O tema desta palestra
começou há bastante tempo,
quando um amigo meu
me disse esta frase fatídica:
"Miguel, pelo seu Facebook, você
parece ser bem-sucedido pra caramba".
(Risos)
E eu parei e pensei:
"Puxa vida, isso não está certo, né?"
Porque essa não é a métrica, né?
E não é possível que esse
é o jeito de explicar e de dizer.
Uma outra coisa que acontece,
até foi uma coisa que alguns amigos
inventaram essa "hashtag",
é o glamour empreendedor.
As pessoas olham de fora e acham que
empreender é uma coisa que tem glamour,
que você só faz coisa de bacanas,
e participa de eventos
e vai em lugares legais,
mas tem o bastidor.
Tem o que você tem que fazer,
o seu trabalho, que ninguém vê:
quantas horas você trabalha,
quais as dificuldades, quais os desafios.
E a gente criou essa hashtag
pra brincar com isso.
Toda hora que a gente estava
fazendo alguma coisa às 3h da manhã,
e a gente estava trabalhando,
a gente falava sobre isso e colocava
a hashtag "glamour empreendedor",
porque é esse o glamour, né?
Eu estou aqui, num palco incrível,
que eu, ou um amigo meu poderia dizer:
"Olha, é o glamour empreendedor,
está aí, no palco".
Mas eu vim falar dos bastidores,
eu vim falar das entranhas.
de você empreender.
Esta é minha foto, com dois anos de idade.
Você já se sentiu sozinho, diferente,
deslocado, estranho?
Quando eu tinha dois anos,
a minha família descobriu que eu tinha
uma espécie de câncer no olho.
Retinoblastoma.
E o jeito de lidar com isso quando eu
tinha dois anos, ou seja, há muitos anos,
era tirar o olho.
Então eu tenho um olho de vidro, meu olho
esquerdo é um olho de vidro, não enxerga.
Essa história, isso que aconteceu comigo
me marcou de diversas formas.
E me marcou, inclusive,
de formas negativas e positivas.
Por exemplo, eu tinha uma dificuldade
incrível em achar, em acreditar
que eu ia conseguir arrumar uma namorada.
E quando eu estava no meio da faculdade,
eu continuava com esse bloqueio,
e eu resolvi falar: "Não, espera aí, tenho
que superar isso. Vou superar isso".
Aí eu inventei uma cantada
pra superar isso.
Eu chegava num bar,
tomava 2 ou 13 cervejas,
(Risos)
chegava pra uma menina,
tirava meu olho esquerdo, de vidro,
e falava: "Tô de olho em você".
(Risos)
(Aplausos)
Obviamente...
(Risos)
Obviamente essa cantada nunca funcionou.
(Risos)
Nunca... né?
A conversão foi zero,
no meu histórico de uso dela.
Mas foi uma cantada que serviu
pra superar esse estágio.
E quando eu olho pra essa história,
que me marcou muito,
me marca até hoje de diversas formas,
eu percebo que tem muita coisa
na minha vida, inclusive na minha empresa,
na minha trajetória empreendedora,
que tem a ver com isso.
E eu comecei a contar
essa história abertamente,
pra pessoas que eu nem conheço, como aqui,
num palco, tem menos de dois anos.
E quando eu comecei
a contar isso, foi libertador.
E eu descobri uma série de outras coisas.
Que os medos que eu tinha
são muito parecidos.
Eles são medos grandes, dentro de mim,
e medos também infundados.
São medos que eu construí.
Eu aprendi muita coisa
com essa história do olho de vidro.
Eu aprendi que eu me sentia estranho,
que eu me sentia diferente,
que eu me sentia deslocado,
mas por causa disso eu aprendi a ser
amigo, a ter empatia, a ser agregador.
Então as pessoas no meu mercado
falam que eu reúno as pessoas.
Porque eu desenvolvi a habilidade
de agregar as pessoas,
de criar comunidades,
de conectar as pessoas,
ou então de fazer essa conexão,
de ser bom de relacionamento.
Outra coisa:
por eu ter, de alguma forma,
ficado perto da morte
eu estou mais presente, mais vivo,
tenho mais propósito no que eu faço,
porque eu sei que a vida
pode ser muito curta.
E quem já, de alguma forma,
ficou perto da morte,
porque viu algum parente morrer,
ou porque ficou perto de um acidente,
ou passou por um acidente,
está mais presente pra isso.
E também, talvez, por causa disso,
a minha vontade de fazer as coisas
é maior.
Então tenho...
quando você olha
os três valores centrais meus,
que eu considero e que eu aplico
no meu negócio, no meu empreendedorismo,
é comunidade, é criar comunidade,
tem a ver com a história do meu olho.
Entusiasmo, alegria, energia tem a ver
com a vontade, tem a ver com a vivacidade,
tem a ver com vontade de viver.
E o terceiro valor
também é de uma história
relacionada com a minha infância.
Quando eu era pequeno, eu convivia muito
com uma pessoa que era
meio que o braço direito do meu pai,
que era bem mais velho,
tinha cerca de uns 70 anos.
Ele já é falecido hoje,
se chamava seu Vicente.
E ele conversava comigo,
contava histórias pra mim.
E o meu terceiro valor
é crescimento, é aprendizado,
porque lá atrás eu gostava muito
de ficar perto de uma pessoa
que me ensinava coisas,
que me contava histórias.
E hoje o meu negócio é difundir
o conhecimento das melhores pessoas,
das melhores cabeças,
o melhor conhecimento no meu setor.
Levar isso pra fora,
do mesmo jeito que eu escutava
o seu Vicente me contando,
quando eu era criança, então,
o que eu tenho de aprendizado,
aqui, é que a sua história,
os seus momentos mais difíceis,
e coisas que aconteceram lá atrás,
muitas vezes determinam e marcam e moldam
quem você é, que negócio você vai montar,
e que negócio você quer ter.
A empresa é o espelho do dono.
E quando eu descobri isso,
achei muito ruim,
porque a minha empresa
tinha um monte de coisas feias.
E eu não podia mais xingar o espelho.
Como é que você muda a imagem do espelho?
Você muda o que está aparecendo,
o que você está projetando no espelho.
E aí eu achei ruim, mas achei bom,
porque agora tinha como resolver.
Tinha que mudar em mim as coisas.
Só que não era fácil.
Não era gostosinho mudar.
E ao mesmo tempo, quando você olha
empresas de sucesso, empresas que duraram,
tem a ver com isso.
Porque aquilo é o que o dono é.
Então ele vai se entregar
de uma forma intensa,
de uma forma persistente,
uma forma resiliente,
como ninguém faria,
porque ele é daquele jeito.
Então pode parecer a coisa mais imbecil
do mundo, mas ele vai fazer,
mesmo que dê errado,
porque ele só serve para aquilo.
E tem a regra dos 10x.
Tudo que você for fazer,
você calcula quanto de trabalho vai dar,
e aí você multiplica por dez.
(Risos)
Talvez você projete certo.
(Risos)
Talvez vai ser 100x, né?
E me pergunta como é que eu sei disso.
E aí você vai vendo que as dificuldades,
também, te moldam de uma forma
que você não esperava, que você
não queria, que você não pediu por isso.
Do mesmo jeito que não pedi
pra ter um problema no olho,
mas essa experiência negativa me moldou;
de diversas formas,
inclusive de formas positivas.
É isso que acontece com a gente.
Toda pedra no caminho pode
se tornar uma alavanca pra gente.
Ela pode se tornar
o que vai moldar a gente,
o que vai fazer a gente dar o salto
e se tornar quem a gente é,
a nossa melhor forma.
Cada pessoa tem a genialidade dentro dela,
de um jeito único, de um jeito especial.
E isso vai aparecer à medida que você
passa pelas dificuldades da sua vida.
E pra superar essa dificuldade,
passar por essas dificuldades,
tem que preservar a sua autoconfiança.
E talvez a melhor maneira de preservar
a autoconfiança, que eu conheço,
e que eu busco, o tempo todo,
é ter uma rede do bem.
Ter uma rede de pessoas que te apoiam,
que te estimulam, que acreditam em você,
que te ensinam, que te inspiram.
Se eu for resumir numa palavra,
pessoas que se importam.
Se importam com você.
Se importam de uma forma
completa e íntegra.
Procure, pense agora, quais são
as pessoas da sua rede do bem,
ou quais são as pessoas que você gostaria
que estivessem na sua rede do bem.
Isso vai te dar forças,
principalmente nos momentos difíceis,
porque se você resolver empreender,
vão ser muito momentos difíceis.
Definição do que é um negócio -
muitas vezes a gente diz:
"Tenho uma ideia, vou montar um negócio".
Um negócio é uma coisa
relativamente simples.
Você tem um cliente, que você vai atender.
Esse cliente tem uma dor, ele tem
um problema, ele tem um desafio.
E você tem uma solução pra esse problema,
pra essa dor, pra esse desafio
e você vai ter que de alguma forma
operar isso, fazer isso acontecer.
E se o seu negócio não está dando certo,
provavelmente é nestes quatro pontos
que tem alguma coisa que não está
perfeita, que não está do melhor jeito.
Talvez você tenha uma solução,
mas não tem dor.
Não existe dor.
Ou o seu cliente não percebe que tem dor.
E obviamente ele não vai
pagar por uma coisa
que ele não vê necessidade em resolver.
E a gente vê isso acontecer.
Isso parece tão simples, tão bobo,
mas empresas pequenas
e grandes cometem esse erro.
Então quando você estiver olhando
o seu negócio ou o de alguém,
procura responder estas questões.
Quem é o cliente?
Que dor esse cara tem,
que está doendo, que está latejando,
e que eu tenho o remédio perfeito
pra curar essa dor.
E eu vendo por 10 esse remédio
e não me custa 11 pra entregar.
Me custa menos que dez, porque,
se ele custar mais do que você vende,
isso não é um negócio,
é uma maneira de queimar dinheiro.
Olha estas quatro coisas.
Treine a sua visão de negócios.
"Como assim, Miguel?"
Eu sou uma pessoa viciada
em andar pelos lugares, pelos negócios,
e ficar olhando como
que aquele negócio funciona.
O que a pessoa está comprando ali.
Que dor que está resolvendo.
E eu fico, na cabeça de maluco,
otimizando isso.
"Ah, aquilo ali podia fazer diferente."
"Ah, essa lanchonete,
essa cafeteria, essa padaria
tem mais gente e o fluxo
não está funcionando.
Tem mais gente e a velocidade de entrega
do meu pãozinho não está boa."
Ao mesmo tempo,
fui num show do Rolling Stones
e na minha cabeça de maluco,
fico analisando o negócio,
quando estou lá no show do Rolling Stones.
(Risos)
Estou lá no show do Rolling Stones,
esperando e tal, daqui a pouco,
os caras entram, começam a tocar
e dezenas de milhares de pessoas,
ao mesmo tempo, começam
a pular enlouquecidamente.
E aí, por um acaso, faz algum tempo
que eu não estou bebendo,
então eu estava completamente
sóbrio, capaz, presente e atento
e percebendo todos os detalhes.
E eu parei e olhei assim: "Puxa vida.
Esses caras não vendem música.
Esses caras vendem estado mental".
Eles vendem um estado mental diferente,
de alegria, de vivacidade.
E aqui, qual é o estado mental
que este encontro
está entregando pra vocês?
É esse tipo de coisa que eu procuro olhar,
porque muitas vezes a gente acha
que está vendendo uma coisa,
que a nossa solução é uma coisa,
ou a dor que a gente está curando
é uma e não é, é outra.
E às vezes seu negócio está mambembe
porque você não entendeu qual é a dor,
qual é a solução, qual é o cliente,
e como você melhor entrega essa dor.
Cuidado também com a linguagem,
porque a linguagem diz como você pensa
e como você conversa com os outros,
e com você mesmo.
Tem gente que pensa:
empresas grandes são más.
Bom, se você quer fazer que
a sua empresa seja um grande sucesso,
ela vai ficar grande um dia.
E se você acha que a empresa grande é má,
você vai se boicotar
pra que ela não fique grande,
porque você não quer ser uma pessoa má.
Ou então você pensa
que dinheiro é mau, o dinheiro é ruim,
então, inconscientemente, você vai
dar um jeito de não ter muito dinheiro,
porque isso faz mal.
Mas como você vai causar muito impacto,
se você tem uma empresa que não é grande,
ou se você... dinheiro é o oxigênio,
a gasolina que você pode
colocar no seu carro.
Aonde você quer ir, você escolhe,
mas, sem gasolina,
você não vai pra lugar nenhum.
Ou então, quando eu tive um ano terrível,
em que eu tive muito prejuízo
na minha empresa, achei que ia quebrar,
eu [sofria] ataques de "haters",
e um dos meus melhores amigos
tinha pego um grande empréstimo comigo
e não ia pagar.
Tinha um monte de coisa acontecendo
na minha vida, e era tudo negativo,
e comecei a falar isto pra mim mesmo,
e falar isto pra outros amigos:
"Cara, este ano foi terrível,
este ano foi perdido".
E aí, eu comecei a olhar
de uma outra forma.
Será que empresas grandes são más,
ou empresas más são más?
Não interessa se ela é pequena
ou se ela é grande.
Dinheiro é ruim, ou dinheiro
é poder e liberdade?
Porque uma das coisas
que mais valorizo é ter autonomia,
ter liberdade pra fazer o que eu quiser.
E quando a minha empresa
é lucrativa, eu posso escolher,
ninguém pode mandar
o que eu tenho que fazer.
Eu quero seguir aquele caminho,
quero atender este cliente,
quero fazer de tal e tal forma,
que eu acredito estar mais alinhado
com o meu propósito,
porque eu tenho fluxo de caixa.
Simples assim.
Ou então, em vez de dizer
que eu perdi este ano,
eu comecei a dizer
que eu aprendi, este ano.
Porque eu não posso ter
desperdiçado o ano inteiro,
tendo aulas que me custaram caríssimo.
As aulas mais caras que eu já paguei
na minha vida foram essas aulas.
As aulas em que dá tudo errado,
e seu negócio está quase morrendo.
Este foi um grande aprendizado.
Mas eu demorei, eu estava em outubro,
pra um amigo meu falar assim: "Miguel..."
Uma pessoa que está
na minha rede do bem falar:
"Miguel, você não perdeu este ano.
Você aprendeu, este ano.
Faça uma lista de todas
as coisas que você aprendeu".
E eu ali com ele
na minha frente: "Puxa vida!"
Comecei a listar na minha
cabeça todas as coisas
e teve inúmeros aprendizados;
muito valiosos.
E do mesmo jeito
que eu defini negócio pra você:
é você olhar quem é o cliente,
qual é a dor, qual é a solução,
e como você opera
a entrega dessa solução,
eu acredito que um negócio de sucesso,
nos dias de hoje,
tem que juntar duas coisas
que não dá pra entender direito,
que parecem não se misturar,
parecem ser água e óleo
e essas duas coisas são:
a alma do propósito,
é você ter um propósito,
cada vez o propósito
vai ser mais importante,
de atrair as melhores pessoas
pra trabalhar com você,
de você ter os melhores clientes,
de você vender uma coisa
que faz sentido pras pessoas.
Ao mesmo tempo, você precisa
da mecânica da técnica.
Se você tem alguma coisa
que melhora a vida das pessoas,
é uma obrigação moral sua,
ficar muito bom em marketing,
em vendas, em operações,
pra que isso não atrapalhe você
a ajudar mais pessoas ainda.
É uma obrigação sua.
Se você não tem um produto
que ajuda realmente os outros,
trate de mudar esse produto.
Trate de achar alguém
que você quer, realmente, servir,
porque empreender é servir.
Você cura a dor de alguém
que você escolheu.
Só que você tem a obrigação de fazer...
e se o seu negócio não está indo bem,
porque você não está vendendo,
não está fechando a conta,
provavelmente é porque a gente
não ficou bom, ainda, o suficiente,
em marketing, em vendas, em operações
e em outras coisas
que todo negócio precisa.
Do mesmo jeito que um corpo,
a sua estrutura, a sua saúde física
é o que vai carregar o corpo
pra ele cumprir a missão da alma,
a sua missão que você quer chegar;
se você não tiver corpo, não tiver força,
você não vai conseguir fazer nada.
E por último, quero compartilhar
com vocês por que empreender.
Estes são meus três filhos, numa foto
que está virando tradicional nossa,
que é montinhos.
As últimas três fotos antes desta
só tinha dois moleques em cima de mim,
agora a foto deste ano tem
o Francisco que é o mais novo,
que vai completar um ano semana que vem.
Não, não vai ter quatro, não.
(Risos)
Eu acho que eu não vou aguentar o peso.
Bom, por que empreender?
Primeiro, porque empreender,
na minha visão,
é uma das maneiras mais poderosas
de você deixar um legado,
de você deixar uma marca,
de você criar alguma coisa
que você vai ter orgulho disso.
A segunda coisa
tem a ver com os meus filhos,
que é você dar o exemplo;
de como você trabalha, de como você pensa,
de como você opera.
E terceiro, de uma forma
que junte essas duas coisas,
empreender é a sua oportunidade
de você criar o seu mundo.
Do jeito que você acredita.
Do jeito que você valoriza,
com os valores, com os princípios,
com tudo que você quer
que tenha naquele mundo,
e tudo que você não quer que não tenha.
Você pode escolher isso,
quando você monta a sua empresa.
E você pode cultivar isso
e atrair mais pessoas que compram
essa ideia e esse sonho,
pra trabalhar na construção disso
e você construir, de alguma forma,
um mundo melhor.
Muito obrigado.
(Aplausos)