O sentido da vida | Lama Michel | TEDxLaçador
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0:09 - 0:16Eu acredito que existem momentos
que marcam a nossa vida. -
0:17 - 0:20Tem várias fases da vida
em que a gente vai vivendo o dia a dia, -
0:20 - 0:22as coisas vão passando,
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0:22 - 0:27e é claro que cada experiência
que a gente tem marca a nossa vida. -
0:27 - 0:32Porém, tem alguns momentos que acabam
tendo um peso maior que outros. -
0:33 - 0:36Eu acho que um dos momentos
mais importantes da minha vida -
0:36 - 0:39aconteceu quando eu era bem pequeno.
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0:39 - 0:41Eu tinha cinco anos.
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0:41 - 0:44E o que ocorreu foi que eu me apaixonei.
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0:46 - 0:49Na verdade, eu encontrei
pela primeira vez meu mestre, -
0:49 - 0:51o mestre Lama Gangchen Rinpoche,
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0:51 - 0:54a quem eu tenho profunda gratidão.
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0:54 - 0:58Eu acredito ser extremamente
afortunado nesta vida -
0:58 - 1:05por poder ter encontrado e ter vivido
e ainda viver e encontrar pessoas -
1:05 - 1:10que foram, e ainda são, um grande exemplo
daquilo em que eu quero me tornar. -
1:11 - 1:16E esse encontro fez
com que eu, devagarzinho, -
1:16 - 1:19colocasse algumas perguntas
na minha cabeça. -
1:19 - 1:22Fizesse perguntas, questionamentos...
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1:22 - 1:24Claro que não foi uma coisa
de um dia pro outro. -
1:24 - 1:27Eu sou e sempre fui uma pessoa
interiormente lenta, -
1:27 - 1:30no sentido em que eu penso,
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1:30 - 1:33eu não sou uma pessoa que conversa muito,
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1:33 - 1:36eu tenho os meus processos interiores,
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1:36 - 1:39mas quando eu tomo uma decisão
ela é bastante estável. -
1:39 - 1:42E o que aconteceu
foi que durante esses anos, -
1:42 - 1:45entrando em contato com uma pessoa
tão incrível pra mim como foi, -
1:45 - 1:49e como é ainda, o Lama Gangchen Rinpoche,
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1:49 - 1:52eu comecei a me colocar uma pergunta.
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1:53 - 1:55O que eu estou fazendo?
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1:57 - 2:00Eu venho de uma família
onde tive uma educação religiosa, -
2:00 - 2:03da parte da família do meu pai, judia,
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2:03 - 2:07por parte da minha mãe,
cristã, presbiteriana, -
2:07 - 2:10meus pais sempre muito abertos.
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2:10 - 2:15O que aconteceu foi que a pergunta
não tinha a ver com a religião em si, -
2:15 - 2:18mas era: "O que eu estou fazendo aqui?"
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2:18 - 2:20Eu tinha uma vida ótima em São Paulo.
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2:20 - 2:26Boa família, ótimos pais,
grandes amigos, primos, família, escola. -
2:26 - 2:28Estava tudo ótimo.
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2:28 - 2:31Não tinha nada que eu pudesse
reclamar da vida que eu tinha. -
2:31 - 2:36Mas a pergunta que estava
sempre lá era: "Aonde eu estou indo?" -
2:36 - 2:41Estudo matemática, geografia,
português, inglês, estudos sociais, -
2:41 - 2:44aquilo que a gente sabe muito bem.
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2:44 - 2:45E a pergunta que eu me fiz foi:
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2:45 - 2:48"Estudo tudo isso pra quê?"
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2:48 - 2:50A única resposta
que eu encontrei na época... -
2:50 - 2:53hoje acho que eu teria
uma resposta bem diferente, -
2:53 - 2:55não tanto, mas um pouco diferente.
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2:55 - 2:58Mas a única resposta
que eu encontrei na época foi: -
2:58 - 3:02"Estudo tudo isso pra terminar a escola,
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3:03 - 3:06ir pra uma universidade, me formar,
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3:07 - 3:09e, se tudo der certo,
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3:09 - 3:13pra que eu consiga um trabalho
que eu goste e ganhe bem". -
3:14 - 3:16E eu falei: "É..."
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3:16 - 3:20Só que comecei a observar à minha volta,
nos encontros de família, -
3:20 - 3:21olhando pra pessoas à minha volta,
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3:21 - 3:24tentando observar
o mundo adulto à minha volta, -
3:24 - 3:26eu tinha uns 11 anos na época.
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3:26 - 3:30E eu observava, cada vez que estava
perto dos adultos conversando, -
3:30 - 3:33eu escutava as conversas,
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3:33 - 3:35e eram principalmente o quê?
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3:35 - 3:36Reclamação.
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3:38 - 3:43Dificilmente eu via alguém
satisfeito, feliz. -
3:43 - 3:47Eu via muitas pessoas
que materialmente tinham muito, -
3:47 - 3:50ótima educação, bons trabalhos,
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3:50 - 3:54mas, poderia dizer talvez,
pouca satisfação. -
3:54 - 3:57E cada vez que eu via meu mestre,
eu via, como ainda é hoje, -
3:57 - 4:01uma pessoa extremamente saudável
interiormente, exteriormente, -
4:01 - 4:04feliz, satisfeita, alegre.
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4:04 - 4:10Eu vivo com o meu mestre até hoje,
são quase 30 anos que eu o conheço, -
4:10 - 4:15e em nenhum momento eu ouvi
ele reclamar ou falar mal de alguém. -
4:17 - 4:20E o que aconteceu nesse processo
foi que eu falei: -
4:20 - 4:22"É isso que eu quero ser!
Ele é o meu exemplo!" -
4:22 - 4:27Uma vez eu estava num jantar de família
em Nova Iorque, com a parte judia, -
4:27 - 4:29em um casamento, e uma pessoa
da família me perguntou: -
4:29 - 4:32"Mas por que você não se tornou um rabino?
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4:32 - 4:34Talves estivesse mais perto
da sua cultura, não?" -
4:34 - 4:40Eu falei: "A razão, o que eu acredito,
é porque o exemplo de vida que encontrei -
4:40 - 4:42foi de um mestre budista".
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4:42 - 4:45Foi o que me levou a isso, né?
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4:46 - 4:48Antes de começar a falar um pouco
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4:48 - 4:52sobre qual é o sentido da vida pra mim,
aonde tudo isso me levou, -
4:52 - 4:56que no final das contas, sim, acabei
seguindo os passos do meu mestre, -
4:56 - 5:02ou seja, eu fiz uma decisão que não era
conceitual, ela vinha de dentro, -
5:02 - 5:04ela fazia sentido pra mim,
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5:04 - 5:10que foi: "Eu quero seguir os passos
que essa pessoa, esse meu mestre, fez". -
5:10 - 5:12Então, com 12 anos fui pra Índia
estudar num monastério, -
5:12 - 5:16eu que nunca fui bom aluno,
nunca gostei de estudar, -
5:16 - 5:17estava lá, tendo que estudar,
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5:17 - 5:23acordando às 5h30 da manhã,
começando as preces, -
5:23 - 5:26começando a estudar
das 7h da manhã às 11h da noite. -
5:26 - 5:29Vida de monastério é pra quem gosta.
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5:29 - 5:33Vida no monastério é
um pouco como, digamos, -
5:33 - 5:36estar no exército, com um objetivo
um pouco diferente, muita disciplina. -
5:36 - 5:40No monastério em que eu vivi
eram mais de 4 mil pessoas, -
5:41 - 5:43era uma estrutura muito grande.
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5:43 - 5:44Mas foi algo maravilhoso.
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5:44 - 5:49Acho que a melhor educação
que eu poderia ter recebido, eu recebi lá. -
5:49 - 5:53Mas no primeiro ano que voltei pro Brasil
depois de ter ido pro monastério, -
5:53 - 5:58minha avó me levou pra um encontro
que pra mim foi muito importante, -
5:58 - 6:02com uma pessoa por quem eu tenho
uma grande estima, o rabino Nilton Bonder. -
6:02 - 6:06De certa forma, fazendo uma piada disso,
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6:06 - 6:09minha avó deve ter pensado:
"O que aconteceu com meu neto? -
6:09 - 6:12Com 12 anos foi pra um monastério,
vamos conversar com o rabino". -
6:13 - 6:18E aconteceu que, quando eu cheguei
pra encontrar o rabino, -
6:18 - 6:21tinha a ver com o fato da idade,
na tradição judia, fazer "bar mitzvá", -
6:21 - 6:25como era, como não era, eu estava
no monastério, complicada a coisa. -
6:25 - 6:29Eu sentei pra conversar com o rabino,
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6:29 - 6:34e a primeira coisa que ele disse
foi uma frase que me marcou muito: -
6:34 - 6:41"Se eu sou eu porque você é você,
e se você é você porque eu sou eu, -
6:41 - 6:44eu não sou eu, e você não é você.
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6:44 - 6:49Mas se eu sou eu porque eu sou eu,
e você é você porque você é você, -
6:49 - 6:52aí sim, podemos conversar;
-
6:52 - 6:54porque somos verdadeiros".
-
6:54 - 6:56Isso eu sempre tento levar na minha vida,
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6:56 - 6:59onde quer que eu esteja,
eu sou eu porque eu sou eu. -
7:00 - 7:02É normal as pessoas me olharem,
pela forma como eu me visto, -
7:02 - 7:05e eu não estou nem aí com isso,
isso não é importante, -
7:05 - 7:08se gostam, se não gostam,
não vai mudar nada pra mim. -
7:08 - 7:14Mas o fato é que, durante todos esses anos
eu tive a oportunidade de aprender, -
7:14 - 7:17aprender com conceitos,
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7:17 - 7:20aprender com exemplos, antes de mais nada.
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7:21 - 7:23E eu queria compartilhar
um pouco com vocês -
7:23 - 7:25aquilo que pra mim
é o significado da vida. -
7:25 - 7:29Como fazer desta vida
uma vida significativa. -
7:30 - 7:35Resumindo: a gente pode dizer
que é uma escolha. -
7:35 - 7:38Que há duas formas de poder viver a vida.
-
7:38 - 7:41Uma é viver a vida
simplesmente para sobreviver; -
7:43 - 7:46o dia vai passando,
vai empurrando com a barriga. -
7:46 - 7:49Um dia vai passando depois do outro,
tem um problema, -
7:49 - 7:53vamos tentar resolver o problema,
entre uma coisa e outra. -
7:53 - 7:54Um exemplo disso,
-
7:54 - 7:56uma vez um dos meus mestres,
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7:56 - 7:59com quem eu morava
no monastério, me disse: -
7:59 - 8:02"Se você viver a sua vida
apenas para sobreviver, -
8:02 - 8:04não tem nenhuma diferença
entre você e uma vaca". -
8:05 - 8:08E ele [usava] esse exemplo
porque eu morava no campo, -
8:08 - 8:11no interior da Índia,
tinha muitas vacas em volta. -
8:12 - 8:15E ali pertinho tinha uma vaca,
ele falou: "Olha uma vaca". -
8:15 - 8:18O que a pessoa faz,
quando vive para sobreviver? -
8:18 - 8:23Ela passa a vida tentando evitar
sofrimento e ir à busca de prazeres. -
8:24 - 8:28Se a gente passa a nossa vida
unicamente tentando evitar sofrimentos -
8:28 - 8:32e indo à busca de prazeres, a gente está
vivendo a vida apenas para sobreviver. -
8:33 - 8:35Uma vaca no pasto,
-
8:35 - 8:39quando está um sol muito forte, e tem
um lugar com sombra, aonde ela vai? -
8:39 - 8:42Vai pra sombra, ou fica debaixo do sol?
-
8:42 - 8:45Ela vai pra sombra,
ela busca evitar o sofrimento. -
8:45 - 8:48Se ela está lá pastando,
num lugar o pasto está seco, -
8:48 - 8:51e em outro lugar está verdinho,
fresquinho, onde ela vai comer? -
8:51 - 8:54No pasto verde. Ela busca o prazer.
-
8:54 - 8:57A gente tem um jeito um pouco
mais elaborado de fazer isso. -
8:57 - 8:58(Risos)
-
8:58 - 9:04Mas o que acontece é que viver a vida
apenas para sobreviver é uma escolha. -
9:05 - 9:07É aquela vida na qual você vive a vida,
-
9:07 - 9:10a cada vez que tem uma emoção difícil,
que tem um sofrimento, -
9:10 - 9:13nossa tendência é tentar fugir
daquele sofrimento, -
9:13 - 9:15e não aprender com ele.
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9:15 - 9:19Então acaba-se tomando refúgio na bebida,
acaba-se tomando refúgio na diversão; -
9:19 - 9:25nada contra a diversão, mas acaba-se
tomando refúgio em coisas que, na verdade, -
9:25 - 9:30não fazem nada mais nada menos
do que fazer com que a gente possa fugir -
9:30 - 9:32dos nossos próprios
conflitos e dificuldades, -
9:32 - 9:34das nossas fraquezas, das nossas sombras,
-
9:34 - 9:37que na verdade são extremamente preciosas.
-
9:38 - 9:43A outra escolha, é uma escolha
de fazer essa vida [ser] significativa. -
9:43 - 9:48Dizer: "Muito bem, a minha vida
não é um fim, mas é um meio". -
9:48 - 9:53E pra mim, fazer essa vida significativa
requer dois aspectos, -
9:53 - 9:55dois campos de ação,
que na verdade são um só. -
9:55 - 9:59Mas, pra facilitar um pouco, a gente pode
colocar como duas coisas separadas. -
9:59 - 10:04O ideal é que elas se tornem uma só,
que é: desenvolver a si mesmo, -
10:04 - 10:08fazer com que cada dia que passa
eu me torne uma pessoa melhor. -
10:08 - 10:14O mínimo que eu quero nisso é morrer
uma pessoa melhor do que a que nasceu; -
10:14 - 10:16que não é tão óbvio assim.
-
10:17 - 10:19Ou seja, tudo aquilo que eu aprendi,
-
10:19 - 10:23os condicionamentos que eu gerei
durante a minha vida, -
10:23 - 10:26que eu possa ser
uma pessoa melhor no final dela. -
10:26 - 10:29Então, se tornar uma pessoa melhor.
-
10:29 - 10:34E o outro aspecto pra fazer desta vida
uma vida significativa é ajudar o próximo. -
10:36 - 10:40Então esse processo não uma coisa
que a gente aprende do nada. -
10:40 - 10:42No budismo existe um processo muito claro
-
10:42 - 10:46que é escutar, compreender e meditar.
-
10:46 - 10:48Qualquer coisa
que a gente queira realizar, -
10:48 - 10:51a gente tem que passar
por essas três fases. -
10:51 - 10:54Escutar quer dizer receber informação.
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10:54 - 11:00Conversar, ler, escutar,
receber informação. -
11:00 - 11:04O segundo passo é fazer com que aquela
informação que a gente escutou, -
11:04 - 11:06e com a qual a gente esteja de acordo,
-
11:06 - 11:10não seja apenas mais uma repetição
do que alguém nos disse, -
11:10 - 11:12mas fazer com que aquilo se torne nosso.
-
11:12 - 11:16Ou seja, eu vou compreender aquele ponto.
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11:16 - 11:18E o terceiro ponto, é meditar.
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11:18 - 11:23Meditar literalmente não quer dizer apenas
sentar em silêncio, que é maravilhoso, -
11:23 - 11:26mas é na verdade se familiarizar.
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11:26 - 11:31Ter experiências para que aquele conceito
não seja apenas mais um conceito, -
11:31 - 11:34mas se torne parte real da nossa vida.
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11:35 - 11:38Eu já conversei em vários contextos,
às vezes eu pergunto pras pessoas: -
11:38 - 11:41"Ficar com raiva é bom ou é ruim?"
-
11:42 - 11:43É ruim.
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11:43 - 11:46Já perguntei isso pra criança de toda
idade, adulto, velho, não importa. -
11:46 - 11:49Em qualquer contexto, todo mundo fala:
"Ter raiva não é bom". -
11:49 - 11:54Saber que não é bom ter raiva quer dizer
que você não vai mais sentir raiva? -
11:55 - 11:56Não.
-
11:56 - 11:58Então saber não é o bastante.
-
11:58 - 12:01A gente precisa, verdadeiramente,
-
12:01 - 12:05ter experiências pra que elas possam
se tornar uma realidade na nossa vida. -
12:05 - 12:09Pra que possam fazer parte da nossa vida,
e esse é o processo de meditar; -
12:09 - 12:14é se autoinduzir a certos estados
de consciência que a gente quer gerar, -
12:14 - 12:17pra que eles possam ser naturais
e espontâneos depois. -
12:17 - 12:22Em outras palavras,
é muito melhor ser um altruísta... -
12:22 - 12:26como se diz...
-
12:26 - 12:30muito melhor ser um altruísta artificial,
do que um egoísta natural. -
12:33 - 12:37No decorrer do tempo, porque eu sei
que é melhor ser altruísta -
12:37 - 12:39eu vou me forçar para isso,
-
12:39 - 12:43não é totalmente verdadeiro,
mas gradualmente eu vou aprender. -
12:43 - 12:46Então tem dois pontos que eu queria
trazer pra vocês hoje, bem rapidinho, -
12:46 - 12:49de dois aspectos que eu acho
que são importantes na nossa vida, -
12:49 - 12:52que a gente pode desenvolver.
-
12:52 - 12:55Tanto pra fazer com que nós
sejamos pessoas melhores -
12:55 - 12:59como pra ajudar o mundo
que está à nossa volta. -
12:59 - 13:02Eles são o amor e a sabedoria.
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13:04 - 13:10Alguns anos atrás eu abri a Wikipédia,
e olhei a palavra amor em inglês, "love". -
13:10 - 13:13Tinha 67 definições diferentes de amor.
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13:15 - 13:19No budismo, amar quer dizer
"desejar a felicidade". -
13:19 - 13:23"Eu te amo" quer dizer que a tua
felicidade é importante pra mim. -
13:23 - 13:26Eu desejo profundamente
que você seja feliz. -
13:26 - 13:31Independentemente de onde,
quando, com quem, ou como. -
13:31 - 13:35Eu quero que você seja feliz.
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13:35 - 13:39"Eu te desejo", eu preciso
de você pra minha felicidade. -
13:39 - 13:42São duas coisas diferentes,
algumas vezes podem estar juntas, -
13:42 - 13:45mas amar é desejar a felicidade do outro.
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13:46 - 13:50E, bem rapidamente, tem um exercício
que eu comecei a fazer alguns anos atrás -
13:50 - 13:52que me ajuda bastante,
-
13:52 - 13:56eu queria compartilhar com vocês
pra trazer algo prático, -
13:56 - 14:01que é o fato de pelo menos
uma vez por dia ir pra alguém, -
14:01 - 14:03possivelmente que a gente não conhece,
-
14:03 - 14:08num restaurante, no metrô,
no supermercado, na rua, -
14:08 - 14:12olhar para a pessoa e falar: "Eu te amo".
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14:12 - 14:14Não verbalmente.
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14:14 - 14:15(Risos)
-
14:15 - 14:18Pra não criar conflitos
ou situações um pouco estranhas. -
14:18 - 14:20(Risos)
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14:20 - 14:24Eu tive um momento de amor com um pedreiro
na Vila Madalena, que foi incrível... -
14:24 - 14:25(Risos)
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14:25 - 14:31Na verdade, o exercício é o seguinte:
a gente olha pra pessoa nos olhos -
14:31 - 14:32e pensa no coração:
-
14:32 - 14:35"Eu desejo que você seja feliz.
-
14:35 - 14:38A tua felicidade é importante pra mim".
-
14:38 - 14:39Só isso.
-
14:39 - 14:44Uma vez eu estava nesse momento esperando
um amigo na Vila Madalena, em São Paulo, -
14:44 - 14:47tinha uma construção do lado,
e o pedreiro estava me olhando... -
14:47 - 14:49Olha como eu estou vestido, né?
-
14:49 - 14:52Eu olhei pra ele de volta, e normalmente
quando alguém fica te olhando, -
14:52 - 14:55a tendência, quando você olha
pra pessoa, é ela retirar o olhar. -
14:55 - 14:59Naquele caso não, ele continuou me olhando
e eu continuei olhando pra ele. -
14:59 - 15:00Passaram-se uns dois minutos talvez.
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15:00 - 15:04E eu comecei a fazer esse exercício
de olhar pra ele nos olhos e desejar: -
15:04 - 15:06"Eu desejo que você seja feliz.
-
15:06 - 15:07Não sei quem você é, de onde você veio,
-
15:07 - 15:10sei que a tua felicidade
é importante pra mim. -
15:10 - 15:12Eu desejo que você seja feliz".
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15:12 - 15:16Fui devagarzinho e naturalmente
sorrindo, ele foi sorrindo, -
15:16 - 15:20aquilo foi me preenchendo,
me levando pra um estado de plenitude. -
15:21 - 15:25E isso é maravilhoso, porque a gente
gosta de ser amado ou não? -
15:25 - 15:26É bom ser amado?
-
15:26 - 15:30É maravilhoso. Porém tem algo
muito melhor, que é amar. -
15:32 - 15:34Quando a gente abre o coração de verdade,
-
15:34 - 15:39isso nos traz um nível
de alegria, de plenitude, -
15:39 - 15:42que vai além de qualquer prazer
que a gente possa experimentar na vida, -
15:42 - 15:44no dia a dia.
-
15:44 - 15:46É algo maravilhoso.
-
15:46 - 15:50Por isso, egoisticamente falando,
é muito melhor ser altruísta. -
15:53 - 15:56O segundo ponto importante...
-
15:57 - 15:59Então por isso, por favor,
pratiquem o amor. -
15:59 - 16:03Olhem pro mundo à sua volta
e desejem a felicidade. -
16:03 - 16:07Independentemente
de quem esteja na nossa frente. -
16:07 - 16:10O segundo ponto, muito importante,
-
16:10 - 16:13e o ponto mais profundo
e complexo da filosofia budista -
16:13 - 16:15que em 1 minuto e 50
eu não vou poder explicar, -
16:15 - 16:17(Risos)
-
16:18 - 16:20é o fato que é chamado "sabedoria".
-
16:20 - 16:22Mas em poucas palavras, o que é sabedoria?
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16:22 - 16:25É se relacionar com a realidade
-
16:25 - 16:28de uma forma coerente
com o que a realidade é. -
16:31 - 16:32Dois exemplos.
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16:32 - 16:36O mundo à nossa volta
é permanente ou impermanente? -
16:36 - 16:41As coisas estão sempre
se transformando ou são fixas? -
16:42 - 16:44Estão sempre se transformando.
-
16:44 - 16:47Mas quando a gente encontra uma pessoa
e vai vê-la de novo no dia seguinte, -
16:47 - 16:49quem a gente pensa em encontrar?
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16:49 - 16:52Alguém que se transformou e está
um pouco diferente porque interagiu -
16:52 - 16:53ou a mesma pessoa?
-
16:53 - 16:54A mesma pessoa.
-
16:54 - 16:57E quando a pessoa muda,
a gente pode ficar chateado? -
16:58 - 17:01A gente sofre com a transformação?
-
17:02 - 17:07Ou seja, a realidade à nossa volta
aparece a nós, surge a nós, -
17:07 - 17:10tem uma aparência
como se fosse permanente. -
17:10 - 17:13Mesmo que ela seja, na verdade,
impermanente; e a gente acredita. -
17:13 - 17:19A gente vive num mundo
de uma realidade subjetiva ou objetiva? -
17:20 - 17:22Subjetiva.
-
17:22 - 17:24Nada é igual pra todos.
-
17:24 - 17:29Porém, como a realidade surge pra nós?
Como que a gente vê as coisas? -
17:29 - 17:33Como se elas fossem daquela maneira,
de forma objetiva ou subjetiva? -
17:33 - 17:34Objetiva.
-
17:34 - 17:36Analisando, a gente sabe que é subjetiva,
-
17:36 - 17:38mas na experiência direta,
como a gente vê? -
17:38 - 17:40Como se fosse objetiva.
-
17:40 - 17:41Onde está a ignorância?
-
17:41 - 17:46Ver o que é subjetivo
como se fosse objetivo. -
17:46 - 17:50Então, sabedoria é
se relacionar com a realidade -
17:50 - 17:53de uma forma coerente
com o que a realidade é. -
17:53 - 17:55Quanto mais coerente nós formos,
-
17:55 - 18:00melhor vamos nos relacionar com nós mesmos
e com o mundo à nossa volta. -
18:00 - 18:05Pra terminar, eu queria dizer uma frase
que me acompanha muito, -
18:05 - 18:08porque o maior dos meus defeitos,
eu acredito, é a preguiça. -
18:10 - 18:13Quem me conhece diz:
"Não, você não é preguiçoso". -
18:13 - 18:15Pode deixar que eu sou, eu me conheço.
-
18:15 - 18:16(Risos)
-
18:18 - 18:22E também é um dos pontos que eu batalho
pra superar constantemente. -
18:23 - 18:25E tem uma frase
que foi dita por um mestre, -
18:25 - 18:29mais ou menos uns 4 séculos atrás
no Tibete chamado Kunden Jampel Yang -
18:29 - 18:32Vou dizer primeiro em tibetano. Ele dizia:
-
18:32 - 18:35(Tibetano)
-
18:42 - 18:44Em português seria algo como:
-
18:45 - 18:50"Pensando em fazer, pensando em fazer,
se passaram 20 anos. -
18:50 - 18:54Não consegui, não consegui,
se passaram 20 anos. -
18:54 - 18:59Ai, por que não fiz? Ai, por que não fiz?
Se passaram 20 anos. -
18:59 - 19:02Assim se passaram 60 anos.
-
19:02 - 19:05Essa é a biografia de uma vida vazia".
-
19:05 - 19:09Se tem algo que queremos fazer,
temos que começar hoje. -
19:09 - 19:12Lembremos que naquela época
a vida média no Tibete era de 60 anos. -
19:12 - 19:13Se a gente coloca:
-
19:13 - 19:18"Não pensando em fazer, não pensando
em fazer, passaram 20", chegamos aos 80. -
19:18 - 19:23Mas o fato é: nunca é tarde demais
e nunca é cedo demais. -
19:23 - 19:27Tudo o que nós fazemos,
cada palavra que a gente diz, -
19:27 - 19:30cada lugar que a gente vai,
cada pessoa que a gente encontra, -
19:30 - 19:34cada pensamento que a gente tem,
cada decisão que a gente toma, -
19:34 - 19:38são determinantes na nossa vida.
-
19:38 - 19:43Então, o que eu peço é que, de tudo
aquilo que a gente escuta, -
19:43 - 19:44de tudo aquilo que a gente observa,
-
19:44 - 19:48se tem algo que a gente acredita
que verdadeiramente é de benefício, -
19:48 - 19:52vamos colocar em prática,
vamos fazer acontecer na nossa vida. -
19:52 - 19:54Muito obrigado.
-
19:54 - 19:56(Aplausos)
- Title:
- O sentido da vida | Lama Michel | TEDxLaçador
- Description:
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Existem momentos que marcam a nossa vida. Aos 11 anos Lama Michel observava os adultos e só ouvia reclamações. Nenhum adulto parecia feliz. O exemplo de vida que encontrou foi um mestre budista. Então tomou uma decisão que fazia sentido para ele. Suas decisões fazem sentido para você?
Lama Michel Rinpoche nasceu em 1981, em São Paulo. Aos 12 anos, inspirado pelo convívio com Lama Gangchen Rinpoche, decidiu seguir a vida monástica. Por 12 anos viveu na Universidade Monástica de Sera Me, na Índia, onde recebeu formação nas práticas e na filosofia do budismo tibetano. Desde 2006, reside na Itália. É vice-presidente da Fondazione Lama Gangchen per una Cultura di Pace, na Itália e presidente da Fundação Lama Gangchen para a Cultura de Paz, no Brasil. Autor dos livros “Uma Jovem Ideia de Paz”, pela Editora Sarasvati, em 1996, “Coragem para seguir em frente”, pela Editora Gaia, em 2006 e “Grande Amor”, em parceria com sua mãe, Bel Cesar, pela Editora Gaia, em 2015.
Esta palestra foi dada em um evento TEDx, que usa o formato de conferência TED, mas é organizado de forma independente por uma comunidade local. Para saber mais visite http://ted.com/tedx
- Video Language:
- Portuguese, Brazilian
- Team:
- closed TED
- Project:
- TEDxTalks
- Duration:
- 19:59
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