A razão oculta para que o mundo resolva o problema da pobreza.
-
0:01 - 0:05Para ser franco
quanto à minha personalidade, -
0:05 - 0:06não sou muito de chorar.
-
0:07 - 0:11Mas, na minha carreira,
isso tem sido bom. -
0:11 - 0:13Sou um advogado de direitos civis,
-
0:13 - 0:16e tenho visto coisas horríveis neste mundo.
-
0:17 - 0:21Comecei a minha carreira nos EUA,
com processos contra a violência policial. -
0:21 - 0:25Em 1994, fui enviado para o Ruanda,
-
0:25 - 0:30como diretor do programa
de investigação de genocídio, pela ONU. -
0:30 - 0:34Acontece que as lágrimas
não nos ajudam muito -
0:34 - 0:37quando estamos a tentar
investigar um genocídio. -
0:37 - 0:43As coisas que eu tive que ver,
sentir e tocar -
0:43 - 0:45são indescritíveis.
-
0:46 - 0:48O que eu posso contar é o seguinte:
-
0:49 - 0:51o genocídio do Ruanda
-
0:51 - 0:57foi um dos maiores fracassos
do mundo, em termos de compaixão. -
0:58 - 1:01Esta palavra, compaixão,
vem de duas palavras latinas: -
1:01 - 1:06"cum passio", que significam "sofrer com".
-
1:08 - 1:11As coisas que eu vi e vivi no Ruanda,
-
1:11 - 1:14quando me aproximei do sofrimento humano,
-
1:14 - 1:16por vezes, comoveram-me até às lágrimas.
-
1:16 - 1:19Teria sido preferível
que eu e o resto do mundo, -
1:19 - 1:21nos tivéssemos comovido mais cedo.
-
1:22 - 1:23Não apenas até às lágrimas,
-
1:23 - 1:26mas o que fosse preciso
para impedir o genocídio. -
1:27 - 1:30Em contrapartida, também estou envolvido
-
1:30 - 1:34num dos maiores êxitos mundiais
de compaixão. -
1:35 - 1:38Trata-se da luta contra a pobreza mundial.
-
1:38 - 1:42É uma causa que, provavelmente,
envolveu toda a gente aqui. -
1:42 - 1:44O vosso primeiro contacto com a pobreza
-
1:44 - 1:46foi, talvez, os coros
de "We Are the World", -
1:46 - 1:50ou a foto, na porta do frigorífico,
de uma criança patrocinada, -
1:50 - 1:54ou talvez a vossa doação
para a água potável. -
1:55 - 1:58Não me lembro qual foi o meu
primeiro contacto com a pobreza, -
1:58 - 2:01mas lembro-me qual foi a mais chocante.
-
2:01 - 2:05Foi quando conheci Venus,
uma mãe da Zâmbia. -
2:06 - 2:09Tem três filhos e é viúva.
-
2:10 - 2:14Quando a conheci,
ela tinha andado quase 20 km -
2:14 - 2:16com a única roupa que tinha,
-
2:16 - 2:20para vir à capital
e contar-me a sua história. -
2:20 - 2:24Sentou-se ao pé de mim durante horas,
-
2:24 - 2:27e apresentou-me ao mundo da pobreza.
-
2:29 - 2:32Descreveu-me como fazia frio
quando as brasas na fogueira -
2:32 - 2:34se extinguiam totalmente,
-
2:35 - 2:39quando acabara a última gota
de óleo de cozinha, -
2:40 - 2:43quando acabaram
os últimos restos de comida, -
2:43 - 2:45apesar de todos os seus esforços,
-
2:46 - 2:49Impotente, assistiu
ao seu filho mais novo, Peter, -
2:49 - 2:52a sofrer de desnutrição,
-
2:52 - 2:56enquanto as suas pernas lentamente
ficavam encurvadas e inúteis, -
2:56 - 2:59enquanto os seus olhos
ficavam opacos e turvos. -
2:59 - 3:03Finalmente, Pete extinguiu-se.
-
3:06 - 3:11Durante mais de 50 anos, estas histórias
têm-nos provocado compaixão. -
3:12 - 3:15Nós, cujos filhos têm muito que comer,
-
3:15 - 3:18não nos contentamos só
com a preocupação da pobreza mundial, -
3:18 - 3:22mas tentamos agir
para acabar com esse sofrimento. -
3:22 - 3:25Podem-nos criticar
por não fazermos o suficiente, -
3:25 - 3:30e porque o que fizemos
não foi suficientemente eficaz, -
3:30 - 3:31mas a verdade é esta:
-
3:33 - 3:36A luta contra a pobreza mundial
é provavelmente a manifestação -
3:36 - 3:39mais ampla e duradoura
da compaixão humana -
3:39 - 3:43na história da nossa espécie.
-
3:45 - 3:48Gostava de vos contar
uma descoberta arrasadora -
3:48 - 3:52que pode mudar para sempre
a maneira como vocês encaram essa luta. -
3:52 - 3:55Mas antes, vou começar
com uma coisa que vocês já devem saber. -
3:55 - 3:59Há 35 anos, quando eu estava
a acabar o ensino secundário, -
3:59 - 4:05disseram-nos que morriam diariamente
40 mil crianças, devido à pobreza. -
4:05 - 4:09Este número, hoje, está reduzido a 17 000.
-
4:10 - 4:12Claro que continuam a ser
demasiadas crianças, -
4:12 - 4:14mas isso significa que, todos os anos,
-
4:14 - 4:19há oito milhões de crianças
que já não morrerão devido à pobreza. -
4:20 - 4:22Além disso, o número de pessoas
no nosso mundo -
4:22 - 4:24que vivem em extrema pobreza,
-
4:24 - 4:28— ou seja, vivem com
cerca de 1,25 dólar por dia — -
4:28 - 4:31passou de 50%
-
4:31 - 4:34para apenas 15%.
-
4:35 - 4:37Isso é um progresso enorme
-
4:37 - 4:42que excede as expetativas de todos
sobre o que é possível. -
4:42 - 4:45Acho, francamente, que todos nós
-
4:45 - 4:49podemos sentir-nos
orgulhosos e encorajados -
4:49 - 4:57por ver que a compaixão tem o poder
de acabar com o sofrimento de milhões. -
4:58 - 5:02Mas há um aspeto de que
não se ouve falar muito. -
5:03 - 5:08Se subirmos esse índice da pobreza
apenas para dois dólares por dia, -
5:08 - 5:11acontece que esses mesmos
2000 milhões de pessoas -
5:11 - 5:14que estavam atoladas na maior pobreza,
quando eu andava no secundário, -
5:14 - 5:18continuam na mesma, 35 anos depois.
-
5:19 - 5:24Porque é que há tantos milhares de milhões
ainda atolados numa extrema pobreza? -
5:25 - 5:27Pensemos um pouco em Venus.
-
5:27 - 5:31Durante décadas, a minha mulher e eu,
movidos por uma compaixão comum, -
5:31 - 5:34patrocinámos crianças,
financiámos microcréditos, -
5:34 - 5:37apoiámos ativamente
a ajuda internacional. -
5:37 - 5:41Mas, antes de ter falado com Venus,
-
5:41 - 5:43eu não fazia ideia de que
nenhuma dessas abordagens -
5:43 - 5:48resolvia a razão por que ela
tivera que ver morrer o filho. -
5:50 - 5:54"Vivíamos bem", disse-me Venus,
-
5:54 - 5:58"até Brutus ter começado
a causar problemas". -
5:59 - 6:02Brutus é o vizinho de Venus
e começou a causar problemas -
6:02 - 6:05no dia a seguir à morte
do marido de Venus. -
6:05 - 6:09Brutus chegou e expulsou Venus
e as crianças de casa, -
6:09 - 6:13roubou-lhe a terra e a tenda do mercado.
-
6:15 - 6:19Foi a violência que lançou
Venus na miséria. -
6:21 - 6:23Então, ocorreu-me
-
6:23 - 6:27que nenhum patrocínio de crianças,
nenhum microcrédito, -
6:27 - 6:31nenhum dos programas tradicionais
contra a pobreza, -
6:31 - 6:34iriam deter os Brutus deste mundo,
-
6:34 - 6:37porque não se destinavam a isso.
-
6:38 - 6:41Isto tornou-se-me ainda mais claro
quando conheci Griselda. -
6:43 - 6:46É uma rapariga maravilhosa
-
6:46 - 6:49que vive numa comunidade
muito pobre, na Guatemala. -
6:49 - 6:51Uma da coisas que aprendemos
ao longo dos anos, -
6:51 - 6:54é que talvez a coisa mais poderosa
-
6:54 - 7:00que Griselda e a família podem fazer
para saírem da pobreza -
7:00 - 7:02é assegurar que ela vai à escola.
-
7:03 - 7:06Os especialistas chamam-lhe
o Efeito Rapariga. -
7:07 - 7:10Mas quando conhecemos Griselda
ela não estava a ir à escola. -
7:11 - 7:14Na verdade, raramente saía de casa.
-
7:16 - 7:18Dias antes de a conhecermos,
-
7:18 - 7:22quando ela voltava da igreja,
com a família, em plena luz do dia. -
7:23 - 7:27homens da comunidade,
levaram-na do meio da rua -
7:27 - 7:29e violaram-na brutalmente.
-
7:30 - 7:34Griselda tinha todas as oportunidades
para ir à escola, -
7:34 - 7:37só que, para ela, era muito perigoso.
-
7:38 - 7:40O caso de Griselda não é isolado.
-
7:40 - 7:43Em todo o mundo,
as mulheres e raparigas pobres, -
7:43 - 7:46entre as idades de 16 e 44 anos,
-
7:48 - 7:55são vítimas de violência quotidiana,
doméstica e sexual. -
7:56 - 8:01Estas duas formas de violência
causam mais mortes e deficiências -
8:01 - 8:07do que a malária, os acidentes de carro,
e a guerra, tudo junto. -
8:11 - 8:16A verdade é que os pobres, neste mundo,
estão presos em sistemas de violência. -
8:16 - 8:20No sul da Ásia, por exemplo,
ao passar por uma fábrica de arroz, -
8:20 - 8:25vi um homem a pôr às costas
sacos de arroz de 50 kg. -
8:25 - 8:27Só mais tarde me apercebi
-
8:27 - 8:29que, na realidade, ele era um escravo,
-
8:29 - 8:32mantido à força naquela fábrica de arroz,
-
8:32 - 8:34desde que eu andava no secundário.
-
8:35 - 8:38Décadas de programas
contra a pobreza na sua comunidade -
8:38 - 8:43nunca conseguiram salvá-lo,
nem às centenas de escravos -
8:43 - 8:47dos espancamentos,
das violações e da tortura, -
8:47 - 8:49da violência dentro das fábricas de arroz.
-
8:50 - 8:54Meio século de programas contra a pobreza
-
8:54 - 8:58deixaram mais pobres na escravatura
-
8:58 - 9:00do que em qualquer outra época
da história do Homem. -
9:01 - 9:07Os especialistas dizem-nos que há hoje
cerca de 35 milhões de escravos. -
9:07 - 9:11É quase a população do Canadá,
-
9:11 - 9:13onde me encontro hoje.
-
9:15 - 9:18É por isso que eu comecei a chamar
a esta epidemia de violência -
9:18 - 9:19o Efeito Gafanhoto.
-
9:20 - 9:23Porque, na vida dos pobres,
ela aparece como uma praga -
9:23 - 9:25e destrói tudo à sua passagem.
-
9:26 - 9:30Quando observamos comunidades
extremamente pobres, -
9:30 - 9:34os moradores contar-nos-ão
que o seu maior medo é a violência. -
9:34 - 9:37Mas reparem que a violência que eles temem
-
9:37 - 9:40não é a violência
do genocídio ou das guerras, -
9:40 - 9:42é a violência do dia-a-dia.
-
9:42 - 9:45Para mim, enquanto advogado,
a minha primeira reação foi pensar: -
9:45 - 9:48"Bom, temos que alterar as leis.
-
9:48 - 9:51"Temos que tornar ilegal
toda esta violência contra os pobres". -
9:51 - 9:54Mas depois apercebi-me
de que isso já existia. -
9:55 - 9:58O problema não é os pobres não terem leis,
-
9:58 - 10:01é que não há forças de aplicação da lei.
-
10:03 - 10:04Nos países em desenvolvimento,
-
10:04 - 10:07os sistemas de aplicação da lei
são tão deficientes -
10:07 - 10:10que, recentemente, a ONU publicou
um relatório que chegou à conclusão -
10:10 - 10:15de que "a maior parte dos pobres
vivem fora da proteção da lei". -
10:16 - 10:19Francamente, nenhum de nós faz ideia
-
10:19 - 10:20do que é que isto significa,
-
10:20 - 10:23porque não temos experiência direta disso.
-
10:24 - 10:27O funcionamento da aplicação da lei
para nós é uma premissa total. -
10:27 - 10:31Nada exprime essa premissa
mais claramente que três simples números: -
10:31 - 10:339 -1 -1
-
10:34 - 10:37que, como sabem,
é o número de urgência da polícia, -
10:37 - 10:40tanto no Canadá como nos EUA,
-
10:40 - 10:44em que o tempo médio de resposta
para uma chamada de emergência -
10:44 - 10:46é de cerca de 10 minutos.
-
10:46 - 10:49Consideramos isto como uma coisa natural.
-
10:49 - 10:54E se não houvesse aplicação da lei
para nos proteger? -
10:55 - 10:59Há pouco tempo, uma mulher no Oregon
sentiu o efeito disso. -
10:59 - 11:04Estava sozinha em casa,
num sábado à noite, -
11:04 - 11:07quando um homem
tentou entrar em casa dela. -
11:07 - 11:09Foi o seu pior pesadelo,
-
11:09 - 11:13porque esse homem já a tinha
mandado para o hospital -
11:13 - 11:15num assalto, apenas duas semanas antes.
-
11:15 - 11:19Aterrorizada, agarra no telefone
e faz o que qualquer um de nós faria. -
11:19 - 11:21Liga para o 911
-
11:21 - 11:26e fica a saber que, por causa
dos cortes no orçamento, -
11:26 - 11:29a aplicação da lei não estava disponível
aos fins de semana. -
11:29 - 11:31Oiçam:
-
11:31 - 11:33Telefonista: Não tenho ninguém
para enviar para aí. -
11:33 - 11:34Mulher: Ok.
-
11:34 - 11:39Telefonista:
Se ele entrar em casa e a atacar, -
11:39 - 11:41pode pedir-lhe para se ir embora?
-
11:41 - 11:43Sabe se ele está embriagado?
-
11:43 - 11:45Mulher: Já lhe pedi, já lhe disse
que ia ligar para a polícia. -
11:45 - 11:48Ele já entrou uma vez,
deitou abaixo a porta e atacou-me. -
11:48 - 11:50- Hmm... hmm.
- Então... -
11:50 - 11:53Telefonista: Há alguma maneira
de sair de casa com segurança? -
11:53 - 11:56Mulher: Não, não posso,
ele está a bloquear a saída. -
11:56 - 12:00Telefonista: Bem, a única coisa
que posso fazer é dar-lhe alguns conselhos -
12:00 - 12:03e ligar para o xerife amanhã.
-
12:03 - 12:08Claro que, se ele entrar e tiver uma arma,
-
12:08 - 12:11ou tentar fazer-lhe mal,
a história é outra. -
12:11 - 12:13Sabe, o gabinete do xerife está fechado.
-
12:13 - 12:16Não tenho ninguém para lhe mandar.
-
12:18 - 12:20Gary Haugen: Tragicamente,
a mulher que estava em casa -
12:20 - 12:25foi atacada violentamente,
estrangulada e violada. -
12:26 - 12:32Isto é o que significa viver
fora da aplicação da lei. -
12:34 - 12:38É assim que vivem milhares de milhões
das pessoas mais pobres. -
12:40 - 12:42O que é que isto é?
-
12:42 - 12:47Na Bolívia, por exemplo, se um homem
ataca sexualmente uma criança pobre, -
12:47 - 12:52estatisticamente, corre maior risco
de escorregar no banho e morrer -
12:52 - 12:54do que ir parar à cadeia por esse crime.
-
12:56 - 13:01No sul da Ásia, se escravizarmos
uma pessoa pobre, -
13:01 - 13:04corremos maior risco
de sermos atingidos por um raio -
13:04 - 13:06do que sermos metidos
na cadeia por esse crime. -
13:07 - 13:11E assim grassa a epidemia
da violência quotidiana. -
13:12 - 13:17Prejudica terrivelmente os nossos esforços
para ajudar milhares de milhões de pessoas -
13:17 - 13:19a sair do seu inferno
de dois dólares por dia. -
13:19 - 13:22Porque os números não mentem.
-
13:22 - 13:24Acontece que podemos proporcionar
-
13:24 - 13:26todos os tipos de bens
e serviços aos pobres -
13:26 - 13:30mas, se não atarmos as mãos
dos brutamontes que roubam tudo isso, -
13:31 - 13:35ficaremos muito desiludidos com o impacto
a longo prazo dos nossos esforços. -
13:36 - 13:40Seria de pensar que a desintegração
da aplicação da lei -
13:40 - 13:42nos países em vias de desenvolvimento
-
13:42 - 13:45devia ser uma alta prioridade
na luta global contra a pobreza. -
13:46 - 13:48Mas não é.
-
13:49 - 13:53Os auditores da assistência internacional
ainda há pouco, não encontraram -
13:53 - 13:57nem 1% de ajuda destinada
a proteger os pobres -
13:57 - 14:00contra o caos fora de lei
da violência quotidiana. -
14:01 - 14:04Honestamente, quando falamos
da violência contra os pobres, -
14:04 - 14:08por vezes, é da maneira mais esquisita.
-
14:08 - 14:11Uma organização de acesso à água potável
conta-nos uma história dolorosa -
14:11 - 14:15de raparigas que são violadas
quando vão buscar água -
14:15 - 14:18e depois felicita-se
pela solução de um novo poço -
14:18 - 14:21que encurta drasticamente o caminho.
-
14:22 - 14:24Fim da história.
-
14:25 - 14:30Nem uma palavra sobre os violadores
que continuam ali na comunidade. -
14:32 - 14:34Se uma rapariga ou alguém
dos nossos recintos universitários -
14:34 - 14:37fosse violada a caminho da biblioteca,
-
14:37 - 14:42nunca nos felicitaríamos por mudar
a biblioteca para mais perto do dormitório. -
14:43 - 14:47Contudo, não sei por que razão,
isso está bem para as pessoas pobres. -
14:49 - 14:51A verdade é que
os especialistas tradicionais -
14:51 - 14:54do desenvolvimento económico
e da redução da pobreza -
14:54 - 14:56não sabem como resolver este problema.
-
14:56 - 14:58Então, o que é que acontece?
-
14:58 - 15:00Não falam nele.
-
15:01 - 15:05Mas a razão fundamental
-
15:05 - 15:08por que a aplicação da lei aos pobres
no mundo em desenvolvimento -
15:08 - 15:10é tão negligenciada
-
15:10 - 15:14é porque as pessoas que têm dinheiro,
no mundo em desenvolvimento, -
15:14 - 15:16não precisam dela.
-
15:17 - 15:20Estive há pouco tempo
no Fórum Económico Mundial, -
15:20 - 15:24a falar com dirigentes de empresas
que têm grandes negócios nestes países -
15:24 - 15:26e perguntei-lhes:
-
15:26 - 15:31"Como é que vocês protegem o pessoal
e a propriedade de toda a violência?" -
15:31 - 15:36Eles olharam uns para os outros
e disseram, quase em uníssono: -
15:36 - 15:38"Compramos a proteção".
-
15:39 - 15:43As forças de segurança privadas,
nos países em desenvolvimento -
15:43 - 15:49são hoje quatro, cinco e sete vezes
maiores do que a força policial pública. -
15:50 - 15:57Em África, a segurança privada é hoje
o maior empregador do continente. -
15:59 - 16:03Os ricos podem pagar pela segurança
e continuam a enriquecer, -
16:03 - 16:07mas os pobres não podem pagá-la,
ficam completamente desprotegidos -
16:07 - 16:09e continuam de joelhos, na miséria.
-
16:10 - 16:14Isto é um escândalo enorme.
-
16:15 - 16:17E não tem que ser assim.
-
16:18 - 16:20A falta da aplicação da lei
pode ser corrigida. -
16:20 - 16:22A violência pode ser impedida.
-
16:22 - 16:25Quase todos os sistemas
de justiça criminal -
16:25 - 16:28começaram com fracassos e corrupção,
-
16:28 - 16:31mas podem ser melhorados
com muito esforço e empenho. -
16:32 - 16:34O caminho para isso é muito claro.
-
16:34 - 16:39Número um: Temos que começar por
considerar indispensável o fim da violência -
16:39 - 16:41na luta contra a pobreza.
-
16:41 - 16:44Qualquer conversação
sobre a pobreza mundial -
16:44 - 16:48que não inclua o problema da violência
não pode ser levada a sério. -
16:49 - 16:54Segundo, temos que começar
a investir recursos significativos -
16:54 - 16:58e partilhar recursos e conhecimentos
para apoiar o mundo em desenvolvimento, -
16:58 - 17:01para criar um novo sistema
de justiça pública -
17:01 - 17:03— em vez de segurança privada —
-
17:03 - 17:06que dê a toda a gente
a hipótese de ficar em segurança. -
17:07 - 17:09Estas transformações são possíveis
-
17:09 - 17:11e estão a acontecer hoje.
-
17:12 - 17:15Recentemente, a Fundação Gates
financiou um projeto -
17:15 - 17:18na segunda maior cidade das Filipinas,
-
17:18 - 17:21onde os defensores locais
e os serviços judiciários -
17:21 - 17:26transformaram a polícia corrupta
e os tribunais deficientes -
17:26 - 17:30de modo tão drástico
que, em apenas quatro anos, -
17:30 - 17:32puderam reduzir significativamente
-
17:32 - 17:37o comércio de violência sexual
contra crianças pobres, em 79%. -
17:40 - 17:43Vendo a história em retrospetiva,
-
17:43 - 17:49o que é quase sempre
inexplicável e indesculpável, -
17:49 - 17:51é a simples falta de compaixão.
-
17:54 - 17:58Penso num tribunal
convocado pelos nossos netos -
17:58 - 18:00que nos perguntam:
-
18:00 - 18:03"Avó, Avô, onde é que vocês estavam?
-
18:04 - 18:08"Onde estavas, Avô, quando os judeus
andavam a fugir da Alemanha nazi -
18:08 - 18:10"e eram rejeitados nas nossas praias?
-
18:10 - 18:12"Onde é que vocês estavam?
-
18:12 - 18:15"Avó, onde é que tu estavas
quando eles levaram -
18:15 - 18:18"os nossos vizinhos nipo-americanos
para campos de concentração? -
18:18 - 18:21"Avô, onde é que tu estavas
quando eles espancavam -
18:21 - 18:23"os nossos vizinhos afro-americanos?
-
18:23 - 18:25"só porque eles queriam
registar-se para votar?" -
18:26 - 18:31Do mesmo modo, quando
os nossos netos nos perguntarem: -
18:31 - 18:33"Avó, Avô, onde é que vocês estavam
-
18:33 - 18:36"quando 2000 milhões
das pessoas mais pobres do mundo -
18:36 - 18:40"se afundavam num caos sem lei
de violência diária?" -
18:41 - 18:48Espero que possamos dizer que tivemos
compaixão, que erguemos a nossa voz, -
18:48 - 18:55e que a nossa geração agiu
para fazer parar a violência. -
18:56 - 18:58Muito obrigado.
-
18:58 - 19:01(Aplausos)
-
19:14 - 19:17Chris Anderson: Argumentos poderosos!
-
19:17 - 19:19Fale-nos um pouco de algumas das coisas
-
19:19 - 19:26que têm ocorrido, por exemplo,
para fomentar a formação policial. -
19:26 - 19:27Esse processo é muito difícil?
-
19:27 - 19:31GH: Uma das coisas fantásticas
que está agora a acontecer -
19:31 - 19:36é o colapso destes sistemas
e o aparecimento das suas consequências. -
19:36 - 19:39Hoje, há vontade política para fazer isso.
-
19:39 - 19:43Mas é preciso um investimento
em recursos e transferência de saber. -
19:43 - 19:47Também há vontade política para lutar,
e está a entrar em ação -
19:47 - 19:48mas essas são lutas fáceis de ganhar.
-
19:48 - 19:50Já demos alguns exemplos
em todo o mundo -
19:50 - 19:54com a Missão Internacional de Justiça,
que são muito encorajadores. -
19:54 - 19:57CA: Diga-nos quanto custa, num país,
-
19:57 - 20:00fazer uma diferença material,
na polícia, por exemplo -
20:00 - 20:03— sei que é apenas uma faceta do problema.
-
20:03 - 20:06GH: Por exemplo, começámos
um projeto na Guatemala, -
20:06 - 20:09com a polícia local,
os tribunais, os promotores de justiça, -
20:09 - 20:13para lhes dar formação para que eles
possam gerir eficazmente os processos. -
20:13 - 20:17Constatámos um aumento
de mais de 1000% -
20:17 - 20:20em processos contra os autores
de violências sexuais. -
20:20 - 20:22Este projeto teve um financiamento
muito modesto: -
20:22 - 20:25cerca de um milhão de dólares por ano.
-
20:25 - 20:27O retorno deste investimento
é impressionante -
20:27 - 20:31em termos de reforço
de um sistema de justiça criminal -
20:31 - 20:36que possa funcionar, quando há formação
adequada, motivação e boa orientação. -
20:36 - 20:38Nestes países, abre-se uma janela
-
20:38 - 20:40para a mudança,
para novas oportunidades, -
20:40 - 20:42em especial para uma classe média
que não vê futuro -
20:42 - 20:45nesta instabilidade total
e com a privatização da segurança -
20:48 - 20:53CA: Mas, para que isso aconteça,
temos que olhar para cada elo da cadeia. -
20:53 - 20:56Para além da polícia, quem há mais?
-
20:56 - 20:58GH: A aplicação da lei
começa com a polícia, -
20:59 - 21:02que é o primeiro elo da cadeia da justiça.
-
21:02 - 21:04Eles passam o processo aos procuradores
-
21:04 - 21:06e os procuradores entregam-na
aos tribunais. -
21:06 - 21:10Os sobreviventes da violência têm
que ser apoiados pelos serviços sociais -
21:10 - 21:11durante todo esse percurso.
-
21:11 - 21:14É preciso fazer uma abordagem abrangente.
-
21:14 - 21:16No passado, houve alguma formação
para os tribunais. -
21:16 - 21:19Mas a polícia transmite-lhes
processos mal organizados, -
21:19 - 21:23ou alguma intervenção policial
sobre drogas ou terrorismo -
21:23 - 21:25sem qualquer referência
à aplicação do direito -
21:25 - 21:28a favor das populações desfavorecidas.
-
21:29 - 21:31Se influenciarmos o sistema no seu todo,
-
21:31 - 21:32essas pessoas muito pobres
-
21:32 - 21:34beneficiarão da aplicação
do direito, como nós. -
21:34 - 21:37Claro que é imperfeita,
segundo a nossa experiência, -
21:37 - 21:40mas é uma coisa ótima sabermos
que podemos ligar para o 911 -
21:40 - 21:43e talvez alguém nos venha proteger.
-
21:43 - 21:46CA: Gary, você tem feito
um trabalho espetacular -
21:46 - 21:48a chamar a atenção do mundo para isto,
-
21:48 - 21:49graças ao seu livro e hoje aqui.
-
21:49 - 21:51Muito obrigado.
-
21:51 - 21:51Gary Haugen.
-
21:51 - 21:53(Aplausos)
- Title:
- A razão oculta para que o mundo resolva o problema da pobreza.
- Speaker:
- Gary Haugen
- Description:
-
A compaixão coletiva tem significado uma diminuição geral da pobreza global desde os anos 80, diz Gary Haugen, defensor dos direitos civis. Mas, para além de todo o dinheiro mundial de ajuda, há um insidioso problema oculto que mantém presente a pobreza. Haugen revela a sombria causa subjacente que temos que reconhecer e sobre a qual temos que agir desde já.
- Video Language:
- English
- Team:
- closed TED
- Project:
- TEDTalks
- Duration:
- 22:08
Margarida Ferreira approved Portuguese subtitles for The hidden reason for poverty the world needs to address now | ||
Margarida Ferreira accepted Portuguese subtitles for The hidden reason for poverty the world needs to address now | ||
Margarida Ferreira edited Portuguese subtitles for The hidden reason for poverty the world needs to address now | ||
Margarida Ferreira edited Portuguese subtitles for The hidden reason for poverty the world needs to address now | ||
Margarida Ferreira edited Portuguese subtitles for The hidden reason for poverty the world needs to address now | ||
Margarida Ferreira edited Portuguese subtitles for The hidden reason for poverty the world needs to address now | ||
Margarida Ferreira edited Portuguese subtitles for The hidden reason for poverty the world needs to address now | ||
Margarida Ferreira edited Portuguese subtitles for The hidden reason for poverty the world needs to address now |