Bom dia a todos. Sem bem-vindos.
Meu nome é Cesar Karnal.
Sou psicólogo.
Trabalho há bastante tempo
aqui na universidade.
Estou muito emocionado de poder estar
abrindo aqui o teatro Saloon da Unisinos.
Comentei com o Gustavo:
estou há 25 anos aqui
e é a primeira vez que uso
esse microfone "Sandy & Junior",
então também é uma coisa muito importante.
Eu gostaria de conversar com vocês
sobre a questão da escolha profissional
e o impacto que isso tem
na vida das pessoas.
Todos nós temos que fazer escolhas.
Desde pequenos a gente faz escolhas.
Algumas escolhas são mais tranquilas
e às vezes não vão ter um impacto
tão diretamente na nossa vida.
Outras escolhas são
um pouco mais complicadas
e às vezes podem ter
consequências durante a vida.
No vídeo de apresentação,
eu mesmo coloquei a minha escolha.
O primeiro curso em que eu entrei
na Unisinos foi análise de sistemas.
Fiz toda a minha formação
basicamente em escola pública.
Ia bem em matemática.
Acabei escolhendo análise de sistemas
porque meu irmão trabalhava com isso
e ainda trabalha
e, durante o primeiro semestre,
eu senti que estava faltando alguma coisa.
Isso que estava faltando, na verdade,
era um contato mais com pessoas,
e acabei mudando pra psicologia.
O papel dos professores
na questão da escolha dos alunos...
Vocês têm um papel extremamente
importante na escolha dos alunos.
Claro que a gente sabe,
quando a gente está na escola,
que os alunos se preocupam
com o mercado de trabalho,
com o que dá mais dinheiro,
com qual curso que vai ser
mais reconhecido ou não,
mas o que vocês falam
da profissão de vocês?
Muitas vezes, vocês acabam transmitindo
muito mais coisas para os alunos
do que propriamente a família.
A família acaba delegando
muito pra escola a questão da escolha,
e é como se essa escolha tivesse
que acontecer apenas no terceiro ano.
Então, às vezes,
a família nunca ajuda muito
ou nunca incentiva muito
o jovem a tomar uma decisão
e, quando chega no terceiro ano,
ali em setembro,
quando começam as inscrições
nas universidades,
aí o aluno tem que tomar uma decisão.
A expectativa que os alunos têm
acaba sendo um sofrimento
muito grande pra eles
e, muitas vezes, enquanto pais,
nós cobramos que esses alunos
acertem de primeira vez.
E, geralmente, o que mostram as pesquisas,
principalmente de evasão e abandono,
é que os alunos acabam,
dentro do primeiro ano,
tanto numa federal - em que é um pouco
maior o índice - como numa particular,
muitos alunos acabam,
dentro do primeiro ano,
ou trocando de curso ou, muitas vezes,
desistindo da faculdade.
A gente vai falar
sobre escolha profissional
e a gente tem que entender que a graduação
é um dos caminhos da escolha.
Nem todo mundo tem interesse
em fazer uma graduação.
Hoje está mais fácil
as pessoas poderem estudar,
hoje tem outros incentivos,
hoje está muito mais fácil
do que quando eu comecei a estudar,
mas tem alunos que a gente
atende aqui na universidade
que às vezes dizem: "Olha, eu não estou
afim de fazer uma faculdade.
Estou pensando em fazer um curso técnico.
Eu quero participar de um processo
de orientação profissional,
com o objetivo de poder
me conhecer melhor.
Eu quero abrir um negócio.
Eu quero fazer outras coisas",
e isso é extremamente importante.
Além da dúvida... geralmente a dúvida...
A gente sempre acha que é
uma coisa ruim a pessoa ter dúvida,
mas a dúvida é uma oportunidade
que o aluno tem e que cada um de nós tem
de a gente poder ponderar as coisas
e fazer uma escolha
mais acertada ao nosso jeito.
Os alunos sempre acabam
colocando na balança
todas as variáveis na hora da escolha.
Eu estou falando de aluno,
mas a gente também tem que entender
que hoje está aumentando muito
pessoas às vezes acima de 40 anos
que procuram uma questão
de um serviço de orientação profissional
com o objetivo ou de fazer uma reescolha,
ou mesmo com o objetivo de poder,
talvez, fazer um outro curso
ou, de repente, fazer uma especialização.
Isso está aumentando muito.
Como a expectativa de vida
das pessoas está aumentando
e as pessoas estão envelhecendo,
de um modo geral,
com um pouco mais de qualidade,
as pessoas também querem
ser felizes no trabalho.
A grande dificuldade
que as pessoas têm hoje em dia,
e eu acho que essa imagem representa bem,
é pode escolher: "O que é mais importante?
É importante eu ter um trabalho
em que eu tenha muito sofrimento,
mas que eu tenha um retorno financeiro,
ou é importante eu fazer
algo de que eu goste
e em que eu vou ter
muita dificuldade financeira?"
Uma vez, uma aluna me disso isso:
"Olha, o meu sonho é trabalhar
de segunda a sexta,
mas sábado e domingo eu quero ser feliz",
como se a felicidade
não fosse possível no trabalho.
E a gente também não pode
ter uma ideia romântica
de que, se eu escolher
algo de que eu goste,
eu vou ser feliz o dia inteiro.
A gente não vai ser feliz o dia inteiro.
Às vezes, o aluno de ensino médio
tem aquela ideia:
"Ah, o meu sonho é ir pra universidade,
porque daí ninguém mais
vai me cobrar o uniforme,
eu posso chegar à hora que eu quiser
e ninguém vai ligar pra minha mãe lá,
se eu for mal numa prova".
Claro que isso acontece.
A universidade incentiva que os alunos
tenham uma maior autonomia,
e isso é uma coisa muito importante
dentro desse processo de escolha.
Às vezes, a questão de felicidade...
a gente fala muito em felicidade...
Ás vezes, é muito difícil a gente definir
o que é realmente a felicidade,
como às vezes é difícil
definir o que é saúde.
Durante muito tempo,
saúde era a ausência de doença,
mas, na verdade, é um conceito
muito mais amplo.
Talvez uma das pessoas mais conhecidas
ainda hoje dentro da psicologia
seja o Freud,
e Freud, embora escrevesse muito,
- escreveu muito durante a vida -
era uma pessoa muito objetiva,
e, numa viagem em que
ele recebeu um convite
pra poder apresentar
a psicanálise nos Estados Unidos...
Imagine isso em 1909. Hoje é tranquilo,
mas, naquele tempo, era bem mais difícil.
Um jornalista perguntou,
no final de uma das palestras dele,
qual era o segredo da felicidade,
e Freud pensou e disse:
"Olha, felicidade é a capacidade
que as pessoas têm
de amar e de trabalhar".
Se Freud, já nessa época,
colocava o trabalho
como o centro da felicidade,
um dos pilares da felicidade,
isso a gente tem que pensar
no nosso dia a dia.
O papel que a gente tem
é poder ajudar os alunos
a poderem pensar nas coisas
de que eles gostam,
poder ajudar a separar o que é hobby
do que é atividade principal
e poder fazê-los descobrir aquilo
que realmente está dentro deles.
Eu tive a oportunidade de,
simultaneamente com a universidade...
Eu trabalhei dez anos
numa escola particular,
uma escola muito legal,
e uma coisa que eu nunca tinha vivenciado
é: quando a gente atende alunos
aqui na universidade,
geralmente, às vezes, é o primeiro contato
que a gente tem com o aluno
e a gente vai ter mais
uns três ou quatro contatos;
depois, a gente não conversa
mais com esse aluno.
Na escola, muitas vezes quando a gente
está diretamente com os alunos
e o aluno chega lá
no segundo ou terceiro ano,
quando a gente já vem acompanhando
esse aluno às vezes desde a sexta série,
ou agora sexto ano,
a gente tem uma clareza muito melhor
da história desse aluno.
A gente sabe como é a família,
a gente sabe do que realmente ele gosta;
a gente sabe, dentro do grupo de amigos,
do que os amigos gostam
e se ele está fazendo essa escolha
pelos amigos ou por ele.
Então, embora os professores
às vezes diziam assim:
"Ah, mas eu não tenho
formação em psicologia",
os professores, com essa
proximidade com os alunos,
podem ajudar os alunos nesse sentido.
Nós temos que entender que a orientação
profissional é um processo
e não começa hoje e termina amanhã.
Gradualmente, a gente vai construindo
a nossa questão de escolha.
Muitos anos atrás,
as pessoas entravam numa empresa
e se aposentavam nessa empresa.
Hoje, há uma tendência, tem alguns estudos
que dizem que, até a pessoa se aposentar -
e isso está cada vez
mais difícil no país;
talvez daqui a um tempo
a pessoa vai ter que morrer
ou trabalhar mais cinco anos
pra poder se aposentar -
até a pessoa se aposentar,
às vezes a pessoa passa
por quatro ou cinco empresas,
e que, muitas vezes,
durante a sua vida profissional,
a pessoa vai descobrindo
quais são os seus talentos,
quais são as coisas
em que ela sente mais facilidade
e onde é que ela tem
espaço de crescimento.
O trabalho, pessoal... a gente fala
muito em qualidade de vida:
"Ah, é importante ter qualidade
de vida ambiental,
é importante ter qualidade de vida
nas relações humanas,
é importante ter qualidade
de vida no dia a dia",
mas o trabalho tem um fator
de saúde mental extremamente importante.
No nosso trabalho,
ou a gente é reconhecido
pelo trabalho que a gente faz,
ou a gente tem um sofrimento no trabalho.
Então, é muito importante
que a gente possa pensar
na questão da escolha profissional
e, obviamente, quando a gente
está pensando na dos alunos,
a gente acaba pensando na nossa escolha,
e que isso é uma parte dinâmica da vida.
Dá pra ser feliz no trabalho?
Normalmente, quando eu vou conversar
com os alunos nas escolas,
eu sempre pergunto para os alunos
o que os pais ou pessoas próximas
falam do trabalho,
e geralmente os alunos dizem:
"Ah, meus pais dizem
que o trabalho é cansativo",
"Ah, minha família diz
que o trabalho é estressante",
"Ah, meus amigos dizem
que o trabalho é só ir lá bater cartão
e que tem pouco espaço de criatividade
ou de poder se colocar".
E aí, eu faço uma segunda
pergunta para os alunos:
"Está todo mundo
falando mal desse trabalho
e vocês estão loucos pra entrar
nesse mundo de trabalho?"
É como se eu fosse tirar férias
numa cidade de que todo mundo fala mal,
dizendo que é cara, que a gente pode
ser assaltado, que teve várias coisas.
"Não, mas é lá que eu vou
querer tirar férias"
E a gente acha que os alunos
ou que as pessoas
não levam em consideração
a opinião dos pais.
Os alunos levam muito, pessoal.
Os alunos levam muito a opinião dos pais
e levam muito em consideração
a opinião dos professores
porque, querendo ou não, dentro da escola,
muitas vezes, mesmo em escola particular,
dentro da escola, às vezes
é o momento mais organizado
que o aluno tem durante o dia.
E o aluno, claro, também quer saber
a questão de conhecimento,
mas ele também tem
uma preocupação com trabalho.
Cuidem do que vocês falam
sobre o trabalho.
Cuidem do que vocês falam da profissão.
Às vezes, nós atendemos alunos aqui
que dizem o seguinte:
"Olha, eu estou pensando em engenharia,
mas eu nunca fui muito bem em matemática
até o segundo ano do ensino médio,
e aí, mudou o professor
e eu descobri a matemática".
Então, a questão didática, a questão
de proximidade que os professores têm,
é extremamente importante
na hora da escolha.
Não é fácil escolher,
pessoal. Não é fácil.
Se vocês forem pensar nas suas escolhas,
pode ser que pra alguns de vocês
tenha sido mais tranquilo,
pode ser que vocês acabaram escolhendo
o curso ou a atividade de vocês
por influência dos pais, dos amigos,
por uma questão de mercado,
mas, quando a gente acaba colocando
naquela balança da imagem anterior
a questão do mercado, não tem problema,
mas a gente tem que se dar conta
de que o mercado pode mudar
e, se ele mudar, muitas vezes
a gente fica sem saber o que fazer.
As pessoas dizem o seguinte também:
"Olha, o importante no trabalho
é a questão do dinheiro".
Claro que dinheiro é importante.
Sem dinheiro, nós não faríamos nada.
Sem dinheiro, nós não
estaríamos aqui hoje.
Mas como a gente pode
explicar, por exemplo -
só na questão do dinheiro e do trabalho -
como a gente pode explicar
a questão do trabalho voluntário?
"Ah, mas trabalho voluntário
só faz quem tem tempo."
Tem pessoas que, às vezes,
têm dois ou três trabalhos
e, num final de semana, fazem trabalho.
"Ah, só faz trabalho voluntário
quem é pessoa aposentada."
Às vezes os jovens estão muito engajados
nessa questão do trabalho voluntário
e isso é uma coisa que, às vezes,
num processo seletivo,
quando a gente trabalha
selecionando pessoas,
uma das perguntas
que eu faço para as pessoas
é se têm trabalho voluntário.
"Ah, mas eu trabalho
com crianças, com cachorro."
Isso é uma coisa importante.
Isso é uma coisa da formação das pessoas.
Talvez, um dos poetas mais conhecidos
que tenha no Brasil ainda hoje
é Vinícius de Moraes.
Embora ele seja mais conhecido
como poeta e compositor,
ele era diplomata,
tinha formação em direito,
embora pouca gente se lembre disso.
E é difícil de a gente competir
com um poeta, né,
porque a gente fica sempre pensando
numa frase de efeito
pra poder já fazer o encerramento.
E Vinícius de Moraes teve a felicidade
de escrever isso, dizendo:
"A vida é a arte do encontro,
embora haja tanto desencontro pela vida.
É preciso encontrar
as coisas certas da vida,
para que ela tenha
o sentido que se deseja.
Assim, a escolha de uma profissão
é a arte de um encontro,
porque a vida só adquire
quando a gente empresta nossa vida,
para o resto da vida".
Vejam a sensibilidade que ele coloca.
Se ele está dizendo que escolher
a profissão é uma arte,
ele não está dizendo que a arte não é
necessariamente uma coisa objetiva.
Muitas vezes, as pessoas no nosso trabalho
aqui procuram o teste vocacional
como se o teste vocacional fosse capaz
de responder a todas as dúvidas
que os alunos têm.
O teste não é uma bolinha de cristal,
mas ele ajuda a poder dar mais uma luz
naquilo de que o aluno gosta.
E hoje, nós trabalhamos
com outras ferramentas também,
com dinâmicas de grupo,
com o objetivo de a gente poder
conhecer um pouco mais esse aluno
e de o motivar a buscar informações
sobre onde ele vai colocar o pé.
Hoje, a qualidade informativa
que tem na internet
sobre cursos, sobre currículos...
entra nos sites das universidades
ou das escolas, tem tudo virtual...
a gente pode agendar um horário
e conversar com professores das escolas...
hoje, isso é muito mais fácil...
mas, normalmente, são informações
que estão fora do aluno.
O nosso trabalho, enquanto profissional
de uma área de orientação vocacional,
é poder ajudar o aluno
a se conhecer melhor,
poder ajudar o aluno
a pensar melhor nessa escolha
e que ele chegue um pouco mais
amadurecido no final desse processo.
Já conversei com alunos de 14 anos
que tinham uma maturidade muito boa,
e já conversei com pessoas de 50 anos
que estavam completamente perdidas.
Então, claro que,
normalmente, durante a idade,
a gente vai melhorando
a questão de maturidade,
mas isso a gente tem que incentivar.
Não esqueçam, professores...
Eu venho de uma família de professores,
tenho dois irmãos que são professores,
sou casado com uma professora -
poeta também.
Não se esqueçam do papel
fundamental que vocês têm.
Além de poder passar conhecimento,
os alunos também querem muito
saber da história de vocês,
no que vocês acertaram
e no que vocês erraram.
Agradeço muito a participação
de vocês nessa manhã chuvosa,
e desejo um ótimo TEDx Saloon
pra todos vocês.
Muito obrigado.
(Aplausos)