Em nossa cultura, falar sobre o futuro às vezes é um modo educado de dizer coisas sobre o presente que seriam, de outra forma, rudes ou arriscadas. Mas você já se perguntou por que tão pouco do futuro brilhante prometido no TED ocorre de fato? É algo errado com as ideias? Ou com a noção do que ideias podem fazer por si mesmas? Escrevo sobre a conexão entre tecnologia e cultura, como as tecnologias fazem certas composições de certos mundos possíveis, como a cultura, por sua vez, alicerça a evolução dessas tecnologias. É onde filosofia e projeto se interceptam. Portanto, a conceituação de possibilidades é algo que eu levo muito a sério. E é por essa razão que eu, e muitas pessoas, pensamos que é tempo de recuar e nos fazer algumas sérias perguntas sobre a viabilidade intelectual de coisas como o TED. Então, minha palestra não é sobre meu trabalho, meu novo livro - a conversinha de sempre - é sobre o TED - o que é, e porque não funciona. O primeiro motivo é simplificação demasiada. Agora, para ser claro, não sou contra a ideia de pessoas interessantes que fazem coisas inteligentes explicarem seu trabalho de um modo que todos possam entender. Mas o TED vai além disso. Deixem-me contar uma história. Recentemente, estava numa apresentação que um astrofísico amigo meu estava fazendo a um potencial doador. E eu achei que sua palestra foi lúcida, cativante - e sou professor de artes visuais na Uni de San Diego, sendo assim, não sei nada de astrofísica. O doador, no entanto, disse: "Desisto, não me motivou Você deveria ser mais como Malcolm Gladwell." Agora, neste ponto fiquei perdido. Você consegue imaginar? Quero dizer, pense o seguinte: um cientista que cria conhecimento verdadeiro deveria agir como um jornalista que recicla falsas percepções! Isso não é fazer algo popular. Isso é pegar algo com essência e valor e ir simplificando para que possa ser engolido sem mastigar. Não é assim que se confrontam os problemas mais alarmantes - este é um dos problemas mais alarmantes. E então... o que é o TED? O TED é talvez uma proposta, que diz que se falarmos o suficiente sobre ideias que mudem o mundo, logo o mundo mudará. Isso também não é verdade. E este é o segundo problema. O TED significa: Tecnologia, Entretenimento, Projeto. Pra mim, o TED significa infodivertimento pseudointelectual megarreligioso. O principal dispositivo retórico em qualquer palestra do TED é uma combinação de epifania e depoimento pessoal. O palestrante partilha uma história sua sobre percepções e revelações, seus ensaios e aflições. O que uma audiência do TED espera disso? Uma percepção vicária? Um ligeiro momento de admiração? Um sentimento de que talvez tudo dará certo no final? Um burburinho espiritual? Bem, me desculpem, mas isso não está à altura do desafio que temos aparentemente de encarar. Eles são complexos e difíceis e suas soluções não são simplórias. Eles não se preocupam com a experiência de alguém sobre otimismo. E na melhor das hipóteses é desperdício de tempo do palestrante - e o do público - dançando como apresentadores de comercial é um preço muito alto. E isso é cínico. Mais: isso simplesmente não funciona. Recentemente, TEDGlobal enviou um memorando para os organizadores do TEDx pedindo evitar chamar palestrantes cujo trabalho fosse ligado a paranormalidade, conspirações, 'neuroenergia quântica', e assim por diante - o que é chamado uou! Deveriam chamar aqueles cujo trabalho seja imaginativo, porém baseado na realidade. E, para ser sincero, TEDGlobal sofreu críticas quanto a isso, logo a atitude deveria ser reconhecida. 'NÃO' à ciência placebo e à medicina placebo. Mas - o corolário paras ciências e medicinas placebo é política placebo e inovação placebo, E nessa marcha, o TED tem um caminho pela frente. Talvez o auge da política placebo foi mostrado no TEDxSanDiego há alguns anos. Acho que esteja familiarizado com a campanha midiática social Kony2012? OK, então, o que aconteceu? O surfista evangélico vai pra África. Faz vídeos amador explicando o genocídio para o elenco de Glee. (Risos) O mundo acha que sua epifania é superficial a ponto de auto ilusão. A complexa geopolítica da África central é deixada de lado. Kony ainda está lá. Fim. Você vê, quando inspiração se torna manipulação, ela se torna ilusão. E se você não é cínico, deve ser cético. Você deveria ser tão cético em relação à política placebo quanto à medicina placebo. Então... T - E - D. Primeiro, Tecnologia. Nos dizem que não só as mudanças estão acelerando, mas que sua velocidade também. E, em termos do nível da capacidade computacional planetária, isso é verdade. Mas, ao mesmo tempo - e na verdade ambas estão relacionadas - estamos num momento de desaceleração cultural. Investimos nossas energias em tecnologias de informação futurísticas, incluindo nossos carros, mas dirigimo-los para nossa casa de estilo cafona copiado do século XVIII. O futuro ofertado é um no qual tudo pode mudar, desde que tudo permaneça igual. Teremos Google Glass, mas ainda teremos o estilo casual de negócios. Esta timidez não é nosso caminho para o futuro. Isso é incrivelmente conservador. E mais gigaflops não vão nos inocular. Porque, se um problema é endêmico a um sistema, então os efeitos exponenciais da lei de Moore também amplificam que está quebrado. É mais computação ao longo da curva errada, e dificilmente acredito que é um triunfo da Razão. Muitos dos meus trabalhos lidam com mudanças tecnoculturais profundas, do pós-humanismo ao pós-antropocêntrico, mas a versão TED tem muita fé na tecnologia, mas não o engajamento necessário com a tecnologia. É um tecnoradicalismo placebo, brincando com risco, somente para reafirmar o confortável. E assim nossas máquinas se tornam mais inteligentes e nós mais burros. Mas não há de ser assim. Os dois podem ser muito mais inteligentes. Um outro futurismo é possível. Um melhor 'E' em TED poderia significar Economia, e sim, imaginando e planejando novos sistemas de avaliação, de troca, de contabilidade para externalidades nas transações, de financiar planejamento coordenado, e por aí vai. Porque estados e mercados, estados versus mercados, são modelos insuficientes, o pensamento está emperrado na marcha da Guerra Fria. E o pior é quando economia é debatida como metafísica, como se qualquer sistema real fosse apenas um mal exemplo do ideal. Comunismo em teoria é uma utopia igualitária. A real existência do comunismo acarretaria devastação ecológica, espionagem do governo, carros de bosta, gulags. Capitalismo em teoria é espaçonave, nanomedicina, Bono salvando a África. (Risos) A real existência do capitalismo acarreta empregos no Walmart, McMansões, pessoas vivendo em esgotos em Las Vegas, Ryan Seacrest (Risos) Além de devastação ecológica, espionagem do governo, transporte público decadente, e prisões com fins lucrativos. E, ainda, as alternativas oferecidas vão de basicamente o que já temos mais um pouco de Hayek, até o que já temos mais um pouco de Keynes. Por quê? Os séculos recentes viram avanços tremendos na melhoria da qualidade de vida Mas o paradoxo é que o sistema que temos agora - como queira chamá-lo - é em curto prazo o que faz essas novas tecnologias possíveis, mas em longo prazo é o que suprime o total florescimento. Uma nova arquitetura econômica é pré-requisito. 'D' - Design. Talvez nossos designers, em vez de fazer protótipos do mesmo projeto mudando gente para melhor, de novo e de novo e se perguntando porque não são implementados em escala, deveríamos saber que aquele projeto não é uma resposta mágica. O projeto é muito importante, mas por razões diferentes. Ficar animado em relação à projeto é fácil porque, assim como falar sobre o futuro, é mais educado que lidar com os elefantes brancos reais que estão na sala. Tais como telefones, drones, e genomas. É isso que fazemos aqui em San Diego e La Jolla. E além do que todas as coisas maravilhosas que essas tecnologias fazem, também são a base para a espionagem NSA, robôs voadores que matam pessoas, e toda a privatização indiscriminada da vida biológica. Isso também é algo que fazemos. Então veja, o potencial para estas tecnologias é tanto maravilhoso quanto horripilante, e então guiá-las em direção a um futuro bom, design como inovação; não é forte o bastante como uma ideia por si só. Precisamos falar muito mais sobre design como imunização, ativamente prevenindo certas "inovações" que não queremos que ocorram Portanto, uma ideia mágica, eu não tenho. Esse é o ponto. (Risos) Talvez eu possa arriscar dizendo que se nossa espécie quisesse muito resolver seus piores problemas, talvez muitos de nós nesta sala estariam desempregados ou talvez na cadeia. Mas não é como se não tivéssemos muitas coisas importantes para falarmos. Precisamos de uma discussão mais profunda da diferença entre cosmopolitanismo digital e feudalismo nas nuvens. E enquanto a isso, uma estranha história da ciência da computação, O aniversário de Alan Turing como feriado. Gostaria de novos mapas mundi, uns não baseados no colonialismo, legado de genomas, e mitos da era do bronze mas algo mais... expansível. Mas TED hoje não é isso. Nossos problemas não são quebra-cabeças a para montar. Essa metáfora assume que todas as peças necessárias já estão na mesa - só devem ser arrumadas. Não é verdade. Inovação; definida pelo quebra-cabeças, como o rearranjo das peças e aumentando o poder de processamento, não é uma grande ideia que vai romper com o status quo doentio - isso é precisamente o status quo doentio. Um palestrante do TED disse recentemente sobre seu trabalho, "Agora que a fronteira foi removida a única fronteira restante é nossa imaginação". Errado. Se realmente queremos transformação, temos de passar pelas partes difíceis - a história, economia, filosofia, arte, ambiguidades e contradições. Porque focar unicamente em tecnologia, unicamente em inovação, na verdade previne a transformação. Precisamos elevar o nível de entendimento geral para o nível da complexidade dos sistemas em que estamos embutidos e que estão embutidos em nós. E isso não é sobre "histórias pessoais de inspiração". É sobre o difícil trabalho de desmistificação e reconceitualização. Mais Copérnico, menos Tony Robbins Num nível social, o ponto de partida é que se investimos em algo que nos faz sentir bem, mas que não funcionam, e não investimos em algo que não nos fazem sentir bem, mas podem resolver o problema, então nosso destino é que, a longo prazo, só vai se tornar mais difícil se sentir bem por não resolver os problemas. E neste caso, o placebo não é só ineficiente - é danoso. Porque ele toma seu interesse, energia, ultraje, e desvia para o buraco negro da afetação. "Mantenha a calma e continue inovando" - é essa a real mensagem do TED? Para mim isso não é inspiracional, é cínico. Nos EUA, os grupos de direita tem canais de mídia que permitem isolar a realidade. Outros eleitorados tem o TED. Obrigado pelo seu tempo. (Aplausos)