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A razão oculta para que o mundo resolva o problema da pobreza.

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    Para ser franco
    quanto à minha personalidade,
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    não sou muito de chorar.
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    Mas, na minha carreira,
    isso tem sido bom.
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    Sou um advogado de direitos civis,
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    e tenho visto coisas horríveis neste mundo.
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    Comecei a minha carreira nos EUA,
    com processos contra a violência policial.
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    Em 1994, fui enviado para o Ruanda,
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    como diretor do programa
    de investigação de genocídio, pela ONU.
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    Acontece que as lágrimas
    não nos ajudam muito
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    quando estamos a tentar
    investigar um genocídio.
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    As coisas que eu tive que ver,
    sentir e tocar
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    são indescritíveis.
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    O que eu posso contar é o seguinte:
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    o genocídio do Ruanda
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    foi um dos maiores fracassos
    do mundo, em termos de compaixão.
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    Esta palavra, compaixão,
    vem de duas palavras latinas:
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    "cum passio", que significam "sofrer com".
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    As coisas que eu vi e vivi no Ruanda,
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    quando me aproximei do sofrimento humano,
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    por vezes, comoveram-me até às lágrimas.
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    Teria sido preferível
    que eu e o resto do mundo,
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    nos tivéssemos comovido mais cedo.
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    Não apenas até às lágrimas,
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    mas o que fosse preciso
    para impedir o genocídio.
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    Em contrapartida, também estou envolvido
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    num dos maiores êxitos mundiais
    de compaixão.
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    Trata-se da luta contra a pobreza mundial.
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    É uma causa que, provavelmente,
    envolveu toda a gente aqui.
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    O vosso primeiro contacto com a pobreza
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    foi, talvez, os coros
    de "We Are the World",
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    ou a foto, na porta do frigorífico,
    de uma criança patrocinada,
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    ou talvez a vossa doação
    para a água potável.
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    Não me lembro qual foi o meu
    primeiro contacto com a pobreza,
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    mas lembro-me qual foi a mais chocante.
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    Foi quando conheci Venus,
    uma mãe da Zâmbia.
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    Tem três filhos e é viúva.
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    Quando a conheci,
    ela tinha andado quase 20 km
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    com a única roupa que tinha,
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    para vir à capital
    e contar-me a sua história.
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    Sentou-se ao pé de mim durante horas,
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    e apresentou-me ao mundo da pobreza.
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    Descreveu-me como fazia frio
    quando as brasas na fogueira
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    se extinguiam totalmente,
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    quando acabara a última gota
    de óleo de cozinha,
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    quando acabaram
    os últimos restos de comida,
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    apesar de todos os seus esforços,
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    Impotente, assistiu
    ao seu filho mais novo, Peter,
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    a sofrer de desnutrição,
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    enquanto as suas pernas lentamente
    ficavam encurvadas e inúteis,
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    enquanto os seus olhos
    ficavam opacos e turvos.
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    Finalmente, Pete extinguiu-se.
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    Durante mais de 50 anos, estas histórias
    têm-nos provocado compaixão.
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    Nós, cujos filhos têm muito que comer,
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    não nos contentamos só
    com a preocupação da pobreza mundial,
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    mas tentamos agir
    para acabar com esse sofrimento.
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    Podem-nos criticar
    por não fazermos o suficiente,
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    e porque o que fizemos
    não foi suficientemente eficaz,
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    mas a verdade é esta:
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    A luta contra a pobreza mundial
    é provavelmente a manifestação
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    mais ampla e duradoura
    da compaixão humana
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    na história da nossa espécie.
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    Gostava de vos contar
    uma descoberta arrasadora
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    que pode mudar para sempre
    a maneira como vocês encaram essa luta.
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    Mas antes, vou começar
    com uma coisa que vocês já devem saber.
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    Há 35 anos, quando eu estava
    a acabar o ensino secundário,
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    disseram-nos que morriam diariamente
    40 mil crianças, devido à pobreza.
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    Este número, hoje, está reduzido a 17 000.
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    Claro que continuam a ser
    demasiadas crianças,
  • 4:12 - 4:14
    mas isso significa que, todos os anos,
  • 4:14 - 4:19
    há oito milhões de crianças
    que já não morrerão devido à pobreza.
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    Além disso, o número de pessoas
    no nosso mundo
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    que vivem em extrema pobreza,
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    — ou seja, vivem com
    cerca de 1,25 dólar por dia —
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    passou de 50%
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    para apenas 15%.
  • 4:35 - 4:37
    Isso é um progresso enorme
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    que excede as expetativas de todos
    sobre o que é possível.
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    Acho, francamente, que todos nós
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    podemos sentir-nos
    orgulhosos e encorajados
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    por ver que a compaixão tem o poder
    de acabar com o sofrimento de milhões.
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    Mas há um aspeto de que
    não se ouve falar muito.
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    Se subirmos esse índice da pobreza
    apenas para dois dólares por dia,
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    acontece que esses mesmos
    2000 milhões de pessoas
  • 5:11 - 5:14
    que estavam atoladas na maior pobreza,
    quando eu andava no secundário,
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    continuam na mesma, 35 anos depois.
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    Porque é que há tantos milhares de milhões
    ainda atolados numa extrema pobreza?
  • 5:25 - 5:27
    Pensemos um pouco em Venus.
  • 5:27 - 5:31
    Durante décadas, a minha mulher e eu,
    movidos por uma compaixão comum,
  • 5:31 - 5:34
    patrocinámos crianças,
    financiámos microcréditos,
  • 5:34 - 5:37
    apoiámos ativamente
    a ajuda internacional.
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    Mas, antes de ter falado com Venus,
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    eu não fazia ideia de que
    nenhuma dessas abordagens
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    resolvia a razão por que ela
    tivera que ver morrer o filho.
  • 5:50 - 5:54
    "Vivíamos bem", disse-me Venus,
  • 5:54 - 5:58
    "até Brutus ter começado
    a causar problemas".
  • 5:59 - 6:02
    Brutus é o vizinho de Venus
    e começou a causar problemas
  • 6:02 - 6:05
    no dia a seguir à morte
    do marido de Venus.
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    Brutus chegou e expulsou Venus
    e as crianças de casa,
  • 6:09 - 6:13
    roubou-lhe a terra e a tenda do mercado.
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    Foi a violência que lançou
    Venus na miséria.
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    Então, ocorreu-me
  • 6:23 - 6:27
    que nenhum patrocínio de crianças,
    nenhum microcrédito,
  • 6:27 - 6:31
    nenhum dos programas tradicionais
    contra a pobreza,
  • 6:31 - 6:34
    iriam deter os Brutus deste mundo,
  • 6:34 - 6:37
    porque não se destinavam a isso.
  • 6:38 - 6:41
    Isto tornou-se-me ainda mais claro
    quando conheci Griselda.
  • 6:43 - 6:46
    É uma rapariga maravilhosa
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    que vive numa comunidade
    muito pobre, na Guatemala.
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    Uma da coisas que aprendemos
    ao longo dos anos,
  • 6:51 - 6:54
    é que talvez a coisa mais poderosa
  • 6:54 - 7:00
    que Griselda e a família podem fazer
    para saírem da pobreza
  • 7:00 - 7:02
    é assegurar que ela vai à escola.
  • 7:03 - 7:06
    Os especialistas chamam-lhe
    o Efeito Rapariga.
  • 7:07 - 7:10
    Mas quando conhecemos Griselda
    ela não estava a ir à escola.
  • 7:11 - 7:14
    Na verdade, raramente saía de casa.
  • 7:16 - 7:18
    Dias antes de a conhecermos,
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    quando ela voltava da igreja,
    com a família, em plena luz do dia.
  • 7:23 - 7:27
    homens da comunidade,
    levaram-na do meio da rua
  • 7:27 - 7:29
    e violaram-na brutalmente.
  • 7:30 - 7:34
    Griselda tinha todas as oportunidades
    para ir à escola,
  • 7:34 - 7:37
    só que, para ela, era muito perigoso.
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    O caso de Griselda não é isolado.
  • 7:40 - 7:43
    Em todo o mundo,
    as mulheres e raparigas pobres,
  • 7:43 - 7:46
    entre as idades de 16 e 44 anos,
  • 7:48 - 7:55
    são vítimas de violência quotidiana,
    doméstica e sexual.
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    Estas duas formas de violência
    causam mais mortes e deficiências
  • 8:01 - 8:07
    do que a malária, os acidentes de carro,
    e a guerra, tudo junto.
  • 8:11 - 8:16
    A verdade é que os pobres, neste mundo,
    estão presos em sistemas de violência.
  • 8:16 - 8:20
    No sul da Ásia, por exemplo,
    ao passar por uma fábrica de arroz,
  • 8:20 - 8:25
    vi um homem a pôr às costas
    sacos de arroz de 50 kg.
  • 8:25 - 8:27
    Só mais tarde me apercebi
  • 8:27 - 8:29
    que, na realidade, ele era um escravo,
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    mantido à força naquela fábrica de arroz,
  • 8:32 - 8:34
    desde que eu andava no secundário.
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    Décadas de programas
    contra a pobreza na sua comunidade
  • 8:38 - 8:43
    nunca conseguiram salvá-lo,
    nem às centenas de escravos
  • 8:43 - 8:47
    dos espancamentos,
    das violações e da tortura,
  • 8:47 - 8:49
    da violência dentro das fábricas de arroz.
  • 8:50 - 8:54
    Meio século de programas contra a pobreza
  • 8:54 - 8:58
    deixaram mais pobres na escravatura
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    do que em qualquer outra época
    da história do Homem.
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    Os especialistas dizem-nos que há hoje
    cerca de 35 milhões de escravos.
  • 9:07 - 9:11
    É quase a população do Canadá,
  • 9:11 - 9:13
    onde me encontro hoje.
  • 9:15 - 9:18
    É por isso que eu comecei a chamar
    a esta epidemia de violência
  • 9:18 - 9:19
    o Efeito Gafanhoto.
  • 9:20 - 9:23
    Porque, na vida dos pobres,
    ela aparece como uma praga
  • 9:23 - 9:25
    e destrói tudo à sua passagem.
  • 9:26 - 9:30
    Quando observamos comunidades
    extremamente pobres,
  • 9:30 - 9:34
    os moradores contar-nos-ão
    que o seu maior medo é a violência.
  • 9:34 - 9:37
    Mas reparem que a violência que eles temem
  • 9:37 - 9:40
    não é a violência
    do genocídio ou das guerras,
  • 9:40 - 9:42
    é a violência do dia-a-dia.
  • 9:42 - 9:45
    Para mim, enquanto advogado,
    a minha primeira reação foi pensar:
  • 9:45 - 9:48
    "Bom, temos que alterar as leis.
  • 9:48 - 9:51
    "Temos que tornar ilegal
    toda esta violência contra os pobres".
  • 9:51 - 9:54
    Mas depois apercebi-me
    de que isso já existia.
  • 9:55 - 9:58
    O problema não é os pobres não terem leis,
  • 9:58 - 10:01
    é que não há forças de aplicação da lei.
  • 10:03 - 10:04
    Nos países em desenvolvimento,
  • 10:04 - 10:07
    os sistemas de aplicação da lei
    são tão deficientes
  • 10:07 - 10:10
    que, recentemente, a ONU publicou
    um relatório que chegou à conclusão
  • 10:10 - 10:15
    de que "a maior parte dos pobres
    vivem fora da proteção da lei".
  • 10:16 - 10:19
    Francamente, nenhum de nós faz ideia
  • 10:19 - 10:20
    do que é que isto significa,
  • 10:20 - 10:23
    porque não temos experiência direta disso.
  • 10:24 - 10:27
    O funcionamento da aplicação da lei
    para nós é uma premissa total.
  • 10:27 - 10:31
    Nada exprime essa premissa
    mais claramente que três simples números:
  • 10:31 - 10:33
    9 -1 -1
  • 10:34 - 10:37
    que, como sabem,
    é o número de urgência da polícia,
  • 10:37 - 10:40
    tanto no Canadá como nos EUA,
  • 10:40 - 10:44
    em que o tempo médio de resposta
    para uma chamada de emergência
  • 10:44 - 10:46
    é de cerca de 10 minutos.
  • 10:46 - 10:49
    Consideramos isto como uma coisa natural.
  • 10:49 - 10:54
    E se não houvesse aplicação da lei
    para nos proteger?
  • 10:55 - 10:59
    Há pouco tempo, uma mulher no Oregon
    sentiu o efeito disso.
  • 10:59 - 11:04
    Estava sozinha em casa,
    num sábado à noite,
  • 11:04 - 11:07
    quando um homem
    tentou entrar em casa dela.
  • 11:07 - 11:09
    Foi o seu pior pesadelo,
  • 11:09 - 11:13
    porque esse homem já a tinha
    mandado para o hospital
  • 11:13 - 11:15
    num assalto, apenas duas semanas antes.
  • 11:15 - 11:19
    Aterrorizada, agarra no telefone
    e faz o que qualquer um de nós faria.
  • 11:19 - 11:21
    Liga para o 911
  • 11:21 - 11:26
    e fica a saber que, por causa
    dos cortes no orçamento,
  • 11:26 - 11:29
    a aplicação da lei não estava disponível
    aos fins de semana.
  • 11:29 - 11:31
    Oiçam:
  • 11:31 - 11:33
    Telefonista: Não tenho ninguém
    para enviar para aí.
  • 11:33 - 11:34
    Mulher: Ok.
  • 11:34 - 11:39
    Telefonista:
    Se ele entrar em casa e a atacar,
  • 11:39 - 11:41
    pode pedir-lhe para se ir embora?
  • 11:41 - 11:43
    Sabe se ele está embriagado?
  • 11:43 - 11:45
    Mulher: Já lhe pedi, já lhe disse
    que ia ligar para a polícia.
  • 11:45 - 11:48
    Ele já entrou uma vez,
    deitou abaixo a porta e atacou-me.
  • 11:48 - 11:50
    - Hmm... hmm.
    - Então...
  • 11:50 - 11:53
    Telefonista: Há alguma maneira
    de sair de casa com segurança?
  • 11:53 - 11:56
    Mulher: Não, não posso,
    ele está a bloquear a saída.
  • 11:56 - 12:00
    Telefonista: Bem, a única coisa
    que posso fazer é dar-lhe alguns conselhos
  • 12:00 - 12:03
    e ligar para o xerife amanhã.
  • 12:03 - 12:08
    Claro que, se ele entrar e tiver uma arma,
  • 12:08 - 12:11
    ou tentar fazer-lhe mal,
    a história é outra.
  • 12:11 - 12:13
    Sabe, o gabinete do xerife está fechado.
  • 12:13 - 12:16
    Não tenho ninguém para lhe mandar.
  • 12:18 - 12:20
    Gary Haugen: Tragicamente,
    a mulher que estava em casa
  • 12:20 - 12:25
    foi atacada violentamente,
    estrangulada e violada.
  • 12:26 - 12:32
    Isto é o que significa viver
    fora da aplicação da lei.
  • 12:34 - 12:38
    É assim que vivem milhares de milhões
    das pessoas mais pobres.
  • 12:40 - 12:42
    O que é que isto é?
  • 12:42 - 12:47
    Na Bolívia, por exemplo, se um homem
    ataca sexualmente uma criança pobre,
  • 12:47 - 12:52
    estatisticamente, corre maior risco
    de escorregar no banho e morrer
  • 12:52 - 12:54
    do que ir parar à cadeia por esse crime.
  • 12:56 - 13:01
    No sul da Ásia, se escravizarmos
    uma pessoa pobre,
  • 13:01 - 13:04
    corremos maior risco
    de sermos atingidos por um raio
  • 13:04 - 13:06
    do que sermos metidos
    na cadeia por esse crime.
  • 13:07 - 13:11
    E assim grassa a epidemia
    da violência quotidiana.
  • 13:12 - 13:17
    Prejudica terrivelmente os nossos esforços
    para ajudar milhares de milhões de pessoas
  • 13:17 - 13:19
    a sair do seu inferno
    de dois dólares por dia.
  • 13:19 - 13:22
    Porque os números não mentem.
  • 13:22 - 13:24
    Acontece que podemos proporcionar
  • 13:24 - 13:26
    todos os tipos de bens
    e serviços aos pobres
  • 13:26 - 13:30
    mas, se não atarmos as mãos
    dos brutamontes que roubam tudo isso,
  • 13:31 - 13:35
    ficaremos muito desiludidos com o impacto
    a longo prazo dos nossos esforços.
  • 13:36 - 13:40
    Seria de pensar que a desintegração
    da aplicação da lei
  • 13:40 - 13:42
    nos países em vias de desenvolvimento
  • 13:42 - 13:45
    devia ser uma alta prioridade
    na luta global contra a pobreza.
  • 13:46 - 13:48
    Mas não é.
  • 13:49 - 13:53
    Os auditores da assistência internacional
    ainda há pouco, não encontraram
  • 13:53 - 13:57
    nem 1% de ajuda destinada
    a proteger os pobres
  • 13:57 - 14:00
    contra o caos fora de lei
    da violência quotidiana.
  • 14:01 - 14:04
    Honestamente, quando falamos
    da violência contra os pobres,
  • 14:04 - 14:08
    por vezes, é da maneira mais esquisita.
  • 14:08 - 14:11
    Uma organização de acesso à água potável
    conta-nos uma história dolorosa
  • 14:11 - 14:15
    de raparigas que são violadas
    quando vão buscar água
  • 14:15 - 14:18
    e depois felicita-se
    pela solução de um novo poço
  • 14:18 - 14:21
    que encurta drasticamente o caminho.
  • 14:22 - 14:24
    Fim da história.
  • 14:25 - 14:30
    Nem uma palavra sobre os violadores
    que continuam ali na comunidade.
  • 14:32 - 14:34
    Se uma rapariga ou alguém
    dos nossos recintos universitários
  • 14:34 - 14:37
    fosse violada a caminho da biblioteca,
  • 14:37 - 14:42
    nunca nos felicitaríamos por mudar
    a biblioteca para mais perto do dormitório.
  • 14:43 - 14:47
    Contudo, não sei por que razão,
    isso está bem para as pessoas pobres.
  • 14:49 - 14:51
    A verdade é que
    os especialistas tradicionais
  • 14:51 - 14:54
    do desenvolvimento económico
    e da redução da pobreza
  • 14:54 - 14:56
    não sabem como resolver este problema.
  • 14:56 - 14:58
    Então, o que é que acontece?
  • 14:58 - 15:00
    Não falam nele.
  • 15:01 - 15:05
    Mas a razão fundamental
  • 15:05 - 15:08
    por que a aplicação da lei aos pobres
    no mundo em desenvolvimento
  • 15:08 - 15:10
    é tão negligenciada
  • 15:10 - 15:14
    é porque as pessoas que têm dinheiro,
    no mundo em desenvolvimento,
  • 15:14 - 15:16
    não precisam dela.
  • 15:17 - 15:20
    Estive há pouco tempo
    no Fórum Económico Mundial,
  • 15:20 - 15:24
    a falar com dirigentes de empresas
    que têm grandes negócios nestes países
  • 15:24 - 15:26
    e perguntei-lhes:
  • 15:26 - 15:31
    "Como é que vocês protegem o pessoal
    e a propriedade de toda a violência?"
  • 15:31 - 15:36
    Eles olharam uns para os outros
    e disseram, quase em uníssono:
  • 15:36 - 15:38
    "Compramos a proteção".
  • 15:39 - 15:43
    As forças de segurança privadas,
    nos países em desenvolvimento
  • 15:43 - 15:49
    são hoje quatro, cinco e sete vezes
    maiores do que a força policial pública.
  • 15:50 - 15:57
    Em África, a segurança privada é hoje
    o maior empregador do continente.
  • 15:59 - 16:03
    Os ricos podem pagar pela segurança
    e continuam a enriquecer,
  • 16:03 - 16:07
    mas os pobres não podem pagá-la,
    ficam completamente desprotegidos
  • 16:07 - 16:09
    e continuam de joelhos, na miséria.
  • 16:10 - 16:14
    Isto é um escândalo enorme.
  • 16:15 - 16:17
    E não tem que ser assim.
  • 16:18 - 16:20
    A falta da aplicação da lei
    pode ser corrigida.
  • 16:20 - 16:22
    A violência pode ser impedida.
  • 16:22 - 16:25
    Quase todos os sistemas
    de justiça criminal
  • 16:25 - 16:28
    começaram com fracassos e corrupção,
  • 16:28 - 16:31
    mas podem ser melhorados
    com muito esforço e empenho.
  • 16:32 - 16:34
    O caminho para isso é muito claro.
  • 16:34 - 16:39
    Número um: Temos que começar por
    considerar indispensável o fim da violência
  • 16:39 - 16:41
    na luta contra a pobreza.
  • 16:41 - 16:44
    Qualquer conversação
    sobre a pobreza mundial
  • 16:44 - 16:48
    que não inclua o problema da violência
    não pode ser levada a sério.
  • 16:49 - 16:54
    Segundo, temos que começar
    a investir recursos significativos
  • 16:54 - 16:58
    e partilhar recursos e conhecimentos
    para apoiar o mundo em desenvolvimento,
  • 16:58 - 17:01
    para criar um novo sistema
    de justiça pública
  • 17:01 - 17:03
    — em vez de segurança privada —
  • 17:03 - 17:06
    que dê a toda a gente
    a hipótese de ficar em segurança.
  • 17:07 - 17:09
    Estas transformações são possíveis
  • 17:09 - 17:11
    e estão a acontecer hoje.
  • 17:12 - 17:15
    Recentemente, a Fundação Gates
    financiou um projeto
  • 17:15 - 17:18
    na segunda maior cidade das Filipinas,
  • 17:18 - 17:21
    onde os defensores locais
    e os serviços judiciários
  • 17:21 - 17:26
    transformaram a polícia corrupta
    e os tribunais deficientes
  • 17:26 - 17:30
    de modo tão drástico
    que, em apenas quatro anos,
  • 17:30 - 17:32
    puderam reduzir significativamente
  • 17:32 - 17:37
    o comércio de violência sexual
    contra crianças pobres, em 79%.
  • 17:40 - 17:43
    Vendo a história em retrospetiva,
  • 17:43 - 17:49
    o que é quase sempre
    inexplicável e indesculpável,
  • 17:49 - 17:51
    é a simples falta de compaixão.
  • 17:54 - 17:58
    Penso num tribunal
    convocado pelos nossos netos
  • 17:58 - 18:00
    que nos perguntam:
  • 18:00 - 18:03
    "Avó, Avô, onde é que vocês estavam?
  • 18:04 - 18:08
    "Onde estavas, Avô, quando os judeus
    andavam a fugir da Alemanha nazi
  • 18:08 - 18:10
    "e eram rejeitados nas nossas praias?
  • 18:10 - 18:12
    "Onde é que vocês estavam?
  • 18:12 - 18:15
    "Avó, onde é que tu estavas
    quando eles levaram
  • 18:15 - 18:18
    "os nossos vizinhos nipo-americanos
    para campos de concentração?
  • 18:18 - 18:21
    "Avô, onde é que tu estavas
    quando eles espancavam
  • 18:21 - 18:23
    "os nossos vizinhos afro-americanos?
  • 18:23 - 18:25
    "só porque eles queriam
    registar-se para votar?"
  • 18:26 - 18:31
    Do mesmo modo, quando
    os nossos netos nos perguntarem:
  • 18:31 - 18:33
    "Avó, Avô, onde é que vocês estavam
  • 18:33 - 18:36
    "quando 2000 milhões
    das pessoas mais pobres do mundo
  • 18:36 - 18:40
    "se afundavam num caos sem lei
    de violência diária?"
  • 18:41 - 18:48
    Espero que possamos dizer que tivemos
    compaixão, que erguemos a nossa voz,
  • 18:48 - 18:55
    e que a nossa geração agiu
    para fazer parar a violência.
  • 18:56 - 18:58
    Muito obrigado.
  • 18:58 - 19:01
    (Aplausos)
  • 19:14 - 19:17
    Chris Anderson: Argumentos poderosos!
  • 19:17 - 19:19
    Fale-nos um pouco de algumas das coisas
  • 19:19 - 19:26
    que têm ocorrido, por exemplo,
    para fomentar a formação policial.
  • 19:26 - 19:27
    Esse processo é muito difícil?
  • 19:27 - 19:31
    GH: Uma das coisas fantásticas
    que está agora a acontecer
  • 19:31 - 19:36
    é o colapso destes sistemas
    e o aparecimento das suas consequências.
  • 19:36 - 19:39
    Hoje, há vontade política para fazer isso.
  • 19:39 - 19:43
    Mas é preciso um investimento
    em recursos e transferência de saber.
  • 19:43 - 19:47
    Também há vontade política para lutar,
    e está a entrar em ação
  • 19:47 - 19:48
    mas essas são lutas fáceis de ganhar.
  • 19:48 - 19:50
    Já demos alguns exemplos
    em todo o mundo
  • 19:50 - 19:54
    com a Missão Internacional de Justiça,
    que são muito encorajadores.
  • 19:54 - 19:57
    CA: Diga-nos quanto custa, num país,
  • 19:57 - 20:00
    fazer uma diferença material,
    na polícia, por exemplo
  • 20:00 - 20:03
    — sei que é apenas uma faceta do problema.
  • 20:03 - 20:06
    GH: Por exemplo, começámos
    um projeto na Guatemala,
  • 20:06 - 20:09
    com a polícia local,
    os tribunais, os promotores de justiça,
  • 20:09 - 20:13
    para lhes dar formação para que eles
    possam gerir eficazmente os processos.
  • 20:13 - 20:17
    Constatámos um aumento
    de mais de 1000%
  • 20:17 - 20:20
    em processos contra os autores
    de violências sexuais.
  • 20:20 - 20:22
    Este projeto teve um financiamento
    muito modesto:
  • 20:22 - 20:25
    cerca de um milhão de dólares por ano.
  • 20:25 - 20:27
    O retorno deste investimento
    é impressionante
  • 20:27 - 20:31
    em termos de reforço
    de um sistema de justiça criminal
  • 20:31 - 20:36
    que possa funcionar, quando há formação
    adequada, motivação e boa orientação.
  • 20:36 - 20:38
    Nestes países, abre-se uma janela
  • 20:38 - 20:40
    para a mudança,
    para novas oportunidades,
  • 20:40 - 20:42
    em especial para uma classe média
    que não vê futuro
  • 20:42 - 20:45
    nesta instabilidade total
    e com a privatização da segurança
  • 20:48 - 20:53
    CA: Mas, para que isso aconteça,
    temos que olhar para cada elo da cadeia.
  • 20:53 - 20:56
    Para além da polícia, quem há mais?
  • 20:56 - 20:58
    GH: A aplicação da lei
    começa com a polícia,
  • 20:59 - 21:02
    que é o primeiro elo da cadeia da justiça.
  • 21:02 - 21:04
    Eles passam o processo aos procuradores
  • 21:04 - 21:06
    e os procuradores entregam-na
    aos tribunais.
  • 21:06 - 21:10
    Os sobreviventes da violência têm
    que ser apoiados pelos serviços sociais
  • 21:10 - 21:11
    durante todo esse percurso.
  • 21:11 - 21:14
    É preciso fazer uma abordagem abrangente.
  • 21:14 - 21:16
    No passado, houve alguma formação
    para os tribunais.
  • 21:16 - 21:19
    Mas a polícia transmite-lhes
    processos mal organizados,
  • 21:19 - 21:23
    ou alguma intervenção policial
    sobre drogas ou terrorismo
  • 21:23 - 21:25
    sem qualquer referência
    à aplicação do direito
  • 21:25 - 21:28
    a favor das populações desfavorecidas.
  • 21:29 - 21:31
    Se influenciarmos o sistema no seu todo,
  • 21:31 - 21:32
    essas pessoas muito pobres
  • 21:32 - 21:34
    beneficiarão da aplicação
    do direito, como nós.
  • 21:34 - 21:37
    Claro que é imperfeita,
    segundo a nossa experiência,
  • 21:37 - 21:40
    mas é uma coisa ótima sabermos
    que podemos ligar para o 911
  • 21:40 - 21:43
    e talvez alguém nos venha proteger.
  • 21:43 - 21:46
    CA: Gary, você tem feito
    um trabalho espetacular
  • 21:46 - 21:48
    a chamar a atenção do mundo para isto,
  • 21:48 - 21:49
    graças ao seu livro e hoje aqui.
  • 21:49 - 21:51
    Muito obrigado.
  • 21:51 - 21:51
    Gary Haugen.
  • 21:51 - 21:53
    (Aplausos)
Title:
A razão oculta para que o mundo resolva o problema da pobreza.
Speaker:
Gary Haugen
Description:

A compaixão coletiva tem significado uma diminuição geral da pobreza global desde os anos 80, diz Gary Haugen, defensor dos direitos civis. Mas, para além de todo o dinheiro mundial de ajuda, há um insidioso problema oculto que mantém presente a pobreza. Haugen revela a sombria causa subjacente que temos que reconhecer e sobre a qual temos que agir desde já.

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Video Language:
English
Team:
closed TED
Project:
TEDTalks
Duration:
22:08

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