O tema sobre que queria falar hoje é justamente porque é que nos preocupa a alteração climática. A alteração climática ocorre e já tem ocorrido desde o começo do nosso planeta Terra. É a isso que chamamos o sistema climático. Porquê um sistema climático? Porque o Sol, que é a fonte de energia de todo este sistema é que nos dá a energia, irradia a energia no nosso sistema. O nosso sistema é composto pela terra, o oceano, os céus, a atmosfera, a vegetação. Todos esses subsistemas ou pedacinhos deste sistema climático interagem entre si. Nós recebemos essas radiações. A Terra também emite uma radiação que é capturada pelos famosos gases com efeito de estufa. Estes fazem parte dos gases que compõem a atmosfera, são os responsáveis por podermos viver hoje em dia, por termos uma temperatura agradável para viver. Os gases com efeitos de estufa são gases naturais que existem na nossa atmosfera. Mas agora temos de começar a dar conta de que estes subsistemas interagem entre si. Ou seja, se se alterar algum destes componentes, poderá ter impacto, de qualquer forma, em qualquer dos outros componentes. Se se mudar a quantidade de radiações que entra no sistema ou a quantidade de radiações que pode sair do sistema, ou a quantidade de gelo que possa refletir a radiações, qualquer destas alterações, por insignificantes que pareçam, vai interagir e vai alterar o clima do nosso planeta. Sabemos que o nosso clima mudou, o clima tem mudado. Pode mudar por duas grandes causas. As causas naturais. Naturalmente, o clima tem mudado ao longo de centenas de milhões de anos. Passámos por idades de gelo, por períodos interglaciares, glaciares. Todos concordamos com estas definições que têm uma escala de centenas e dezenas de milhares de anos. Mas também pode mudar de forma artificial ou devido em especial à ação do homem. É aí que começamos a preocupar-nos, é essa a nossa preocupação. O homem está a interagir com o clima de uma forma que está a alterá-lo. Porque é que estamos tão seguros disso? Estamos tão seguros disso porque está ali o gráfico que parece um pouco complicado. É o que temos para mostrar. Nós, os cientistas das organizações internacionais — este assunto trabalha-se a nível internacional — podemos mostrar, com esta curva preta, qual é a temperatura observada do início do século XVIII até ao presente. Esta é a temperatura média observada a nível mundial. Agora podemos saber como mudou essa temperatura devido às mudanças naturais. Ou seja, mudanças na quantidade de radiações que chegam ao sistema, devido a mudanças no Sol, nas manchas solares e outras mudanças que o Sol tem na quantidade de radiações. Essas mudanças produziram a temperatura mostrada na curva azul. Como vemos, está bastante abaixo da curva preta. Para poder reproduzir os valores reais de temperatura, temos de incluir na análise as mudanças provocadas pelo homem. Ou seja, sabemos que estas duas curvas se separam devido à ação do homem. Se fossem somente as mudanças naturais, a temperatura teria de ser bastante mais baixa do que a que temos atualmente. Podemos ver diferenças, por exemplo, de mais de meio grau ou um grau, que parece pouco, porque isto é uma temperatura média de todo o globo. Temperatura média global: verão, inverno, polos, Equador. Tudo combinado, dá-nos esta temperatura média que não parece ser muito preocupante. Mas o que é que nos preocupa? Nós vemos estas mudanças, vemos como a temperatura, no painel de cima, aumentou desde 1850 até ao presente. Vemos que há um aumento que muda ano após ano mas que vai sempre aumentando. Vemos que isto é acompanhado não só por aumentos de temperatura, mas por aumentos do nível do mar. Porque é que o nível do mar sobe? A causa principal do aumento do nível do mar é a seguinte: Assim como aumenta a temperatura da atmosfera, aumenta a temperatura da água, aumenta a temperatura dos oceanos. Ao aumentar a temperatura, aumenta o volume. Ao aumentar o volume, aumenta o nível médio do mar. Esta é a causa principal. Claro que a fusão dos gelos também contribui mas não é a causa principal. Mas vemos como tem aumentado, sistematicamente, ao longo dos anos. E vemos no painel em baixo como foi diminuindo a quantidade de neve, por exemplo, no hemisfério norte. Iso quer dizer que nós sabemos que houve alterações em todo o sistema climático que se exemplificam claramente com este caso. Isto é um glaciar na Bolívia, o Chacaltaya que foi fotografado em quatro alturas diferentes. Vemos, na primeira fotografia, em cima à esquerda, no ano de 1940. A seguinte é do ano 1982. A seguinte é do ano 1996, a última é do ano 2005. O que vemos é como diminuiu a superfície coberta por este glaciar. Isto é um efeito direto do aumento das temperaturas nesta zona. Isto é na Bolívia, é um glaciar tropical. Isto é o que podemos mostrar que tem um grande impacto. Mas vemos que, claramente, o aumento da temperatura localmente, embora pareça ter aumentado pouco ao longo destas últimas centenas de anos, apenas um grau em quase mais de um século, vemos como o efeito local, o impacto destas alterações é muito mais forte. Por exemplo, no caso dos glaciares. O desaparecimento de um glaciar tem graves implicações na sociedade que vive em volta do glaciar. Em geral, as populações em volta dos glaciares bebem a água, produto do degelo. A água que utilizam normalmente, tanto para beber, para se alimentarem, ou para as culturas, provém dos glaciares. Se o glaciar no inverno não chega a formar gelo, no verão não há água disponível para a população. Então, nós estamos a ver isto. Mas como sentimos, no dia a dia, que a temperatura aumentou? Recentemente, vimos imagens da onda de calor em Moscovo. A onda de calor que Moscovo sofreu no mês de julho e em todas as zonas em volta de Moscovo, na Rússia, teve grande impacto na população. Tanto que aumentou para o dobro o número de mortes devido à contaminação surgida pelos incêndios e devido às altas temperaturas. Houve um precedente, não há muitos anos, no ano de 2003. Houve outra onda de calor na Europa, muito significativa, em que morreram 15 000 pessoas, somente em Paris, devido à onda de calor. A Europa está a ter cada vez mais ondas de calor. Mas o que é que isso quer dizer? Não temos necessariamente as temperaturas que Male sofreu. Não é que Moscovo tenha tido temperaturas superiores a 40 ºC e 50 ºC, mas mede-se de outra forma. O que vemos é que a temperatura é superior a um determinado nível, uma série de vezes por mês. Por exemplo, 25 ºC é a temperatura máxima. Moscovo ultrapassa-a normalmente no mês de julho, nove dias por mês. Que se passou neste mês de julho? Ultrapassou-a 31 dias. Os 31 dias do mês de julho ultrapassaram esse limiar. Então, no dia a dia, sentimos que cada vez temos mais dias com temperaturas elevadas e menos dias com temperaturas por baixo de um limiar, com temperaturas frias e frescas. Isto é um exemplo de Moscovo, mas no nosso grupo de investigação trabalhamos sobre dados da Argentina. Que é que se passou na Argentina? Que é que sabemos que se passou na Argentina? No nosso país, e na nossa região da América do Sul, temos tido, sistematicamente, cada vez menos ocorrências de temperaturas abaixo do limiar. Ou seja, temos cada vez menos casos de temperaturas mínimas baixas, Sobretudo no verão, em que cada vez temos menos noites frescas. Aquela típica noite fresca de verão cada vez ocorre menos vezes. E cada vez temos mais casos de temperaturas quentes em meses que, tradicionalmente, eram de estações intermédias, como o outono e a primavera. Ou seja, aumentaram os dias de temperaturas mais altas até outubro, até março, abril, e maio inclusive. Então, no dia a dia sentimos isso claramente. Não são necessariamente temperaturas muito elevadas mas sim muitos dias com temperaturas acima do limiar. Mas, recentemente, temos tido outra ocorrência extrema na cidade de Buenos Aires e arredores que foram as sudestadas. O que são as sudestadas? É um vento de sudeste ou este, muito persistente, que impede que o rio desague no oceano Atlântico. Não vamos ter obrigatoriamente cada vez mais sudestadas. O que acontece é que a mesma sudestada, se o rio estiver a um nível mais elevado, produz um impacto maior. Então, não é necessário que a alteração do clima para mais ou para menos vá redundar num impacto maior ou menor. Mais ainda, as principais consequências, segundo os relatórios que elaboramos, é que os países mais pobres são os que vão sofrer mais. Os países com menos recursos, os que estejam menos preparados perante a mesma ocorrência climática extrema, vão ter mais prejuízos. Têm tido mais prejuízos e têm tido consequências muito mais graves. Não tem que ver com a alteração climática. mas o terramoto de Haiti em comparação com o do Chile, mostrou claramente diferenças significativas. Que sabemos do clima futuro? Este gráfico parece um pouco complicado, não sei se já o viram. Sabemos o que se vai passar com um alto grau de certeza. Sabemos que a temperatura que tem vindo a aumentar, aquela primeira curva preta que vem no gráfico em baixo à esquerda é o que sucedeu. O que é que vai suceder? Vai depender de como reaja a sociedade, que medidas tome, para ver qual das curvas, se a vermelha, a verde, a azul ou a fúcsia vai ser o nosso futuro. Sabemos que a temperatura vai aumentar. Sabemos que a temperatura vai aumentar muito mais no hemisfério norte do que no sul porque o hemisfério norte é continental. O hemisfério sul é mais marítimo, reage mais lentamente. Mas os impactos podem ser distintos. Podem não estar relacionados com a quantidade ou o aumento de temperatura que vai ocorrer. Então, sabemos, há relatórios que mostram todo esse tipo de resultados. Todos estes resultados surgem dos relatórios do IPCC que é a sigla em inglês para Painel Intergovernamental sobre Alteração Climática. É um painel da ONU que se criou há mais de 20 anos, que obteve o Prémio Nobel da Paz, juntamente com Al Gore, há alguns anos, pelos seus resultados. É um painel de especialistas. Eu fiz parte do relatório anterior e farei parte do que estamos a iniciar este ano. Estes resultados, dado o seu rigor, são resultados que se elaboram ao longo de vários anos. Para terem uma ideia, o último relatório saiu no ano de 2007. Houve um grande alvoroço a nível mundial. Muito interesse pelos resultados que estávamos a publicar. Mas tínhamos começado a escrever no ano de 2004. O próximo relatório sairá em 2013. E em março do ano que vem temos de ter o primeiro rascunho porque há muitas revisões por parte de especialistas. Comparam-se todos os resultados com diversos trabalhos publicados. Então, qual é a dúvida? É porque, às vezes, surgem dúvidas, quanto à alteração climática. Surgem dúvidas porque, nos países desenvolvidos, nos países que elaboram políticas para o futuro, levam em conta os resultados destes relatórios. A partir dos resultados que surgem dos relatórios do IPPC, tomam-se medidas políticas para o futuro. Quais são as coisas importantes que temos de fazer? Que podemos fazer com isto? Há duas grandes áreas: adaptarmo-nos à alteração e/ou reduzir a alteração. Que é que isto quer dizer? Adaptarmo-nos à alteração. Sabemos que a mudança está a ocorrer, que vai ocorrer. Na medida em que saibamos melhor e, que saibamos mais, mais rigorosamente, quantos graus vai subir, quanto vai aumentar a chuva nos Pampas, quando vai deixar de chover na zona de Mendoza e na zona do norte da Patagónia. Na medida em que soubermos mais, podemos adaptar-nos a essas alterações. Com efeito, o homem vai-se adaptando a essas alterações que são paulatinas. Mas, basicamente, sabemos que temos de trabalhar pela mitigação. Tratar de deixar de emitir, de aumentar as concentrações destes gases com efeito de estufa. Temos de deixar de emitir dióxido de carbono, principalmente, que provém do uso do petróleo. A começar pela nossa casa, a poupança de energia, o não desperdiçar da energia elétrica, o não desperdiçar de energia para refrigerar grandes edifícios que estão muito bem construídos arquitetonicamente mas não são amigos do meio ambiente, que necessitam, por exemplo, de muita refrigeração. Sabemos que os edifícios são um setor em que o custo-benefício da alteração é muito significativo. Sabemos muitas destas coisas. Estão publicadas nos relatórios. Então, o que é que nos preocupa sobre a alteração climática? Principalmente, o que mais me preocupa é que não se tomem medidas, que não se estabeleçam políticas para estas alterações, para nos adaptarmos à mudança. Para que os impactos não resultem numa forma tão negativa. Inclusive poder aproveitar em qualquer sentido, alguma destas alterações de forma positiva para o nosso país e para a nossa região. (Aplausos) Obrigada. (Aplausos)