Energia nuclear faz a diferença.
E eu estou aqui pra contar um pouco
sobre como eu descobri isso.
Eu sou engenheira nuclear, formada pela
Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Quando eu era criança, não me imaginava
fazendo engenharia nuclear.
Na verdade, esse curso nem existia,
na época, aqui no Brasil.
No ensino médio, eu fiz
técnico em informática.
Eu fazia o técnico de manhã,
o ensino médio regular à tarde
e um cursinho de inglês à noite.
E, pra conseguir o diploma
do ensino técnico, eu precisei estagiar.
E eu acabei fazendo estágio
numa empresa nuclear.
Eu consertava os computadores
dos funcionários,
e isso me levava aos escritórios,
que ficavam ao redor das usinas.
E eu ia lá, olhava aquele prédio do reator
e não tinha ideia do que tinha ali dentro.
Eu ficava imaginando, curiosa,
como aquilo funcionava.
Nessa época, eu ainda não pensava
em entrar nessa área,
mas eu já sabia que queria ser engenheira
porque eu tinha o desejo de usar
cálculos e física pra resolver problemas.
Quando eu fui prestar vestibular,
a UFRJ tinha criado há pouco o curso
de graduação em engenharia nuclear,
e, na hora da inscrição, eu não tinha
muita ideia do que era aquela área,
mas eu ainda estava curiosa.
Na primeira semana de aula,
eu me apaixonei.
Ao longo do curso, eu descobri
que a radiação é utilizada
pra diagnóstico de doenças
e pra tratamento de doenças como o câncer;
que é utilizada para esterilização
de equipamentos médicos, como seringas;
que é utilizada para esterilizar
até mosquitos e erradicar doenças.
Ela é utilizada em aplicações espaciais.
Aquele robô, Curiosity, que está em Marte,
é movido a bateria nuclear.
Ela pode ser utilizada até mesmo
pra trocar a cor de uma pedra preciosa
ou pra ajudar no processo
de restauração de uma pintura.
E eu, finalmente, descobri
o que tinha dentro daquele prédio
e como aquilo tudo funcionava.
E eu vou falar um pouco disso pra vocês.
Parece muito, mas é bem simples.
(Risos)
O processo de produção de energia,
dentro de um reator, vem da fissão:
um nêutron atinge
um átomo de urânio que se divide
e, nessa divisão, nessa fissão,
ele produz outras duas partes,
de dois a três nêutrons, e energia;
e esses dois a três nêutrons
vão fissionando outros átomos de urânio,
e assim é a reação em cadeia.
Essa energia serve pra aquecer a água
que fica lá dentro do reator,
aquele sistema vermelho.
Essa água vai aquecer uma outra água,
num outro sistema, que vira vapor,
roda a turbina, e o gerador transforma
essa rotação da turbina em energia
que vai ser distribuída pras casas.
E o mais importante que eu descobri
é que essa é uma energia limpa.
E ela é parte da solução
pra mudança climática.
Eu sei que essa, provavelmente,
não é a primeira associação
que vem na cabeça de vocês
quando pensam em energia nuclear.
Mas deveria ser, porque esse processo
não produz nenhum gás de efeito estufa.
Nada.
Todos nós temos sentido
as mudanças climáticas.
Ondas de calor: no Rio de Janeiro, já
houve dias com sensação térmica de 50ºC.
Agências e institutos pesquisaram
o que nós fazemos que causa tanta
liberação de gases de efeito estufa.
E uma das principais razões é a utilização
de combustíveis fósseis, como o carvão.
No mundo, o carvão ainda é
a fonte de energia mais utilizada
pra produção de energia.
O mundo ainda queima
muito carvão pra produzir energia.
Na nossa fase de crise hídrica,
quando os níveis dos nossos
reservatórios de água estavam críticos,
o Brasil colocou suas termoelétricas
a combustíveis fósseis a todo vapor
pra suprir a demanda de energia.
Além disso, o consumo de energia
só tende a aumentar.
Ele é [indicador] de disponibilidade
de serviços básicos das sociedades,
como tratamento de resíduos
e de esgoto, e hospitais.
Ou seja, o consumo de energia
está diretamente ligado ao índice
de desenvolvimento de um país.
E nós dificilmente vamos ficar
sem carregar um celular,
sem usar o microondas,
geladeira, televisão,
aquecedor ou ar-condicionado,
no caso do Rio de Janeiro.
Então, o que o mundo vai fazer,
precisando de mais energia?
Queimar mais carvão?
A solução ideal é optar
por energias limpas,
o que inclui as renováveis e a nuclear.
Sei que muitos podem pensar
que, por o Brasil ser um país tropical,
nós podemos ficar só
com a energia solar e eólica.
E eu acredito que elas são
parte da solução, também.
Mas essas duas energias são intermitentes.
Elas dependem do [clima] pra produzir.
Num dia nublado, chuvoso, a solar
não vai produzir tanta energia.
Com muito vento, ou com pouco vento,
como a eólica funciona
numa variação específica de vento,
se tiver muito, ou muito pouco, a eólica
também não vai produzir tanta energia.
Já a nuclear vai produzir
24 horas por dia, 7 dias por semana.
Ela é uma energia confiável, de base,
você sabe exatamente quanto ela
vai produzir, em quanto tempo.
Além de tudo isso, ela tem...
Esse é um gráfico sobre emissões
de gases de efeito estufa
na [geração] dos diferentes
tipos de energia.
Se você considerar o ciclo todo,
a criação do combustível,
o transporte por caminhões,
a manutenção de geradores
a diesel, na nuclear,
então você vê, sim, uma pequena produção
desses gases de efeito estufa.
Mas comparada às outras fontes,
segundo pesquisas,
a nuclear produz até menos que a solar.
E ela tem uma grande densidade energética.
Uma pastilha de urânio de 7g
produz a mesma quantidade de energia
que cerca de 800 kg de carvão.
E uma usina nuclear ocupa um espaço,
em média, 100 vezes [menor]
do que uma central energética solar
precisa pra produzir a mesma
quantidade de energia.
Atualmente a energia nuclear é responsável
por 10% da produção de energia no mundo.
E esse número vai aumentar, porque existem
dezenas de usinas em construção.
Só na China são mais de 20.
A França tem mais de 70% da sua energia
baseada em nuclear, são mais de 50 usinas.
Nos Estados Unidos são "apenas" 99.
No Brasil nós temos duas,
atualmente, em operação.
Anualmente, a energia
nuclear evita a emissão
de cerca de 2 bilhões de toneladas
de dióxido de carbono na atmosfera.
Imagina se nós trocássemos
as fontes energéticas
a combustível fóssil por nuclear.
Uma pesquisa feita pela NASA
e pela Universidade de Columbia,
em Nova York, em 2013, chegou à conclusão
de que cerca de 1,8 milhão de pessoas
deixaram de morrer por poluição do ar,
porque nós utilizamos a energia nuclear.
Nuclear salva vidas.
O que, aliás, foi o título do meu vídeo
quando eu apliquei, ano passado,
pra Olimpíada Mundial Nuclear.
Eu escolhi, no vídeo, falar
sobre aplicações médicas,
porque minha avó passava
por um tratamento de câncer
e ela passava por esses
tratamentos de radioterapia.
Mas antes de falar sobre a Olimpíada
eu queria contar pra vocês
como eu cheguei até lá.
Eu comecei minha graduação em 2011,
e na minha turma entraram
cerca de 25, 24 alunos, 3 meninas.
Desde o início da graduação, eu me envolvi
em todas as coisas possíveis.
Na primeira semana de aula,
eu fui conversar com o professor,
pra entender mais sobre a área,
e ele me ofereceu uma vaga
no laboratório dele.
E assim que ele pôde, me deu uma bolsa
de iniciação científica, e eu, finalmente,
comecei a utilizar os cálculos
pra pesquisar sobre reatores nucleares.
Também no primeiro ano, ouvindo
uma palestra de um pesquisador
de um laboratório nos Estados Unidos,
em Oak Ridge, no Tennessee,
ele ofereceu pra conversar melhor
com os alunos de doutorado,
pra fazer um convênio
e compartilhar pesquisas,
e eu, no auge do meu primeiro
período de graduação,
fui falar com ele que eu queria.
Depois de muito esforço
meu e, principalmente, dele
pra convencer o pessoal do laboratório,
eu consegui um estágio de dois meses,
e foi minha primeira viagem ao exterior.
Nesses dois meses,
eu desenvolvi um software,
utilizei os conhecimentos do meu técnico,
uma interface gráfica
num banco de dados nuclear,
que foi submetido e adicionado
ao banco de dados
do Centro Computacional de Informação
de Segurança Radiológica,
dos Estados Unidos.
(Aplausos)
Eu participei e organizei
visitas técnicas,
nas quais eu, finalmente,
entrei naquele prédio
misterioso, no início, pra mim, do reator.
E, em 2014, eu participei do programa
Ciências sem Fronteiras
e fiquei um ano estudando
nos Estados Unidos,
o que, aliás, era um sonho de criança.
Eu tinha até considerado ser babá
nos Estados Unidos, um tempo,
pra tentar realizar [esse sonho],
mas Deus é muito perfeito,
e quando eu consegui realizar esse sonho,
ele veio da melhor maneira possível.
Durante esse um ano, eu e mais dois amigos
da universidade conseguimos estagiar
numa das maiores empresas nucleares
do mundo, que tem sede nos Estados Unidos,
e eu atualmente estagio nessa empresa,
no escritório do Brasil,
e essa semana eles assinaram
a minha contratação.
(Aplausos)
A Olimpíada aconteceu em 2015.
Eu apliquei esse vídeo,
sobre aplicações médicas,
e uma das etapas da Olimpíada
era divulgar esse vídeo informativo.
E era incrível notar como a percepção
das pessoas mudava ao descobrir
os benefícios dessa aplicação.
Em todas as minhas experiências
dentro do meu curso, na faculdade,
eu fui aprendendo cada vez mais e notando
a importância de divulgar para o público
os benefícios dessa tecnologia
e incentivar a expansão do seu uso.
Eu tomei pra mim, como responsabilidade,
falar sobre isso.
A etapa final da Olimpíada
aconteceu em Viena, na Áustria.
Eu era a única finalista
representante das Américas
e a única finalista mulher.
(Aplausos)
E ganhei.
(Aplausos) (Vivas)
Minha maior satisfação, ao ganhar,
foi ver os benefícios dessa aplicação
sendo amplamente divulgados
e poder provar que mulher tem lugar,
sim, na engenharia e na ciência.
(Aplausos)
Eu tomei pra mim essa
responsabilidade de divulgar
e mostrar que nós precisamos
tomar atitudes urgentemente,
porque as mudanças climáticas
que estamos sentindo são drásticas.
É preciso trocar os combustíveis fósseis,
que estão sendo utilizados,
por energias limpas,
e a energia nuclear é uma energia limpa,
é uma energia de alta densidade
e é segura, sim.
E, além disso, eu quis contar pra vocês
um pouco da minha trajetória
porque eu acredito
que cada um de nós tem capacidade
de trazer mudanças positivas
pra nossa sociedade.
Eu desejo e quero muito
que cada um de vocês
tenha se encontrado ou se encontre
na sua área, como eu me encontrei.
E que assim vocês possam ajudar
a resolver questões e problemas,
que vocês possam aproveitar
as oportunidades,
não somente aproveitar
todas as que se apresentam,
mas criar as suas próprias
oportunidades de crescer e aprender.
E que, com isso, vocês possam trazer
mudanças positivas pra sociedade,
para o mundo, pra sua comunidade.
Porque, assim como nuclear
faz a diferença, que eu acredito,
eu e você também fazemos a diferença.
Obrigada.
(Aplausos) (Vivas)
Ah! Eu esqueci!
A foto: eu recebendo o prêmio.
(Aplausos)