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Moscas, genes e comportamentos | María de la Paz Fernández | TEDxRíodelaPlata

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    O comportamento está inscrito nos genes.
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    Todos os animais
    têm comportamentos inatos,
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    comportamentos com que nascemos,
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    comportamentos que, com a evolução,
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    se foram tornando cada vez mais complexos.
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    Em muitos aspetos,
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    o comportamento de machos e fêmeas
    da mesma espécie é diferente
  • 0:39 - 0:41
    e estas diferenças no comportamento
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    são dadas por diferenças
    na ligação ao sistema nervoso.
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    Estas diferenças de ligação, por sua vez,
    são estabelecidas geneticamente.
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    A agressão é um comportamento
    que, em geral, é específico dos machos.
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    Vemo-la em espécies
    que são muito diferentes
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    que estão afastadas, evolutivamente.
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    Cada uma dessas espécies
    luta de forma diferente,
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    mas os mecanismos são parecidos.
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    As razões são quase sempre as mesmas.
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    Os machos lutam pelas fêmeas,
    por comida ou pelo território.
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    Eu estudo a agressão nas moscas.
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    O que vão ver agora é um ataque.
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    Um animal vai pôr-se de pé
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    e vai deixar cair todo o peso
    do corpo em cima do adversário.
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    O outro, entretanto, vai tentar fugir.
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    Porque é que estudo a agressão nas moscas?
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    Porque o comportamento que me interessa
    compreender é o mesmo,
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    mas o sistema é muito mais simples.
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    Então, é como estudar um modelo.
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    Às vezes acontece que o outro animal,
    em vez de tentar fugir,
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    fica e começa a lutar.
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    Então, acontece uma coisa
    a que chamamos "boxe".
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    Uma coisa muito importante do ataque
    é que só os machos o fazem.
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    O que atacou primeiro
    é o vencedor mais provável.
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    Os machos só atacam outros machos,
    nunca atacam as fêmeas.
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    Então, porquê estudar
    o comportamento nas moscas?
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    Porque têm o mesmo comportamento que nós:
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    as moscas dormem, comem, cortejam,
    lutam, aprendem e recordam.
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    Têm um sistema nervoso muito mais simples
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    e os genes que intervêm
    neste comportamento são muito parecidos.
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    Assim, estudar a agressão nas moscas
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    permite-nos perceber como se desenvolve
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    este mesmo comportamento
    noutras espécies.
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    Um elemento fundamental
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    na altura de decidir
    se cortejam ou se atacam
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    é determinar o sexo do outro animal.
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    Todos os machos estão programados
    para decidir entre cortejar ou agredir
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    mas as pistas sensoriais que usam
  • 2:51 - 2:55
    para ver se é um macho ou uma fêmea
    são diferentes.
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    Por exemplo, na nossa espécie,
    as chaves visuais são muito importantes.
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    O que uma mosca tem diante de si é isto.
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    Então, como é que ela decide?
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    Evidentemente, decide de qualquer forma,
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    porque o que faz, em cada caso,
    é muito diferente.
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    Na presença de um macho
    que entra no seu território,
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    vai começar a atacar
    e a persegui-lo por toda a parte
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    até que o outro decida fugir.
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    Na presença de uma fêmea,
    arrasta-lhe a asa.
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    Como podem ver,
    arrasta-lhe a asa, literalmente.
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    Persegue-a por toda a parte,
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    canta-lhe até que,
    finalmente, a conquista.
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    Então, a pergunta é:
    como é que sabe?
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    Como é que decide?
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    Quais são as pistas sensoriais que usa
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    para decidir se tem de cortejar
    ou se tem de atacar?
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    Se pudermos identificar essas pistas,
    poderemos mudá-las?
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    Poderemos inverter essa decisão?
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    Nos insetos, como
    em muitas outras espécies,
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    são muito importantes os sinais químicos
    que se chamam feromonas.
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    Estes sinais são produzidos
    por um animal e detetados pelo outro.
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    Assim, decidimos inverter as feromonas,
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    alterar o perfume.
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    Para isso, manipulámos a expressão
    de um gene que se chama "transformador".
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    O "transformador" está ativo nas fêmeas
    e desligado nos machos.
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    Assim, podemos silenciar
    o "transformador" nas fêmeas
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    e forçar a sua ativação nos machos.
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    Desse modo, masculinizamos a fêmea
    e feminilizamos os machos.
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    Mas não em todos os lados,
    não vamos manipular o animal todo.
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    Vamos escolher algumas partes,
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    em especial as células
    que produzem as feromonas.
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    Podemos obter assim
    fêmeas com feromonas masculinas
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    ou machos com feromonas femininas.
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    Vamos ver o que se vai passar
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    quando um macho normal,
    não manipulado,
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    se encontra com uma fêmea
    que tem feromonas masculinas.
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    O que se passa é que a ataca.
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    Quando ela entra no seu território,
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    faz uma coisa que nunca faria
    perante uma fêmea normal,
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    começa a atacá-la.
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    Quando fazemos a experiência recíproca,
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    descobrimos que os machos
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    que têm feromonas femininas
    são cortejados.
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    O que é que isto quer dizer?
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    Que os machos estão geneticamente
    programados para cortejar
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    quando encontram feromonas femininas
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    e para atacar quando encontram
    feromonas masculinas.
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    Mas será que este comportamento
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    um comportamento inato
    que está ligado ao cérebro
  • 5:35 - 5:40
    — cortejar se há feromonas femininas,
    atacar se há feromonas masculinas —
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    pode ser alterado?
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    Pode acontecer que um animal
    tão simples como uma mosca
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    possa aprender com a experiência
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    e modificar um comportamento que é inato?
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    Uma coisa que está ligada
    ao seu sistema nervoso?
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    Para responder a esta pergunta,
    fizemos uma experiência parecida.
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    Manipulámos o "transformador" de novo,
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    mas, desta vez, no cérebro das fêmeas.
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    Estas fêmeas continuam a ter
    feromonas femininas,
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    mas comportam-se como machos.
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    Silenciámos o "transformador" no cérebro,
    são fêmeas agressivas.
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    Não só detestam ser cortejadas,
    mas também atacam.
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    Então, pensámos:
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    "Que vai fazer um macho
    quando se encontrar com uma fêmea
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    "que tem feromonas de fêmea
    mas é agressiva?"
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    A primeira coisa que faz
    é cortejá-la por toda a parte.
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    Persegue-a, persegue-a,
    arrasta-lhe a asa, canta-lhe,
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    mas chega uma altura em que decide
    alterar o seu comportamento.
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    Chega uma altura em que,
    tanto a corteja e nada se passa,
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    e, ainda por cima, ela ataca-o,
    que ele diz: "Já chega"
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    e acaba por atacá-la.
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    Isto quer dizer que, mesmo um animal
    tão simples como uma mosca,
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    pode aprender com a experiência
    e modificar o seu comportamento.
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    Não só isso.
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    Quando há lutas entre dois machos,
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    há sempre um vencedor e um vencido.
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    Quando um macho perde muitas vezes,
  • 7:02 - 7:05
    o que acontece é que ele suprime
    esse comportamento.
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    Deixa de lutar.
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    Isso quer dizer que, mesmo num animal
    tão simples como uma mosca,
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    o comportamento está nos genes,
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    mas a capacidade de aprender
    com a experiência
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    e modificar esse comportamento
    também está lá.
  • 7:19 - 7:20
    Obrigada.
  • 7:20 - 7:22
    (Aplausos)
Title:
Moscas, genes e comportamentos | María de la Paz Fernández | TEDxRíodelaPlata
Description:

María de la Paz Fernández é investigadora. Com um doutoramento em Ciências Biológicas da Universidade de Buenos Aires (2007), o seu trabalho vinculou-se aos mecanismos biológicos subjacentes aos ritmos circadianos e foi realizado no Laboratório de Genética do Comportamento da Fundação Instituto Leloir. Em julho de 2013 regressou a Buenos Aires para trabalhar no seu laboratório no polo científico de Palermo, no qual tem a seu cargo o grupo de investigação de neurobiologia do comportamento. Utilizam a mosca Drosófila para estudar as bases do comportamento agressivo que, como na maioria das espécies, se manifesta entre os machos, através da corte, do ataque e do estabelecimento de relações de domínio.

Esta palestra foi feita num evento TEDx usando o formato de palestras TED, mas organizado independentemente por uma comunidade local. Saiba mais em http://ted.com/tedx

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Video Language:
Spanish
Team:
closed TED
Project:
TEDxTalks
Duration:
07:40

Portuguese subtitles

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