:09
    (Aplausos)
  • 17:09 - 17:10
    Obrigada.
  • 17:10 - 17:13
    (Aplausos)
  • 17:18 - 17:20
    Como é que vamos fazer isso?
  • 17:21 - 17:24
    Vamos construir,
    com o dinheiro do Prémio TED
  • 17:24 - 17:29
    uma plataforma de ciência dos cidadãos,
    "online", de colaboração pública,
  • 17:29 - 17:33
    para permitir que toda a gente no mundo
    se envolva na descoberta
  • 17:33 - 17:35
    de sítios arqueológicos.
  • 17:36 - 17:39
    Há só umas centenas de arqueólogos
    espaciais em todo o mundo.
  • 17:39 - 17:42
    O meu sonho é envolver o mundo
  • 17:42 - 17:46
    para ajudar a encontrar sítios
    e protegê-los.
  • 17:46 - 17:49
    Basta inscreverem-se,
    criar um nome de utilizador
  • 17:49 - 17:51
    — reparem que este nome de utilizador
    já existe.
  • 17:52 - 17:53
    (Risos)
  • 17:53 - 17:56
    Vejam o tutorial
    e comecem a trabalhar.
  • 17:56 - 17:57
    Quero sublinhar, à partida,
  • 17:57 - 18:01
    que de forma alguma partilhamos
    dados GPS ou dados de mapas dos sítios.
  • 18:01 - 18:04
    Queremos tratá-los
    como dados médicos confidenciais
  • 18:04 - 18:06
    e não revelaremos as localizações.
  • 18:06 - 18:10
    Recebem uma carta de um baralho
    — 20 x 20 metros, ou 30 x 30 metros —
  • 18:10 - 18:12
    e começam a procurar características.
  • 18:12 - 18:14
    A minha equipa e eu processámos
  • 18:14 - 18:17
    grandes quantidades de dados de satélite,
    usando algoritmos,
  • 18:17 - 18:19
    para poderem descobrir coisas,
  • 18:19 - 18:21
    por isso estarão a fazer ciência a sério.
  • 18:21 - 18:22
    Depois, começam a procurar.
  • 18:22 - 18:24
    O que é que veem?
    Veem algum templo?
  • 18:24 - 18:27
    Veem um túmulo?
    Veem uma pirâmide?
  • 18:27 - 18:31
    Veem qualquer possível dano
    ou pilhagem no sítio?
  • 18:31 - 18:33
    Começam a marcar o que lá existe.
  • 18:33 - 18:36
    À margem, há sempre
    muitos exemplos
  • 18:36 - 18:39
    do que estão a ver exatamente
    para vos orientar.
  • 18:39 - 18:44
    Todos os dados que nos ajudarem a recolher
    serão partilhados com entidades aprovadas
  • 18:44 - 18:47
    e ajudar-nos-ão a criar
    um novo sistema de alarme mundial
  • 18:47 - 18:49
    para proteção de sítios.
  • 18:50 - 18:52
    Mas não fica por aqui.
  • 18:53 - 18:56
    Todos os arqueólogos com quem
    partilhamos as nossas descobertas
  • 18:56 - 18:59
    levar-vos-ão com eles
    quando começarem a escavá-las,
  • 18:59 - 19:04
    usando o Periscope, o Google Plus
    e as redes sociais.
  • 19:05 - 19:08
    Há cem anos,
    a arqueologia era só para ricos.
  • 19:09 - 19:12
    Há cinquenta anos,
    era só para homens.
  • 19:13 - 19:15
    Hoje é sobretudo para académicos.
  • 19:16 - 19:21
    O nosso objetivo é democratizar o processo
    da descoberta arqueológica
  • 19:21 - 19:23
    e permitir que todos participem.
  • 19:24 - 19:26
    Há 94 anos,
  • 19:26 - 19:29
    Howard Carter descobriu
    o túmulo do Rei Tut.
  • 19:30 - 19:33
    Quem será o próximo Howard Carter?
  • 19:34 - 19:35
    Pode ser um de vocês.
  • 19:38 - 19:40
    Ao criar esta plataforma,
  • 19:40 - 19:42
    encontraremos os milhões de locais
  • 19:42 - 19:45
    ocupados pelos milhares
    de milhões de pessoas
  • 19:45 - 19:47
    que viveram antes de nós.
  • 19:47 - 19:50
    Se queremos responder
    às grandes perguntas sobre quem somos
  • 19:50 - 19:51
    e de onde viemos,
  • 19:51 - 19:56
    as respostas a estas perguntas
    não reside nas pirâmides nem nos palácios,
  • 19:56 - 20:00
    mas nas cidades e aldeias
    dos que viveram antes de nós.
  • 20:01 - 20:03
    Se queremos conhecer o passado,
  • 20:03 - 20:06
    é altura de inverter as pirâmides.
  • 20:07 - 20:11
    Reconhecer que vale a pena
    salvar o passado
  • 20:11 - 20:13
    significa muito mais.
  • 20:14 - 20:18
    Significa que também
    vale a pena salvarmo-nos.
  • 20:20 - 20:23
    A melhor história jamais contada
  • 20:23 - 20:27
    é a história do nosso percurso
    humano partilhado.
  • 20:28 - 20:31
    Mas a única forma
    de podermos escrevê-la
  • 20:31 - 20:34
    é fazê-lo em conjunto.
  • 20:35 - 20:36
    Venham comigo.
  • 20:37 - 20:38
    Obrigada.
  • 20:38 - 20:42
    (Aplausos)
Title:
Ajudem a descobrir ruínas antigas - antes que seja tarde demais
Speaker:
Sarah Parcak
Description:

Sarah Parcak usa satélites que orbitam a centenas de quilómetros acima da Terra para descobrir tesouros antigos escondidos enterrados debaixo dos nossos pés. Há muito para descobrir; só no Delta do Nilo, Sarah Parcak calcula que temos escavado menos de 0,001% do há ali. Agora, com o Prémio TED de 2016 e um entusiasmo contagiante pela arqueologia, ela desenvolveu uma plataforma chamada GlobalXplorer que permite a qualquer pessoa com uma ligação à Internet descobrir sítios arqueológicos desconhecidos e proteger os vestígios da nossa herança humana comum.

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Video Language:
English
Team:
closed TED
Project:
TEDTalks
Duration:
21:48

Portuguese subtitles

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