Olá O que eu vim contar para vocês não é nada épico, não é nenhum grande projeto ou ideia ou algo que vá mudar um paradigma daqui a 15 minutos o tempo que vou ficar aqui conversando com vocês. A minha fala é muito mais sobre um processo, uma descoberta. Algo que, ao mesmo tempo em que venho estudando, teorizando e analisando, é o mesmo que venho sentindo, vivenciando e percebendo na minha vida. Tudo começa quando eu, especialista, mas também representante da geração Y, essa geração que vai gerir e cuidar do mundo em um futuro bem próximo, me dei conta de duas coisas: Primeiro: que eu sou, que eu posso, e que eu devo ser comum. E, dois: que pensar em um plano de aposentadoria é planejar o passado. O meu, e o do mundo. Porque foi no momento em que eu comecei a me dar conta disso na minha vida e nos meus estudos, eu me dei conta, e vocês também, talvez, que isso vai contra três das principais características que os especialistas atribuem para a geração Y. A primeira: que nós nos achamos especiais. A segunda: que nós só trabalhamos e fazemos as coisas que nos dão prazer, ou aquilo que gostamos. E, a terceira: que somos consumistas e o que nós possuímos já nos representa para o mundo. E os especialistas estão certos. E mais certos ainda quando dizem que talvez sejam esses três pontos a causa para a frustração que a geração Y vem sentindo. E a minha descoberta, o meu aprendizado, é que é exatamente quando subvertemos cada um desses três códigos, quando nós hackeamos e desconstruímos essas características, que conseguimos encontrar o verdadeiro potencial das coisas, dos projetos, e dos ambientes e, quem sabe, de nós mesmos. Então, eu convido todo mundo a ser hacker, seja da geração Y, ou não, para subvertermos o primeiro código, que é o de se sentir especial. Quando descemos do pedestal, antes de tudo, fazemos as pazes com o mundo e com nós mesmo. Porque, primeiro, as expectativas que o mundo tem e as que temos de nós mesmos terminam. Então, podemos errar, podemos pedir ajuda, podemos experimentar, podemos dizer que não sabemos... Mas o mais bonito, para mim, quando descemos do pedestal, quando fazemos esse movimento, é que deixamos de exigir e esperar do mundo reconhecimento. Deixamos de esperar dos outros atenção, conforto e facilidade. Deixamos de achar que é dever do outro o nosso bem-estar. E, com isso, vem muita responsabilidade. Porque no momento em que me vejo como uma pessoa comum, vem o senso de comunidade também. E aí me vejo dentro de um grupo, em que ao mesmo tempo em que sou livre, também sou totalmente dependente do outro, porque o outro é totalmente dependente de mim. Quando vamos para o segundo código, que é o de só fazer e trabalhar com aquilo que gostamos, aquilo que é o nosso talento, que nos dá prazer. Antes de tudo, isso não existe, eu acho. Porque, hoje em dia, principalmente, é muito difícil sintonizarmos com a nossa voz interna. Tem tanto ruído, tanta geração de desejo, tanta criação de expectativa ao nosso redor que é difícil sabermos o que queremos. Eu tive uma experiência na minha vida, quando estava há alguns anos planejando, dentro já de uma carreira, prosperando, mas sentia uma frustração que não estava entendendo, que ela não fazia sentido para quem via de fora. Mas precisei ter a coragem de me ejetar desse sistema para tentar entender o que estava acontecendo. E foi nesse momento em que eu me ejetei que a frustração e o alívio não saíram, houve uma sensação de alívio, mas também uma sensação de vazio... Era como se eu tivesse tido uma corrida atrás da lâmpada mágica, tivesse a encontrado, esfregado o gênio saísse e perguntasse: "O que você quer agora?" "Você está livre!" E eu não sabia o que responder... Juro que queria ter aqueles sonhos dentro de mim: "Agora eu posso ser cantora, que foi sempre meu sonho!" Ou, "Não! Eu sempre quis ser bióloga, essa é a hora..." Ou, "Não! Eu vou estudar mandarim e dar a volta ao mundo porque é isso que agora posso fazer!" Mas, não... Nada daquilo me apetecia... E a minha grande descoberta e aprendizado, o que venho aprendendo, é que não é negando o sistema, não é negando o que não gostamos. Não é saindo de um extremo e indo para o outro. Não é saindo de um rótulo e achando um outro que vai compensar o anterior. É, sim, com muita generosidade e coragem adentramos o sistema, adentramos o comum, o ordinário, o normal. Porque quando fazemos isso, passamos a aprender como ele funciona. E aí temos conhecimento e poder para desconstruí-lo, para subverter. E quando temos boas intenções, com essas peças desse sistema que subvertemos, conseguimos reconstruir e montar o nosso microssistema. Podemos mudar nossa rotina, nossa forma de se relacionar com as pessoas... E por vivermos em uma rede, em uma grande engrenagem, quando descontruímos o nosso mundinho e começamos a reconstruí-lo com boas intenções, automaticamente as peças que estão ao nosso redor começam a se autoconfigurar sozinhas, de forma orgânica e automática. E isso começa a reverberar. Quando vamos para o terceiro código, para sermos hackers e desconstrui-lo, falamos do consumo. E eu não acho que é errado consumir. Pra mim, só não é saudável quando consumimos e começamos a acumular coisas para usar como armaduras para o mundo. Sejam elas armaduras visuais, das coisas que possuo e tenho elas falam para o mundo como quero que o mundo me veja Mas também quando elas são armaduras emocionais, quando trocar "dinheiros" por coisas passa a suprir carências que tenho, ou que vai abafar minhas vulnerabilidades, que são tão essenciais para o meu crescimento. E também tive uma experiência bem legal que foi quando saí de uma grande metrópole e fui morar em outro país, em uma cidade menor, que fui rever como era minha rotina porque nesses momento de readaptação tentamos nos apegar às coisas que são básicas para o nosso bem-estar. E comecei a me dar conta de que muitas das coisas com as quais gastava dinheiro eram para compensar hábitos e padrões que nunca tinha me questionado, mas que achava que eram básicos. Quanto eu tinha que gastar com uma academia cara... Para compensar as 10 horas que eu ficava sentada em frente ao computador dentro de uma empresa, no ar-condicionado. Ou quanto tinha que gastar com médicos ou remédios para curar minha gastrite. Mas quem estava se alimentando mal e se estressando era eu mesma. Ou quanto eu tinha que gastar com roupa nova, porque eu não queria repetir roupa. Mas era eu mesma quem ia sempre nos mesmos lugares, encontrar sempre as mesmas pessoas. Ou quanto eu gastava tempo e economizava dinheiro para ter férias mirabolantes... Quando era eu mesma quem passava 11 meses do ano talvez trabalhando e pensando sobre coisas que não me inspiravam. Fazer esse exercício é muito interessante porque o objetivo não é cortar custos, diminuir o orçamento. Isso é consequência. Na verdade, o que vemos é que uma vida mais consciente, simples e minimalista pode ser muito mais rica, abundante e eficiente. Porque quando fazemos isso, nos libertamos e ficamos tão mais leves e desapegados, que a agilidade para se locomover e se movimentar por novos projetos, experiências e lugares é muito mais fácil. A moeda, nesse sistema, é outra. Então, quando comecei a me dar conta que podia quebrar esses padrões sobre mim mesma, e que eram nessas horas que, mesmo com sofrimento, era quando mais me sentia realizada, que comecei a perceber o surgimento de um novo estilo de vida. Eram esses novos valores que, de alguma forma, sempre revisitava na hora de tomar as grandes e pequenas decisões da minha vida ou do meu dia a dia. Eram esses os valores que me ajudavam a afinar o meu olhar para ter o espírito aguçado para reconhecer, atrair e criar as oportunidades que queria abraçar. E eram esses os valores que me ajudavam a entender e a me dar novas métricas e indicadores sobre o que é "sucesso", o que é "uma pessoa de sucesso", "um projeto de sucesso"? Ou sobre o que é a noção de "riqueza". O que é algo ou alguém "rico"? Quando comecei a ver esse estilo de vida se configurando na minha frente, e a perceber que ele estava me deixando mais ética, mais estética, mais processual e mais ecológica. Mas não porque é moda. Nem porque é uma ideologia, uma bandeira, ou um rótulo novo. Mas, sim, porque é assim que o jogo funciona. É premissa e consequência. No momento em que começo a viver de acordo com esses valores, fico mais ética. Fico mais ética porque entendo a autonomia e dependência dos elementos. Por mais que o meio e as pessoas não estejam no mesmo jogo, no momento em que eu entendo que é sendo mais transparente e responsável, que é pensando e não compensando, eu me dou conta que as coisas ficam muito mais fáceis e muito mais gratificantes. Tirar vantagem, nesse sistema, é só desperdício de energia e tempo. Porque ora eu vou pensar e confabular em como tirar vantagem de alguém. Ora vou estar sempre na defensiva e desconfiada porque alguém vai estar tentando tirar vantagem de mim. Eu me torno mais estética e processual porque mais do que valorizar só um produto final ou uma chegada, passamos a valorizar a beleza do processo. Adicionamos uma quarta dimensão a cada palavra falada, a cada palavra escutada... A cada projeto, caminhada, coisa. E essa dimensão é o tempo. Não a velocidade. Mas, sim, o tempo como processo, uma história. Quando olhamos cada coisa e tentamos entender o porquê, o como ela chegou até ali, abrimos caminho para inovação, para criatividade e para colaboração. E nos tornamos mais ecológicos porque, hoje, quando temos uma dúvida vamos direto para o Google. Mas a tecnologia mais avançada é a natureza. São 4,5 bilhões de anos de tentativa e teste, de acerto e erro. A natureza é a tecnologia mais avançada, uma biblioteca. Se estamos falando de natureza, transformação e evolução, ela mesma já nos ensina: é o ambiente que determina quem irá sobreviver. E talvez essa seja a dica que eu, mesmo jovem, posso passar para vocês porque é o que venho experimentando e vivendo hoje, que é: se realmente queremos fazer algum tipo de mudança, traçar um novo caminho, é se colocando em ambientes que irão nos testar, nos estimular e nos colocar em prova. E, como geração Y dói dizer: mas em ambientes que irão nos tirar da zona de conforto. Sair da zona de conforto não é apenas tomar a decisão e falar, e num clique a zona de conforto sai da nossa frente e teremos um novo filme para viver. Na verdade, é uma troca de um sentimento de frustração, mas que tem previsibilidade e conforto. Por um conjunto de sentimentos de muita mão na massa, vulnerabilidade, responsabilidade, mas muita realização. E não é mudando de trabalho ou de cidade que iremos forçar essa decisão. Essa decisão precisa ser sentida, estimulada, ser decidida todo dia, quando a gente escova os dentes. Mudar de São Paulo para Miami... Ou sair de Los Angeles para morar no interior de Minas Gerais, dentro de um museu. Isso é só parte de uma escolha. O que vale é a nossa decisão sobre que tipo de estímulo, que tipo de pessoas, que tipo de experiência estamos dispostos a viver nesse momento. Amar essa decisão. Porque no momento que amamos nossas decisões, ganhamos um pacote de prazeres e problemas. E esse pacote de problemas e prazeres, no momento em que amamos carregamos como uma mochila por entre esses caminhos, e eles deixam de ter conotações positivas ou negativas, eles só aparecem como oportunidades para interagirmos, aprendermos, ensinarmos, ter novas histórias para contar, fazer novos amigos. Porque são nesses momentos em que amamos nossos prazeres e problemas que permitimos que eles nos remodifiquem, e que remodifiquemos esses ambientes e as pessoas com as quais conversamos e encontramos no caminho. Por isso que pensar em um plano de aposentaria não faz muito sentido para mim porque como que eu vou investir, agora, recursos e energia em um pacote de problemas e prazeres que só vou viver daqui a umas décadas? Na verdade, o problema não é a aposentadoria. É, sim, esse gap que existe entre o que eu desejo agora, o que planejo e vislumbro, e o momento em que vou vivê-lo. E foi quando me dei conta disso que logo comecei a criar, a viver e a ser contemplada com meu plano de aposentada. Que é de me retirar desses padrões a fim de encontrar o meu bem-estar de forma bem genuína. Eu acredito que quando eu faço esse movimento, automaticamente estou reverberando isso pra quem está comigo, e exijo isso de quem está comigo. E isso vai transformar para vocês, para os outros, e, como resultado, teremos o bem-comum. Muito obrigada. (Aplausos)