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Como escrever ficção que tenha vida — Nalo Hopkinson

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    Lemos ficção por muitas razões.
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    Para nos distrairmos,
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    para descobrir quem fez o quê,
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    para viajar a novos e estranhos planetas,
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    para nos assustarmos,
    para rirmos,
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    para chorar, para pensar, para sentir,
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    para ficarmos tão absorvidos
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    que até nos esquecemos onde estamos,
    durante um tempo
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    Então, como é escrever ficção?
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    Como prender os leitores nas nossas histórias?
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    Com um enredo empolgante? Talvez.
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    Personagens fascinantes? Provavelmente.
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    Uma linguagem bonita? Talvez.
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    "As pernas da Billie são esparguetes.
    As pontas do cabelo são agulhas envenenadas.
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    "A língua dela é uma esponja áspera,
    os olhos dela são bolsas de lixivia".
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    Esta descrição não vos faz senti
    tão doentes como a Billie?
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    Percebemos que as pernas de Billie
    não são propriamente esparguete.
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    Billie sente que elas são tão moles
    como esparguete cozido.
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    É uma comparação implícita, uma metáfora.
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    Então, porque é que não escrevemos assim?
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    "Billie sente-se agoniada e fraca".
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    O problema é que esta segunda descrição
    não será tão vívida como a primeira.
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    O fito da ficção é lançar um encantamento,
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    a ilusão momentânea de que vivemos
    no mundo do conto.
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    A ficção prende-nos os sentidos,
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    ajuda-nos a criar simulacros
    mentais vívidos
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    das experiências que as personagens
    estão a viver.
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    O palco e o ecrã prendem
    alguns dos nossos sentidos diretamente.
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    Vemos e ouvimos as interações
    das personagens e o cenário.
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    Mas com a ficção escrita,
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    tudo o que temos são símbolos estáticos
    num pano de fundo contrastante.
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    Se descrevermos a história de forma factual,
    numa linguagem não táctil,
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    o encantamento corre o risco de ser fraco.
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    O leitor pode não ir muito além
    da interpretação dos símbolos.
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    Perceberá como se sente a Billie,
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    mas não se sentirá como a Billie se sente.
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    Estará a ler, não estará imerso
    no mundo da história,
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    a descobrir as verdades da vida de Billie
    ao mesmo tempo que ela as descobre.
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    A ficção joga com os nossos sentidos,
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    com o paladar, com o olfato,
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    com o tacto, com o ouvido,
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    com a vista,
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    e com o sentido do movimento.
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    Também joga com a nossa capacidade
    de nos abstrairmos
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    e de fazermos associações complexas.
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    Reparem na seguinte frase:
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    "O mundo era um fantasma silencioso,
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    "exceto quanto ao ranger das velas
    e ao borbulhar da água contra o casco".
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    As palavras "silencioso",
    "ranger" e "borbulhar",
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    jogam com o sentido do ouvido.
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    Reparem que Buckell não usa
    a palavra genérica "som".
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    Cada palavra que ele escolhe
    evoca uma determinada qualidade de som.
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    Depois, como um artista
    que sobrepõe camadas de cores
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    para dar a sensação
    de textura a uma pintura,
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    acrescenta mais uma camada, o movimento,
    "o ranger das velas",
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    e do tacto,
    "o borbulhar da água contra o casco".
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    Por fim, dá-nos uma ligação abstrata
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    juntando a palavra "silencioso"
    à palavra "fantasma".
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    Não diz "silencioso como um fantasma",
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    o que seria uma camada
    distanciadora de paralelo
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    entre o leitor e a experiência.
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    Pelo contrário, Buckell cria
    a metáfora "fantasma silencioso"
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    para uma comparação
    mais implícita do que aberta.
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    Diz-se sempre aos escritores
    que evitem os "clichés"
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    porque há muito pouco envolvimento
    do leitor nas imagens demasiado usadas,
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    como "vermelho como uma rosa".
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    Mas deem aos leitores:
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    "O amor... começou numa praia.
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    "Começou no dia em que Jacob viu Anette
    com o seu vestido de xarope de cereja"
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    e o cérebro deles empenha-se
    na tarefa absorvente
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    de imaginar a cor
    de xarope de cereja do vestido.
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    Subitamente, estão numa praia,
    prestes a apaixonarem-se.
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    Estão a viver a história
    a um nível visceral e conceptual,
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    encontrando-se com o escritor
    a meio caminho no jogo imaginativo
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    de criar um mundo dinâmico dos sentidos.
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    Por isso, quando escreverem,
    usem palavras bem escolhidas
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    para envolverem o som, a vista, o paladar,
    o tacto, o olfato e o movimento.
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    Depois criem conotações inesperadas
    entre os elementos da vossa história
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    e incendeiem a imaginação
    dos vossos leitores.
Title:
Como escrever ficção que tenha vida — Nalo Hopkinson
Description:

Vejam a lição completa: http://ed.ted.com/lessons/how-to-write-fiction-that-comes-alive-nalo-hopkinson

O fito da ficção é lançar um encantamento, uma ilusão momentânea de que estamos a viver no mundo do conto. Mas, enquanto escritor, como embrenhamos os leitores nas nossas histórias? Nalo Hopkinson dá-nos algumas pistas para usarmos a linguagem a fim de dar vida à nossa ficção.

Lição de Nalo Hopkinson, animação de Enjoyanimation.

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Video Language:
English
Team:
closed TED
Project:
TED-Ed
Duration:
04:42

Portuguese subtitles

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