Como falar de abuso sexual em ambiente virtual
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0:01 - 0:04Foi em abril do ano passado.
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0:04 - 0:06Eu tinha saído com amigos
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0:06 - 0:08para festejar um aniversário.
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0:08 - 0:10Já não nos juntávamos há umas semanas.
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0:10 - 0:12Era uma noite perfeita,
pois estávamos juntos. -
0:13 - 0:15No fim da noite,
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0:15 - 0:18apanhei o último metro
para voltar para a outra ponta de Londres. -
0:19 - 0:20A viagem foi tranquila.
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0:20 - 0:22Cheguei à minha estação local
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0:22 - 0:24e comecei a caminhada
de 10 minutos para casa. -
0:25 - 0:29Conforme virei a esquina,
— a minha casa ficava em frente — -
0:30 - 0:31ouvi passos atrás de mim
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0:31 - 0:33que pareciam ter vindo do nada
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0:33 - 0:35e começaram a acelerar.
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0:36 - 0:39Antes de ter tempo para perceber
o que estava a acontecer -
0:39 - 0:41uma mão cobriu a minha boca
sem me deixar respirar, -
0:41 - 0:44e o jovem atrás de mim
arrastou-me para o chão, -
0:44 - 0:47bateu com a minha cabeça
várias vezes contra o chão -
0:47 - 0:49até a minha cara começar a sangrar,
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0:49 - 0:51dando-me pontapés
nas costas e no pescoço, -
0:51 - 0:52enquanto me violentava,
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0:52 - 0:55rasgando as minhas roupas
e dizendo "cala-te", -
0:55 - 0:57enquanto eu tentava gritar por socorro.
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0:57 - 1:00A cada pancada na minha
cabeça no pavimento -
1:00 - 1:03uma pergunta ecoava na minha cabeça
e até hoje persegue-me: -
1:03 - 1:05"Será que é assim que tudo vai acabar?"
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1:07 - 1:10Mal eu sabia que tinha sido seguida
todo o caminho -
1:10 - 1:12desde o momento
em que saí da estação. -
1:12 - 1:13Horas depois,
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1:13 - 1:17eu estava de tronco nu,
de pernas nuas, diante da polícia, -
1:17 - 1:20a tirar fotografias do meu tronco nu
com cortes e hematomas, -
1:20 - 1:21para provas forenses.
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1:22 - 1:25Não há palavras para descrever
os sentimentos consumidores -
1:25 - 1:28de vulnerabilidade, vergonha,
transtorno e injustiça -
1:28 - 1:31que eu tive naquele momento
e nas semanas seguintes. -
1:32 - 1:35Mas desejando uma saída
para condensar tais sentimentos -
1:35 - 1:37em algo ordenado para poder entendê-los,
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1:37 - 1:39decidi fazer o que parecia
ser mais natural: -
1:39 - 1:41Eu escrevi sobre isso.
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1:41 - 1:44Começou como um exercício de catarse.
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1:44 - 1:47Escrevi uma carta ao meu agressor,
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1:47 - 1:49humanizando-o, tratando-o por "tu",
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1:49 - 1:52para identificá-lo como parte
da própria comunidade -
1:52 - 1:54de que tão violentamente
abusou naquela noite. -
1:55 - 1:57Frisando o turbilhão
causado pelas suas ações, -
1:57 - 1:59escrevi:
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1:59 - 2:01"Alguma vez pensaste
nas pessoas da tua vida? -
2:02 - 2:04"Eu não sei quem são
as pessoas da tua vida. -
2:04 - 2:07"Não sei nada sobre ti.
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2:06 - 2:08"Mas fica a saber:
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2:08 - 2:10"Tu não me atacaste
apenas a mim, naquela noite. -
2:10 - 2:14"Sou uma filha, uma amiga,
uma irmã, uma aluna, -
2:14 - 2:16"uma prima, uma sobrinha,
eu sou uma vizinha. -
2:16 - 2:18"Sou a funcionária
que servia café a todos -
2:18 - 2:20"no café por baixo da via férrea.
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2:20 - 2:23"E todas essas pessoas
que formam essas relações comigo -
2:23 - 2:25"constituem a minha comunidade.
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2:25 - 2:27"E tu agrediste cada uma delas.
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2:27 - 2:30"Violaste a verdade pela qual
nunca irei parar de lutar, -
2:30 - 2:32"e que todas essas pessoas representam.
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2:32 - 2:35"Há mais boas pessoas
no mundo do que más". -
2:37 - 2:39Apostada em não deixar
que este incidente -
2:39 - 2:41me fizesse perder a fé
na solidariedade da comunidade -
2:41 - 2:43ou na humanidade como um todo,
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2:43 - 2:47lembrei-me do atentado terrorista
de 7/7 de 2005 na estação de Londres, -
2:47 - 2:50e de como, na altura, o presidente
da câmara e os meus pais -
2:50 - 2:53insistiram que voltássemos a usar
o metro no dia seguinte, -
2:53 - 2:55para que não fôssemos definidos
ou mudados -
2:55 - 2:58por aqueles que nos fizeram
sentir inseguros -
2:58 - 2:59Disse ao meu agressor:
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3:00 - 3:01"Tu atacaste-me,
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3:01 - 3:04"mas agora estou de volta ao meu metro.
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3:04 - 3:07"A minha comunidade não sentirá
insegurança a ir para casa à noite. -
3:07 - 3:09"Iremos para casa nos últimos metros,
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3:09 - 3:11"e caminharemos nas ruas sozinhas,
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3:11 - 3:14"porque não vamos enraizar
nem nos submeter à ideia -
3:14 - 3:16"de que estamos a correr
riscos por fazer isso. -
3:16 - 3:19"Continuaremos a reunir-nos,
como um exército, -
3:19 - 3:22"quando qualquer membro
da nossa comunidade for ameaçado. -
3:22 - 3:24"E não vencerás esta batalha."
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3:26 - 3:27Quando escrevi esta carta...
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3:27 - 3:29(Aplausos)
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3:29 - 3:30Obrigada.
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3:30 - 3:32(Aplausos)
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3:32 - 3:34Quando escrevi esta carta,
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3:34 - 3:36estava a estudar para os exames em Oxford,
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3:36 - 3:38e trabalhava lá
no jornal estudantil local. -
3:38 - 3:41Apesar de ter a sorte de ter amigos
e familiares a apoiar-me, -
3:41 - 3:43foi uma altura de isolamento.
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3:43 - 3:45Não conhecia ninguém
que tivesse passado por aquilo -
3:45 - 3:47— pelo menos achava que não.
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3:47 - 3:50Lia reportagens, estatísticas, e sabia
quão comum era o abuso sexual, -
3:50 - 3:52mas não conseguia nomear uma única pessoa
-
3:52 - 3:55que já tivesse falado sobre
uma experiência semelhante. -
3:55 - 3:58Então, numa decisão um pouco espontânea,
-
3:58 - 4:01decidi que ia publicar a minha carta
no jornal estudantil, -
4:01 - 4:04esperando alcançar outros em Oxford
com uma experiência semelhante -
4:04 - 4:06e se sentissem da mesma forma.
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4:06 - 4:08No fim da carta,
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4:08 - 4:10pedi para escreverem
as suas experiências -
4:10 - 4:12sob o "hashtag" "#NotGuilty,"
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4:12 - 4:15para frisar que os sobreviventes de abuso
podiam expressar-se -
4:15 - 4:17sem sentir vergonha ou culpa
do que lhes acontecera, -
4:17 - 4:20para mostrar que podíamos
erguer-nos contra o abuso sexual. -
4:20 - 4:23O que nunca imaginei foi
que, quase do dia para a noite, -
4:23 - 4:25esta carta ia tornar viral.
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4:26 - 4:28Rapidamente, estávamos a receber
centenas de histórias -
4:28 - 4:30de homens e mulheres de todo o mundo,
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4:30 - 4:33que comecei a publicar
num "website" que criei. -
4:33 - 4:35O "hashtag" tornou-se uma campanha.
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4:36 - 4:39Houve uma mãe australiana de 40 anos
que descreveu como, ao sair à noite, -
4:39 - 4:41foi seguida até à casa de banho
por um homem -
4:41 - 4:44que a apalpou
repetidamente entre as pernas. -
4:44 - 4:45Houve um homem na Holanda
-
4:45 - 4:48que descreveu como foi violado
numa visita a Londres -
4:48 - 4:50e não foi levado a sério
por ninguém a quem relatou o caso. -
4:50 - 4:54Recebi mensagens no Facebook
de pessoas na Índia e na América do Sul, -
4:54 - 4:57dizendo: "Como podemos trazer
a mensagem da campanha para aqui?" -
4:57 - 5:00Uma das primeiras contribuições
veio de uma mulher chamada Nikki, -
5:00 - 5:03que descreveu como cresceu
a ser molestada pelo pai. -
5:03 - 5:05Tive amigos que se abriram comigo
-
5:05 - 5:07sobre experiências que aconteceram
na semana passada -
5:07 - 5:11e as que ocorreram anos atrás,
de que eu não fazia ideia. -
5:11 - 5:13À medida que íamos recebendo
estas mensagens, -
5:13 - 5:16também recebíamos
mensagens de esperança, -
5:16 - 5:19de pessoas que se sentiam apoiadas
por esta comunidade de vozes -
5:19 - 5:22erguendo-se contra o abuso
e culpabilização da vítima. -
5:22 - 5:23Uma mulher chamada Olivia,
-
5:23 - 5:26após descrever como fora atacada
por alguém em quem confiara -
5:26 - 5:27e de quem gostara por muito tempo,
-
5:27 - 5:30disse: "Li muitas histórias
publicadas aqui, -
5:30 - 5:32"e tenho esperança de que, se tantas
mulheres seguem em frente, -
5:32 - 5:34"então, eu também posso.
-
5:34 - 5:35"Fui inspirada por muitas,
-
5:35 - 5:37"e espero um dia ser
tão forte como elas. -
5:37 - 5:39"Tenho a certeza que serei."
-
5:39 - 5:42Em todo o mundo, as pessoas
fizeram "tweets" neste "hashtag". -
5:42 - 5:45A carta foi publicada e abordada
pela imprensa nacional, -
5:45 - 5:49e também foi traduzida para vários
idiomas no mundo inteiro. -
5:49 - 5:51Mas algo impressionou-me
na atenção dos "media" -
5:51 - 5:53que esta carta estava a atrair.
-
5:53 - 5:55Para algo ser notícia
de primeira página, -
5:55 - 5:58— dada a própria palavra "notícia" —
-
5:58 - 6:01assumimos que seja algo novo
ou surpreendente. -
6:01 - 6:04No entanto, o abuso sexual
não é novidade. -
6:04 - 6:07O abuso sexual, juntamente
com outros tipos de injustiças, -
6:07 - 6:09é relatado nos "media" a toda a hora.
-
6:09 - 6:10Mas, através da campanha,
-
6:10 - 6:13estas injustiças não foram vistas
como notícias comuns, -
6:13 - 6:16foram experiências de primeira mão
que afetaram pessoas reais, -
6:16 - 6:19que estavam a criar,
com a solidariedade de outros, -
6:19 - 6:21o que precisavam e não tinham:
-
6:21 - 6:23uma plataforma para falarem,
-
6:23 - 6:26a certeza de que não estavam sozinhas
ou que não eram culpadas -
6:26 - 6:29e abrirem discussões que ajudassem
a reduzir o estigma à volta do assunto. -
6:29 - 6:33As vozes dos que foram afetados
estavam em primeiro plano na notícia -
6:33 - 6:36não eram as vozes de jornalistas
ou de comentadores nas redes sociais. -
6:37 - 6:40Por isso é que a história era notícia.
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6:40 - 6:42Vivemos num mundo
extremamente interligado -
6:42 - 6:44com a proliferação das redes sociais,
-
6:44 - 6:48que é um recurso fantástico
para incentivar uma mudança social. -
6:48 - 6:51Mas também nos tornou
cada vez mais reativos, -
6:51 - 6:54desde um pequeno incómodo como:
"Ah, o meu comboio está atrasado," -
6:54 - 6:59até às grandes injustiças da guerra,
dos genocídios e dos ataques terroristas. -
6:59 - 7:02A nossa resposta padrão tornou-se
reagir a qualquer tipo de ofensa -
7:02 - 7:04usando o Twitter, o Facebook
ou um "hashtag", -
7:04 - 7:08qualquer coisa para mostrar
que nós também reagimos. -
7:08 - 7:10O problema de reagir desta maneira,
em massa, -
7:10 - 7:13é que, por vezes, pode significar
que não reagimos de todo, -
7:13 - 7:15não no sentido de realmente
fazer algo, -
7:15 - 7:17Pode fazer-nos sentir melhor,
-
7:17 - 7:20como se contribuíssemos para
um luto de grupo ou uma ofensa, -
7:20 - 7:22mas, realmente, não muda nada.
-
7:22 - 7:25Além disso, por vezes,
pode abafar as vozes -
7:25 - 7:27daqueles afetados
diretamente pela injustiça, -
7:27 - 7:29aqueles que devem ser ouvidos.
-
7:30 - 7:34Preocupante, é também a tendência
de algumas reações à injustiça -
7:34 - 7:35para construir ainda mais muros,
-
7:35 - 7:37para ser rápido a apontar o dedo
-
7:37 - 7:39na esperança de dar soluções rápidas
-
7:39 - 7:40a problemas complexos.
-
7:40 - 7:43Um tabloide britânico,
na publicação da minha carta, -
7:43 - 7:45criou um título a dizer:
-
7:45 - 7:48"Aluna de Oxford lança campanha
online para humilhar agressor." -
7:50 - 7:53Mas a campanha nunca foi
para humilhar ninguém. -
7:52 - 7:56Foi para as pessoas falarem
e fazerem os outros ouvir. -
7:56 - 8:00Os "trolls" no Twittter foram rápidos
a criar ainda mais injustiça, -
8:00 - 8:03comentando sobre a etnia
ou classe social do meu agressor -
8:03 - 8:05para frisar
os seus motivos preconceituosos. -
8:05 - 8:09Alguns até me acusaram
de forjar tudo -
8:09 - 8:11para fomentar, e eu cito:
-
8:11 - 8:14a minha "causa feminista
de ódio aos homens." -
8:14 - 8:16(Risos)
-
8:16 - 8:17Eu sei, certo?
-
8:17 - 8:20Como se eu fosse: "Olá pessoal!
Desculpem mas não posso. -
8:20 - 8:22"Estou ocupada a tentar
odiar a população masculina -
8:22 - 8:24"até fazer 30 anos."
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8:24 - 8:25(Risos)
-
8:25 - 8:27Agora, tenho quase a certeza
-
8:27 - 8:30de que essas pessoas não diriam
essas coisas pessoalmente. -
8:30 - 8:33Mas, como estão atrás de um ecrã,
-
8:33 - 8:35no conforto das suas casas,
nas redes sociais. -
8:35 - 8:38as pessoas esquecem-se de que
o que fazem é público, -
8:38 - 8:41que outras pessoas irão ler
e serão afetadas por isso. -
8:41 - 8:45Voltando à minha analogia
de voltar ao nosso metro, -
8:44 - 8:47outra preocupação que tenho,
com todo este ruído que aumenta, -
8:47 - 8:49das nossas respostas online
à injustiça -
8:49 - 8:53é de que pode retratar-nos
como a parte afetada, -
8:53 - 8:55o que pode levar à sensação de derrota,
-
8:55 - 8:58um tipo de barreira mental
para uma oportunidade positiva ou mudança -
8:59 - 9:00após uma situação negativa.
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9:01 - 9:03Alguns meses antes do início da campanha
-
9:03 - 9:05ou de isto me ter acontecido,
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9:05 - 9:07eu fui a um evento TEDx em Oxford,
-
9:07 - 9:09e vi a Zelda la Grange falar
-
9:09 - 9:11— a antiga secretária particular
de Nelson Mandela. -
9:11 - 9:13Uma das suas histórias impressionou-me.
-
9:14 - 9:16Contou como, quando
Mandela foi levado a tribunal -
9:16 - 9:18pela Liga Sul-Africana de Râguebi
-
9:18 - 9:20após autorizar uma investigação
a questões desportivas. -
9:20 - 9:21No tribunal,
-
9:21 - 9:24ele dirigiu-se aos advogados
da Liga Sul-Africana de Râguebi, -
9:24 - 9:26cumprimentou-os
-
9:26 - 9:28e conversou com eles,
cada um no seu idioma. -
9:28 - 9:29Zelda queria protestar,
-
9:29 - 9:32dizendo que eles não mereciam
ser respeitados, -
9:32 - 9:34após a injustiça que lhe tinham feito.
-
9:34 - 9:36Ele virou-se para ela e disse:
-
9:36 - 9:40"Nunca deves permitir que o inimigo
determine o terreno da batalha." -
9:42 - 9:43Quando ouvi estas palavras,
-
9:43 - 9:46não percebi porque é
que eram tão importantes -
9:46 - 9:49mas senti que eram
e anotei-as no meu caderno. -
9:49 - 9:52Mas tenho pensado muito
nesta frase, desde então. -
9:52 - 9:55A vingança, ou a expressão de ódio,
-
9:55 - 9:57para com aqueles que nos injustiçaram
-
9:57 - 10:00pode parecer um instinto humano
no confronto com o mal, -
10:00 - 10:02mas temos que livrar-nos desses ciclos
-
10:02 - 10:05se esperamos transformar
eventos negativos de injustiça -
10:05 - 10:07em mudança social positiva.
-
10:07 - 10:08Fazer o oposto
-
10:08 - 10:11continuará a permitir que o inimigo
decida o terreno da batalha, -
10:11 - 10:13criará uma situação binária,
-
10:13 - 10:15em que nós, os agredidos,
tornamo-nos os afetados, -
10:15 - 10:18opostos a eles, os criminosos.
-
10:18 - 10:20Assim como nós voltámos ao metro,
-
10:20 - 10:22não podemos deixar
que as plataformas -
10:22 - 10:23para interligação e comunidade
-
10:23 - 10:26sejam os locais que armamos
para a derrota. -
10:27 - 10:30Mas não quero desencorajar
a resposta das redes sociais, -
10:30 - 10:33porque eu devo o desenvolvimento
da campanha #NotGuilty -
10:33 - 10:35quase exclusivamente às redes sociais.
-
10:35 - 10:37Mas quero encorajar
uma abordagem mais ponderada -
10:37 - 10:39à forma como as usamos
para responder à injustiça. -
10:39 - 10:42O começo, penso eu,
é perguntar-nos duas coisas. -
10:42 - 10:44Primeiro: Porque sinto esta injustiça?
-
10:45 - 10:47No meu caso,
havia várias respostas para isso. -
10:47 - 10:49Alguém me magoara
e àqueles que eu amo, -
10:49 - 10:52sob a suposição de que
não teria de ser responsabilizado -
10:52 - 10:54ou de reconhecer o mal
que haviam causado. -
10:54 - 10:57Além disso, milhares de homens
e mulheres sofrem diariamente -
10:57 - 10:59de abuso sexual, quase sempre em silêncio,
-
10:59 - 11:02contudo, é um problema a que não damos
a mesma audiência que a outros. -
11:02 - 11:05É um problema pelo qual
ainda se culpam as vitimas. -
11:05 - 11:08Depois perguntamos:
Como, depois de reconhecer os motivos, -
11:08 - 11:11podemos revertê-los?
-
11:10 - 11:14Connosco foi responsabilizando
o meu agressor — e muitos outros. -
11:14 - 11:16Foi chamando-os para verem
o efeito que causaram. -
11:16 - 11:19Foi dando direito de antena
ao problema do abuso sexual, -
11:19 - 11:22abrindo discussões entre amigos,
familiares, nos "media". -
11:22 - 11:24que estiveram fechadas
demasiado tempo -
11:24 - 11:26e frisando que as vítimas
não se devem culpar -
11:26 - 11:28pelo que lhes aconteceu.
-
11:28 - 11:31Podemos ainda ter um longo percurso
para resolver este problema. -
11:31 - 11:33Mas, assim, podemos começar
a usar as redes sociais -
11:33 - 11:36como uma ferramenta
para a justiça social, -
11:36 - 11:38para educar, promover diálogos,
-
11:38 - 11:40para alertar as pessoas no poder
acerca do assunto -
11:40 - 11:43ao ouvirem aqueles
diretamente afetados. -
11:44 - 11:48Porque, às vezes, essas questões
não têm respostas simples. -
11:49 - 11:50Na verdade, raramente têm.
-
11:51 - 11:54Mas isto não significa que não possamos
dar uma resposta ponderada. -
11:54 - 11:56Em situações em que não paramos de pensar
-
11:56 - 11:59como reverter
este sentimento de injustiça, -
11:59 - 12:01ainda podemos pensar,
talvez não no que podemos fazer, -
12:01 - 12:03mas no que podemos não fazer.
-
12:04 - 12:07Podemos não criar mais barreiras
ao enfrentar a injustiça com preconceitos, -
12:07 - 12:09com mais ódio.
-
12:09 - 12:13Podemos não falar no lugar dos que foram
diretamente afetados por uma injustiça. -
12:13 - 12:17E podemos não reagir à injustiça
para esquecê-la no dia seguinte, -
12:17 - 12:19só porque o resto do Twittter
seguiu em frente. -
12:20 - 12:23Às vezes não reagir instantaneamente,
-
12:23 - 12:27é ironicamente,
a melhor coisa a fazer. -
12:28 - 12:32Porque podemos estar zangados,
transtornados e estimulados pela injustiça, -
12:32 - 12:35mas consideremos as nossas reações.
-
12:35 - 12:39Vamos responsabilizá-los,
sem entrar numa cultura -
12:39 - 12:42que prospera com a vergonha
e nos injustiça. -
12:42 - 12:44Vamos lembrar-nos daquela distinção,
-
12:44 - 12:46muito esquecida
pelos utilizadores da Internet, -
12:46 - 12:49entre crítica e insulto.
-
12:49 - 12:51Não nos podemos esquecer
de pensar antes de falar, -
12:51 - 12:54só porque temos um ecrã à nossa frente.
-
12:54 - 12:56E quando criarmos ruído
nas redes sociais, -
12:56 - 12:58não permitamos que abafe
as necessidades dos afetados, -
12:58 - 13:00Em vez disso, vamos amplificar
as suas vozes -
13:00 - 13:04para que a Internet se torne
um sítio em que não somos a exceção, -
13:04 - 13:06se dissermos algo que realmente
aconteceu connosco. -
13:07 - 13:09Toda esta abordagem
ponderada à injustiça -
13:09 - 13:12evoca as pedras basilares sobre as quais
se construiu a Internet: -
13:12 - 13:15socializar, ter sinal, interligar-se
-
13:15 - 13:17— todos estes termos que sugerem
aproximar as pessoas, -
13:17 - 13:19e não afastá-las.
-
13:19 - 13:23Porque se procurarmos
a palavra "justiça" no dicionário, -
13:24 - 13:25antes de "punição",
-
13:25 - 13:29antes de "administração da lei"
ou "autoridade judicial", -
13:30 - 13:31teremos:
-
13:31 - 13:34"A manutenção do que é certo."
-
13:34 - 13:38Penso que há algumas coisas
mais "certas" neste mundo -
13:38 - 13:39do que aproximar pessoas,
-
13:39 - 13:41do que associações.
-
13:41 - 13:44Se permitirmos que as redes sociais
façam isso, -
13:44 - 13:48então podemos encontrar
uma forma de justiça poderosa. -
13:48 - 13:50Muito obrigada.
-
13:50 - 13:53(Aplausos)
- Title:
- Como falar de abuso sexual em ambiente virtual
- Speaker:
- Ione Wells
- Description:
-
Precisamos de uma abordagem mais cuidadosa quando usamos as redes sociais para tratar de justiça social, segundo a escritora e ativista Ione Wells. Após ter sido vítima de abuso sexual em Londres, Wells publicou uma carta para o seu agressor num jornal estudantil, que logo se tornou viral e deflagrou a campanha #NotGuilty contra a violência sexual e a culpabilização da vítima. Nesta emocionante palestra, ela descreve como a partilha da sua história deu esperança a outras pessoas e nos passa um poderosa mensagem contra a cultura da vergonha no ambiente virtual.
- Video Language:
- English
- Team:
- closed TED
- Project:
- TEDTalks
- Duration:
- 13:56
Margarida Ferreira approved Portuguese subtitles for How we talk about sexual assault online | ||
Margarida Ferreira accepted Portuguese subtitles for How we talk about sexual assault online | ||
Margarida Ferreira edited Portuguese subtitles for How we talk about sexual assault online | ||
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Andreia Pancho edited Portuguese subtitles for How we talk about sexual assault online | ||
Andreia Pancho edited Portuguese subtitles for How we talk about sexual assault online | ||
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Hamilton Abreu
Carlos, seja bem-vindo ao Projeto Aberto de Tradução TED! Apenas uma nota importante: esta é uma tarefa que deve ser realizada em Português (entenda-se: Europeu ou de Portugal) e não em Português do Brasil. Na seleção dos idiomas das tarefas, o Yasser vai verificar que existem duas possibilidades: Portuguese [PT] e Portuguese, Brazilian [PT-BR].
Isto significa que a revisão deve adaptar a fraseologia da tradução, reflexo da sua oralidade brasileira, para a oralidade de Portugal.
Se desejar mais esclarecimentos, pode contactar a Equipa de LCs (Coordenadores do Idioma) de tradutores TED de Português (Portugal) ou contactar a Equipa de LCs da Equipa de Tradutores TED de Português do Brasil: http://translations.ted.org/wiki/Category:Language_Coordinators#Portuguese_.28Brazil.29