Estamos loucos? Não se pode comer de tudo! | Alicia Baldó | TEDxAlcoi

Nesta palestra, Alicia Baldó aborda um antigo conselho: é preciso comer de tudo para sermos sãos e fortes.
A indústria, bem como os avanços tecnológicos e industriais, facilitaram muito a produção de alimentos: temos alimentos com uma maior validade e também com uma melhor distribuição. Por outro lado, é impossível deter o marketing da indústria alimentícia. E quanto você acha que existe de ingredientes naturais nesses produtos?

Alice Baldó disse: "Sempre me interessei pela relação e pelo impacto que existe da nutrição e o estilo de vida em nosso organismo, tanto na saúde quanto na doença". Bacharel em Farmácia Industrial e Clínica, é especialista em Assistência farmacêutica e em Nutrição. Além disso, o binômio Saúde-Nutrição tem sido e continua sendo, essencial na sua vida pessoal, focada na busca do bem-estar, como em sua vida profissional, ao converter-se em guia de seus estudos e de seu trabalho.
Trabalhar em muitas cidades diferentes e em vários países foi a razão do que agora se define como uma entusiasta defensora das necessidades de educar a população, mas em especial as nossas crianças, em hábitos alimentares corretos e em estilo de vida saudável.

Esta palestra foi dada em um evento TEDx, que usa o formato de conferência TED, mas é organizado de forma independente por uma comunidade local. Para saber mais visite http://ted.com/tedx

Vou direto ao ponto.

A quantos de vocês já disseram alguma vez

que para sermos saudáveis e fortes
é preciso comer de tudo?

Levantem a mão.

Vejo que quase todos levantaram as mãos.

E é verdade,

quase todos interiorizamos essa mensagem:

"Para estar saudável,
preciso comer de tudo".

Não é mesmo?

Mas não é!

Desde agora, eu lhes digo que não.

Que essa mensagem é falsa.

É um conselho, já bastante antigo,

e atualmente é insustentável.

Provavelmente, já faz
muito mais que meio século

não deveríamos estar comendo de tudo.

Os avanços tecnológicos e industriais

têm nos facilitado muito
a produção de alimentos;

e isso nos trouxe vantagens.

Olhem, temos alimentos
com uma maior validade.

Pensem que esses alimentos para que
possamos conservar até a hora do consumo

precisam de um processamento industrial,
de um tratamento térmico.

Também, temos uma melhor
distribuição dos alimentos.

Atualmente, no mesmo supermercado,

é possível comprar laranjas e mexericas,
que cultivamos em nossos campos.

Mas também os kiwis,
que originalmente são da China,

as mangas, que vinham da Índia,

papaias, lichias...

E isto não surpreende vocês?

E mais ainda, temos alimentos
com uma melhor organolepsia.

E o que é isso?

São alimentos os quais
a indústria alimentícia

tem melhorado a sua cor, o sabor,
o aroma, inclusive a textura.

Vamos a um exemplo.

Não sei se alguns de vocês
ainda se lembra dos sorvetes,

que derretiam por completo
só de serem retirados do congelador,

como se fossem gelo puro.

Quais são os sorvetes
que mais gostamos hoje em dia?

Estes são os que vendem mais.

Pois é, exatamente os sorvetes
que demoram mais para derreter.

Suportam mais.

São sorvetes com textura
mais suave, mais cremosa.

Sorvetes com o sabor
adocicado mais intenso,

que permanece mais tempo
no paladar, certo?

É isso o que queremos, é isso o que temos!

Sorvetes com mais gorduras
e mais açúcares adicionados.

E isso tudo teve muito a ver com a moda.

Vejam, eu lhes trouxe alguns exemplos

do que a indústria alimentícia
é capaz de fazer conosco.

Alguns países vendem estas bolachinhas

com formato de hambúrguer.

Para aqueles que gostam do salgado,

encontrei alguns caranguejos
disecados e com muito tempero.

E para aqueles ditos saudáveis,

há algumas tiras de lula seca
também muito temperadas.

Prestem atenção que eu disse lula,
e muita gente pensa

que ela contém proteínas,
e é baixa em gordura.

Neste caso, esta lula está muito salgada
e se come com chocolate quente.

Acontece que o marketing da indústria
alimentícia é impossível de deter.

Temos chocolates,

mostro já, um segundo.

Chocolates de chá verde,

chocolates de vinagre de maçã,

chocolates de batata-doce,

chocolate de wasabi.

Querem mais?

Então, vejam estas imagens!

E agora eu quero que reflitam
um pouquinho comigo.

Quantos ingredientes naturais vocês
acham que há nestes produtos?

Quase nada, não é?

E estarão pensando: "Bem, todo mundo sabe
que estes produtos não são saudáveis.

Verdade, tem toda razão, não são!

Mas então o que ocorre com os outros?

Um iogurte para bebês a partir de 8 meses,

rico em cálcio, magnésio, zinco
e com 10 g de açúcar por iogurte.

Um pouco mais do que contém
um sachezinho de açúcar para o café.

Ou um molho para cozido, 100% natural,

feito com menos de 3% de carne
e com quase 2 g de sal por porção.

E aqui o último exemplo:

uma barrinha de cereais para crianças,

na qual indicam, especificamente,

que são elaboradas com açúcar,
adoçantes, com muito mais coisas!

E que além de tudo,
são vendidas em farmácias.

Olhem, se lermos a lista de ingredientes
nas etiquetas destes produtos,

vamos nos dar conta, como somos bobos;

porque não estão nos enganando.

E tenham isso claro: nos deixamos enganar!

Nosso metabolismo não está preparado

para que a alimentação
se baseie nos ingredientes

contidos nesses alimentos
supostamente saudáveis,

porque possuem açúcares simples,
gorduras saturadas,

gorduras industriais
e um sem fim de aditivos,

em quantidades que podem fazer
nosso corpo entrar em colapso,

se canse e que reaja
produzindo uma doença.

E essa doença quero traduzir
como obesidade, diabetes

colesterol, hipertensão, etc.

O desenho do nosso corpo,
é o melhor que podemos ter

do ponto de vista evolutivo.

Entretanto, e nas palavras
do Dr. Campillo:

"As doenças que hoje estão nos matando

são consequência da incompatibilidade
entre o desenho e como o usamos".

Vou dar um exemplo bem fácil.

Nosso corpo e metabolismo
estão adaptados para andar, correr,

para sentar quando estamos cansados,

para dormir deitados.

Mas quando o forçamos
a permanecer sentado,

durante longas horas,

há uma diminuição da irrigação sanguínea
nos músculos e articulações das pernas.

E isso no final das contas,
produzirá dor, inflamação, doença.

Então, ocorre o mesmo com a alimentação.

Quando obrigamos o corpo
a se alimentar, a se nutrir

com alimentos que não o nutrem,
obrigando-o a funcionar com sobrecarga;

nosso intestino, fígado,
pâncreas, artérias, coração, etc.,

se ressentem e adoecem.

E a solução não está em ir
à farmácia e pegar remédio

para o colesterol ou o açúcar.

Não é a solução!

O que quero dizer

é que o ser humano desenvolveu-se,

evoluiu muito mais rápido
do que o seu próprio corpo.

Nem é preciso grande base científica.

O que faz falta é senso comum,

na hora da compra
e do consumo de alimentos.

Precisamos que esta imagem
seja cada vez mais frequente.

Sermos conscientes de que o que consumimos
nos leva ao autocontrole.

E ao consumo responsável

não só garante melhor qualidade de vida

mas além disso,

contribuiremos com
a sustentabilidade do planeta.

Então, da próxima vez que
queiram dar fruta a seus filhos

comprem no mercado
por quilo e não embalada.

Quando tenham sede e queiram se hidratar

bebam água e não bebida açucarada.

E quando precisem dos benefícios do chá,

não comam chocolate.

Porque não podemos comer de tudo!

Obrigada.

(Aplausos)