No mês passado,
a Encyclopædia Britannica anunciou
que ia deixar de publicar
depois de 244 anos,
o que me fez ficar nostálgico,
porque me lembro de jogar a um jogo
com a colossal enciclopédia
que estava na biblioteca
da minha cidade natal,
quando eu era miúdo,
talvez com 12 anos de idade.
Comecei a pensar se conseguiria
atualizar aquele jogo,
não só para métodos modernos,
mas para o meu eu moderno.
Por isso tentei.
Fui a uma enciclopédia online,
a Wikipédia,
e escrevi o termo "Terra".
Podemos começar com qualquer um,
desta vez escolhi "Terra".
A primeira regra do jogo
é muito simples.
Só têm de ler a descrição
até encontrarem alguma coisa
que não sabem,
e, de preferência, nem sequer o vosso pai.
Neste caso, depressa descobri isto:
o ponto mais afastado do centro da Terra
não é o topo do Monte Evereste,
como eu podia ter pensado.
É o topo desta montanha:
o Monte Chimborazo, no Equador.
A Terra gira, claro,
enquanto viaja em torno do Sol,
por isso a Terra incha
um pouco no meio
— tal como alguns terráqueos.
Apesar de o Monte Chimborazo
não ser a montanha mais alta dos Andes,
está a 1º de distância do Equador
por cima daquela saliência
e, portanto, o cume do Chimborazo
é o ponto na Terra mais afastado
do centro da Terra.
É mesmo engraçado de dizer.
Por isso, decidi imediatamente:
isto vai ser o nome do jogo,
ou a minha nova exclamação.
Podem usá-la nas TED.
"Chimborazo!", certo?
É como se "eureka" e "bingo"
tivessem tido um bebé.
Não sabia aquilo
e é muito giro.
"Chimborazo!"
A segunda regra do jogo
também é muito simples.
Só têm de encontrar
um novo termo e procurá-lo.
Nos velhos tempos, isso significava
ir buscar outro volume,
folheá-lo alfabeticamente,
talvez fazendo uns desvios,
era divertido.
Agora, há centenas de links
que podemos escolher.
Posso ir a qualquer sítio do mundo.
Como já estava no Equador,
decidi simplesmente
clicar na palavra "tropical".
Isso levou-me até esta região quente
e húmida dos trópicos
que circunda a Terra.
A norte temos o Trópico de Câncer
e no sul o Trópico de Capricórnio.
Isso eu já sabia, mas fiquei surpreendido
ao descobrir este pequeno facto:
estas não são linhas cartográficas,
como a latitude ou as fronteiras
entre nações,
são fenómenos astronómicos resultantes
da inclinação da Terra,
e alteram-se.
Movem-se; andam para cima,
andam para baixo.
Durante anos, o Trópico de Câncer
e o Trópico de Capricórnio
têm-se constantemente desviado
na direção do Equador
a uma taxa de aproximadamente
15 metros por ano.
Ninguém me disse isso.
Eu não fazia ideia.
"Chimborazo!"
Para prosseguir o jogo, só tenho de
escolher outro termo e procurá-lo.
Como já estou nos trópicos,
escolhi "floresta tropical".
Famosas pela sua diversidade,
diversidade humana.
Ainda há dezenas e dezenas de tribos
com que nunca contactámos.
a viver neste planeta.
Encontram-se por todo o globo,
mas praticamente todas elas
vivem em florestas tropicais.
Estes são os únicos lugares
onde podemos ir hoje em dia
sem receber um "pedido de amizade".
O link em que eu cliquei aqui
era exótico no início
e depois absolutamente
misterioso mesmo no fim.
Mencionava leopardos
e coatis de cauda anelada.
rãs venenosas e jiboias
e depois coleópteros,
que vim a descobrir serem escaravelhos.
Bom, cliquei neste de propósito
mas, se eu tivesse vindo
parar aqui por acaso,
aconselha, para uma banda, ver Beatles,
para um carro, ver Volkswagen Beetle,
mas aqui são os escaravelhos-beetles.
Esta é, de longe, a ordem de mais
sucesso no planeta.
Qualquer coisa como 20 ou 25% de
todas as formas de vida do planeta,
incluindo as plantas, são escaravelhos.
Portanto, da próxima vez
que forem à mercearia,
olhem para as quatro pessoas
que estão à vossa frente na fila.
Estatisticamente,
um de vocês é um escaravelho.
Se forem vocês,
estão espantosamente bem adaptados.
Há escaravelhos detritívoros que comem
a pele e a carne dos ossos nos museus.
Há escaravelhos predadores
que atacam outros insetos
e conseguem continuar
a parecer-nos queridos.
Há escaravelhos que empurram
pequenas bolas de excrementos
pelo chão do deserto,
fazendo grandes distâncias
para alimentar os seus filhotes.
Isto lembrava os antigos egípcios
do seu deus Khepri,
que renova a bola solar todas as manhãs,
e foi assim que este
escaravelho-rola-excrementos
se tornou o escaravelho sagrado
no peitoral do faraó Tutankhamon.
Alertaram-me para que os escaravelhos
têm o namoro mais romântico
do reino animal.
Os pirilampos não são moscas,
são escaravelhos.
Os pirilampos são coleópteros,
e os coleópteros comunicam
também de outras maneiras.
Como no meu link seguinte:
a linguagem química das feromonas.
A página das feromonas
levou-me para um vídeo
de um ouriço-do-mar a fazer sexo.
Sim!
(Risos)
E o link para "afrodisíaco"
— que é algo que aumenta o desejo sexual,
possivelmente o chocolate.
Há um composto no chocolate,
chamado feniletilamina,
que pode ser afrodisíaco.
Mas, como o artigo refere,
devido à degradação enzimática
é improvável que a feniletilamina atinja
o cérebro se tomada oralmente.
Portanto, quem só come chocolate,
pode ter de experimentar.
O link em que eu cliquei aqui,
"magia simpática",
sobretudo porque conheço
o significado de ambas estas palavras.
Mas não destas duas palavras juntas.
Gosto de simpatia. Gosto de magia.
Quando clico então em "magia simpática",
obtenho magia simpática e bonecas vudu.
E a criança em mim teve sorte outra vez.
Magia simpática é imitação.
Se imitarem alguma coisa,
talvez consigam ter um efeito nela.
É essa a ideia por trás das bonecas vudu,
e possivelmente também
das pinturas rupestres.
O link para "pinturas rupestres" leva-me
até alguma da arte mais antiga
conhecida pela humanidade.
Adoraria ver os mapas Google
dentro destas grutas.
Temos obras de arte com dezenas
de milhares de anos.
Temas comuns à volta do mundo
incluem grandes animais selvagens
e traços de mãos humanas,
geralmente a mão esquerda.
Somos uma tribo
predominantemente dextra há milénios,
por isso, embora eu não saiba
porque é que uma pessoa do Paleolítico
haveria de deixar marcada a sua mão
ou de pintá-la com pigmentos
soprados de um tubo,
consigo facilmente imaginar
como é que o fez.
Acho que não devia ser diferente
daquele pequeno e dominante "avatar",
que vou agora mesmo usar
para clicar no termo "mão",
ir para a página "mão", onde encontrei
a trivialidade mais divertida
e possivelmente mais embaraçosa
que encontrei nos últimos tempos
e é simplesmente isto:
As costas da mão são formalmente
chamadas de "opistenar".
Isto é embaraçoso porque, até agora,
cada vez que eu dizia:
"conheço-o como as costas da minha mão"
o que eu queria dizer era:
"conheço-o totalmente...
"só não sei o raio do seu nome".
E o link em que eu cliquei aqui,
lémures, macacos e chimpanzés
têm o pequeno opistenar.
Clico no chimpanzé,
e temos o nosso parente
mais próximo geneticamente.
"Pan troglodytes" o nome que lhe damos,
significa "habitante de grutas".
Coisa que ele não é.
Vive nas florestas tropicais
e nas savanas.
É só porque pensamos sempre nele
como estando atrás de nós,
evolutivamente ou
estranhamente a seguir-nos,
e nalguns casos,
chega a lugares antes de nós.
Como o meu próximo link,
o link quase irresistível,
"Ham, o Chimpanzé Astronauta".
Clico nele e pensei que me ia
levar para o mesmo sítio outra vez.
Ele nasceu nos Camarões,
que está mesmo no meio
do meu mapa dos trópicos,
e, mais especificamente, o seu esqueleto
acabou no Museu Smithsonian
a ser limpo por escaravelhos.
Entre estes dois marcos na vida do Ham,
ele foi ao espaço.
Ele experimentou a ausência de gravidade
e voltou a ir meses antes
de o primeiro homem o fazer,
o cosmonauta soviético Yuri Gagarin.
Quando clico na página de Yuri Gagarin,
aparece-me este homem
que era surpreendentemente
pequeno de estatura, enorme em heroísmo.
As melhores estimativas soviéticas
davam-lhe 1,65 m de altura,
que é menos do que cinco pés e meio
de altura, no máximo,
talvez por ter sido malnutrido em criança.
Os alemães ocuparam a Rússia.
Um oficial nazi instalou-se
na casa de Gagarin,
e ele e a sua família construíram
e viveram numa casa subterrânea.
Anos mais tarde, o rapaz daquela
apertada casa subterrânea
tornar-se-ia o homem
naquela apertada cápsula
na ponta de um foguetão
que se voluntariou
para ser lançado para o espaço,
o primeiro de todos nós
que saiu fisicamente deste planeta.
E não só o deixou,
circundou o planeta uma vez.
Cinquenta anos depois, como tributo,
a Estação Espacial Internacional,
que ainda está lá em cima,
sincronizou a sua órbita com a de Gagarin,
exatamente na mesma hora do dia,
e filmou isto.
Podemos ir à Internet e assistir
a mais de 100 minutos
do que deve ter sido uma volta
absolutamente hipnotizante,
possivelmente solitária,
da primeira pessoa
que viu uma coisa destas.
Quando já tiverem o vosso quinhão disso,
podem clicar em mais um link.
Podem regressar à Terra.
Voltam aonde começaram.
Podem acabar o vosso jogo.
Só precisam de encontrar
mais um facto que não conheciam.
E eu aterrei rapidamente neste:
A Terra tem uma tolerância
de cerca de 0,17%
relativamente ao esferoide de referência,
que é menos do que os 0,22% permitidos
nas bolas de bilhar.
Este é o tipo de facto
que eu teria adorado em criança.
Descobri-o por mim mesmo.
Tem alguma matemática que eu posso fazer.
Tenho a certeza de que o meu pai
não sabe isto.
O que isto significa é que,
se encolhêssemos a Terra
até ao tamanho de uma bola de bilhar,
se pudéssemos pegar na Terra,
com todos os seus cumes e grutas,
florestas tropicais, astronautas
e tribos incontactadas,
chimpanzés, bonecas vudu,
pirilampos, chocolate,
criaturas marinhas a fazer amor
no oceano azul profundo,
e a encolhêssemos até ao tamanho
de uma bola de bilhar,
seria tão lisa como uma bola de bilhar,
presumivelmente uma bola de bilhar
com uma pequena saliência
no meio, a toda à volta.
Isto é mesmo fixe.
Não sabia isto.
"Chimborazo"!
Obrigado.
(Aplausos)