Tradução:
Francisco Zattoni
[Para que serve a literatura?]
Nós temos um senso geral
que esses tipos de lugares
são repletos de coisas
profundamente importantes,
mas para que serve
exatamente a literatura?
Porque deveríamos gastar nosso tempo
lendo romances ou poemas
quando, lá fora, grandes coisas
estão acontecendo.
Vamos pensar sobre algumas
das formas que a literatura nos beneficia.
[1. Poupa o seu tempo]
É claro, parece que é perda de tempo,
porém a literatura, no final de contas,
é a melhor maneira de poupar tempo,
porque ela nos dá acesso
a diversas emoções e eventos
que levaria anos, décadas, milênios,
para você experimentá-las diretamente.
A literatura é o maior
"simulador de realidade",
uma máquina que o coloca
definitivamente em mais situações
do que você jamais poderia
testemunhar diretamente.
Ela o deixa, de forma segura,
isso é crucial,
ver como é ficar divorciado,
matar alguém e sentir remorso,
abandonar seu trabalho
e partir para o deserto
ou cometer um erro terrível
ao liderar o seu país.
Permite acelerar o tempo:
para presenciar um tempo de vida
desde a infância até a velhice.
Fornece a chave para o palácio
e para inúmeros quantos,
para ter acesso a sua vida
em relação à vida de outros.
Introduz você a pessoas fascinantes:
um general romano,
uma princesa francesa do século 11
ou uma mãe russa de classe alta
prestes a ter um caso.
Faz você atravessar continentes e séculos.
A literatura cura você do provincianismo
e, sem quase custo nenhum,
nos torna cidadãos do mundo.
[2. Faz você mais agradável]
A literatura executa a simples mágica
de nos mostrar como as coisas se parecem
do ponto de vista de outrem.
Ela nos permite considerar as consequências
de nossas ações nos outros,
que de outra forma
nós não consideraríamos.
E ela nos mostra exemplos
de pessoas gentis, generosas e simpáticas.
A literatura geralmente encontra-se
contrária ao sistema de valores dominante,
o que recompensa o dinheiro e o poder.
Os escritores estão do outro lado,
eles nos deixam solidários
a ideias e a sentimentos
que são de grande importância,
mas que não possuem espaço
em um mundo comercializado,
socializado e cínico.
[3. É uma cura para a solidão]
Somos mais esquisitos
do que é nos permitido admitir.
Nem sempre podemos dizer
o que realmente pensamos.
Mas em livros, encontramos descrições
de quem genuinamente somos
e como os eventos realmente acontecem,
descritos com uma honestidade
bem diferente da qual se alcança
em conversar ordinárias.
Nos melhores livro, é como se o autor
nos conhecesse melhor do que nós mesmos.
Eles encontram as palavras
para descrever as experiências frágeis,
estranhas e especiais
das nossas vidas internas:
a luz de uma manhã de verão,
a ansiedade numa reunião,
a sensação do primeiro beijo,
a inveja de quando um amigo
nos contou sobre seu novo negócio,
o desejo que sentimos no trem,
ao olharmos o perfil de outro passageiro
com o qual nunca ousamos conversar.
Os escritores abrem
nossos corações e mentes,
e nos dão mapas a nós mesmos
a fim de viajarmos neles
mais seguramente e com menos
sentimentos de paranoia e perseguição.
Como o escritor Emerson ressaltou:
"Nos trabalhos de grandes escritores,
encontramos nossos próprios
pensamentos negligenciados."
A literatura é uma correção
à superficialidade
e aos compromissos da amizade.
Os livros são nossos verdadeiros amigos,
sempre à mão, nunca ocupados demais,
nos dando descrições puras
de como as coisas realmente são.
[4. Prepara você para o fracasso]
Durante toda a vida, um dos nossos
grandes medos é o fracasso,
de estragar as coisas, de se tornar,
como os tabloides dizem, um perdedor.
Todo dia, a mídia nos apresenta
histórias de fracasso.
Curiosamente, muita literatura
também é sobre o fracasso.
De uma forma ou de outra,
muitos grandes romances,
peças e poemas
são sobre pessoas que erraram,
pessoas que dormiram com a mãe por engano,
que desapontaram seus parceiros
ou que morreram após aumentarem
algumas dívidas nas compras.
Se a mídia os pegasse,
ela faria picadinho deles.
Mas grande livros não julgam tão duramente
ou de forma tão unidimensional
quanto a mídia.
Eles evocam pena para os heróis
e medo para nós mesmos
baseado em um novo senso de quão
perto todos nós estamos
de destruirmos nossas próprias vidas.
Mas se a literatura
pode realmente fazer tudo isso,
nós precisamos tratá-la um pouco diferente
da forma que a tratamos agora.
Tendemos a tratá-la como uma distração,
um entretenimento, algo para a praia.
Mas é muito mais do que isso,
é realmente terapêutico,
num sentido mais amplo.
Deveríamos aprender a tratá-la
como médicos tratam seus remédios,
algo que prescrevemos em resposta
a uma gama de doenças
e classificamos de acordo com os problemas
para os quais ela mais se adequa.
A literatura merece seu prestígio
por uma razão acima de todas:
porque é uma ferramenta
para nos ajudar a viver e a morrer
com uma pouco mais de sabedoria,
bondade e sanidade.