Eu gostaria de convidar vocês,
neste momento inicial,
pra uma pequena e breve experiência.
Gostaria que vocês fechassem seus olhos.
(Som de batimentos cardíacos)
Respirem profundamente,
relaxem ombros, braços
pernas...
Lembrem-se de vocês pequenos.
Qual é a primeira imagem
que vem de você criança?
O que você desejava?
Um beijo, um abraço,
brincar com os amigos.
Respire um pouco mais.
E agora...
lembre-se de você na adolescência.
Nessa fase, queremos transformar o mundo,
imaginamos como vai ser
a nossa idade adulta,
o que seremos...
É...
A vida passa como um piscar de olhos.
Respire.
Abra os seus olhos lentamente.
Estou aqui para dividir o meu momento,
o meu tempo, com o seu.
Esse tempo, que é marcado
pelo momento inicial em que respiramos
pela primeira vez e nascemos
até o momento da nossa morte.
Para a ciência, vida é o espaço de tempo
entre a concepção
e a morte de um organismo.
Para Einstein, tempo é uma ilusão.
Uma ilusão que separa
passado, presente e futuro.
Para outros, cada momento,
cada segundo é muito precioso.
É o momento que jamais se repete.
Zygmunt Bauman
estabeleceu várias reflexões
sobre a nossa modernidade,
esse período da pós-modernidade.
Ele disse que vivemos
numa sociedade de consumo
e, como vivemos numa sociedade de consumo,
não valorizamos a durabilidade das coisas,
muito menos das pessoas.
Igualamos tudo que é velho
ao descartável, obsoleto,
destinado à lata do lixo.
Esse conceito nos faz crer
que só temos valor
enquanto estamos vivendo
em idade produtiva e reprodutiva,
que é aquele tempo em que a gente
começa nossa carreira profissional,
que a gente pensa em comprar
um apartamento, um carro próprio
se vamos casar, se vamos ter filhos,
se vamos fazer viagens internacionais.
Com a chegada da menopausa
e da andropausa
e a proximidade da aposentadoria,
a gente começa a ficar com medo
desse processo de envelhecimento.
As rugas se acentuam,
os cabelos embranquecem
e ficamos apavorados
com a velhice e com a morte.
Esses dois temas sempre
me assustaram ao longo da vida:
a velhice e a morte.
Lembro-me bem que, com 15 anos de idade,
eu imaginava que eu iria viver
40 anos fantásticos
e iria morrer subitamente,
no auge, sem passar
pela velhice e suas doenças.
Recordo também o porquê
que vinham esses medos.
Porque eu via as minhas avós,
Maria e Clarice, sentadas
nas suas varandas,
velhas, doentes, com a tristeza
estampada nos olhos,
com a pobreza agarrada nas mãos
e o sofrimento fincado no coração.
No Brasil, em 1960,
a expectativa de vida era
que vivêssemos 52 anos de idade,
ou seja, um ano antes do meu nascimento
quem nascesse viveria 52 anos.
Hoje, a expectativa de vida
é que vivamos 74.
Ganhamos esses quase 25 anos
a mais de vida por conta da implementação
de saneamento básico, da água tratada,
dos avanços da medicina
e também dos medicamentos
e vacinas potentes
que tratam quase todas as doenças.
Ganhamos esses 25 anos a mais
e o que vamos fazer com eles?
Nós temos medo do envelhecimento,
porque associamos
que envelhecer é ser velho,
é ser descartável,
é ser jogado numa lata de lixo.
Se eu tenho dinheiro,
eu posso ser uma pessoa idosa bonita,
bem tratada, com poucas doenças
e vou ser uma idosa feliz.
Se eu sou pobre, eu recebo como herança
um pacote de rugas, flacidez, manchas
e uma velhice extremamente sofrida.
O vídeo que nós vamos ver agora em seguida
foi produzido em 2012
e foi exibido em rede estadual
pelo Instituto Ame Suas Rugas
e o objetivo desse vídeo
era mostrar pras pessoas
que o que nos acontece
ao longo da vida é a experiência.
[Quanto vale o tempo?]
Um homem se lança ao mar,
aprendeu cedo a pescar o ganha-pão
com que construiu a sua história,
seu sustento, sua vida.
O que um pai ensina nunca se perde,
não se esvai nem fica velho.
O que é experiência é o que nos acontece
e só o que é feito
com a experiência do tempo
o tempo respeita.
[Em 20 anos, 1/5 da população mundial
será de gente experiente.]
[Respeite seu futuro. Seja melhor hoje.]
Criamos esse instituto em 2008,
com o objetivo central
de mudar o paradigma do que seja
o envelhecimento humano no Brasil.
Quando iniciei meus estudos,
as minhas pós-graduações
em gerontologia no Brasil e no México,
eu tive certeza de que, pior
do que envelhecermos,
é termos medo desse processo
de envelhecimento.
Quando eu parti para os estudos
em livros e congressos internacionais,
eu pensei por um instante
que eu pudesse encontrar
em algum lugar do mundo
o elixir da longevidade.
Depois de estar em Cuba
e conhecer os estudos
dos idosos centenários que lá vivem,
eu descobri que não existe
tal elixir da longevidade.
Não existe mesmo.
(Aplausos)
Pois é. Não tem jeito.
A gente envelhece.
Hoje, eu não quero mais morrer cedo,
como eu desejava aos meus 15 anos,
porque tenho imenso prazer em estar viva,
porque só quem está vivo envelhece.
Mas temos alguns problemas.
O envelhecimento nos traz
uma dependência em muletas,
como esses papéis que eu trago aqui.
Então, envelhecer também tem isso.
Eu gostaria de conversar com vocês
sobre um trabalho apresentado
pelo geriatra brasileiro Renato Maia.
Ele presidiu a Associação Internacional
de Geriatria e Gerontologia
e ele escreveu o livro
"Decida você quanto e como quer viver".
Nesse livro, ele fala do capital de saúde
que deve ser administrado por nós
ao longo da vida para termos
um envelhecimento bem-sucedido.
O primeiro capital a que ele se refere,
que a gente tem que aprender
a administrar, é o capital biológico.
O capital biológico é aquele
que nos define geneticamente
com o nascimento.
Por isso, é muito importante
que conheçamos a história familiar
dos nossos pais, avós, bisavós
e sabermos se eles tiveram alguma doença:
hipertensão, diabetes,
demência ou cânceres,
para que a gente possa
entender e modificar isso.
O segundo capital
a que o Dr. Renato se refere
é o capital social.
O capital social também representa
25% desse capital de saúde
e está relacionado ao lugar onde nascemos,
que políticas públicas
existem nesses lugares,
se há previdência pública
e se ela vai atender
às nossas necessidades
quando envelhecermos,
se também esse sistema público de saúde
pode nos amparar na velhice.
Se tivéssemos nascido,
por exemplo, na África,
não viveríamos mais de 50 anos.
Tivemos a sorte de nascermos
no Brasil e no sul do Brasil.
Isso nos dá um diferencial
muito importante.
O outro capital a que ele se refere
é o capital emocional.
E pasmem vocês,
ele representa 50% desse capital de saúde,
ou seja, é um dos mais relevantes.
Esse capital emocional surge na infância,
quando a gente aprende a administrar
as nossas habilidades cognitivas
e emocionais, se aprendemos
a superar desafios,
se temos uma tendência
a sermos depressivos,
se temos medo de superar obstáculos.
Então, como eu faço para ter uma gestão
bem-sucedida ou não bem-sucedida
desses três capitais?
Se eu não faço uma boa gestão,
ignoro meu histórico genético,
o meu histórico... não é?
Eu não sou ativo socialmente,
não mudo as mudanças do país
em que estou vivendo
e também não me percebo,
eu posso ser uma pessoa idosa
depressiva, com muitas doenças,
posso ter momentos de enfermidades longas,
posso morrer com muito sofrimento
e antes da expectativa de vida,
que a gente viu lá atrás
que são de 74 anos.
Se eu faço uma boa gestão desses capitais
eu terei, com certeza, mais longevidade,
enfermidades por curto período de tempo
e viveremos, com certeza,
acima dos 85 anos de idade.
Entretanto, só administrar
esses capitais não é o suficiente.
Nós temos que mudar, cada um de nós,
o paradigma do que seja o envelhecimento
para que, quando nós todos
formos muito idosos,
não sejamos obsoletos
e não nos coloquem numa lata de lixo.
Simone de Beauvoir
escreveu, em 1970, o livro
"A Velhice - A Realidade Incômoda".
Nesse livro, ela denuncia o silenciamento
que havia em todo mundo contra os idosos.
Ninguém falava sobre isso.
Eles eram escondidos.
Se em 70, quando Simone escreveu o livro,
havia esse silenciamento,
hoje ainda vivemos com o preconceito
com as pessoas que envelhecem.
Portanto, não há outra alternativa.
Nós temos que aceitar
esse processo de envelhecimento,
porque é muito melhor
e a gente pode fazer muito mais coisas.
Os brasileiros, quase todos,
rejeitam o processo de envelhecimento.
Dados da Sociedade Brasileira
de Cirurgia Plástica indicam
que mais de 800 mil pessoas por ano
realizam procedimentos estéticos
de modificação do próprio corpo
em busca de uma...
juventude eterna.
Entretanto, pessoas,
não há como deter esse processo
que é normal e que é...
bacana e que temos que aceitá-lo.
Os dados das pirâmides etárias do Brasil
mostram que nós, em 40 anos,
teremos o triplo de idosos
que temos em 2010.
Em 2010 nós somos 20 milhões de idosos.
Em 2050 seremos 66 milhões.
Isso significa dizer que nós teremos
muito mais idosos que crianças
vivendo no Brasil daqui há 40 anos.
Temos os dados, as informações, as bolsas.
Quais são os meus conselhos?
O que eu vim dizer pra vocês?
Pratiquem exercícios físicos,
comam produtos sem agrotóxico,
deixem de comer gordura,
tome vitamina todos os dias,
coma gelatina, use cremes com colágeno,
faça amor quando o amor vier,
faça sexo quando puder.
Entretanto, não há uma receita certa
para cada um de nós.
Jessie Gallan é uma escocesa.
Ela viveu acima dos 100 anos.
Qual era a receita dela
para a longevidade?
Primeiro, não se casar.
Ela dizia que homens fazem mal à saúde.
(Risos) (Aplausos)
Ela também dizia que...
Ela também dizia que tinha que se praticar
atividade física e comer aquela tigelinha
de mingau quente todos os dias de manhã.
Eu trago o exemplo
do Professor Hermógenes,
um grande nome do yoga brasileiro.
Ele com 40 anos de idade descobriu
que estava em fase terminal
com tuberculose.
Ele fez uma mudança radical na sua vida,
passou a praticar yoga
e fazer meditação todos os dias,
transformou a alimentação dele em vegana,
não fumava, não bebia e ele dobrou
sua possibilidade de vida
e morreu depois dos 90 anos de idade.
Trago também o exemplo
de Leandra Lumbreras.
É uma mexicana que viveu
acima dos 127 anos,
muito querida e ela disse o seguinte,
o segredo dela era
comer chocolate todos os dias,
dormir muito.
Não sei por que dormir tanto, mas enfim.
E também ela não se casou.
Quando eu soube da história
da Leandra, eu disse assim:
eu não como chocolate porque eu não gosto,
eu já me casei três vezes,
eu estou à beira da morte.
(Risos)
E agora o último exemplo
é de uma blumenauense,
ela viveu aqui em Blumenau,
a dona Mística Pereira.
Ela viveu 114 anos.
Ao contrário das outras,
ela casou e enviuvou duas vezes,
foi mãe de 12 filhos.
Sete dos filhos dela morreram antes.
Pensa, ela viveu 114.
Eles morreram muito jovens, com 90.
E na receita dela de longevidade,
o cardápio dela qual era?
Polenta, pirão e linguiça frita, garotada.
É isso que ela comia pra viver bastante.
Para os religiosos, a vida é eterna.
Buda, porém, advertiu:
tudo que começa, um dia,
inevitavelmente, acaba.
A eternidade existe no momento presente.
Portanto, aproveite esse tempo
entre o seu nascimento e sua morte.
Pois é.
Vocês pensaram que eu ia trazer certezas,
que eu ia trazer elixires,
que eu ia trazer longevidade,
que eu ia trazer vida eterna.
Não trago nada.
Eu não tenho certezas.
A única certeza que eu tenho
é que um dia todos nós...
iremos...
morrer.
Namastê.
(Aplausos)