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Esta pequena partícula poderia vaguear pelo seu corpo para encontrar tumores.

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    No espaço que um transístor
    costumava ocupar,
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    podemos agora colocar 1000 milhões.
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    Isso fez com que um computador
    do tamanho de uma sala
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    caiba agora no nosso bolso.
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    Podemos dizer que ser pequeno é o futuro.
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    Como engenheira,
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    inspiro-me nesta revolução de
    miniaturização dos computadores.
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    Como física,
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    pergunto-me se poderia ser usada
    para reduzir o número de vidas perdidas
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    por causa de uma das doenças
    que mais proliferam na Terra:
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    o cancro.
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    Quando digo isto,
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    o que a maioria das pessoas ouve
    é que trabalhamos na cura do cancro.
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    E é o que fazemos.
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    Acontece que existe
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    uma incrível oportunidade de salvar vidas,
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    através da deteção e prevenção
    precoces do cancro.
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    No mundo inteiro, podem ser evitadas
    mais de dois terços das mortes por cancro,
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    usando métodos de que dispomos atualmente.
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    Coisas como a vacinação,
    análises atempadas
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    e, claro, deixar de fumar.
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    Mas, mesmo com as melhores ferramentas
    e tecnologias que temos atualmente,
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    alguns tumores não podem ser detetados
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    senão 10 anos após
    terem começado a crescer,
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    quando têm a força de 50 milhões
    de células cancerígenas.
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    E se tivéssemos melhores tecnologias
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    para detetar alguns destes cancros
    mais mortíferos, mais cedo,
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    quando pudessem ser removidos,
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    quando estivessem apenas a começar?
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    Deixem-me dizer-vos como
    a miniaturização pode levar-nos lá.
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    Isto é um microscópio
    num laboratório comum,
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    que um patologista usaria
    para observar uma amostra de tecido,
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    como uma biópsia
    ou um teste de Papanicolau.
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    Este microscópio de 7000 €
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    seria usado por alguém
    com anos de treino especializado
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    na deteção de células cancerígenas.
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    Isto é uma imagem de uma colega
    minha na Universidade de Rice,
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    Rebecca Richards-Kortum.
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    O que ela e a sua equipa fizeram
    foi miniaturizar aquele microscópio,
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    obtendo esta peça de 10 €,
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    que cabe na extremidade
    de uma fibra ótica.
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    O que isto significa é que, em vez de
    retirar uma amostra de um paciente,
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    e a enviar para o microscópio,
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    podemos levar o microscópio
    até ao paciente.
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    Depois, em vez de se precisar de um
    especialista para observar as imagens,
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    podemos treinar o computador para comparar
    células normais e cancerígenas.
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    Isto é importante,
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    porque o que se descobriu,
    ao trabalhar em comunidades rurais,
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    é que, mesmo com uma
    carrinha de rastreio móvel
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    que pode deslocar-se até à comunidade,
    realizar exames,
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    recolher amostras
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    e enviá-las para análise
    no hospital central,
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    passados esses dias,
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    as mulheres recebem uma chamada
    com um resultado de teste anormal,
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    e é-lhes pedido que vão ao hospital.
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    Metade delas não aparecem
    porque não podem pagar a viagem.
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    Com o microscópio integrado
    e a análise por computador,
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    Rebecca e os seus colegas conseguiram
    criar uma carrinha
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    que tem equipamento de diagnóstico
    e de tratamento.
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    O que isso significa é que
    podem fazer um diagnóstico
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    e aplicar a terapia no local,
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    de modo que ninguém
    deixa de ser acompanhado.
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    É apenas um exemplo de como
    a miniaturização pode salvar vidas.
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    Como engenheiros,
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    consideramos isto
    verdadeira miniaturização.
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    Pegamos numa coisa grande
    e tornamo-la pequena.
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    O que vos disse antes
    sobre os computadores
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    foi que transformaram as nossas vidas,
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    quando se tornaram pequenos
    para serem levados para todo o lado.
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    Qual é o equivalente a isso na medicina?
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    E se tivéssemos um detetor tão pequeno
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    que pudesse circular no nosso corpo,
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    encontrar sozinho um tumor
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    e enviar um sinal para o mundo exterior?
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    Parece ficção científica.
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    No entanto, a nanotecnologia
    permite-nos fazer isso mesmo.
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    Permite-nos encolher as peças
    que formam o detetor
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    do tamanho de um cabelo humano,
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    cerca de 100 micrómetros,
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    para mil vezes menor,
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    ou seja 100 nanómetros.
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    Isso tem implicações profundas.
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    Verifica-se que os materiais
    mudam as suas propriedades
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    à nanoescala.
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    Pegamos em material comum como o ouro,
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    e reduzimo-lo a pó,
    em nanopartículas douradas,
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    e ele muda o seu aspeto
    dourado para vermelho.
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    Se pegarmos em material mais exótico,
    como o seleneto de cádmio,
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    — um cristal grande e negro —
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    se o transformarmos em nanocristais,
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    os pusermos num líquido
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    e os iluminarmos
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    eles brilharão.
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    Eles terão um brilho azul, verde,
    amarelo, laranja ou vermelho,
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    dependendo apenas do seu tamanho.
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    É demais! Imaginam um objeto
    destes no mundo macroscópico?
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    É como se todas as calças de ganga
    nos nossos armários, feitas de algodão,
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    tivessem cores diferentes,
    dependendo apenas do seu tamanho.
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    (Risos)
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    Como física,
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    o que é igualmente interessante para mim
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    é que não é apenas a cor dos materiais
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    que muda numa nanoescala.
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    A forma como viajam no nosso
    corpo também muda.
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    Este é o tipo de observação que vamos usar
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    para construir um detetor
    de cancro melhor.
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    Deixem-me mostrar-vos o que quero dizer.
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    Isto é um vaso sanguíneo no corpo.
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    A rodeá-lo está um tumor.
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    Vamos injetar nanopartículas
    no vaso sanguíneo
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    e ver como viajam através da corrente
    sanguínea até ao tumor.
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    Os vasos sanguíneos de muitos
    tumores têm perdas
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    e por isso as nanopartículas podem
    passar da corrente para os tumores.
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    A sua passagem depende do seu tamanho.
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    Nesta imagem,
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    as nanopartículas mais pequenas, azuis,
    com centenas de nanómetros estão a passar,
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    mas as maiores, de 500
    nanómetros, vermelhas,
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    ficam presas na corrente sanguínea.
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    Isso quer dizer que , como engenheira,
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    consoante o tamanho
    dos materiais que construo,
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    posso determinar onde ele
    se desloca no nosso corpo.
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    No meu laboratório, fizemos recentemente
    um nanodetetor de cancro,
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    tão pequeno que pode viajar
    pelo corpo e procurar tumores.
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    Desenhámo-lo para "escutar"
    a invasão dos tumores:
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    a orquestra de sinais químicos de que
    os tumores precisam para se espalharem.
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    Para um tumor se soltar
    do tecido onde nasceu,
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    tem que produzir químicos
    chamados enzimas,
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    para desfazer a estrutura dos tecidos.
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    Desenhámos estas nanopartículas
    para serem ativadas por essas enzimas.
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    Uma enzima pode ativar mil destas
    reações químicas por hora.
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    Em engenharia, consideramos
    esta razão de um para mil
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    uma forma de amplificação
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    e torna algo ultra sensível.
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    Fizemos, assim, um detetor
    de cancro ultra sensível.
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    Mas como passar este sinal ativado
    para o mundo exterior,
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    onde podemos atuar sobre ele?
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    Para isso, vamos usar mais
    uma peça da nanobiologia,
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    relacionada com o rim.
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    O rim é um filtro.
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    A sua função é filtrar o sangue
    e passar as impurezas para a urina.
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    O que o rim filtra
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    depende do tamanho.
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    O que podemos ver nesta imagem
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    é que tudo o que é menor
    do que cinco nanómetros
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    passa do sangue, através
    do rim, para a urina.
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    Tudo o que é maior é retido.
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    Se fizermos um detetor de cancro
    de 100 nanómetros
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    e o injetarmos na corrente sanguínea,
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    ele pode passar para o tumor onde
    é ativado pelas enzimas tumorais,
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    para libertar um pequeno sinal,
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    suficientemente pequeno
    para ser filtrado pelo rim
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    e colocado na urina,
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    e temos um sinal no mundo
    exterior que podemos detetar.
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    Mas há mais um problema.
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    Trata-se de um sinal muito pequeno.
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    Como podemos detetá-lo?
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    O sinal é apenas uma molécula.
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    Trata-se de moléculas que desenhámos
    como engenheiros.
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    São completamente sintéticas
    e podemos desenhá-las
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    para serem compatíveis
    com uma ferramenta à nossa escolha.
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    Se quisermos usar um instrumento
    muito sensível e aparatoso,
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    chamado espectrómetro de massa,
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    fazemos uma molécula
    com uma massa específica.
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    Ou talvez queiramos fazer algo
    mais barato e portátil.
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    Nesse caso, fazemos moléculas
    que podemos captar com papel,
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    como um teste de gravidez.
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    De facto, há toda uma série
    de testes de papel
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    que estão a ficar disponíveis, numa área
    chamada diagnósticos de papel.
  • 8:44 - 8:46
    Onde chegaremos com isto?
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    O que vou dizer a seguir
  • 8:48 - 8:50
    como investigadora de longa data,
  • 8:50 - 8:52
    representa um sonho meu.
  • 8:52 - 8:54
    Não posso dizer que seja uma promessa.
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    É um sonho.
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    Penso que todos temos que ter sonhos,
    que nos façam avançar,
  • 9:00 - 9:04
    até mesmo — e especialmente —
    os investigadores do cancro.
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    Vou dizer o que espero que aconteça
    com a minha tecnologia,
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    em que eu e a minha equipa
    colocaremos os nossos corações e almas,
  • 9:11 - 9:13
    de forma a que se torne realidade.
  • 9:13 - 9:15
    Aqui vai.
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    Sonho que um dia,
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    em vez de se usar
    um equipamento de imagem caro,
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    para fazer uma colonoscopia,
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    ou uma mamografia,
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    ou um teste de Papanicolau,
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    se possa levar um injeção,
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    esperar uma hora
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    e fazer um teste de urina
    numa folha de papel.
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    Imagino que isto possa até ser feito
  • 9:36 - 9:39
    sem necessidade de eletricidade
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    ou de um profissional de saúde na sala.
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    Talvez possam estar à distância
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    e ligados apenas através
    da imagem de um smartphone.
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    Sei que isto parece um sonho,
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    mas no laboratório já temos
    isto a funcionar com ratos,
  • 9:52 - 9:54
    funcionando melhor
    do que os métodos existentes
  • 9:54 - 9:58
    para a deteção do cancro do pulmão,
    do cólon e dos ovários.
  • 9:59 - 10:01
    Espero que isto signifique
  • 10:01 - 10:06
    que um dia possamos detetar
    tumores em pacientes
  • 10:06 - 10:09
    antes de passarem 10 anos
    do início do seu crescimento,
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    em todos os estilos de vida,
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    em todo o mundo,
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    e que isto conduza a tratamentos precoces
  • 10:16 - 10:20
    e que possamos salvar mais vidas
    do que conseguimos hoje,
  • 10:20 - 10:21
    com a deteção precoce.
  • 10:22 - 10:23
    Obrigada.
  • 10:23 - 10:27
    (Aplausos)
Title:
Esta pequena partícula poderia vaguear pelo seu corpo para encontrar tumores.
Speaker:
Sangeeta Bhatia
Description:

E se pudéssemos encontrar tumores cancerígenos anos antes de poderem fazer-nos mal — sem equipamentos de imagem caros e eletricidade? Sangeeta Bhatia, física, bioengenheira e empresária, lidera um laboratório multidisciplinar que procura novas formas de compreender, diagnosticar e tratar doenças humanas. O seu objetivo: os dois terços de mortes que ela diz serem totalmente evitáveis. Com uma clareza notável, ela explica a ciência das nanopartículas e partilha o seu sonho de um novo e radical teste do cancro que poderá salvar milhões de vidas.

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Video Language:
English
Team:
closed TED
Project:
TEDTalks
Duration:
10:43

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