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O sentido da vida | Lama Michel | TEDxLaçador

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    Eu acredito que existem momentos
    que marcam a nossa vida.
  • 0:17 - 0:20
    Tem várias fases da vida
    em que a gente vai vivendo o dia a dia,
  • 0:20 - 0:22
    as coisas vão passando,
  • 0:22 - 0:27
    e é claro que cada experiência
    que a gente tem marca a nossa vida.
  • 0:27 - 0:32
    Porém, tem alguns momentos que acabam
    tendo um peso maior que outros.
  • 0:33 - 0:36
    Eu acho que um dos momentos
    mais importantes da minha vida
  • 0:36 - 0:39
    aconteceu quando eu era bem pequeno.
  • 0:39 - 0:41
    Eu tinha cinco anos.
  • 0:41 - 0:44
    E o que ocorreu foi que eu me apaixonei.
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    Na verdade, eu encontrei
    pela primeira vez meu mestre,
  • 0:49 - 0:51
    o mestre Lama Gangchen Rinpoche,
  • 0:51 - 0:54
    a quem eu tenho profunda gratidão.
  • 0:54 - 0:58
    Eu acredito ser extremamente
    afortunado nesta vida
  • 0:58 - 1:05
    por poder ter encontrado e ter vivido
    e ainda viver e encontrar pessoas
  • 1:05 - 1:10
    que foram, e ainda são, um grande exemplo
    daquilo em que eu quero me tornar.
  • 1:11 - 1:16
    E esse encontro fez
    com que eu, devagarzinho,
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    colocasse algumas perguntas
    na minha cabeça.
  • 1:19 - 1:22
    Fizesse perguntas, questionamentos...
  • 1:22 - 1:24
    Claro que não foi uma coisa
    de um dia pro outro.
  • 1:24 - 1:27
    Eu sou e sempre fui uma pessoa
    interiormente lenta,
  • 1:27 - 1:30
    no sentido em que eu penso,
  • 1:30 - 1:33
    eu não sou uma pessoa que conversa muito,
  • 1:33 - 1:36
    eu tenho os meus processos interiores,
  • 1:36 - 1:39
    mas quando eu tomo uma decisão
    ela é bastante estável.
  • 1:39 - 1:42
    E o que aconteceu
    foi que durante esses anos,
  • 1:42 - 1:45
    entrando em contato com uma pessoa
    tão incrível pra mim como foi,
  • 1:45 - 1:49
    e como é ainda, o Lama Gangchen Rinpoche,
  • 1:49 - 1:52
    eu comecei a me colocar uma pergunta.
  • 1:53 - 1:55
    O que eu estou fazendo?
  • 1:57 - 2:00
    Eu venho de uma família
    onde tive uma educação religiosa,
  • 2:00 - 2:03
    da parte da família do meu pai, judia,
  • 2:03 - 2:07
    por parte da minha mãe,
    cristã, presbiteriana,
  • 2:07 - 2:10
    meus pais sempre muito abertos.
  • 2:10 - 2:15
    O que aconteceu foi que a pergunta
    não tinha a ver com a religião em si,
  • 2:15 - 2:18
    mas era: "O que eu estou fazendo aqui?"
  • 2:18 - 2:20
    Eu tinha uma vida ótima em São Paulo.
  • 2:20 - 2:26
    Boa família, ótimos pais,
    grandes amigos, primos, família, escola.
  • 2:26 - 2:28
    Estava tudo ótimo.
  • 2:28 - 2:31
    Não tinha nada que eu pudesse
    reclamar da vida que eu tinha.
  • 2:31 - 2:36
    Mas a pergunta que estava
    sempre lá era: "Aonde eu estou indo?"
  • 2:36 - 2:41
    Estudo matemática, geografia,
    português, inglês, estudos sociais,
  • 2:41 - 2:44
    aquilo que a gente sabe muito bem.
  • 2:44 - 2:45
    E a pergunta que eu me fiz foi:
  • 2:45 - 2:48
    "Estudo tudo isso pra quê?"
  • 2:48 - 2:50
    A única resposta
    que eu encontrei na época...
  • 2:50 - 2:53
    hoje acho que eu teria
    uma resposta bem diferente,
  • 2:53 - 2:55
    não tanto, mas um pouco diferente.
  • 2:55 - 2:58
    Mas a única resposta
    que eu encontrei na época foi:
  • 2:58 - 3:02
    "Estudo tudo isso pra terminar a escola,
  • 3:03 - 3:06
    ir pra uma universidade, me formar,
  • 3:07 - 3:09
    e, se tudo der certo,
  • 3:09 - 3:13
    pra que eu consiga um trabalho
    que eu goste e ganhe bem".
  • 3:14 - 3:16
    E eu falei: "É..."
  • 3:16 - 3:20
    Só que comecei a observar à minha volta,
    nos encontros de família,
  • 3:20 - 3:21
    olhando pra pessoas à minha volta,
  • 3:21 - 3:24
    tentando observar
    o mundo adulto à minha volta,
  • 3:24 - 3:26
    eu tinha uns 11 anos na época.
  • 3:26 - 3:30
    E eu observava, cada vez que estava
    perto dos adultos conversando,
  • 3:30 - 3:33
    eu escutava as conversas,
  • 3:33 - 3:35
    e eram principalmente o quê?
  • 3:35 - 3:36
    Reclamação.
  • 3:38 - 3:43
    Dificilmente eu via alguém
    satisfeito, feliz.
  • 3:43 - 3:47
    Eu via muitas pessoas
    que materialmente tinham muito,
  • 3:47 - 3:50
    ótima educação, bons trabalhos,
  • 3:50 - 3:54
    mas, poderia dizer talvez,
    pouca satisfação.
  • 3:54 - 3:57
    E cada vez que eu via meu mestre,
    eu via, como ainda é hoje,
  • 3:57 - 4:01
    uma pessoa extremamente saudável
    interiormente, exteriormente,
  • 4:01 - 4:04
    feliz, satisfeita, alegre.
  • 4:04 - 4:10
    Eu vivo com o meu mestre até hoje,
    são quase 30 anos que eu o conheço,
  • 4:10 - 4:15
    e em nenhum momento eu ouvi
    ele reclamar ou falar mal de alguém.
  • 4:17 - 4:20
    E o que aconteceu nesse processo
    foi que eu falei:
  • 4:20 - 4:22
    "É isso que eu quero ser!
    Ele é o meu exemplo!"
  • 4:22 - 4:27
    Uma vez eu estava num jantar de família
    em Nova Iorque, com a parte judia,
  • 4:27 - 4:29
    em um casamento, e uma pessoa
    da família me perguntou:
  • 4:29 - 4:32
    "Mas por que você não se tornou um rabino?
  • 4:32 - 4:34
    Talves estivesse mais perto
    da sua cultura, não?"
  • 4:34 - 4:40
    Eu falei: "A razão, o que eu acredito,
    é porque o exemplo de vida que encontrei
  • 4:40 - 4:42
    foi de um mestre budista".
  • 4:42 - 4:45
    Foi o que me levou a isso, né?
  • 4:46 - 4:48
    Antes de começar a falar um pouco
  • 4:48 - 4:52
    sobre qual é o sentido da vida pra mim,
    aonde tudo isso me levou,
  • 4:52 - 4:56
    que no final das contas, sim, acabei
    seguindo os passos do meu mestre,
  • 4:56 - 5:02
    ou seja, eu fiz uma decisão que não era
    conceitual, ela vinha de dentro,
  • 5:02 - 5:04
    ela fazia sentido pra mim,
  • 5:04 - 5:10
    que foi: "Eu quero seguir os passos
    que essa pessoa, esse meu mestre, fez".
  • 5:10 - 5:12
    Então, com 12 anos fui pra Índia
    estudar num monastério,
  • 5:12 - 5:16
    eu que nunca fui bom aluno,
    nunca gostei de estudar,
  • 5:16 - 5:17
    estava lá, tendo que estudar,
  • 5:17 - 5:23
    acordando às 5h30 da manhã,
    começando as preces,
  • 5:23 - 5:26
    começando a estudar
    das 7h da manhã às 11h da noite.
  • 5:26 - 5:29
    Vida de monastério é pra quem gosta.
  • 5:29 - 5:33
    Vida no monastério é
    um pouco como, digamos,
  • 5:33 - 5:36
    estar no exército, com um objetivo
    um pouco diferente, muita disciplina.
  • 5:36 - 5:40
    No monastério em que eu vivi
    eram mais de 4 mil pessoas,
  • 5:41 - 5:43
    era uma estrutura muito grande.
  • 5:43 - 5:44
    Mas foi algo maravilhoso.
  • 5:44 - 5:49
    Acho que a melhor educação
    que eu poderia ter recebido, eu recebi lá.
  • 5:49 - 5:53
    Mas no primeiro ano que voltei pro Brasil
    depois de ter ido pro monastério,
  • 5:53 - 5:58
    minha avó me levou pra um encontro
    que pra mim foi muito importante,
  • 5:58 - 6:02
    com uma pessoa por quem eu tenho
    uma grande estima, o rabino Nilton Bonder.
  • 6:02 - 6:06
    De certa forma, fazendo uma piada disso,
  • 6:06 - 6:09
    minha avó deve ter pensado:
    "O que aconteceu com meu neto?
  • 6:09 - 6:12
    Com 12 anos foi pra um monastério,
    vamos conversar com o rabino".
  • 6:13 - 6:18
    E aconteceu que, quando eu cheguei
    pra encontrar o rabino,
  • 6:18 - 6:21
    tinha a ver com o fato da idade,
    na tradição judia, fazer "bar mitzvá",
  • 6:21 - 6:25
    como era, como não era, eu estava
    no monastério, complicada a coisa.
  • 6:25 - 6:29
    Eu sentei pra conversar com o rabino,
  • 6:29 - 6:34
    e a primeira coisa que ele disse
    foi uma frase que me marcou muito:
  • 6:34 - 6:41
    "Se eu sou eu porque você é você,
    e se você é você porque eu sou eu,
  • 6:41 - 6:44
    eu não sou eu, e você não é você.
  • 6:44 - 6:49
    Mas se eu sou eu porque eu sou eu,
    e você é você porque você é você,
  • 6:49 - 6:52
    aí sim, podemos conversar;
  • 6:52 - 6:54
    porque somos verdadeiros".
  • 6:54 - 6:56
    Isso eu sempre tento levar na minha vida,
  • 6:56 - 6:59
    onde quer que eu esteja,
    eu sou eu porque eu sou eu.
  • 7:00 - 7:02
    É normal as pessoas me olharem,
    pela forma como eu me visto,
  • 7:02 - 7:05
    e eu não estou nem aí com isso,
    isso não é importante,
  • 7:05 - 7:08
    se gostam, se não gostam,
    não vai mudar nada pra mim.
  • 7:08 - 7:14
    Mas o fato é que, durante todos esses anos
    eu tive a oportunidade de aprender,
  • 7:14 - 7:17
    aprender com conceitos,
  • 7:17 - 7:20
    aprender com exemplos, antes de mais nada.
  • 7:21 - 7:23
    E eu queria compartilhar
    um pouco com vocês
  • 7:23 - 7:25
    aquilo que pra mim
    é o significado da vida.
  • 7:25 - 7:29
    Como fazer desta vida
    uma vida significativa.
  • 7:30 - 7:35
    Resumindo: a gente pode dizer
    que é uma escolha.
  • 7:35 - 7:38
    Que há duas formas de poder viver a vida.
  • 7:38 - 7:41
    Uma é viver a vida
    simplesmente para sobreviver;
  • 7:43 - 7:46
    o dia vai passando,
    vai empurrando com a barriga.
  • 7:46 - 7:49
    Um dia vai passando depois do outro,
    tem um problema,
  • 7:49 - 7:53
    vamos tentar resolver o problema,
    entre uma coisa e outra.
  • 7:53 - 7:54
    Um exemplo disso,
  • 7:54 - 7:56
    uma vez um dos meus mestres,
  • 7:56 - 7:59
    com quem eu morava
    no monastério, me disse:
  • 7:59 - 8:02
    "Se você viver a sua vida
    apenas para sobreviver,
  • 8:02 - 8:04
    não tem nenhuma diferença
    entre você e uma vaca".
  • 8:05 - 8:08
    E ele [usava] esse exemplo
    porque eu morava no campo,
  • 8:08 - 8:11
    no interior da Índia,
    tinha muitas vacas em volta.
  • 8:12 - 8:15
    E ali pertinho tinha uma vaca,
    ele falou: "Olha uma vaca".
  • 8:15 - 8:18
    O que a pessoa faz,
    quando vive para sobreviver?
  • 8:18 - 8:23
    Ela passa a vida tentando evitar
    sofrimento e ir à busca de prazeres.
  • 8:24 - 8:28
    Se a gente passa a nossa vida
    unicamente tentando evitar sofrimentos
  • 8:28 - 8:32
    e indo à busca de prazeres, a gente está
    vivendo a vida apenas para sobreviver.
  • 8:33 - 8:35
    Uma vaca no pasto,
  • 8:35 - 8:39
    quando está um sol muito forte, e tem
    um lugar com sombra, aonde ela vai?
  • 8:39 - 8:42
    Vai pra sombra, ou fica debaixo do sol?
  • 8:42 - 8:45
    Ela vai pra sombra,
    ela busca evitar o sofrimento.
  • 8:45 - 8:48
    Se ela está lá pastando,
    num lugar o pasto está seco,
  • 8:48 - 8:51
    e em outro lugar está verdinho,
    fresquinho, onde ela vai comer?
  • 8:51 - 8:54
    No pasto verde. Ela busca o prazer.
  • 8:54 - 8:57
    A gente tem um jeito um pouco
    mais elaborado de fazer isso.
  • 8:57 - 8:58
    (Risos)
  • 8:58 - 9:04
    Mas o que acontece é que viver a vida
    apenas para sobreviver é uma escolha.
  • 9:05 - 9:07
    É aquela vida na qual você vive a vida,
  • 9:07 - 9:10
    a cada vez que tem uma emoção difícil,
    que tem um sofrimento,
  • 9:10 - 9:13
    nossa tendência é tentar fugir
    daquele sofrimento,
  • 9:13 - 9:15
    e não aprender com ele.
  • 9:15 - 9:19
    Então acaba-se tomando refúgio na bebida,
    acaba-se tomando refúgio na diversão;
  • 9:19 - 9:25
    nada contra a diversão, mas acaba-se
    tomando refúgio em coisas que, na verdade,
  • 9:25 - 9:30
    não fazem nada mais nada menos
    do que fazer com que a gente possa fugir
  • 9:30 - 9:32
    dos nossos próprios
    conflitos e dificuldades,
  • 9:32 - 9:34
    das nossas fraquezas, das nossas sombras,
  • 9:34 - 9:37
    que na verdade são extremamente preciosas.
  • 9:38 - 9:43
    A outra escolha, é uma escolha
    de fazer essa vida [ser] significativa.
  • 9:43 - 9:48
    Dizer: "Muito bem, a minha vida
    não é um fim, mas é um meio".
  • 9:48 - 9:53
    E pra mim, fazer essa vida significativa
    requer dois aspectos,
  • 9:53 - 9:55
    dois campos de ação,
    que na verdade são um só.
  • 9:55 - 9:59
    Mas, pra facilitar um pouco, a gente pode
    colocar como duas coisas separadas.
  • 9:59 - 10:04
    O ideal é que elas se tornem uma só,
    que é: desenvolver a si mesmo,
  • 10:04 - 10:08
    fazer com que cada dia que passa
    eu me torne uma pessoa melhor.
  • 10:08 - 10:14
    O mínimo que eu quero nisso é morrer
    uma pessoa melhor do que a que nasceu;
  • 10:14 - 10:16
    que não é tão óbvio assim.
  • 10:17 - 10:19
    Ou seja, tudo aquilo que eu aprendi,
  • 10:19 - 10:23
    os condicionamentos que eu gerei
    durante a minha vida,
  • 10:23 - 10:26
    que eu possa ser
    uma pessoa melhor no final dela.
  • 10:26 - 10:29
    Então, se tornar uma pessoa melhor.
  • 10:29 - 10:34
    E o outro aspecto pra fazer desta vida
    uma vida significativa é ajudar o próximo.
  • 10:36 - 10:40
    Então esse processo não uma coisa
    que a gente aprende do nada.
  • 10:40 - 10:42
    No budismo existe um processo muito claro
  • 10:42 - 10:46
    que é escutar, compreender e meditar.
  • 10:46 - 10:48
    Qualquer coisa
    que a gente queira realizar,
  • 10:48 - 10:51
    a gente tem que passar
    por essas três fases.
  • 10:51 - 10:54
    Escutar quer dizer receber informação.
  • 10:54 - 11:00
    Conversar, ler, escutar,
    receber informação.
  • 11:00 - 11:04
    O segundo passo é fazer com que aquela
    informação que a gente escutou,
  • 11:04 - 11:06
    e com a qual a gente esteja de acordo,
  • 11:06 - 11:10
    não seja apenas mais uma repetição
    do que alguém nos disse,
  • 11:10 - 11:12
    mas fazer com que aquilo se torne nosso.
  • 11:12 - 11:16
    Ou seja, eu vou compreender aquele ponto.
  • 11:16 - 11:18
    E o terceiro ponto, é meditar.
  • 11:18 - 11:23
    Meditar literalmente não quer dizer apenas
    sentar em silêncio, que é maravilhoso,
  • 11:23 - 11:26
    mas é na verdade se familiarizar.
  • 11:26 - 11:31
    Ter experiências para que aquele conceito
    não seja apenas mais um conceito,
  • 11:31 - 11:34
    mas se torne parte real da nossa vida.
  • 11:35 - 11:38
    Eu já conversei em vários contextos,
    às vezes eu pergunto pras pessoas:
  • 11:38 - 11:41
    "Ficar com raiva é bom ou é ruim?"
  • 11:42 - 11:43
    É ruim.
  • 11:43 - 11:46
    Já perguntei isso pra criança de toda
    idade, adulto, velho, não importa.
  • 11:46 - 11:49
    Em qualquer contexto, todo mundo fala:
    "Ter raiva não é bom".
  • 11:49 - 11:54
    Saber que não é bom ter raiva quer dizer
    que você não vai mais sentir raiva?
  • 11:55 - 11:56
    Não.
  • 11:56 - 11:58
    Então saber não é o bastante.
  • 11:58 - 12:01
    A gente precisa, verdadeiramente,
  • 12:01 - 12:05
    ter experiências pra que elas possam
    se tornar uma realidade na nossa vida.
  • 12:05 - 12:09
    Pra que possam fazer parte da nossa vida,
    e esse é o processo de meditar;
  • 12:09 - 12:14
    é se autoinduzir a certos estados
    de consciência que a gente quer gerar,
  • 12:14 - 12:17
    pra que eles possam ser naturais
    e espontâneos depois.
  • 12:17 - 12:22
    Em outras palavras,
    é muito melhor ser um altruísta...
  • 12:22 - 12:26
    como se diz...
  • 12:26 - 12:30
    muito melhor ser um altruísta artificial,
    do que um egoísta natural.
  • 12:33 - 12:37
    No decorrer do tempo, porque eu sei
    que é melhor ser altruísta
  • 12:37 - 12:39
    eu vou me forçar para isso,
  • 12:39 - 12:43
    não é totalmente verdadeiro,
    mas gradualmente eu vou aprender.
  • 12:43 - 12:46
    Então tem dois pontos que eu queria
    trazer pra vocês hoje, bem rapidinho,
  • 12:46 - 12:49
    de dois aspectos que eu acho
    que são importantes na nossa vida,
  • 12:49 - 12:52
    que a gente pode desenvolver.
  • 12:52 - 12:55
    Tanto pra fazer com que nós
    sejamos pessoas melhores
  • 12:55 - 12:59
    como pra ajudar o mundo
    que está à nossa volta.
  • 12:59 - 13:02
    Eles são o amor e a sabedoria.
  • 13:04 - 13:10
    Alguns anos atrás eu abri a Wikipédia,
    e olhei a palavra amor em inglês, "love".
  • 13:10 - 13:13
    Tinha 67 definições diferentes de amor.
  • 13:15 - 13:19
    No budismo, amar quer dizer
    "desejar a felicidade".
  • 13:19 - 13:23
    "Eu te amo" quer dizer que a tua
    felicidade é importante pra mim.
  • 13:23 - 13:26
    Eu desejo profundamente
    que você seja feliz.
  • 13:26 - 13:31
    Independentemente de onde,
    quando, com quem, ou como.
  • 13:31 - 13:35
    Eu quero que você seja feliz.
  • 13:35 - 13:39
    "Eu te desejo", eu preciso
    de você pra minha felicidade.
  • 13:39 - 13:42
    São duas coisas diferentes,
    algumas vezes podem estar juntas,
  • 13:42 - 13:45
    mas amar é desejar a felicidade do outro.
  • 13:46 - 13:50
    E, bem rapidamente, tem um exercício
    que eu comecei a fazer alguns anos atrás
  • 13:50 - 13:52
    que me ajuda bastante,
  • 13:52 - 13:56
    eu queria compartilhar com vocês
    pra trazer algo prático,
  • 13:56 - 14:01
    que é o fato de pelo menos
    uma vez por dia ir pra alguém,
  • 14:01 - 14:03
    possivelmente que a gente não conhece,
  • 14:03 - 14:08
    num restaurante, no metrô,
    no supermercado, na rua,
  • 14:08 - 14:12
    olhar para a pessoa e falar: "Eu te amo".
  • 14:12 - 14:14
    Não verbalmente.
  • 14:14 - 14:15
    (Risos)
  • 14:15 - 14:18
    Pra não criar conflitos
    ou situações um pouco estranhas.
  • 14:18 - 14:20
    (Risos)
  • 14:20 - 14:24
    Eu tive um momento de amor com um pedreiro
    na Vila Madalena, que foi incrível...
  • 14:24 - 14:25
    (Risos)
  • 14:25 - 14:31
    Na verdade, o exercício é o seguinte:
    a gente olha pra pessoa nos olhos
  • 14:31 - 14:32
    e pensa no coração:
  • 14:32 - 14:35
    "Eu desejo que você seja feliz.
  • 14:35 - 14:38
    A tua felicidade é importante pra mim".
  • 14:38 - 14:39
    Só isso.
  • 14:39 - 14:44
    Uma vez eu estava nesse momento esperando
    um amigo na Vila Madalena, em São Paulo,
  • 14:44 - 14:47
    tinha uma construção do lado,
    e o pedreiro estava me olhando...
  • 14:47 - 14:49
    Olha como eu estou vestido, né?
  • 14:49 - 14:52
    Eu olhei pra ele de volta, e normalmente
    quando alguém fica te olhando,
  • 14:52 - 14:55
    a tendência, quando você olha
    pra pessoa, é ela retirar o olhar.
  • 14:55 - 14:59
    Naquele caso não, ele continuou me olhando
    e eu continuei olhando pra ele.
  • 14:59 - 15:00
    Passaram-se uns dois minutos talvez.
  • 15:00 - 15:04
    E eu comecei a fazer esse exercício
    de olhar pra ele nos olhos e desejar:
  • 15:04 - 15:06
    "Eu desejo que você seja feliz.
  • 15:06 - 15:07
    Não sei quem você é, de onde você veio,
  • 15:07 - 15:10
    sei que a tua felicidade
    é importante pra mim.
  • 15:10 - 15:12
    Eu desejo que você seja feliz".
  • 15:12 - 15:16
    Fui devagarzinho e naturalmente
    sorrindo, ele foi sorrindo,
  • 15:16 - 15:20
    aquilo foi me preenchendo,
    me levando pra um estado de plenitude.
  • 15:21 - 15:25
    E isso é maravilhoso, porque a gente
    gosta de ser amado ou não?
  • 15:25 - 15:26
    É bom ser amado?
  • 15:26 - 15:30
    É maravilhoso. Porém tem algo
    muito melhor, que é amar.
  • 15:32 - 15:34
    Quando a gente abre o coração de verdade,
  • 15:34 - 15:39
    isso nos traz um nível
    de alegria, de plenitude,
  • 15:39 - 15:42
    que vai além de qualquer prazer
    que a gente possa experimentar na vida,
  • 15:42 - 15:44
    no dia a dia.
  • 15:44 - 15:46
    É algo maravilhoso.
  • 15:46 - 15:50
    Por isso, egoisticamente falando,
    é muito melhor ser altruísta.
  • 15:53 - 15:56
    O segundo ponto importante...
  • 15:57 - 15:59
    Então por isso, por favor,
    pratiquem o amor.
  • 15:59 - 16:03
    Olhem pro mundo à sua volta
    e desejem a felicidade.
  • 16:03 - 16:07
    Independentemente
    de quem esteja na nossa frente.
  • 16:07 - 16:10
    O segundo ponto, muito importante,
  • 16:10 - 16:13
    e o ponto mais profundo
    e complexo da filosofia budista
  • 16:13 - 16:15
    que em 1 minuto e 50
    eu não vou poder explicar,
  • 16:15 - 16:17
    (Risos)
  • 16:18 - 16:20
    é o fato que é chamado "sabedoria".
  • 16:20 - 16:22
    Mas em poucas palavras, o que é sabedoria?
  • 16:22 - 16:25
    É se relacionar com a realidade
  • 16:25 - 16:28
    de uma forma coerente
    com o que a realidade é.
  • 16:31 - 16:32
    Dois exemplos.
  • 16:32 - 16:36
    O mundo à nossa volta
    é permanente ou impermanente?
  • 16:36 - 16:41
    As coisas estão sempre
    se transformando ou são fixas?
  • 16:42 - 16:44
    Estão sempre se transformando.
  • 16:44 - 16:47
    Mas quando a gente encontra uma pessoa
    e vai vê-la de novo no dia seguinte,
  • 16:47 - 16:49
    quem a gente pensa em encontrar?
  • 16:49 - 16:52
    Alguém que se transformou e está
    um pouco diferente porque interagiu
  • 16:52 - 16:53
    ou a mesma pessoa?
  • 16:53 - 16:54
    A mesma pessoa.
  • 16:54 - 16:57
    E quando a pessoa muda,
    a gente pode ficar chateado?
  • 16:58 - 17:01
    A gente sofre com a transformação?
  • 17:02 - 17:07
    Ou seja, a realidade à nossa volta
    aparece a nós, surge a nós,
  • 17:07 - 17:10
    tem uma aparência
    como se fosse permanente.
  • 17:10 - 17:13
    Mesmo que ela seja, na verdade,
    impermanente; e a gente acredita.
  • 17:13 - 17:19
    A gente vive num mundo
    de uma realidade subjetiva ou objetiva?
  • 17:20 - 17:22
    Subjetiva.
  • 17:22 - 17:24
    Nada é igual pra todos.
  • 17:24 - 17:29
    Porém, como a realidade surge pra nós?
    Como que a gente vê as coisas?
  • 17:29 - 17:33
    Como se elas fossem daquela maneira,
    de forma objetiva ou subjetiva?
  • 17:33 - 17:34
    Objetiva.
  • 17:34 - 17:36
    Analisando, a gente sabe que é subjetiva,
  • 17:36 - 17:38
    mas na experiência direta,
    como a gente vê?
  • 17:38 - 17:40
    Como se fosse objetiva.
  • 17:40 - 17:41
    Onde está a ignorância?
  • 17:41 - 17:46
    Ver o que é subjetivo
    como se fosse objetivo.
  • 17:46 - 17:50
    Então, sabedoria é
    se relacionar com a realidade
  • 17:50 - 17:53
    de uma forma coerente
    com o que a realidade é.
  • 17:53 - 17:55
    Quanto mais coerente nós formos,
  • 17:55 - 18:00
    melhor vamos nos relacionar com nós mesmos
    e com o mundo à nossa volta.
  • 18:00 - 18:05
    Pra terminar, eu queria dizer uma frase
    que me acompanha muito,
  • 18:05 - 18:08
    porque o maior dos meus defeitos,
    eu acredito, é a preguiça.
  • 18:10 - 18:13
    Quem me conhece diz:
    "Não, você não é preguiçoso".
  • 18:13 - 18:15
    Pode deixar que eu sou, eu me conheço.
  • 18:15 - 18:16
    (Risos)
  • 18:18 - 18:22
    E também é um dos pontos que eu batalho
    pra superar constantemente.
  • 18:23 - 18:25
    E tem uma frase
    que foi dita por um mestre,
  • 18:25 - 18:29
    mais ou menos uns 4 séculos atrás
    no Tibete chamado Kunden Jampel Yang
  • 18:29 - 18:32
    Vou dizer primeiro em tibetano. Ele dizia:
  • 18:32 - 18:35
    (Tibetano)
  • 18:42 - 18:44
    Em português seria algo como:
  • 18:45 - 18:50
    "Pensando em fazer, pensando em fazer,
    se passaram 20 anos.
  • 18:50 - 18:54
    Não consegui, não consegui,
    se passaram 20 anos.
  • 18:54 - 18:59
    Ai, por que não fiz? Ai, por que não fiz?
    Se passaram 20 anos.
  • 18:59 - 19:02
    Assim se passaram 60 anos.
  • 19:02 - 19:05
    Essa é a biografia de uma vida vazia".
  • 19:05 - 19:09
    Se tem algo que queremos fazer,
    temos que começar hoje.
  • 19:09 - 19:12
    Lembremos que naquela época
    a vida média no Tibete era de 60 anos.
  • 19:12 - 19:13
    Se a gente coloca:
  • 19:13 - 19:18
    "Não pensando em fazer, não pensando
    em fazer, passaram 20", chegamos aos 80.
  • 19:18 - 19:23
    Mas o fato é: nunca é tarde demais
    e nunca é cedo demais.
  • 19:23 - 19:27
    Tudo o que nós fazemos,
    cada palavra que a gente diz,
  • 19:27 - 19:30
    cada lugar que a gente vai,
    cada pessoa que a gente encontra,
  • 19:30 - 19:34
    cada pensamento que a gente tem,
    cada decisão que a gente toma,
  • 19:34 - 19:38
    são determinantes na nossa vida.
  • 19:38 - 19:43
    Então, o que eu peço é que, de tudo
    aquilo que a gente escuta,
  • 19:43 - 19:44
    de tudo aquilo que a gente observa,
  • 19:44 - 19:48
    se tem algo que a gente acredita
    que verdadeiramente é de benefício,
  • 19:48 - 19:52
    vamos colocar em prática,
    vamos fazer acontecer na nossa vida.
  • 19:52 - 19:54
    Muito obrigado.
  • 19:54 - 19:56
    (Aplausos)
Title:
O sentido da vida | Lama Michel | TEDxLaçador
Description:

Existem momentos que marcam a nossa vida. Aos 11 anos Lama Michel observava os adultos e só ouvia reclamações. Nenhum adulto parecia feliz. O exemplo de vida que encontrou foi um mestre budista. Então tomou uma decisão que fazia sentido para ele. Suas decisões fazem sentido para você?

Lama Michel Rinpoche nasceu em 1981, em São Paulo. Aos 12 anos, inspirado pelo convívio com Lama Gangchen Rinpoche, decidiu seguir a vida monástica. Por 12 anos viveu na Universidade Monástica de Sera Me, na Índia, onde recebeu formação nas práticas e na filosofia do budismo tibetano. Desde 2006, reside na Itália. É vice-presidente da Fondazione Lama Gangchen per una Cultura di Pace, na Itália e presidente da Fundação Lama Gangchen para a Cultura de Paz, no Brasil. Autor dos livros “Uma Jovem Ideia de Paz”, pela Editora Sarasvati, em 1996, “Coragem para seguir em frente”, pela Editora Gaia, em 2006 e “Grande Amor”, em parceria com sua mãe, Bel Cesar, pela Editora Gaia, em 2015.

Esta palestra foi dada em um evento TEDx, que usa o formato de conferência TED, mas é organizado de forma independente por uma comunidade local. Para saber mais visite http://ted.com/tedx

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Video Language:
Portuguese, Brazilian
Team:
closed TED
Project:
TEDxTalks
Duration:
19:59

Portuguese, Brazilian subtitles

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