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A crise dos refugiados é um teste ao nosso carácter

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    Eu vou falar-vos sobre
    a crise global de refugiados
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    e o meu objetivo é mostrar-vos
    que esta crise
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    é controlável, tem solução,
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    mas também vos quero mostrar
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    que isto é tanto sobre nós mesmos
    e sobre quem somos
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    como é uma provação para os refugiados
    na linha da frente.
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    Para mim, isto não é
    apenas uma obrigação profissional
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    porque administro uma ONG que apoia
    refugiados e deslocados em todo o mundo.
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    É pessoal.
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    Eu adoro esta fotografia.
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    Esse rapaz giro à direita,
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    não sou eu.
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    É o meu pai, Ralph, em Londres, em 1940,
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    com o seu pai Samuel.
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    Eram refugiados judeus vindos da Bélgica.
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    Fugiram no dia da invasão nazi.
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    E eu também adoro esta foto
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    É um grupo de crianças refugiadas
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    a chegar à Inglaterra em 1946 da Polónia.
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    E no meio está a minha mãe, Marion.
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    Ela foi enviada para começar uma nova vida
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    num novo país,
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    sozinha,
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    com 12 anos.
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    Eu sei uma coisa:
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    se a Grã-Bretanha
    não tivesse acolhido refugiados
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    nos anos 40,
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    eu certamente não estaria aqui hoje.
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    No entanto, 70 anos depois,
    a situação repete-se.
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    O som é de muros a serem construídos,
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    retórica política de vingança,
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    valores e princípios humanitários
    em chamas
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    nos mesmo países que há 70 anos
    disseram "nunca mais"
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    à perda de nacionalidade e ao desespero
    das vítimas de guerra.
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    No ano passado, a cada minuto,
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    24 pessoas eram deslocadas das suas casas
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    por conflito, violência ou perseguição:
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    outro ataque de armas químicas na Síria,
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    os talibãs cada vez
    mais fortes no Afeganistão,
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    raparigas expulsas da sua escola
    no nordeste da Nigéria pelo Boko Haram.
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    Estas não são pessoas que vão para
    outro país
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    para terem uma vida melhor.
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    Elas fogem para salvarem a própria vida.
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    É uma autêntica tragédia
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    que o refugiado mais famoso do mundo
    não possa vir falar aqui hoje.
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    Muitos de vocês conhecem esta foto.
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    Mostra o corpo sem vida
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    de Alan Kurdi, de 5 anos,
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    um refugiado sírio que morreu no
    mar mediterrâneo em 2015.
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    Ele morreu ao lado de 3700 indivíduos
    que tentavam chegar à Europa.
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    No ano seguinte, 2016,
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    5 mil pessoas morreram.
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    Para eles,
    é demasiado tarde.
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    Mas não é demasiado tarde
    para milhões de outros.
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    Não é demasiado tarde para o Frederick
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    Eu conheci-o no campo de refugiados
    de Nyarugusu, na Tanzânia.
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    Ele é de Burúndi.
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    Queria saber onde é que podia
    acabar os estudos.
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    Ele tinha 11 anos de escolaridade,
    queria o 12.º ano.
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    Ele disse-me: "Eu rezo para que
    os meus dias não acabem aqui,
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    "num campo de refugiados."
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    E não é demasiado tarde para a Halud.
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    Os pais dela eram refugiados palestinianos
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    a viver no campo de refugiados
    de Jarmuque fora de Damasco
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    Ela é filha de pais refugiados,
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    e agora é ela mesma refugiada no Líbano.
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    Ela trabalha para o Comité Internacional
    de Resgate para ajudar refugiados,
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    mas ela não tem qualquer certeza
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    quanto ao seu futuro,
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    onde será ou o que lhe trará.
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    Esta palestra é sobre o Frederick, a Halud
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    e sobre milhões de outros como eles:
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    porque é que são deslocados,
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    como é que sobrevivem,
    qual é a ajuda que precisam
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    e quais são as nossas responsabilidades.
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    Eu acredito verdadeiramente
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    que a grande questão do século XXI
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    é sobre o nosso dever para com estranhos.
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    O futuro "tu" é sobre os teus deveres
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    para com estranhos.
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    Vocês sabem como ninguém
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    que o mundo está mais ligado do que nunca,
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    no entanto, o grande perigo
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    é que sejamos consumidos
    pelas nossas divisões.
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    E não há melhor teste
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    do que a forma como tratamos
    os refugiados.
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    Estes são os factos:
    65 milhões de pessoas
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    deslocadas das suas casas devido a
    violência e perseguição em 2016.
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    Se fosse um país,
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    seria o 21.º maior país do mundo.
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    A maioria dessas pessoas, cerca de
    40 milhões, ficam no seu país de origem,
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    mas 25 milhões são refugiados.
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    Isso significa que atravessam a fronteira
    para um estado vizinho.
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    A maioria está a viver em países pobres,
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    relativamente pobres ou de rendimento
    médio-baixo, como o Líbano,
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    onde a Halud vive.
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    No Líbano, uma em cada quatro
    pessoas é um refugiado,
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    um quarto do total da população.
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    E os refugiados ficam durante muito tempo.
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    A média de tempo de deslocação
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    é de 10 anos.
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    Eu fui ao que era então o maior campo
    de refugiados do mundo, no Quénia Oriental
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    Chama-se Dadaab.
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    Foi construído em 1991/1992
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    como um "campo temporário"
    para os somali fugirem da guerra civil.
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    Conheci a Silo.
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    E ingenuamente perguntei à Silo:
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    "Achas que vais voltar para casa,
    na Somália?"
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    E ela respondeu: "Voltar para casa?
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    "Eu nasci aqui."
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    E quando perguntei à administração
    do campo
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    quantas das 330 mil pessoas daquele campo
    nasceram lá,
  • 5:45 - 5:46
    Eles deram-me a resposta:
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    100 mil.
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    Isto é o que significa
    "deslocação de longo prazo".
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    Agora, as causas disto são profundas:
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    estados enfraquecidos
    que não conseguem apoiar os seus povos,
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    um sistema político internacional
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    mais fraco do que nunca desde 1945,
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    e diferenças em relação à teologia,
    governação e ligação com o mundo exterior
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    em partes importantes do mundo muçulmano.
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    Agora, estes são desafios a longo prazo,
    de gerações.
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    Daí dizer que a crise dos refugiados
    é a tendência e não um episódio singular.
  • 6:20 - 6:25
    E é complexo e quando temos problemas
    grandes, a longo prazo, e complexos,
  • 6:25 - 6:28
    as pessoas pensam
    que "não há nada a fazer".
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    Quando o papa Francisco foi a Lampedusa,
  • 6:31 - 6:33
    na costa de Itália, em 2014,
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    ele acusou-nos a todos,
    e à população mundial
  • 6:36 - 6:40
    do que ele chamou de
    "globalização da indiferença."
  • 6:41 - 6:42
    É uma frase assombrosa.
  • 6:42 - 6:45
    Significa que os nossos corações
    se transformaram em pedra.
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    Agora, não sei, digam-me.
  • 6:48 - 6:52
    É permitido discordar do papa,
    mesmo numa conferência TED?
  • 6:53 - 6:54
    Mas eu não concordo.
  • 6:54 - 6:56
    Acho que as pessoas querem
    fazer a diferença,
  • 6:56 - 7:00
    Mas não sabem se há alguma solução
    para esta crise.
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    O que eu vos quero dizer hoje
  • 7:02 - 7:05
    é que apesar dos problemas serem reais,
    as soluções também o são.
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    Solução um:
  • 7:07 - 7:11
    Estes refugiados precisam de trabalho
    nos países onde estão a viver,
  • 7:11 - 7:14
    e os países onde estão a viver precisam
    de grande apoio económico.
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    No Uganda em 2014, fizeram um estudo:
  • 7:17 - 7:20
    80% dos refugiados na capital Kampala
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    não precisavam de apoio humanitário
    porque tinham trabalho.
  • 7:23 - 7:24
    Eram apoiados pelo trabalho.
  • 7:24 - 7:26
    Solução número dois:
  • 7:26 - 7:30
    A educação para as crianças é
    um salva-vidas, não um luxo,
  • 7:30 - 7:33
    quando deslocadas há muito tempo.
  • 7:33 - 7:35
    As crianças podem recuperar
  • 7:35 - 7:38
    quando lhes é dado o apoio social
    e emocional adequado,
  • 7:38 - 7:40
    acompanhado das várias literacias.
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    Já o vi com os meus olhos.
  • 7:43 - 7:46
    Mas metade das crianças refugiadas do
    mundo com 5 a 11 anos
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    não recebem nenhuma educação,
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    e três quartos das crianças com 11 a 18
    anos também não recebem educação.
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    É uma loucura.
  • 7:54 - 7:56
    Solução número três:
  • 7:56 - 8:00
    A maioria dos refugiados estão em áreas
    urbanas em cidades, não em campos.
  • 8:00 - 8:03
    O que iria querer um refugiado
    numa cidade?
  • 8:03 - 8:06
    Iria querer dinheiro para pagar a renda
    ou comprar roupa.
  • 8:06 - 8:09
    Esse é o futuro do sistema humanitário,
  • 8:09 - 8:10
    ou uma parte importante dele.
  • 8:10 - 8:13
    Dar dinheiro para impulsionar o poder
    dos refugiados.
  • 8:13 - 8:15
    e ajudar a economia local.
  • 8:15 - 8:17
    E há uma quarta solução, também,
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    que é controversa
    mas temos de falar sobre ela.
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    É preciso dar um novo começo
    aos refugiados mais vulneráveis
  • 8:23 - 8:25
    e uma nova vida num novo país,
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    incluindo no ocidente.
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    Os números são relativamente pequenos,
    centenas ou milhares, não milhões,
  • 8:32 - 8:35
    mas o simbolismo é enorme.
  • 8:36 - 8:39
    Agora não é altura para banir refugiados.
  • 8:39 - 8:40
    como a administração de Trump propõe.
  • 8:40 - 8:44
    É altura de abraçar as pessoas
    que são vítimas de terror.
  • 8:44 - 8:45
    E lembrem-se...
  • 8:45 - 8:49
    (Aplausos)
  • 8:52 - 8:56
    E lembrem-se, se alguém vos perguntar:
    "Eles são adequadamente controlados?"
  • 8:56 - 9:00
    — essa é uma boa questão, e
    bastante pertinente.
  • 9:00 - 9:04
    A verdade é que os refugiados
    que chegam para reinstalação
  • 9:04 - 9:08
    são mais controlados que qualquer
    outra população nos nossos países.
  • 9:08 - 9:10
    Logo, apesar de ser
    uma questão pertinente,
  • 9:10 - 9:14
    não é aceitável dizer que "refugiado"
    é outra palavra para terrorista.
  • 9:15 - 9:16
    Agora, o que acontece...
  • 9:16 - 9:20
    (Aplausos)
  • 9:20 - 9:23
    O que acontece quando os refugiados
    não conseguem arranjar trabalho
  • 9:23 - 9:25
    não conseguem pôr os filhos na escola,
  • 9:25 - 9:28
    não têm dinheiro, não podem ter
    uma via legal para a esperança?
  • 9:28 - 9:30
    Acabam por tomar caminhos arriscados.
  • 9:30 - 9:35
    Eu fui a Lesbos, esta linda ilha grega,
    há dois anos.
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    É a casa de 90 mil pessoas.
  • 9:37 - 9:41
    Num ano, 500 mil refugiados
    atravessaram a ilha.
  • 9:41 - 9:43
    E quero mostrar-vos o que vi
  • 9:43 - 9:46
    quando atravessei o norte da ilha:
  • 9:46 - 9:50
    Um monte de coletes salva-vidas dos
    que conseguiram chegar à costa
  • 9:51 - 9:52
    E quando olhei mais de perto,
  • 9:52 - 9:55
    havia pequenos coletes salva-vidas
    para as crianças,
  • 9:55 - 9:56
    amarelos.
  • 9:56 - 9:58
    E eu tirei esta fotografia.
  • 9:58 - 10:02
    Provavelmente não conseguem ver
    o que está escrito mas eu leio
  • 10:02 - 10:05
    "Aviso: não protege contra o afogamento."
  • 10:06 - 10:08
    Portanto, em pleno século XXI,
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    são dadas às crianças coletes salva-vidas
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    para chegar a salvo à Europa
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    apesar desses coletes
    não salvarem as suas vidas
  • 10:16 - 10:19
    se caírem do barco que as leva.
  • 10:21 - 10:25
    Isto não é apenas uma crise, é um teste.
  • 10:26 - 10:29
    É um teste que as civilizações defrontam
    ao longo dos tempos.
  • 10:30 - 10:32
    É um teste à nossa humanidade.
  • 10:32 - 10:34
    É um teste para nós no mundo ocidental
  • 10:34 - 10:37
    de quem somos e do que defendemos.
  • 10:39 - 10:43
    É um teste ao nosso carácter,
    não apenas às nossas políticas.
  • 10:43 - 10:45
    E os refugiados são um caso difícil.
  • 10:45 - 10:47
    E eles vêm de partes distantes do mundo.
  • 10:48 - 10:50
    Passaram por traumas.
  • 10:50 - 10:52
    São, muitas vezes,
    duma religião diferente.
  • 10:52 - 10:55
    E essas são precisamente as razões pelas
    quais os devemos ajudar,
  • 10:55 - 10:57
    não para não o fazermos.
  • 10:57 - 11:01
    E é uma razão para os ajudarmos
    porque diz muito sobre nós mesmos.
  • 11:02 - 11:04
    Revela os nossos valores.
  • 11:05 - 11:10
    A empatia e o altruísmo são dois
    dos alicerces da civilização.
  • 11:11 - 11:14
    Transformem a empatia e altruísmo em ação
  • 11:14 - 11:16
    e viveremos num credo moral básico.
  • 11:17 - 11:19
    E no mundo de hoje, não temos desculpa.
  • 11:19 - 11:23
    Não podemos dizer que não sabemos
    o que acontece em Juba, no sul do Sudão,
  • 11:23 - 11:25
    ou em Alepo, Síria.
  • 11:25 - 11:28
    Está aqui, no nosso Smartphone,
  • 11:28 - 11:29
    na nossa mão.
  • 11:29 - 11:32
    A ignorância não é uma desculpa, de todo.
  • 11:32 - 11:37
    Se falharmos em ajudar, mostramos que
    não temos qualquer tipo de bússola moral.
  • 11:37 - 11:41
    Também revela se sabemos
    a nossa própria história.
  • 11:41 - 11:44
    A razão pela qual os refugiados têm
    direitos no mundo,
  • 11:44 - 11:46
    é graças à extraordinária
    liderança ocidental
  • 11:46 - 11:49
    dos estadistas depois da
    Segunda Guerra Mundial,
  • 11:49 - 11:51
    que os tornaram direitos universais.
  • 11:52 - 11:55
    Criticar a proteção dos refugiados é
    criticar a nossa própria História.
  • 11:56 - 11:58
    Isto também...
  • 11:58 - 11:59
    (Aplausos)
  • 11:59 - 12:03
    Isto também revela o poder da democracia
  • 12:03 - 12:06
    como refúgio da ditadura.
  • 12:06 - 12:08
    Quantos políticos ouviram dizer,
  • 12:09 - 12:13
    "Acreditamos no poder do nosso exemplo,
    não no exemplo do nosso poder."
  • 12:14 - 12:17
    Isto quer dizer: o que apoiamos tem
    mais valor do que as bombas que lançamos.
  • 12:18 - 12:20
    Os refugiados que procuram um refúgio
  • 12:21 - 12:25
    viram o ocidente como uma fonte de
    esperança e um porto de abrigo.
  • 12:27 - 12:29
    Russos, iranianos,
  • 12:29 - 12:32
    chineses, eritreus, cubanos,
  • 12:32 - 12:34
    vieram para o ocidente
    à procura de segurança.
  • 12:35 - 12:38
    Colocamo-nos em perigo
    ao descartarmos isso.
  • 12:38 - 12:40
    E há mais uma coisa que revela sobre nós:
  • 12:40 - 12:43
    Se temos alguma humildade para com
    os nossos erros.
  • 12:43 - 12:45
    Não sou uma daquelas pessoas
  • 12:45 - 12:49
    que acredita que todos os problemas do
    mundo são causados pelo ocidente.
  • 12:49 - 12:50
    Não são.
  • 12:50 - 12:52
    Mas quando erramos,
    devíamos reconhecê-lo.
  • 12:53 - 12:55
    Não é por acaso que o país
  • 12:55 - 12:58
    que acolheu mais refugiados
    do que qualquer outro, os EUA,
  • 12:58 - 13:01
    acolheu mais refugiados do Vietname
    do que qualquer outro país.
  • 13:02 - 13:04
    Tem em conta a História.
  • 13:04 - 13:07
    Mas há História mais recente, no Iraque
    e Afeganistão.
  • 13:07 - 13:11
    Não podemos compensar os erros
    da política externa
  • 13:11 - 13:13
    com ação humanitária,
  • 13:13 - 13:17
    mas quando estragamos alguma coisa,
    temos o dever de tentar repará-la,
  • 13:17 - 13:20
    e esse é o nosso dever, agora.
  • 13:22 - 13:24
    Lembram-se quando,
    no início desta palestra,
  • 13:24 - 13:26
    disse que queria explicar que esta crise
  • 13:26 - 13:28
    era controlável, tinha solução?
  • 13:29 - 13:30
    Isso é verdade.
  • 13:30 - 13:32
    Quero que pensem de uma nova maneira,
  • 13:32 - 13:35
    mas também quero que façam coisas.
  • 13:36 - 13:38
    Se forem empregadores,
  • 13:38 - 13:40
    contratem refugiados.
  • 13:40 - 13:43
    Se foram persuadidos com estes argumentos,
  • 13:43 - 13:45
    desmistifiquem os mitos
  • 13:45 - 13:47
    quando a família, amigos
    ou colegas os repetirem.
  • 13:48 - 13:51
    Se têm dinheiro,
    doem-no a instituições de caridade
  • 13:51 - 13:53
    que apoiem refugiados em todo o mundo.
  • 13:54 - 13:55
    Se forem cidadãos,
  • 13:56 - 13:58
    votem em políticos
  • 13:58 - 14:02
    que ponham em prática
    as soluções que falámos há pouco.
  • 14:02 - 14:05
    (Aplausos)
  • 14:06 - 14:08
    O dever para com os estranhos
  • 14:08 - 14:10
    demonstra-se
  • 14:10 - 14:13
    de pequenas e grandes maneiras,
  • 14:13 - 14:15
    prosaicas e heróicas.
  • 14:16 - 14:17
    Em 1942,
  • 14:19 - 14:21
    a minha tia e a minha avó
    viviam em Bruxelas
  • 14:21 - 14:23
    durante a ocupação alemã.
  • 14:24 - 14:26
    Elas receberam uma convocação
  • 14:26 - 14:30
    das autoridades nazis
    para ir à estação de comboios de Bruxelas.
  • 14:32 - 14:35
    A minha avó pensou imediatamente que
    alguma coisa estava mal.
  • 14:37 - 14:39
    Ela implorou aos seus familiares
  • 14:39 - 14:42
    para não irem à estação de comboios.
  • 14:42 - 14:44
    Os familiares disseram-lhe:
  • 14:45 - 14:48
    "Se não formos,
    se não fizermos o que nos dizem,
  • 14:48 - 14:50
    "vamos ficar em sarilhos."
  • 14:51 - 14:53
    Podem adivinhar o que aconteceu
  • 14:53 - 14:55
    aos familiares que foram à estação.
  • 14:56 - 14:58
    Nunca mais foram vistos.
  • 14:58 - 15:00
    Mas a minha avó e a minha tia,
  • 15:01 - 15:03
    foram a uma pequena vila
  • 15:03 - 15:05
    no sul de Bruxelas
  • 15:06 - 15:09
    onde já tinham passado férias,
    na década anterior,
  • 15:09 - 15:13
    e foram à casa do agricultor da região,
  • 15:13 - 15:15
    um católico chamado Monsieur Maurice,
  • 15:16 - 15:18
    e pediram-lhe para ele as acolher.
  • 15:19 - 15:21
    E ele fê-lo,
  • 15:21 - 15:22
    e no final da guerra,
  • 15:23 - 15:27
    segundo me disseram,
    17 judeus estavam a viver naquela vila.
  • 15:28 - 15:30
    Quando era jovem, perguntei à minha tia:
  • 15:30 - 15:32
    "Podes-me apresentar o Monsieur Maurice?"
  • 15:33 - 15:37
    Ela respondeu: "Sim, posso.
    Ele ainda está vivo. Vamos vê-lo."
  • 15:37 - 15:38
    E então, deve ter sido em 1983 ou 84,
  • 15:39 - 15:41
    fomos vê-lo.
  • 15:41 - 15:44
    E pressuponho, como apenas
    um adolescente poderia fazer,
  • 15:44 - 15:45
    quando o conheci
  • 15:45 - 15:48
    — ele era este senhor de cabelos brancos —
  • 15:48 - 15:50
    perguntei-lhe:
  • 15:51 - 15:53
    "Porque é que o fez?
  • 15:53 - 15:56
    "Porque é que correu esse risco?"
  • 15:57 - 15:59
    E ele olhou-me e encolheu os ombros,
  • 15:59 - 16:01
    e disse, em francês:
  • 16:01 - 16:03
    "On doit."
  • 16:03 - 16:04
    "É um dever."
  • 16:04 - 16:07
    Era inato nele.
  • 16:07 - 16:08
    Era tão natural.
  • 16:08 - 16:13
    E a minha ideia é que isto devia de
    ser inato em nós, também.
  • 16:13 - 16:14
    Digam a vocês mesmos,
  • 16:15 - 16:18
    a crise dos refugiados é controlável,
  • 16:18 - 16:19
    tem solução,
  • 16:19 - 16:21
    e cada um de nós,
  • 16:21 - 16:25
    tem uma responsabilidade individual
    para ajudar a que assim seja.
  • 16:25 - 16:29
    Porque isto é sobre nós mesmos
    e os nossos valores
  • 16:29 - 16:32
    tal como é sobre os refugiados
    e as suas vidas.
  • 16:32 - 16:34
    Muito obrigado.
  • 16:34 - 16:37
    (Aplausos)
  • 16:45 - 16:48
    Bruno Giussani: David, obrigado.
    David Miliband: Obrigado eu.
  • 16:48 - 16:50
    BG: Estas são sugestões fortes
  • 16:50 - 16:53
    e o seu apelo à responsabilidade
    individual também,
  • 16:53 - 16:55
    mas há um pensamento
    que me preocupa.
  • 16:55 - 16:59
    Mencionou, e estas são palavras suas,
    "a liderança ocidental extraordinária"
  • 16:59 - 17:01
    que conduziu há 60 e tal anos
  • 17:01 - 17:03
    àquela discussão toda sobre
    direitos humanos,
  • 17:03 - 17:06
    às convenções sobre
    os refugiados, etc, etc.
  • 17:07 - 17:10
    Essa liderança
    aconteceu depois do grande trauma
  • 17:10 - 17:14
    e aconteceu num espaço político consensual
  • 17:14 - 17:16
    e agora estamos num espaço
    político polémico e dividido.
  • 17:16 - 17:19
    Os refugiados tornaram-se
    numa das questões polémicas.
  • 17:19 - 17:21
    Então, de onde virá a liderança agora?
  • 17:21 - 17:24
    DM: Bem, penso que está certo quando diz
  • 17:24 - 17:26
    que a liderança forjada durante a guerra
  • 17:27 - 17:29
    tem um temperamento e um ritmo diferente
  • 17:29 - 17:30
    e uma perspetiva diferente
  • 17:31 - 17:33
    de liderança forjada durante a paz.
  • 17:34 - 17:37
    E por isso, a minha resposta seria:
    a liderança tem de vir de baixo,
  • 17:37 - 17:39
    não do topo.
  • 17:39 - 17:42
    Ou seja, um tema recorrente
    da conferência desta semana
  • 17:42 - 17:46
    tem sido a democratização do poder.
  • 17:46 - 17:48
    E temos de preservar
    as nossas democracias,
  • 17:48 - 17:51
    mas também temos de ativar
    as nossas democracias.
  • 17:51 - 17:53
    E quando as pessoas me dizem:
  • 17:53 - 17:54
    "Há revolta contra os refugiados,"
  • 17:54 - 17:56
    o que lhes quero dizer é:
  • 17:56 - 17:58
    "Não, há polarização,
  • 17:58 - 17:59
    "e neste momento,
  • 17:59 - 18:03
    "os que temem, fazem mais alarido
    do que os que estão orgulhosos."
  • 18:03 - 18:05
    E por isso, a minha resposta
    à sua questão,
  • 18:05 - 18:07
    é que vamos apoiar e encorajar
  • 18:07 - 18:09
    e dar confiança à liderança
  • 18:09 - 18:10
    quando nos mobilizarmos.
  • 18:10 - 18:14
    E penso que quando se está
    em busca de uma liderança,
  • 18:14 - 18:15
    temos de olhar para dentro
  • 18:15 - 18:17
    e mobilizar a nossa comunidade
  • 18:17 - 18:20
    para criar condições para um tipo
    diferente de instalação.
  • 18:20 - 18:22
    BG: Obrigado, David.
    Obrigado por ter vindo à TED.
  • 18:22 - 18:25
    (Aplausos)
Title:
A crise dos refugiados é um teste ao nosso carácter
Speaker:
David Miliband
Description:

Sessenta e cinco milhões de pessoas foram deslocadas das suas casas por conflitos e desastres em 2016. Não é apenas uma crise; é um teste de quem somos e daquilo que defendemos, diz David Miliband — e cada um de nós tem uma responsabilidade individual para ajudar a resolver a crise. Nesta palestra de visualização obrigatória, Miliband oferece-nos uma forma específica e tangível de ajudar os refugiados e de tornar a empatia e o altruísmo em ação.

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Video Language:
English
Team:
closed TED
Project:
TEDTalks
Duration:
18:38

Portuguese subtitles

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