Return to Video

A matemática é eterna

  • 0:02 - 0:05
    Imagine que você está em um bar...
  • 0:05 - 0:07
    Ou em uma boate.
  • 0:07 - 0:10
    Você começa a conversar e, então,
    surge esta pergunta:
  • 0:10 - 0:12
    "Com o que você trabalha?"
  • 0:12 - 0:15
    Como acha seu trabalho interessante,
  • 0:15 - 0:19
    responde: "Sou matemático."
    (Risos)
  • 0:20 - 0:24
    Quando a conversa segue, inevitavelmente,
  • 0:24 - 0:26
    aparece uma destas duas frases:
  • 0:26 - 0:29
    A) "Eu era péssimo em matemática,
    mas não era minha culpa.
  • 0:29 - 0:32
    O professor é que era péssimo."
    (Risos)
  • 0:32 - 0:35
    B) "Mas pra que serve matemática?"
  • 0:35 - 0:36
    (Risos)
  • 0:36 - 0:39
    Vou tratar do Caso B.
  • 0:39 - 0:40
    (Risos)
  • 0:40 - 0:45
    Quando alguém pergunta para que serve
    a matemática, ele não quer saber
  • 0:45 - 0:48
    quais são as aplicações
    das ciências matemáticas.
  • 0:48 - 0:49
    Ele está perguntando:
  • 0:49 - 0:53
    "Por que tive que estudar esta droga
    que nunca mais usei na vida?" (Risos)
  • 0:53 - 0:55
    É isso que está perguntando realmente.
  • 0:55 - 0:56
    Por isto,
  • 0:56 - 1:00
    quando os matemáticos são questionados
    para que serve a matemática,
  • 1:00 - 1:02
    costumamos nos dividir em grupos:
  • 1:02 - 1:08
    cerca de 54,51% dos matemáticos
    vão tomar uma posição de ataque,
  • 1:08 - 1:13
    e 44,77% deles ficarão na defensiva.
  • 1:13 - 1:17
    Há uma exceção de 0,8%,
    na qual eu me incluo.
  • 1:17 - 1:19
    Quem são os que atacam?
  • 1:19 - 1:21
    São aqueles matemáticos
    que irão te dizer:
  • 1:21 - 1:23
    "Esta pergunta não faz sentido,
  • 1:23 - 1:26
    porque a matemática
    tem um significado próprio.
  • 1:26 - 1:29
    É um belo edifício que se constrói
    com a sua lógica própria,
  • 1:29 - 1:33
    e que não precisa que estejam sempre
    buscando todas as aplicações possíveis.
  • 1:33 - 1:35
    Para que serve a poesia?
    Para que serve o amor?
  • 1:35 - 1:39
    Para que serve a própria vida?
    Que tipo de pergunta é esta?"
  • 1:39 - 1:40
    (Risos)
  • 1:40 - 1:44
    Hardy, por exemplo, era um expoente
    deste tipo de ataque.
  • 1:44 - 1:46
    E os que ficam na defensiva vão dizer:
  • 1:46 - 1:51
    "Mesmo que você não perceba, amigo,
    a matemática está por trás de tudo."
  • 1:51 - 1:52
    (Risos)
  • 1:52 - 1:58
    Estes caras sempre vão citar
    pontes e computadores.
  • 1:58 - 2:01
    "Se você não sabe matemática,
    sua ponte vai desabar."
  • 2:01 - 2:02
    (Risos)
  • 2:02 - 2:05
    Realmente os computadores
    são matemática pura.
  • 2:05 - 2:09
    E esses caras também
    vão dizer que por trás
  • 2:09 - 2:13
    da segurança da informação e dos cartões
    de créditos estão os números primos.
  • 2:13 - 2:17
    Estas são as respostas que o seu professor
    vai lhe dar se você perguntar.
  • 2:17 - 2:19
    Ele é do time dos defensivos.
  • 2:19 - 2:21
    Tudo bem, mas quem está certo então?
  • 2:21 - 2:24
    Os que dizem que a matemática
    não precisa ter um propósito,
  • 2:24 - 2:27
    ou os que afirmam que a matemática
    está por trás de tudo?
  • 2:27 - 2:29
    Na verdade, ambos estão certos.
  • 2:29 - 2:33
    Mas lembra que eu disse que pertenço
    aos 0,8% que alegam outra coisa?
  • 2:33 - 2:37
    Então vá em frente e me pergunte
    para que serve a matemática.
  • 2:37 - 2:40
    Plateia: "Pra que serve a matemática?"
  • 2:40 - 2:45
    Eduardo: Certo, 76,34% perguntaram
    para que serve,
  • 2:45 - 2:47
    23,41% não falaram nada
  • 2:47 - 2:51
    e 0,8% que não sei o que está fazendo.
  • 2:51 - 2:54
    Bem, aos meus queridos 76,34%...
  • 2:56 - 2:59
    É verdade que a matemática
    não precisa servir a um propósito.
  • 2:59 - 3:03
    Realmente ela é
    uma estrutura bela, lógica,
  • 3:03 - 3:05
    provavelmente um dos maiores
    esforços coletivos
  • 3:05 - 3:07
    já realizados na história da humanidade.
  • 3:07 - 3:09
    Mas também é verdade que lá,
  • 3:09 - 3:15
    onde cientistas e técnicos estão à procura
    de teorias matemáticas
  • 3:15 - 3:20
    que os permitam avançar, está a estrutura
    da matemática que permeia tudo.
  • 3:20 - 3:25
    É verdade que devemos nos aprofundar
    para ver o que está por trás da ciência.
  • 3:25 - 3:28
    A ciência funciona
    através da intuição, da criatividade.
  • 3:29 - 3:33
    E a matemática controla a intuição
    e comanda a criatividade.
  • 3:33 - 3:36
    Quase todo mundo
    que nunca ouviu isto antes
  • 3:36 - 3:38
    se surpreende ao saber
    que se você pegar
  • 3:38 - 3:43
    uma folha de papel de 0,1 milímetro
    de espessura, das que usamos normalmente,
  • 3:43 - 3:47
    e se ela for grande o suficiente
    para ser dobrada 50 vezes,
  • 3:47 - 3:51
    a sua espessura ocuparia
    a distância da Terra até o Sol.
  • 3:52 - 3:55
    A sua intuição diz que é impossível.
  • 3:55 - 3:57
    Faça os cálculos
    e verá que ela está certa.
  • 3:57 - 4:00
    A matemática serve para isso.
  • 4:00 - 4:04
    É verdade que a ciência, todos os tipos
    de ciência, só faz sentido
  • 4:04 - 4:07
    porque nos ajuda a entender melhor
    o belo mundo em que vivemos.
  • 4:07 - 4:08
    E ao fazer isto,
  • 4:08 - 4:12
    ela nos ajuda a escapar das armadilhas
    deste mundo doloroso em que vivemos.
  • 4:12 - 4:15
    Há ciências que nos ajudam
    nesta direção claramente.
  • 4:15 - 4:17
    As ciências oncológicas, por exemplo.
  • 4:17 - 4:21
    E há outras que olhamos de longe,
    com inveja às vezes,
  • 4:21 - 4:23
    mas sabendo que somos o seu suporte.
  • 4:23 - 4:26
    Todas as ciências básicas
    são a base daquelas,
  • 4:26 - 4:28
    incluindo a matemática.
  • 4:28 - 4:32
    Tudo o que faz a ciência
    ser ciência é o rigor da matemática.
  • 4:32 - 4:37
    E este rigor existe
    porque seus resultados são eternos.
  • 4:37 - 4:39
    Você já disse ou ouviu dizer,
    em algum momento,
  • 4:39 - 4:42
    que um diamante é eterno, não é?
  • 4:44 - 4:46
    Isto depende da sua definição de eterno.
  • 4:46 - 4:49
    Um teorema, isso sim, é eterno.
  • 4:49 - 4:49
    (Risos)
  • 4:49 - 4:53
    O teorema de Pitágoras
    continua verdadeiro,
  • 4:53 - 4:56
    eu garanto isto, apesar de Pitágoras
    estar morto. (Risos)
  • 4:56 - 4:58
    Mesmo se o mundo desabasse,
  • 4:58 - 5:00
    o teorema de Pitágoras
    ainda seria verdadeiro.
  • 5:00 - 5:04
    Onde quer que um par de catetos
    e uma boa hipotenusa se reúnam,
  • 5:04 - 5:06
    (Risos)
  • 5:06 - 5:08
    o teorema de Pitágoras estará la,
    funcionando como um louco.
  • 5:08 - 5:12
    (Aplausos)
  • 5:15 - 5:19
    Bem, nós, matemáticos,
    nos dedicamos a fazer teoremas,
  • 5:19 - 5:21
    verdades eternas.
  • 5:21 - 5:24
    Mas nem sempre é fácil saber
    a diferença entre uma verdade eterna,
  • 5:24 - 5:27
    um teorema e uma simples hipótese.
  • 5:27 - 5:30
    Você precisa de uma demonstração.
  • 5:30 - 5:31
    Por exemplo,
  • 5:31 - 5:36
    imagine que eu tenho aqui
    um campo grande, enorme, infinito.
  • 5:36 - 5:40
    Eu quero cobri-lo com peças iguais
    sem deixar espaços.
  • 5:40 - 5:42
    Eu poderia usar quadrados, não é?
  • 5:42 - 5:46
    Eu poderia usar triângulos;
    círculos não, eles deixam lacunas.
  • 5:47 - 5:49
    Qual é o melhor formato para usar?
  • 5:49 - 5:53
    Um que cubra a mesma superfície,
    mas com uma borda menor.
  • 5:53 - 5:58
    Pappus de Alexandria, no ano 300,
    disse que o melhor era usar hexágonos,
  • 5:58 - 6:00
    assim como as abelhas.
  • 6:00 - 6:02
    Mas ele não provou.
  • 6:02 - 6:05
    O cara disse: "Hexágonos, ótimo!
    Vamos com hexágonos!"
  • 6:05 - 6:07
    Ele não provou, permaneceu uma hipótese.
  • 6:07 - 6:09
    "Hexágonos!"
  • 6:09 - 6:13
    E o mundo, como você sabe, se dividiu
    entre Pappistas e anti-Pappistas,
  • 6:13 - 6:18
    até que, 1.700 anos depois,
  • 6:18 - 6:24
    em 1999, Thomas Hales provou
  • 6:24 - 6:28
    que Pappus e as abelhas estavam certos:
    o melhor é usar hexágonos.
  • 6:28 - 6:31
    E isto se tornou um teorema,
    o "teorema da colmeia",
  • 6:31 - 6:33
    que será verdadeiro para todo o sempre.
  • 6:33 - 6:36
    Mais que qualquer diamante
    que você tenha. (Risos)
  • 6:36 - 6:39
    Mas o que acontece se formos
    para a terceira dimensão?
  • 6:39 - 6:43
    Se eu quiser preencher
    o espaço com peças iguais,
  • 6:43 - 6:45
    sem deixar lacunas,
  • 6:45 - 6:47
    eu posso usar cubos, certo?
  • 6:47 - 6:50
    Esferas não, elas deixam espaços.
    (Risos)
  • 6:50 - 6:53
    Qual é o melhor formato para usar?
  • 6:53 - 6:57
    Lord Kelvin, do famoso
    "graus Kelvin" e tudo mais,
  • 6:57 - 7:01
    disse que o melhor era usar
    um octaedro truncado.
  • 7:04 - 7:05
    (Risos)
  • 7:05 - 7:07
    Que, como todo mundo sabe...
  • 7:07 - 7:09
    (Risos)
  • 7:09 - 7:11
    É esta coisa aqui.
  • 7:11 - 7:14
    (Aplausos)
  • 7:16 - 7:17
    Qual é?
  • 7:18 - 7:20
    Quem não tem um octaedro
    truncado em casa? (Risos)
  • 7:20 - 7:24
    Mesmo de plástico. "Querida, traga
    o octaedro truncado, temos visitas!"
  • 7:24 - 7:26
    Todo mundo tem.
    (Risos)
  • 7:26 - 7:28
    Mas Kelvin não provou.
  • 7:28 - 7:31
    Permaneceu uma hipótese,
    a "conjectura de Kelvin".
  • 7:33 - 7:38
    E o mundo, como você sabe, se dividiu
    entre Kelvinistas e anti-Kelvinistas.
  • 7:38 - 7:39
    (Risos)
  • 7:39 - 7:42
    Até que cento e poucos anos depois...
  • 7:44 - 7:49
    Cento e poucos anos depois,
    alguém descobriu uma estrutura melhor.
  • 7:51 - 7:53
    Weaire e Phelan...
  • 7:53 - 7:56
    Weaire e Phelan descobriram
    esta coisinha aqui.
  • 7:56 - 7:57
    (Risos)
  • 7:57 - 8:01
    Esta estrutura, à qual deram
    o criativo nome de:
  • 8:01 - 8:03
    "estrutura de Weaire-Phelan".
  • 8:03 - 8:06
    (Risos)
  • 8:06 - 8:08
    Parece uma coisa rara, mas não é tão rara.
  • 8:08 - 8:10
    Também está presente na natureza.
  • 8:10 - 8:13
    É bem curioso que esta estrutura,
  • 8:13 - 8:15
    devido a suas propriedades geométricas,
  • 8:15 - 8:20
    foi usada para construir o Centro Aquático
    para os Jogos Olímpicos de Pequim.
  • 8:21 - 8:24
    Lá, Michael Phelps ganhou
    oito medalhas de ouro
  • 8:24 - 8:27
    e se tornou o melhor nadador
    de todos os tempos.
  • 8:27 - 8:30
    Bom, de todos os tempos
    até que apareça alguém melhor, não é?
  • 8:30 - 8:34
    Assim como a estrutura de Weaire-Phelan
    é a melhor até que apareça outra melhor.
  • 8:35 - 8:40
    Mas cuidado! Pois esta tem
    uma chance real,
  • 8:40 - 8:45
    mesmo que passem cento e poucos anos,
    ou mesmo 1.700 anos,
  • 8:45 - 8:51
    de alguém provar que ela é
    o melhor formato possível.
  • 8:51 - 8:55
    Então ela se tornará um teorema,
    uma verdade para todo o sempre.
  • 8:55 - 8:57
    Mais que qualquer diamante.
  • 8:59 - 9:03
    Então, se você quiser dizer para alguém
  • 9:04 - 9:07
    que o amará por toda a vida,
    (Risos)
  • 9:07 - 9:09
    dê-lhe um diamante.
  • 9:09 - 9:12
    Mas se você quiser dizer
    que o amará para todo o sempre,
  • 9:12 - 9:15
    dê-lhe um teorema!
    (Risos)
  • 9:15 - 9:17
    Mas espere um pouco!
  • 9:17 - 9:20
    Você terá que provar
  • 9:20 - 9:24
    que o seu amor não é
    apenas uma hipótese.
  • 9:24 - 9:27
    (Aplausos)
Title:
A matemática é eterna
Speaker:
Eduardo Sáenz de Cabezón
Description:

Com um humor cativante, o matemático Eduardo Sáenz de Cabezón responde uma questão que tem quebrado a cabeça de estudantes no mundo todo: "Pra que serve a matemática?" Ele revela a beleza da matemática como a espinha dorsal da ciência e mostra que os teoremas são eternos, e não os diamantes.

more » « less
Video Language:
Spanish
Team:
closed TED
Project:
TEDTalks
Duration:
10:14

Portuguese, Brazilian subtitles

Revisions Compare revisions