Imaginem que estão no supermercado, a fazer compras, e dão-vos a escolher entre um saco de plástico ou de papel. Qual é que escolhem, se quiserem fazer o que é melhor para o ambiente? A maioria das pessoas opta pelo papel. Ok, vamos lá pensar porquê. Para começar é castanho... Portanto, deve ser bom para o meio ambiente. É biodegradável. É reutilizável. Em alguns casos, é reciclável. Por isso, quando as pessoas olham para o saco de plástico, é provável que pensem mais ou menos nisto... que todos sabemos como é horrível, e que devemos evitar a todo custo este tipo de danos ambientais. Contudo, na maior parte das vezes, as pessoas não pensam numa coisa destas, que é a outra face da moeda. Quando fabricamos materiais, temos que extraí-los do ambiente, e provocamos uma série de impactos ambientais. O que acontece é que, quando precisamos de fazer escolhas complicadas, nós, os seres humanos, gostamos de soluções muito simples, e, por isso, geralmente procuramos soluções simples. Eu trabalho em "design". Dou consultoria a "designers" e a inovadores na área da sustentabilidade, e todos eles dizem-me sempre: "Leyla, só quero materiais ecológicos." E eu digo: "Bem, isso é muito complexo, "e vamos ter que passar 4 horas a analisar "o que é exatamente um material ecológico, "porque, em última análise, tudo provém da natureza, "e é a forma como utilizamos o material "que dita o impacto ambiental". O que acontece é que temos que nos basear numa espécie de quadro intuitivo quando tomamos decisões. Gosto de chamar a esse quadro intuitivo o nosso folclore ambiental. É aquela vozinha cá dentro da nossa cabeça. ou a sensação que temos quando fazemos uma coisa certa. Quando optamos pelo saco de papel ou quando compramos um carro de combustível económico, o folclore ambiental é uma coisa muito importante, porque estamos a tentar fazer o que está certo. Mas como é que sabemos se, na verdade, estamos a reduzir os impactos ambientais que as nossas ações, enquanto indivíduos, enquanto profissionais, e enquanto sociedade, estão de facto a ter sobre o ambiente natural? Portanto, o que acontece com o folclore ambiental é que tem tendência a basear-se nas nossas experiências, nas coisas que ouvimos dizer a outras pessoas. Não se baseia em qualquer enquadramento científico. E isto é difícil, porque vivemos em sistemas incrivelmente complexos. Temos os sistemas humanos — como comunicamos e como interagimos e temos toda a nossa sociedade construída — temos os sistemas industriais, que é essencialmente toda a economia. E tudo isso tem que funcionar dentro do sistema maior, e, na minha opinião, no mais importante, o ecossistema. Portanto, as escolhas que fazemos, enquanto indivíduos, as escolhas que fazemos em cada profissão que temos, independentemente de estarmos no alto ou em baixo na escala social, têm impacto em todos estes sistemas. E o que interessa é que temos que encontrar formas — se queremos, de facto, abordar a sustentabilidade — de interligar estes sistemas complexos e fazer escolhas melhores que resultem em ganhos ambientais. O que precisamos de fazer é aprender a fazer mais com menos. Temos uma população crescente, e toda a gente gosta dos seus telemóveis — especialmente numa situação como esta. Precisamos de encontrar formas inovadoras de resolver parte dos problemas que enfrentamos. E é aí que entra um processo chamado "pensar o ciclo de vida". Na essência, tudo o que é criado passa por uma série de fases de um ciclo de vida e utilizamos este processo científico, chamado avaliação do ciclo de vida — nos EUA, vocês dizem análise do ciclo de vida — a fim de ter uma imagem mais clara de como tudo o que fazemos na parte técnica desses sistemas afeta o ambiente natural. Por isso, percorremos o caminho inverso até à extração das matérias-primas, e depois analisamos o fabrico, observamos o empacotamento e o transporte, a utilização e o fim da vida. Em cada uma destas fases. as coisas que fazemos têm uma interação com o ambiente natural, e podemos monitorizar como essa interação está a afetar os sistemas e serviços que tornam possível a vida na Terra. E, ao fazer isso, aprendemos coisas absolutamente fascinantes. E desmontámos uma série de mitos. Para começar, há uma palavra que se usa muito. Usa-se imenso na publicidade, e usa-se muito, acho eu, nas nossas conversas quando falamos sobre sustentabilidade. É a palavra "biodegradável". Ora bem, a biodegradabilidade é uma propriedade material; não é uma definição de benefícios ambientais. Passo a explicar. Quando uma coisa natural, uma coisa que é feita de fibra celulósica, como um bocado de pão ou qualquer desperdício de comida, ou até mesmo um bocado de papel, quando uma coisa natural acaba no ambiente natural, degrada-se normalmente. As pequenas moléculas de carbono que guardou, enquanto cresceu, libertam-se naturalmente regressando à atmosfera sob a forma de dióxido de carbono. Mas esta é uma situação especial. A maior parte das coisas naturais não acaba na natureza. A maior parte das coisas, o lixo que produzimos, acaba num aterro sanitário. Um aterro sanitário é um ambiente diferente. Num aterro sanitário, essas mesmas moléculas de carbono degradam-se de modo diferente, porque um aterro sanitário é anaeróbico. Não tem oxigénio. Está fortemente compactado e quente. Estas mesmas moléculas transformam-se em metano e o metano é um gás com efeito de estufa 25 vezes mais potente do que o dióxido de carbono. Portanto, as alfaces e produtos velhos que deitamos fora e que são feitos de materiais biodegradáveis, se acabarem num aterro, contribuem para a mudança climática. Atualmente, há instalações que podem captar este metano e gerar energia, substituindo a necessidade da energia de combustíveis fósseis, mas precisamos de ser inteligentes quanto a isto. Precisamos de identificar como podemos começar a compensar este tipo de coisas que já estão a acontecer e começar a conceber sistemas e serviços que atenuem esses problemas. Porque, neste preciso momento, o que as pessoas fazem, é dizer: "Vamos proibir os sacos de plástico e dar sacos de papel às pessoas "porque é melhor para o ambiente". Mas se os deitarmos no lixo e o nosso aterro sanitário local for um aterro normal, temos aquilo a que se chama uma dupla negação. A minha profissão é "designer" de produtos. Depois estudei ciências sociais. E sou completamente fascinada pelos bens de consumo e pela forma como os bens de consumo, em que quase não reparamos e que invadem a nossa vida, têm um impacto no ambiente natural. E essas coisas são uma espécie de criminosos em série. Tenho quase a certeza que toda a gente nesta sala tem um frigorífico. Ora bem, os EUA têm a capacidade espantosa de continuar a aumentar os frigoríficos. Nos últimos anos, aumentaram o tamanho "standard" de um frigorífico, em média, em 28 litros. E o problema é que agora são tão grandes que é mais fácil comprarmos mais comida que não conseguimos comer nem encontrar. — eu tenho coisas no fundo do meu frigorífico que estão lá há anos, não é? E o que acontece é que desperdiçamos mais comida. E eu já referi que o desperdício de comida é um problema. Aqui nos EUA, de todos os alimentos que levamos para casa 40% são desperdiçados. Metade da comida produzida em todo o mundo é desperdiçada! Isto é a última estatística das Nações Unidas. Metade da comida! É uma loucura! São 1300 milhões de toneladas de comida por ano! E eu culpo o frigorífico, — especialmente nas culturas ocidentais — porque torna isso mais fácil. Ou seja, há uma série de sistemas complexos envolvidos nisto. Não quero tornar as coisas simplistas, mas o frigorífico contribui muito para isso e uma das suas características é a gaveta das verduras. Todos vocês têm gavetas de verduras? A gaveta onde colocam as alfaces? As alfaces têm o mau hábito de ficarem moles nessa gaveta, não é? Sim? Alfaces moles? No Reino Unido, isso é um problema tão grande que, há uns anos, houve um relatório do governo, que dizia que o segundo maior causador de comida desperdiçada no Reino Unido era a alface mole. Chamaram-lhe Relatório sobre Alface Mole. Ok? É mesmo um grande problema. Essas pobres alfacinhas estão a ser atiradas aos quatro ventos, porque as gavetas das verduras não estão concebidas para manterem as coisas estaladiças. Ok. É preciso um ambiente fechado. É preciso um ambiente, tipo vácuo para impedir a degradação que acontece naturalmente. Mas as gavetas de verduras não passam de uma gaveta com uma vedação um pouco melhor. Eu sou obcecada com isto. Não me convidem para vossa casa, porque eu vou logo ver o vosso frigorífico e observar todas as coisas deste género. Mas, essencialmente, isto é um grande problema. Porque, quando perdemos uma coisa como a alface, no sistema, não só temos aquele impacto de que vos falei, no fim da vida, como temos que produzir mais alfaces. O impacto do ciclo de vida daquela alface é astronómico. Temos que limpar o terreno. Temos que lhe meter sementes, fósforo, fertilizantes, nutrientes, água, luz solar. Todos os impactos introduzidos naquela alface são perdidos para o sistema. o que os torna num impacto ambiental muito maior do que a perda de energia do frigorífico. Portanto, precisamos de conceber muito melhor coisas como estas se quisermos começar a abordar graves problemas do ambiente. Podemos começar pela gaveta das verduras e o tamanho. Se houver aqui na sala alguém que desenhe frigoríficos, seria ótimo. O problema é que... Imaginem se começássemos a repensar como concebemos as coisas... Considero que o frigorífico é um sinal de modernidade, mas na realidade não mudámos muito a sua conceção desde os anos 50. Talvez um pouco, mas continuam a ser grandes caixas, caixas de frio onde guardamos comida. Portanto, imaginem se começássemos a identificar esses problemas e usássemos isso como a base para encontrar soluções de "design", inovadoras e elegantes que resolvessem esses problemas. É isso a mudança de sistema, motivada pelo "design", o "design" a ditar a forma como o sistema pode ser muito mais sustentável. Quarenta por cento de desperdício de comida é um grande problema. Imaginem se desenhássemos frigoríficos que reduzissem isso para metade... Outro artigo que considero fascinante é a chaleira elétrica. Descobri que vocês aqui neste país, não fabricam chaleiras, pois não? Mas no Reino Unido é uma coisa em grande. Noventa e sete por cento dos lares familiares no Reino Unido têm uma chaleira elétrica. São muito populares. E, se eu fosse trabalhar para uma empresa de "design" ou para um "designer", e eles estivessem a desenhar uma, e quisessem fazê-la ecológica, habitualmente perguntar-me-iam duas coisas. Diriam: "Leyla, o que é que eu faço para a tornar eficaz tecnicamente?" Porque, obviamente, a energia é um problema com este produto. Ou então: "Como é que a faço com materiais verdes? "Como é que utilizo materiais verdes no fabrico?" Vocês far-me-iam essas perguntas? Parecem lógicas, não é? Pois é.. Eu diria: "Vocês estão a olhar para os problemas errados". Porque o problema está na utilização. Está na forma como as pessoas usam os produtos. Sessenta e cinco por cento dos britânicos confessam que enchem demasiado as chaleiras quando precisam apenas de uma chávena de chá. Toda essa água a mais que está a ser aquecida exige energia. E já se calculou que um dia de uso dessa energia extra das chaleiras a ferver bastaria para iluminar todos os candeeiros da rua da Inglaterra, durante uma noite. Mas isto é o que chamamos uma falha produto-pessoa. Mas também temos uma falha de produto-sistema com estas coisinhas. Elas são tão omnipresentes que nem sequer reparamos que elas estão aqui. Mas este rapaz aqui, esse sabe. Chama-se Simon. Simon trabalha para a companhia nacional de eletricidade no Reino Unido. Tem a tarefa muito importante de monitorizar toda a eletricidade que entra no sistema para assegurar que é suficiente para levar a energia a casa de toda a gente. Também está a ver televisão. A razão é que há um fenómeno especial que acontece no Reino Unido, o momento em que acabam os programas de TV mais populares. No exato minuto em que começa a publicidade, este homem tem que ir a correr comprar energia nuclear a França, porque toda a gente liga as chaleiras ao mesmo tempo! (Risos) Um milhão e meio de chaleiras, é um grave problema. Imaginem pois, se vocês desenhassem chaleiras, que descobriam uma forma de resolver estas falhas do sistema, porque isto exerce uma enorme pressão no sistema, apenas porque o produto não pensou no problema que vai ocorrer quando aparecer no mundo. Ora bem, eu olhei para uma série de chaleiras disponíveis no mercado, e descobri que as linhas de enchimento mínimo, — as pequenas informações que nos dizem quanta água é preciso pôr lá dentro — era entre duas a cinco chávenas e meia de água para fazer apenas uma chávena de chá. Esta chaleira aqui é um exemplo de uma que tem dois reservatórios. Um deles é uma câmara de aquecimento e a outra é o reservatório da água. O utilizador tem que carregar neste botão para a água ferver. O que significa que, como somos todos preguiçosos, só enchemos exatamente a quantidade de que precisamos. E é a isto que eu chamo produtos que mudam os comportamentos: produtos, sistemas ou serviços que intervêm e resolvem estes problemas antecipadamente Ora bem, esta é uma arena de tecnologia, obviamente estas coisas são muito populares, mas penso que, se vamos continuar a desenhar, comprar, usar e deitar fora este tipo de produtos ao ritmo que estamos a fazer, que é astronomicamente alto... Há sete mil milhões de pessoas que vivem no mundo presentemente... Havia seis mil milhões de assinaturas de telemóveis no ano passado. Em cada ano que passa, sai um milhão e meio de telemóveis das linhas de produção e algumas companhias afirmam que o seu ritmo de produção é maior do que a taxa de nascimento humano. No ano passado, nos EUA, foram deitados fora 152 milhões de telemóveis; apenas 11% foram reciclados. Eu sou australiana. Temos uma população de 22 milhões e — não se riam — e foi declarado que há 22 milhões de telemóveis nas gavetas das pessoas. Temos que encontrar maneiras de resolver os problemas daqui decorrentes porque estas coisas são muito complicadas. Têm tanta coisa metida dentro delas. Ouro! Sabiam que é mais barato, hoje em dia, obter ouro a partir de uma tonelada de telemóveis velhos do que de uma tonelada de minério de ouro!? Há uma série de materiais altamente complexos e valiosos incorporados nestas coisas, por isso temos que encontrar formas de encorajar a sua desmontagem, porque, senão, é isto que acontece. Isto é uma comunidade no Gana, e as Nações Unidas relatam que há um tráfico de lixo eletrónico de mais de 50 milhões de toneladas. É assim que eles obtêm o ouro e os outros materiais valiosos. Queimam o lixo eletrónico a céu aberto. São comunidades, e isto está a acontecer em todo o mundo. E como nós não vemos as ramificações das escolhas que fazemos, enquanto "designers", enquanto empresários, enquanto consumidores, acontece este tipo de efeitos laterais, e trata-se da vida das pessoas. Portanto, precisamos de encontrar soluções mais inteligentes, mais baseadas em sistemas, mais inovadoras, para estes problemas, se queremos começar a viver sustentadamente neste mundo. Imaginem pois, quando comprarem um telemóvel novo, porque estão a substituir o antigo — a propósito, 15 a 18 meses é o tempo médio de substituição dos telemóveis — se continuarmos a manter este tipo de comportamento de substituição de telemóveis, devemos olhar para o fecho do ciclo destes sistemas. As pessoas que produzem estes telemóveis, e algumas delas, de certeza, estão nesta sala, podiam tentar fazer o que chamamos sistemas de ciclo fechado, ou serviços de sistemas de produtos, identificando que há uma procura no mercado e que essa procura no mercado não vai a parte alguma, e então conceber o produto para resolver o problema. Conceber a desmontagem, conceber um peso leve. Ouvimos dizer que algumas estratégias deste tipo estão a ser usadas hoje nos carros Tesla Motors. Este tipo de abordagens não são difíceis, mas compreender o sistema e depois olhar para alternativas viáveis e orientadas para a procura do consumidor é o modo como podemos começar a alterar radicalmente a agenda de sustentabilidade, porque, odeio ter que vos dizer isto: O consumo é o maior problema. Mas o "design" é uma das melhores soluções. Este tipo de produtos estão por todo o lado. Identificando formas alternativas de fazer as coisas, podemos começar realmente a inovar, e digo, começar realmente a inovar. Tenho a certeza de que toda a gente nesta sala é muito inovadora. Mas no que se refere a usar a sustentabilidade como parâmetro, como um critério para alimentar soluções baseadas em sistemas, porque, como acabei de demonstrar com estes produtos simples, estão a participar nestes grandes problemas. Portanto, temos que olhar para a vida completa das coisas que fazemos. E se apenas tiverem papel ou plástico — obviamente o reutilizável é muito mais benéfico — então o papel é pior. E o papel é pior porque pesa 4 a 10 vezes mais do que o plástico, e quando comparamos, na perspetiva de um ciclo de vida, um quilo de plástico e um quilo de papel, o papel é muito melhor, mas a funcionalidade de um saco de plástico ou de um saco de papel para levar as mercearias para casa não se faz com um quilo de cada material. Faz-se com uma pequena quantidade de plástico e com muito mais papel. Porque é a funcionalidade que define o impacto ambiental e eu disse há bocado que os "designers" me pedem sempre materiais ecológicos, Digo que só há alguns materiais que temos que evitar totalmente, O resto, depende da sua aplicação. Tudo o que concebemos e produzimos na economia ou compramos , é feito para a função. Queremos uma coisa e, portanto, compramo-la. Portanto, analisando retroativamente e fornecendo soluções inteligentes, elegantes e sofisticadas que tomem em consideração todo o sistema e toda a vida da coisa, tudo o que vai desde o momento da extração, até ao fim da vida, podemos começar a encontrar soluções realmente inovadoras. Vou deixar-vos com uma coisa muito breve que um "designer" sénior, com quem trabalho, me disse há pouco tempo. Perguntei-lhe: "Porque é que não trabalhas a sustentabilidade? "Eu sei que conheces isso." E ele disse: "Há pouco tempo apresentei um projeto de sustentabilidade e aconteceu que o cliente me disse: "Sei que vai sair mais barato, "sei que vai vender-se mais, "mas nós não somos pioneiros, "porque os pioneiros apanham com setas pelas costas". Acho que temos aqui uma sala cheia de pioneiros, e espero que haja muitos mais pioneiros lá fora, porque precisamos de resolver estes problemas. Obrigada. (Aplausos)