Sempre que tenho que viajar em trabalho tento descobrir de onde vem a água que bebo e para onde vai o meu cocó e o meu chichi. (Risos) Isso conquistou-me a alcunha de "Princesa do Cocó" na minha família e arruinou várias férias de família, pois não é algo normal. Mas imaginar para onde isso vai é o primeiro passo para ativar os superpoderes do cocó e do chichi. (Risos) Sim. Se os usarmos bem, podemos viver mais saudáveis e de modo mais belo. Observem esta paisagem em Santa Fé, no Novo México. Reparem nas palavras e nos sentimentos que nos vêm à cabeça. Esta paisagem foi irrigada com água de esgoto tratada. Isso muda alguma coisa? Eu imagino que sim. E isso é bom. Aquilo que sentimos vai determinar exatamente até que ponto podemos ser inovadores. Quero explicar como é que isso funciona, mas que palavras hei de usar? Quero dizer, posso usar palavras profanas, como "merda" e "mijo" e a minha avó recusará assistir a este vídeo. Ou posso usar palavras infantis como "cocó" ou "chichi". Ou posso usar palavras científicas, como "excrementos" e "fezes". Vou usar uma mistura delas. (Risos) É tudo o que tenho. (Risos) Neste subúrbio, o cocó, o chichi e as águas de lavagem vão para esta estação de tratamento mesmo no meio da comunidade. Parece mais um parque do que uma estação de tratamento. O cocó está lá no fundo de todas essas camadas de cascalho, sem tocar em ninguém, e fornece nutrientes àquelas plantas dos pântanos. A água muito limpa que sai pelo outro lado está a viajar subterraneamente para regar os jardins. Assim, apesar de estarem num deserto, conseguem ter o seu oásis privado. Esta abordagem chama-se Gestão Integrada da Água, ou holística, ou em circuito fechado. Seja o que for que lhe chamemos, está em conflito com o statu quo do nosso pensamento sobre o saneamento, ou seja, guardar, tratar e rejeitar. Mas nesta abordagem estamos a dar mais um passo. Planeamos a reutilização logo desde o começo, pois tudo é reutilizado, só que agora estamos a planeá-lo. E frequentemente, isso produz espaços muito belos. Mas o mais importante neste sistema não é o seu funcionamento técnico mas como encaramos tudo isto. Gostariam de ter isto no vosso jardim? Porque não? Sempre tive muita curiosidade em fazer esta pergunta. Porque não vemos mais inovações no saneamento? Porque é que este tipo de coisa não é o novo normal? Preocupo-me tanto com esta questão que trabalho para a Recode, uma empresa sem fins lucrativos. Queremos acelerar a adoção de práticas duradouras de construção e de desenvolvimento. Queremos mais inovação. Mas muitas vezes, há muitas inovações que poderiam ajudar-nos a viver melhor mas que são ilegais. Os regulamentos e códigos atuais foram escritos no pressuposto de que as melhores práticas continuarão a ser as melhores práticas com atualizações progressivas, para todo o sempre. Mas inovar nem sempre é atualizar. Acontece que aquilo que sentimos sobre qualquer nova técnica em particular infiltra-se em tudo o que fazemos: na nossa forma de falar nela, como encorajamos as pessoas a estudar as nossas piadas, os nossos códigos. E finalmente determina até que ponto somos inovadores. Portanto, esta é a primeira razão por que não inovamos no saneamento. Sentimo-nos pouco à vontade a falar sobre saneamento. É por isso que me chamam "Princesa do cocó". A segunda razão é que nós achamos que, aqui nos EUA, o problema está resolvido. Mas não está. Aqui nos EUA, ainda ficamos doentes por beber água contaminada pelos esgotos. Adoecem sete milhões de pessoas todos os anos, morrem 900 anualmente. E não estamos a realizar uma abordagem global para melhorar. Não estamos a resolver esse problema. Em Portland, no Oregon, onde vivo, não consigo levar o Echo a nadar durante a temporada das chuvas porque às vezes despejamos no rio os esgotos sem tratamento. A água da chuva e os esgotos vão para a mesma estação de tratamento. Demasiada chuva, transborda para o rio. E não acontece apenas em Portland. 40 % dos municípios declararam que despejam nas vias fluviais esgotos sem tratamento ou parcialmente tratados. Outro inconveniente que acontece com o nosso status quo é que metade de todo o cocó e chichi vai fertilizar campos agrícolas. A outra metade está a ser incinerada ou depositada em aterros. Isso, para mim, é um inconveniente porque há muitos nutrientes nas nossas fezes diárias. Podemos compará-las com o estrume dos porcos; nós somos omnívoros, eles são omnívoros. Pensem no nosso cocó e chichi como um saudável batido para as árvores. (Risos) O outro inconveniente que existe é que todas as drogas que tomamos estão a ir para as vias fluviais. Em média, a estação de tratamento pode filtrar, talvez, metade das drogas que lá existem. A outra metade sai diretamente pelo outro lado. Pensem no que uma mistura de fármacos — hormonas, esteroides, paracetamol — pode fazer a um peixe, a um cachorro, ou a uma criança. Mas esse não é o único problema que temos que resolver. Se formos ao fundo, podemos criar recursos que podem resolver muitos dos nossos problemas. Quero que se sintam à vontade com esta ideia, portanto imaginem as coisas que vou mostrar, essas tecnologias e essa atitude que diz: "Nós vamos reutilizar isto. "Vamos projetar para ficar belo" — um curso avançado de penico. (Risos) Acho que vocês estão prontos para isso. Acho que, enquanto cultura, estão preparados para o curso avançado de penico. Há três grandes razões para apresentar hoje. Número um: Podemos fertilizar a nossa comida. Cada um de nós está a fazer cocó e chichi que pode fertilizar metade ou mesmo toda a nossa comida, consoante a nossa dieta. Porque é que esse cocó escuro na nossa casa de banho, é dessa cor? Coisas mortas, bactérias. É carbono. Se utilizarmos esse carbono no solo, ele vai ligar-se aos outros minerais e nutrientes que lá estão. Bum! Comida mais saudável. Voilà! Pessoas mais saudáveis. Os fertilizantes químicos, por definição, não contêm carbono. Imaginem que podíamos usar o nosso estrume animal e humano no solo, não precisaríamos de depender de fertilizantes com base em combustíveis fósseis, minerais extraídos em minas distantes. Imaginem quanta energia poderíamos poupar. Há quem esteja preocupado com os poluentes industriais que contaminam esta reciclagem. Isso pode ser resolvido. Mas precisamos de abandonar o nosso preconceito em falar sobre cocó e chichi para podermos falar calmamente sobre como queremos reutilizar e o que não queremos reutilizar. Oiçam isto: Se mudarmos a nossa abordagem sobre saneamento, podemos começar a abrandar a alteração climática. Lembram-se do carbono no cocó? Se conseguirmos utilizá-lo no nosso solo, ele começará a absorver o dióxido de carbono que atiramos para o ar. Isso pode ajudar a abrandar o aquecimento global. Quero apresentar-vos algumas almas corajosas que tiveram a coragem de aderir a este curso avançado de penico. Porque é que estas pessoas no Novo México fizeram isso? Porque estão num deserto? Para pouparem dinheiro? Sim. Mas a razão principal é que eles sentem-se à vontade para verem o que existe nas sanitas como um recurso. Esta é uma casa média em Portland, no Oregon. Essa casa é especial, porque tem sanitas de compostagem que transformam o cocó e o chichi em composto corretor do solo. A água de lavagens e do chuveiro, vai para o subsolo, para uma série de bacias de palha e depois irriga o pomar lá em baixo. Quando pediram autorização para isso, não era permitido no Oregon. Mas era permitido em outros cinco estados vizinhos. Esta foi a primeira campanha da Recode — a minha organização — para a mudança da norma. Este é um ótimo exemplo em que a abordagem da gestão integrada da água era a mais barata. Estes são três arranha-céus residenciais, no centro de Portland, que não estão a despejar os resíduos pelo sistema de esgotos. Como assim? A água das lavagens está a ser reutilizada nas descargas das sanitas, nos sistemas de refrigeração mecânica, na rega da paisagem. Depois de o edifício ter utilizado tudo ou seja, tudo o que tem merda, a água é tratada ali mesmo, por plantas e bactérias e depois é infiltrada nas águas freáticas situadas por baixo. Tudo isso foi mais barato do que atualizar as infraestruturas dos esgotos existentes. Esta é a última razão que nos deve entusiasmar em fazer as coisas de modo diferente: podemos poupar muito dinheiro. Esta foi a primeira autorização deste tipo no Oregon. Pessoas corajosas e de mente aberta, sentem-se à vontade em dizer: "Sim, essa merda faz sentido". (Risos) "Vamos fazer isso". (Aplausos) Sabem uma coisa? Eu continuo a mostrar exemplos em que há pessoas a reutilizar tudo localmente. Porquê? Quando olho para as nossas infraestruturas velhas — e são muito velhas — e vejo o custo de atualizá-las, três quartos desse custo são os canos que serpenteiam pela cidade. Portanto em vez construirmos, em vez de renovarmos, faria mais sentido tratar e reutilizar tudo localmente. São Francisco percebeu que fazia sentido investir em descontos aos agregados familiares para reutilizar a água das lavagens e da chuva para regar os jardins, pois a quantidade de água que eles iriam poupar era enorme. Mas porque é que todos estes projetos foram tão inovadores? Pelo dinheiro, claro. Mas, mais importante que isso, as pessoas sentem-se à vontade com a ideia do curso avançado de penico. Imaginem se nós adotássemos a inovação no saneamento da mesma forma que fazemos com a energia solar. Pensem nisso — a energia solar era invulgar e muito cara. Hoje, mais do que nunca, faz parte do nosso sistema de energia. E está a criar resiliência. Temos agora fontes de energia como o sol que não mudam com os dramas da Terra. O que está a mover toda esta inovação? Somos nós. Nós falamos de energia. É giro falar de energia. Até há quem fale dos problemas com os recursos limitados de onde provém a nossa atual fonte de energia. Nós encorajamos os melhores e mais brilhantes a trabalhar nisso — melhores painéis solares, melhores baterias, tudo isso. Portanto, vamos falar de onde vem a água que bebemos, para onde está a ir o nosso cocó e chichi. Se conseguimos superar o desconforto com este tópico, podemos criar algo que crie a nossa futura mina de ouro. Sempre que puxarem o autoclismo quero que pensem: "Para onde vai o meu cocó? "Vai ser bem utilizado?" (Risos) "Ou vai ser atirado a algum curso de água?" Se não sabem, tratem de saber. E se não gostarem da resposta, descubram como podem comunicar àqueles que podem fazer a mudança que vocês têm formação avançada em penico, que estão prontos para reutilizar. A forma como vocês se sentem vai determinar exatamente até que ponto podemos ser inovadores. Muito obrigada. (Aplausos)