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Paddy Ashdown: A mudança do poder global

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    Há um poema
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    que um famoso poeta inglês escreveu
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    no final do século XIX.
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    Dizem que o poema ecoava na mente de Churchill
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    nos anos 1930.
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    E o poema diz:
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    “Na ociosa colina do verão,
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    preguiçoso com o correr dos riachos,
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    atento eu ouço um tambor distante,
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    tocando como um ruído nos sonhos,
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    longe e perto e baixo e mais alto nas estradas de terra que passam,
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    estimado pelo amigo e comida para pólvora,
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    soldados marchando,
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    logo a morrer."
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    Para os interessados em poesia,
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    o poema é “Um Jovem de Shropshire" de A.E. Housman.
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    Mas o que Housman entendeu,
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    e que também ouvimos nas sinfonias de Nielsen,
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    foi que aqueles verões longos, quentes, silvestres
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    de estabilidade do século XIX
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    estavam chegando ao fim,
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    e que estávamos prestes a entrar
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    em um desses períodos históricos aterrorizantes
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    em que o poder muda.
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    E estes são sempre períodos, senhoras e senhores,
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    acompanhados de turbulência,
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    e muitas vezes sangrentos.
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    E a minha mensagem para vocês
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    é que acredito estarmos condenados, se quiserem,
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    a viver justamente em um desses momentos na história
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    quando a confusão sobre a qual
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    a estabelecida ordem do poder está começando a mudar
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    e a nova aparência do mundo,
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    as novas potências que existem no mundo,
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    estão começando a tomar forma.
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    E estes são – e os vemos claramente atualmente –
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    quase sempre tempos altamente turbulentos, extremamente difíceis,
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    e muitas das vezes são sangrentos.
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    A propósito, isto acontece cerca de uma vez em cada século.
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    Vocês poderiam dizer que a última vez que isto aconteceu –
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    e foi isto que Housman previu e Churchill também –
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    foi quando o poder passou das antigas nações,
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    as antigas potências europeias,
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    atravessou o Atlântico para o novo poder emergente
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    dos Estados Unidos da América –
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    o início do século americano.
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    E sem dúvida, no vácuo
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    no qual as já muito velhas potências europeias estavam
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    ocorreu as duas catástrofes sangrentas
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    do último século –
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    aquela na primeira parte e aquela na segunda parte: as duas grandes Guerras Mundiais.
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    Mao Zedong se referia a elas como as guerras civis europeias,
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    e é provavelmente uma forma mais apurada de as descrever.
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    Bem, senhoras e senhores,
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    nos vivemos em um desses períodos.
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    Mas para nós, quero falar hoje sobre três fatores.
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    E o primeiro, os dois primeiros desses,
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    são sobre uma mudança de poder.
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    E o segundo é sobre uma nova dimensão a que quero me referir,
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    que nunca aconteceu da maneira que está acontecendo agora.
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    Mas falemos acerca das mudanças de poder ocorrendo no mundo.
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    E o que acontece hoje
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    é, num certo sentido, assustador
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    porque isto nunca aconteceu antes.
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    Presenciamos mudanças laterais de poder –
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    o poder da Grécia passou para Roma
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    e as mudanças de poder ocorreram
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    durante as civilizações europeias –
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    mas estamos vendo algo um tanto diferente.
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    Pois o poder não se movimenta apenas lateralmente
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    de nação para nação.
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    Está também se movimentando verticalmente.
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    o que está acontecendo hoje é que o poder que estava encoberto,
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    submetido à responsabilização, submetido ao estado de direito
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    dentro da instituição do estado-nação,
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    agora migrou em grande escala para o cenário global.
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    A globalização do poder –
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    nós falamos sobre a globalização dos mercados,
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    mas na verdade trata-se da globalização do poder real.
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    E onde, ao nível de estado-nação
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    este poder é submetido à responsabilização
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    sujeito ao estado de direito,
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    no cenário internacional não o é.
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    A arena internacional e a arena global onde o poder agora reside:
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    o poder da Internet, o poder dos satélites de radiodifusão,
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    o poder dos que trocam dinheiro –
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    este vasto movimento de dinheiro
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    que agora circula 32 vezes o valor necessário de dinheiro
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    para o comércio que supostamente está lá para financiar –
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    os cambistas, se quiserem,
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    os especuladores financeiros
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    que nos subjugaram a todos muito recentemente,
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    o poder das empresas multinacionais
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    agora criando orçamentos
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    muitas vezes maiores do que os dos países de tamanho médio.
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    Estes vivem num espaço global
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    em grande parte não regulado,
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    não sujeito ao estado de direito,
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    e no qual pessoas podem agir livremente sem restrições.
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    Agora, isto convém aos poderosos
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    até um ponto.
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    Isto é sempre conveniente para os com maior poder
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    para operar nos espaços sem restrições,
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    mas a lição da história é que, mais cedo ou mais tarde,
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    espaço não regulado –
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    espaço não sujeito ao estado de direito –
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    passa a ser ocupado, não apenas com as coisas que desejávamos –
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    comércio internacional, a Internet, etc. –
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    mas também com o que não desejávamos –
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    criminalidade internacional, terrorismo internacional.
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    A revelação de 11 de setembro
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    foi que mesmo que se seja a nação mais poderosa da Terra,
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    não obstante,
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    os que vivem naquele espaço podem lhes atacar
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    mesmo nas nossas cidades mais icônicas
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    numa manhã brilhante de setembro.
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    Dizem que cerca de 60 porcento
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    dos 4 milhões de dólares que financiaram o 11 de setembro
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    na realidade passaram pelas instituições das Torres Gêmeas
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    que o 11 de setembro destruiu.
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    Vejam, nossos inimigos também usam este espaço –
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    o espaço de viagem em massa, a Internet, os satélites de radiodifusão –
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    para ser capaz de espalhar seu veneno,
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    que é o de destruir nossos sistemas e nosso estilo de vida.
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    Mais cedo ou mais tarde,
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    mais cedo ou mais tarde,
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    a regra da história
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    é que para onde o poder vai
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    governância deverá segui-lo.
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    E se assim o é, como acredito que seja,
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    que um dos fenômenos do nosso tempo
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    é a globalização do poder,
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    então consequentemente um dos desafios do nosso tempo
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    é trazer governância para o espaço global.
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    E creio que as próximas décadas
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    serão, em graus maiores ou menores turbulentas
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    se formos mais ou menos capazes de atingir este objetivo:
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    trazer governância para o espaço global.
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    Agora, notem, não estou falando sobre governo.
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    Não estou falando em estabelecer
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    alguma instituição democrática global.
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    A minha opinião, a propósito, senhoras e senhores,
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    é que isto é pouco provável de acontecer
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    ao se criar mais instituições na ONU.
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    Se não tivéssemos a ONU teríamos que inventá-la.
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    O mundo precisa de um fórum internacional.
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    Precisa de um meio pelo qual possa legitimar ação internacional.
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    Mas quando se trata de governância do espaço global,
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    meu palpite é que isto não acontecerá
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    através da criação de mais instituições na ONU.
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    Isto na verdade acontecerá através dos poderosos se associando
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    e criando sistemas baseados em tratados,
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    acordos baseados em tratados,
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    para governar este espaço global.
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    E se observarmos, vemos isto acontecendo, já começam a emergir.
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    A Organização Mundial do Comércio: organização baseada em tratados,
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    inteiramente baseada em tratados,
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    e ainda, poderosa o suficiente para responsabilizar até o mais poderoso, os Estados Unidos,
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    se for necessário.
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    Kyoto: o início da luta para criar
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    uma organização baseada em tratados,
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    O G20:
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    agora sabemos que nós temos que criar uma instituição
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    que seja capaz de trazer governância
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    para este espaço financeiro para especulação financeira.
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    E isto é o que G20 é, uma instituição baseada em tratados.
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    Agora, há um problema,
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    ao qual voltaremos a falar daqui a pouco,
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    que é que se juntarmos os mais poderosos
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    para criarem os regulamentos em instituições baseadas em tratados,
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    para preencher este espaço de governância,
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    então o que acontece com os fracos que ficam excluídos?
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    E este é um grande problema,
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    e voltaremos a falar nisto daqui a pouco,
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    Então, a minha primeira mensagem é que,
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    se formos passar por estes tempos turbulentos
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    mais ou menos turbulentamente,
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    então nosso sucesso ao fazer isto
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    vai largamente depender da nossa capacidade
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    em trazer uma governância sensata
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    para o espaço global.
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    E ver este começo acontecer.
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    Meu segundo ponto é,
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    e eu sei que não preciso falar para uma audiência como esta
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    sobre estas coisas,
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    mas o poder não está apenas mudando verticalmente,
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    ele também muda horizontalmente.
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    Poderíamos argumentar que a história das civilizações,
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    eram de civilizações reunidas em torno dos mares –
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    com as primeiras surgindo em volta do Mediterrâneo
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    e, as mais recentes na ascendencia do poder ocidental, em volta do Atlântico.
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    Bom, para mim parece
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    que estamos vendo uma fundamental mudança no poder, de modo geral,
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    distanciando das nações em volta do Atlântico [litoral]
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    para as nações em volta da orla do Pacífico.
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    Agora, isto começa com poder econômico,
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    mas é assim que sempre começa.
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    Já começamos a ver o desenvolvimento de políticas externas,
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    o aumento dos orçamentos militares
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    ocorrendo em outras potências emergentes no mundo.
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    Penso, na verdade,
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    que isto não é tão somente uma mudança do Ocidente para o Oriente;
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    algo diferente está acontecendo.
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    Na minha opinião, se é que ela vale,
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    é que os Estados Unidos continuarão
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    sendo a nação mais poderosa do mundo
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    durante os próximos 10, 15 anos,
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    mas o contexto em que ela mantém seu poder
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    foi agora radicalmente alterado; mudou radicalmente.
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    Estamos saindo de 50 anos,
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    os anos mais inusitados da história
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    durante os quais tivemos um mundo totalmente monopolar,
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    em que toda agulha de bússola
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    a favor ou contra
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    tem que se referenciar pela sua posição em relação a Washington –
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    um mundo dominado por um único colosso.
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    Mas este não é um caso normal na história.
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    De fato, o que emerge agora
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    é um caso muito mais normal na história.
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    Estamos vendo a emergência
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    de um mundo multipolar.
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    Até agora,
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    os Estados Unidos foram o foco central dominante do nosso mundo.
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    Eles continuarão sendo a nação mais poderosa,
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    porém serão a nação mais poderosa
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    num mundo cada vez mais multipolar.
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    E começamos a ver centros alternativos de poder se expandindo –
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    na China, é claro,
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    embora, minha opinião é que sua ascensão à grandeza não é sem dificuldades.
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    Vai ser bastante difícil
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    quando a China começar a democratizar sua sociedade
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    após liberalizar sua economia.
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    Mas isto é assunto para uma outra discussão.
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    Vemos a Índia, vemos o Brasil.
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    Vemos cada vez mais
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    que o mundo atualmente parece, na verdade, para nós europeus,
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    muito mais com a Europa do século XIX.
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    A Europa do século XIX:
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    um grande Ministro de Relações Exteriores, Lorde Canning,
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    costumava descrevê-la como o “concerto de potências européias”.
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    Havia um equilíbrio, um equilíbrio de cinco lados.
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    A Grã-Bretanha sempre jogou para o equilíbrio.
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    Se Paris se juntava a Berlim,
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    A Grã-Bretanha se juntava a Viena e Roma para contrabalançar.
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    Agora, notem,
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    num período que é dominado por um mundo monopolar,
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    temos alianças fixas –
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    A OTAN, o Pacto de Varsóvia.
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    Uma polaridade de poder fixa
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    significa alianças fixas.
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    Mas uma polaridade de poder múltipla
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    significa mudar e transformar alianças.
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    E este é o mundo que estamos começando a ver,
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    em que cada vez mais vamos ver
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    que nossas alianças não são fixas.
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    Canning, o grande Ministro de Relações Exteriores, disse,
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    “A Grã-Bretanha tem um interesse comum,
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    mas não tem aliados em comum.”
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    E veremos cada vez mais
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    que até nós no Ocidente
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    vamos estender-nos, temos que estender-nos,
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    além do aconchegante círculo das potências do Atlântico
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    para fazer alianças com outros
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    se quisermos fazer com que as coisas aconteçam no mundo.
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    Notem, que quando entramos na Líbia,
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    não foi bastante para o Ocidente fazer isto sozinho;
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    tivemos que incluir outros.
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    Tivemos que trazer, neste caso, a Liga Árabe.
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    Acho que o Iraque e o Afeganistão foram as últimas vezes
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    em que o Ocidente tentou agir sozinho,
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    e não sucedemos.
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    Na minha opinião,
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    estamos chegando ao começo do fim de 400 anos –
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    Digo 400 anos porque é o fim do Império Otomano –
  • 11:03 - 11:05
    da hegemonia do poder ocidental,
  • 11:05 - 11:08
    instituições e valores ocidentais.
  • 11:09 - 11:12
    Sabem, até agora, se o Ocidente se organizasse,
  • 11:12 - 11:14
    poderia propor e dispor
  • 11:14 - 11:16
    em todo canto do mundo.
  • 11:16 - 11:18
    Mas isto já não é verdade.
  • 11:18 - 11:20
    Vejam a última crise financeira
  • 11:20 - 11:22
    depois da Segunda Guerra Mundial.
  • 11:22 - 11:24
    O Ocidente uniu-se –
  • 11:24 - 11:27
    a Instituição de Bretton Woods, o Banco Mundial, o Fundo Monetário Internacional –
  • 11:27 - 11:29
    problema resolvido.
  • 11:29 - 11:31
    Agora temos que convocar outros.
  • 11:31 - 11:33
    Agora temos que criar o G20.
  • 11:33 - 11:35
    Agora temos que ir além do círculo aconchegante
  • 11:35 - 11:37
    dos nossos amigos ocidentais.
  • 11:37 - 11:39
    Permitam-me fazer uma predição,
  • 11:39 - 11:42
    que provavelmente é mais chocante ainda.
  • 11:42 - 11:45
    Desconfio que agora estamos chegando ao fim
  • 11:45 - 11:47
    dos 400 anos
  • 11:47 - 11:49
    durante os quais o poder ocidental era suficiente.
  • 11:49 - 11:51
    As pessoas dizem, “Os chineses, está claro,
  • 11:51 - 11:53
    nunca irão se envolver
  • 11:53 - 11:55
    com pacifismo multilateral em todo o mundo.”
  • 11:55 - 11:57
    Ah, sim? Por que não?
  • 11:57 - 11:59
    Quantas tropas chinesas
  • 11:59 - 12:01
    estão servindo como boinas azuis, servindo a bandeira azul,
  • 12:01 - 12:03
    servindo sob o comando da ONU no mundo hoje?
  • 12:03 - 12:05
    3.700.
  • 12:05 - 12:08
    Quantos americanos? 11.
  • 12:08 - 12:10
    Qual é o maior contingente naval
  • 12:10 - 12:13
    combatendo o problema dos piratas da Somália?
  • 12:13 - 12:15
    O contingente naval chinês.
  • 12:15 - 12:17
    É claro que são, eles são uma nação mercantilista.
  • 12:17 - 12:19
    Eles querem manter as rotas marítimas abertas.
  • 12:19 - 12:22
    Cada vez mais, teremos que negociar
  • 12:22 - 12:25
    com pessoas com quem não compartilhamos valores,
  • 12:25 - 12:28
    mas com quem, no momento, compartilhamos interesses comuns.
  • 12:28 - 12:30
    É uma nova maneira totalmente diferente
  • 12:30 - 12:33
    de se olhar o mundo que emerge agora.
  • 12:33 - 12:35
    E aqui está o terceiro fator,
  • 12:35 - 12:38
    que é totalmente diferente.
  • 12:38 - 12:40
    Hoje, em nosso mundo moderno,
  • 12:40 - 12:42
    por causa da Internet,
  • 12:42 - 12:45
    por causa do tipo de coisas que as pessoas tem falado aqui,
  • 12:45 - 12:49
    tudo está ligado a tudo.
  • 12:49 - 12:51
    Agora nós somos interdependentes.
  • 12:51 - 12:53
    Agora estamos interligados,
  • 12:53 - 12:55
    como nações, como indivíduos,
  • 12:55 - 12:57
    de uma forma nunca antes vista,
  • 12:57 - 13:00
    isto nunca aconteceu antes.
  • 13:00 - 13:02
    A inter-relação das nações,
  • 13:02 - 13:04
    bem, isto sempre existiu.
  • 13:04 - 13:07
    A diplomacia trata da gestão da inter-relação das nações.
  • 13:07 - 13:09
    Mas agora estamos intimamente ligados uns aos outros
  • 13:09 - 13:11
    Você pega gripe suína no México,
  • 13:11 - 13:13
    isto torna-se um problema para o aeroporto Charles de Gaulle
  • 13:13 - 13:15
    24 horas mais tarde.
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    A Lehman Brothers vai a falência, o colapso é geral.
  • 13:18 - 13:21
    Há incêndios nas estepes da Rússia,
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    distúrbios de alimentos na África.
  • 13:23 - 13:27
    Nós agora estamos profundamente, profundamente interconectados.
  • 13:27 - 13:30
    E o que isto significa
  • 13:30 - 13:34
    é que a ideia de uma nação agindo sozinha,
  • 13:34 - 13:36
    sem estar conectada com outras,
  • 13:36 - 13:38
    sem cooperar com outras,
  • 13:38 - 13:40
    já não é uma proposta viável.
  • 13:40 - 13:43
    Porque as ações de um estado-nação
  • 13:43 - 13:45
    não estão confinadas em si mesmas,
  • 13:45 - 13:47
    e nem são suficientes para o próprio estado-nação
  • 13:47 - 13:49
    controlar seu próprio território,
  • 13:49 - 13:52
    por que os efeitos do que acontece fora do estado-nação
  • 13:52 - 13:55
    agora começam a afetar o que acontece dentro deles.
  • 13:55 - 13:57
    Eu fui um jovem soldado
  • 13:57 - 14:01
    na última das pequenas guerras imperiais da Grã-Bretanha.
  • 14:01 - 14:03
    Naquele tempo, a defesa do meu país
  • 14:03 - 14:06
    era sobre uma coisa e uma coisa só:
  • 14:06 - 14:09
    quão forte era nosso exército, quão forte era nossa força aérea,
  • 14:09 - 14:11
    quão forte era nossa marinha e quão forte eram nossos aliados.
  • 14:11 - 14:13
    Isto era quando o inimigo estava no lado de fora das muralhas.
  • 14:13 - 14:16
    Agora o inimigo está dentro das muralhas.
  • 14:16 - 14:18
    Agora, se eu quero falar sobre a defesa do meu país,
  • 14:18 - 14:20
    Tenho que falar com o Ministro de Saúde
  • 14:20 - 14:23
    porque doença pandêmica é uma ameaça à minha segurança,
  • 14:23 - 14:25
    Tenho que falar com o Ministro de Agricultura
  • 14:25 - 14:27
    porque a segurança dos alimentos é uma ameaça à minha segurança,
  • 14:27 - 14:31
    Tenho que falar com o Ministro da Indústria
  • 14:31 - 14:34
    porque a fragilidade da nossa infraestrutura de alta tecnologia
  • 14:34 - 14:36
    é agora um alvo de ataque para nossos inimigos –
  • 14:36 - 14:38
    como vemos em guerra cibernética –
  • 14:38 - 14:41
    Tenho que falar com o Ministro da Administração Interna
  • 14:41 - 14:43
    por que alguém que entrou no meu país,
  • 14:43 - 14:46
    que vive naquela casa germinada naquele centro da cidade
  • 14:46 - 14:48
    diretamente afeta o que acontece no meu país –
  • 14:48 - 14:52
    como vimos nos atentados em Londres de 7 de julho.
  • 14:52 - 14:55
    Não se trata mais de que a segurança de um país
  • 14:55 - 14:58
    seja simplesmente um assunto para seus soldados e seu Ministro de Defesa.
  • 14:58 - 15:01
    Mas sim sua capacidade de interligar suas instituições
  • 15:01 - 15:04
    E isto indica algo muito importante.
  • 15:04 - 15:06
    Isto nos indica que, de fato,
  • 15:06 - 15:09
    nossos governos, construídos verticalmente,
  • 15:09 - 15:11
    construídos no modelo econômico da Revolução Industrial –
  • 15:11 - 15:14
    hierarquia vertical, especialização de tarefas,
  • 15:14 - 15:16
    estruturas de comando –
  • 15:16 - 15:18
    possuem estruturas completamente errôneas.
  • 15:18 - 15:20
    Vocês empresários sabem
  • 15:20 - 15:22
    que a estrutura paradigma do nosso tempo, senhoras e senhores,
  • 15:22 - 15:24
    é a rede de comunicação.
  • 15:24 - 15:26
    É a nossa capacidade de comunicar é o que conta.
  • 15:26 - 15:29
    tanto dentro de seu governos como externamente.
  • 15:29 - 15:31
    Então aqui está a terceira lei de Ashdown.
  • 15:31 - 15:34
    À propósito, não me perguntem sobre a primeira e segunda lei de Ashdown
  • 15:34 - 15:36
    porque ainda não as inventei;
  • 15:36 - 15:38
    sempre soa melhor se há uma terceira lei, não?
  • 15:38 - 15:41
    A terceira lei de Ashdown é que na idade moderna,
  • 15:41 - 15:43
    em que tudo está conectado com tudo,
  • 15:43 - 15:46
    a coisa mais importante sobre o que podemos fazer
  • 15:46 - 15:48
    é o que podemos fazer com outros.
  • 15:48 - 15:50
    A parte mais importante da nossa estrutura –
  • 15:50 - 15:52
    seja você um governo, seja você um regimento militar,
  • 15:52 - 15:54
    seja você uma empresa –
  • 15:54 - 15:56
    são seus pontos de ligação, suas interligações,
  • 15:56 - 15:58
    sua capacidade de interligar com outros.
  • 15:58 - 16:00
    Vocês entendem isto nas indústrias;
  • 16:00 - 16:03
    mas não nos governos.
  • 16:03 - 16:05
    Mas, agora, um coisa final.
  • 16:05 - 16:08
    Se for o caso, senhoras e senhores – e é –
  • 16:08 - 16:10
    que agora estamos presos juntos
  • 16:10 - 16:12
    de uma forma que, exatamente assim, nunca aconteceu,
  • 16:12 - 16:16
    então seria também o caso de compartilharmos um destino um com o outro.
  • 16:16 - 16:19
    De repente e pela primeira vez,
  • 16:19 - 16:22
    defesa coletiva, a coisa que nos dominou
  • 16:22 - 16:24
    como o conceito de proteger nossas nações,
  • 16:24 - 16:26
    já não é suficiente.
  • 16:26 - 16:28
    Antes costumava ser
  • 16:28 - 16:30
    que se minha tribo era mais forte do que a dos outros eu estava salvo;
  • 16:30 - 16:33
    se o meu país fosse mais poderoso que o país dos outros, eu estava salvo;
  • 16:33 - 16:36
    minha aliança, como a OTAN, era mais poderosa do que a dos outros, eu estava salvo.
  • 16:36 - 16:38
    Já não é mais assim.
  • 16:38 - 16:41
    O advento da inter-conexão
  • 16:41 - 16:43
    e das armas de destruição em massa
  • 16:43 - 16:45
    significa que, cada vez mais,
  • 16:45 - 16:47
    eu compartilho um destino com meu inimigo.
  • 16:47 - 16:49
    Quando fui diplomata
  • 16:49 - 16:52
    negociamos os tratados de desarmamento com a União Soviética
  • 16:52 - 16:54
    em Genebra nos anos 70,
  • 16:54 - 16:56
    sucedemos porque nós entendemos
  • 16:56 - 16:58
    que compartilhávamos um destino com eles.
  • 16:58 - 17:01
    Segurança coletiva não é suficiente.
  • 17:01 - 17:03
    Paz veio à Irlanda do Norte
  • 17:03 - 17:06
    porque os dois lados entenderam que o jogo de soma zero não funcionaria.
  • 17:06 - 17:09
    Eles compartilharam um destino com seus inimigos.
  • 17:09 - 17:11
    Uma das grandes barreiras para a paz no Oriente Médio
  • 17:11 - 17:14
    é que ambos os lados, Israel e, eu penso, os palestinos,
  • 17:14 - 17:16
    não compreendem
  • 17:16 - 17:19
    que eles compartilham um destino coletivo.
  • 17:19 - 17:21
    E assim de repente, senhoras e senhores,
  • 17:21 - 17:23
    o que foi a proposta
  • 17:23 - 17:26
    dos visionários e poetas através dos tempos
  • 17:26 - 17:28
    vira algo que temos que tomar a sério
  • 17:28 - 17:30
    como uma questão de política pública.
  • 17:30 - 17:33
    Eu comecei com um poema, vou finalizar com outro.
  • 17:33 - 17:36
    O grande poema de John Donne.
  • 17:36 - 17:40
    "Não procurem por quem os sinos dobram".
  • 17:40 - 17:42
    O nome do poema é “Nenhum homem é uma ilha”.
  • 17:42 - 17:44
    E é assim:
  • 17:44 - 17:47
    “A morte de qualquer homem me diminui,
  • 17:47 - 17:49
    porque sou parte da humanidade,
  • 17:49 - 17:51
    não procure saber
  • 17:51 - 17:53
    por quem os sinos dobram,
  • 17:53 - 17:55
    eles dobram por ti”.
  • 17:55 - 17:58
    Para John Donne, uma recomendação de moralidade.
  • 17:58 - 18:00
    Para nós, penso eu,
  • 18:00 - 18:03
    parte da equação para nossa sobrevivência.
  • 18:03 - 18:05
    Muito obrigado.
  • 18:05 - 18:08
    (Aplausos)
Title:
Paddy Ashdown: A mudança do poder global
Speaker:
Paddy Ashdown
Description:

Paddy Ashdown alega que estamos vivendo num momento histórico no qual o poder está se modificando de forma nunca vista. Em uma palestra cativante no TEDxBrussels, ele faz um resumo das três principais mudanças que ele prevê.

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Video Language:
English
Team:
closed TED
Project:
TEDTalks
Duration:
18:09
Nadja Nathan added a translation

Portuguese, Brazilian subtitles

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