WEBVTT 00:00:06.789 --> 00:00:09.268 Entre 2008 e 2012, 00:00:09.268 --> 00:00:13.361 arqueólogos escavaram os destroços de um antigo hospital da Inglaterra. 00:00:13.361 --> 00:00:16.770 No processo, descobriram vários esqueletos. 00:00:16.770 --> 00:00:21.340 Um deles era de um homem abastado que viveu entre os séculos 11 e 12 00:00:21.340 --> 00:00:25.221 e morreu de lepra entre 18 e 25 anos de idade. 00:00:25.221 --> 00:00:26.680 Como sabemos tudo isso? 00:00:26.680 --> 00:00:29.751 Apenas examinando alguns ossos antigos e cobertos de terra? 00:00:29.751 --> 00:00:31.419 Mesmo séculos após a morte, 00:00:31.419 --> 00:00:35.180 os esqueletos carregam traços únicos que revelam sua identidade. 00:00:35.180 --> 00:00:39.541 Usando ferramentas e técnicas modernas, podemos ler esses traços como pistas. 00:00:39.541 --> 00:00:43.341 Trata-se de um ramo da ciência conhecido como antropologia biológica, 00:00:43.341 --> 00:00:47.167 que permite aos pesquisadores reunir detalhes sobre indivíduos antigos 00:00:47.167 --> 00:00:51.391 e identificar eventos históricos que afetaram populações inteiras. 00:00:51.391 --> 00:00:53.708 Quando os pesquisadores descobrem um esqueleto, 00:00:53.708 --> 00:00:56.945 algumas das primeiras pistas que buscam, como idade e gênero, 00:00:56.945 --> 00:00:58.427 estão na morfologia, 00:00:58.427 --> 00:01:02.137 que é a estrutura, a aparência e o tamanho do esqueleto. 00:01:02.137 --> 00:01:05.585 Ossos como a clavícula param de crescer aos 25 anos. 00:01:05.585 --> 00:01:08.627 Assim, o esqueleto com uma clavícula não totalmente formada 00:01:08.627 --> 00:01:10.360 deve ser mais jovem do que isso. 00:01:10.360 --> 00:01:14.498 De forma semelhante, as placas do crânio continuam a se fundir até os 40 anos, 00:01:14.498 --> 00:01:16.969 e, às vezes, além dessa idade. 00:01:16.969 --> 00:01:20.480 Combinando essas pistas com outras pistas de esqueleto microscópicas, 00:01:20.480 --> 00:01:25.164 os antropólogos físicos podem calcular uma idade aproximada da morte. 00:01:25.164 --> 00:01:27.710 Entretanto, os ossos pélvicos revelam o gênero. 00:01:27.710 --> 00:01:31.885 Biologicamente, a pélvis das mulheres é mais larga, permitindo que deem à luz, 00:01:31.885 --> 00:01:33.916 enquanto a dos homens é mais estreita. 00:01:33.916 --> 00:01:36.675 Os ossos também revelam sinais de antigas doenças. 00:01:36.675 --> 00:01:40.086 Doenças como a anemia deixam vestígios nos ossos. 00:01:40.086 --> 00:01:44.366 E o estado dos dentes pode revelar pistas de fatores como a dieta e a subnutrição 00:01:44.366 --> 00:01:47.596 que, às vezes, estão relacionadas à riqueza ou à pobreza. 00:01:47.596 --> 00:01:51.835 Uma proteína chamada colágeno pode nos dar detalhes ainda mais profundos. 00:01:51.835 --> 00:01:53.126 O ar que respiramos, 00:01:53.126 --> 00:01:54.217 a água que bebemos 00:01:54.217 --> 00:01:55.496 e os alimentos que comemos 00:01:55.496 --> 00:01:57.907 deixam traços permanentes em nossos ossos e dentes 00:01:57.907 --> 00:02:00.197 sob a forma de compostos químicos. 00:02:00.197 --> 00:02:04.208 Esses compostos contêm quantidades mensuráveis chamadas isótopos. 00:02:04.208 --> 00:02:07.538 Os isótopos estáveis no colágeno dos ossos e no esmalte dos dentes 00:02:07.538 --> 00:02:11.617 variam entre os mamíferos, dependendo de onde viviam e do que comiam. 00:02:11.617 --> 00:02:13.716 Assim, analisando esses isótopos, 00:02:13.716 --> 00:02:18.727 podemos fazer deduções quanto à dieta e ao local de pessoas históricas. 00:02:18.727 --> 00:02:19.737 Não apenas isso. 00:02:19.737 --> 00:02:23.748 Durante a vida, os ossos sofrem um ciclo constante de remodelação. 00:02:23.748 --> 00:02:26.207 Se alguém muda de um local para outro, 00:02:26.207 --> 00:02:28.211 os ossos sintetizados depois dessa mudança 00:02:28.211 --> 00:02:32.444 também refletirão as novas assinaturas dos isótopos do ambiente ao redor. 00:02:32.444 --> 00:02:35.697 Isso significa que podemos usar os esqueletos como mapas de migração. 00:02:37.437 --> 00:02:40.196 Por exemplo, nos primeiros 650 anos da era cristã, 00:02:40.196 --> 00:02:44.757 a grande cidade de Teotihuacan, no México, estava repleta de milhares de pessoas. 00:02:44.757 --> 00:02:47.137 Os pesquisadores examinaram a proporção de isótopos 00:02:47.137 --> 00:02:48.800 no esmalte dos dentes de esqueletos 00:02:48.800 --> 00:02:51.920 que revelaram detalhes das dietas de quando eram jovens. 00:02:51.920 --> 00:02:54.970 Encontraram indícios de uma migração significativa para a cidade. 00:02:54.970 --> 00:02:57.355 Uma maioria de indivíduos nasceu em outros lugares. 00:02:58.275 --> 00:03:01.089 Com mais análises geológicas e de esqueletos, 00:03:01.089 --> 00:03:04.690 foram capazes de mapear de onde essas pessoas vieram. 00:03:04.690 --> 00:03:09.081 Esse trabalho em Teotihuacan também é um exemplo de como os bioantropólogos 00:03:09.081 --> 00:03:11.711 estudam os esqueletos em cemitérios e valas comuns, 00:03:11.711 --> 00:03:14.711 e depois, analisam suas semelhanças e diferenças. 00:03:14.711 --> 00:03:17.610 A partir dessas informações, podem conhecer crenças culturais, 00:03:17.610 --> 00:03:21.391 normas sociais, guerras e o que provocou a morte deles. 00:03:21.391 --> 00:03:24.390 Hoje, usamos essas ferramentas para responder a grandes questões 00:03:24.390 --> 00:03:26.829 sobre como forças, como a migração e a doença, 00:03:26.829 --> 00:03:28.522 modelam o mundo moderno. 00:03:28.522 --> 00:03:33.720 A análise de DNA é possível em algumas ossadas antigas bem preservadas. 00:03:33.720 --> 00:03:37.021 Isso nos ajuda a entender como as doenças, como a tuberculose, 00:03:37.021 --> 00:03:38.862 evoluíram ao longo dos séculos 00:03:38.862 --> 00:03:42.210 para podermos hoje criar melhores tratamentos para as pessoas. 00:03:42.210 --> 00:03:46.111 Os esqueletos antigos também nos contam coisas surpreendentes sobre o passado. 00:03:46.111 --> 00:03:48.872 Então, se suas ossadas forem enterradas intactas algum dia, 00:03:48.872 --> 00:03:52.011 o que os arqueólogos do futuro distante poderão aprender com elas?