Quando as pessoas pensam sobre cidades,
tendem a imaginar algumas coisas.
Pensam em prédios, ruas,
arranha-céus, táxis barulhentos.
Mas quando eu penso em cidades,
eu penso em pessoas.
As cidades compõem-se
fundamentalmente de pessoas,
e aonde elas vão
e onde elas se encontram
são a essência do funcionamento
de uma cidade.
Ainda mais importantes do que
os prédios em uma cidade
são os espaços públicos entre eles.
E hoje, algumas das mudanças
mais impactantes nas cidades
estão acontecendo nesses espaços públicos.
Então eu acredito que espaços
públicos vivos e agradáveis
são a chave para planejar uma boa cidade.
São eles que lhe dão vida.
Mas o que faz um espaço público funcionar?
O que atrai as pessoas para
espaços públicos bem-sucedidos
e o que faz com que espaços mal-sucedidos
mantenham-nas distantes?
Eu pensei, se eu pudesse
responder essas perguntas,
eu poderia contribuir muito
com a minha cidade.
Mas uma das coisas mais esquisitas em mim
é que eu sou uma comportamentalista animal
e uso essa técnica não para
estudar o comportamento animal,
mas para estudar como
as pessoas nas cidades
usam os espaços públicos urbanos.
Um dos primeiros espaços que estudei
foi um pequeno parque chamado Paley Park,
no centro de Manhattan.
Esse pequeno espaço se tornou
um pequeno fenômeno,
e porque ele teve um impacto tão profundo
nos nova-iorquinos,
causou-me uma enorme impressão.
Estudei esse parque
no começo da minha carreira
porque ele foi construído
por meu padrasto,
então eu sabia que lugares
como o Paley Park
não aconteciam por acaso.
Eu vi em primeira mão que exigiam
uma dedicação incrível
e uma atenção enorme aos detalhes.
Mas o que havia nesse espaço
que o fazia especial
e atraía as pessoas para lá?
Bem, eu me sentava no parque
e observava com muito cuidado,
e, em primeiro lugar, antes de tudo
havia assentos móveis confortáveis.
As pessoas entravam,
achavam seu próprio assento,
moviam-no um pouco, na verdade,
e então ficavam um tempo,
e curiosamente,
e elas mesmas atraíam outras pessoas,
e ironicamente, e me sentia mais tranquila
se houvesse outras pessoas perto.
E era verde.
Esse pequeno parque oferecia
o que os nova-iorquinos anseiam:
conforto e vegetação.
Mas a minha questão era:
por que não havia mais lugares verdes
e lugares para sentar-se no meio da cidade
onde você não se sentisse sozinho,
ou como um intruso?
Infelizmente, não era assim que as cidades
estavam sendo planejadas.
Então aqui vocês veem uma vista familiar.
É assim que as praças têm sido
projetadas por gerações.
Elas têm essa aparência
elegante, espartana
que associamos com frequência
à arquitetura moderna,
mas não é surpreendente que as pessoas
evitem espaços como esse.
Eles não parecem apenas ermos,
parecem muito perigosos.
Quero dizer, onde você se sentaria?
O que você faria?
Mas arquitetos os adoram.
Eles são a base para as suas criações.
Podem tolerar uma escultura ou duas,
mas isso é tudo.
E para os construtores, eles são ideais.
Não há nada para regar, nada para manter,
e não há pessoas indesejadas
com quem se preocupar.
Mas vocês não acham que isso
é um desperdício?
Para mim, tornar-se uma urbanista
significava ser capaz
de realmente mudar a cidade
em que eu vivia e amava.
Eu queria poder criar lugares
que oferecessem a sensação que se tem
em Paley Park,
e não permitir que construtores
fizessem praças sombrias como essa.
Mas ao longo de muitos anos,
aprendi como é difícil
criar espaços públicos bem-sucedidos,
significativos e agradáveis.
Como eu aprendi com o meu padrasto,
eles certamente não ocorrem por acidente,
especialmente em uma cidade
como Nova Iorque,
onde é preciso lutar
por um espaço público,
e para que sejam bem-sucedidos,
alguém tem que pensar muito
sobre cada detalhe.
Bem, os espaços abertos
das cidades são oportunidades.
Sim, eles são oportunidades
para investimentos comerciais,
mas também são oportunidades
para o bem comum da cidade,
e esses dois objetivos nem sempre
estão alinhados um com o outro,
e aí reside o conflito.
A primeira oportunidade
que tive para lutar
por um grande espaço público aberto
foi no início dos anos 1980,
quando eu liderava
uma equipe de urbanistas
num aterro gigantesco
chamado Battery Park City,
na cidade baixa
de Manhattan no Rio Hudson.
E esse deserto de areia
tinha ficado estéril por 10 anos,
e nos disseram que se não
encontrássemos um construtor
em seis meses, ele iria falir.
Assim, nós tivemos uma ideia
radical, quase insana.
Em vez de construir um parque
como complemento
para o desenvolvimento futuro
por que não revertemos a equação
e fazemos primeiro
um espaço público aberto,
pequeno mas de alta qualidade,
e vemos se ele fez a diferença.
Nós só podíamos arcar com a
construção de uma seção de dois blocos
do que se tornaria uma esplanada
com quilômetros de extensão,
de modo que o que fôssemos fazer
tinha que ser perfeito.
Então, só para ter certeza, eu insisti
que fizéssemos uma maquete
em madeira, em escala,
da cerca e do muro de proteção.
E quando eu me sentei
naquele banco de ensaio
com areia ainda rodopiando
em torno de mim,
a grade ficou exatamente
no nível dos olhos,
bloqueando a minha visão
e arruinando a minha experiência
à beira da água.
Então vejam, detalhes
realmente fazem a diferença.
Mas o design não é apenas
a aparência de algo,
é como o seu corpo se sente
naquele lugar naquele espaço,
e eu acredito que o design
de sucesso depende sempre
dessa experiência muito pessoal.
Nessa foto, tudo parece muito acabado,
mas aquela borda granito, aquelas luzes,
as costas daquele banco,
as árvores em plantio,
e os vários tipos de lugares
diferentes para sentar
foram todos pequenas batalhas
que transformaram esse projeto
em um lugar em que
as pessoas queriam estar.
Agora, ele provou ser
muito valioso 20 anos depois
quando Michael Bloomber me pediu para ser
a sua comissária de planejamento
e me colocou no comando da modelagem
da cidade inteira de Nova Iorque.
E ele me disse naquele mesmo dia,
ele disse que Nova Iorque foi projetada
para crescer de oito
a nove milhões de pessoas.
E ele me perguntou,
"Então, onde você vai colocar
um milhão a mais de nova-iorquinos?"
Bem, eu não tinha a menor ideia.
Agora, vocês sabem que Nova Iorque
valoriza muito a atração de imigrantes,
por isso ficamos animados
com a perspectiva de crescimento,
mas, sinceramente, aonde iríamos crescer
em uma cidade que já tinha se expandido
para fora dos seus limites
e era cercada por água?
Como iríamos encontrar moradia
para esses muitos novos nova-iorquinos?
E se não poderíamos espalhar-nos,
que provavelmente era uma coisa boa,
aonde poderiam ir as novas habitações?
E o que dizer dos carros?
Nossa cidade não poderia
lidar com mais carros.
Então, o que iríamos fazer?
Se não poderíamos espalhar-nos,
tínhamos que subir.
E se tínhamos que subir,
precisávamos fazê-lo em lugares
onde não é necessário ter um carro.
Então, aquilo significava usar
um dos nossos maiores bens:
o nosso sistema de trânsito.
Mas nunca tínhamos pensado
em como poderíamos
aproveitá-lo ao máximo.
Então, aqui estava a resposta
para o nosso enigma.
Se fôssemos canalizar e redirecionar
todos as novas expansões
em torno do trânsito,
poderíamos dar conta daquele
aumento da população,
pensávamos.
E aqui estava o plano,
o que precisávamos mesmo fazer:
tínhamos que refazer o nosso zoneamento,
e zoneamento é instrumento regulatório
do planejador da cidade,
e, basicamente, remodelar toda a cidade,
mirando aonde o novo
desenvolvimento poderia ir
e proibindo qualquer avanço
nos nossos bairros feitos para carros
e de estilo suburbano.
Bem, foi uma ideia
incrivelmente ambiciosa,
ambiciosa porque as comunidades
tinham que aprovar aqueles planos.
Então, como eu ia conseguir fazer isso?
Ouvindo. Então eu comecei a ouvir,
na verdade, milhares de horas de escuta
apenas para estabelecer confiança.
Vocês sabem, as comunidades podem contar
se você compreende seus bairros.
Não é algo que você
pode simplesmente fingir.
Então eu comecei a andar.
Não sei dizer quantos blocos eu andei,
nos verões escaldantes,
nos invernos congelantes,
ano após ano,
apenas para que eu pudesse
começar a entender
o DNA de cada bairro
e saber como cada rua era.
Tornei-me uma especialista
em zoneamento incrivelmente nerd,
encontrando maneiras de
o zoneamento atender
às preocupações das comunidades.
Assim, pouco a pouco, bairro a bairro,
bloco a bloco,
começamos a definir limites de altura
para que todo novo desenvolvimento
fosse previsível e próximo ao trânsito.
Ao longo de 12 anos,
pudemos rezonear
124 bairros,
40% da cidade,
12.500 blocos, de modo que agora,
90% de todo novo
desenvolvimento de Nova Iorque
fica a 10 minutos a pé do metrô.
Em outras palavras,
ninguém nos novos edifícios
precisa possuir um carro.
Bem, esses rezoneamentos
foram desgastantes
e debilitantes e importantes,
mas rezonear nunca foi minha missão.
Não vemos o zoneamento
e não sentimos o zoneamento.
Minha missão sempre foi criar
grandes espaços públicos.
Assim, nas áreas que zoneamos
para um desenvolvimento significativo,
eu estava determinada a criar lugares
que fizessem diferença
nas vidas das pessoas.
Aqui vemos o que eram
três quilômetros de uma orla
abandonada e degradada
nos bairros de Greenpoint
e Williamsburg no Brooklyn,
impossível de chegar
e impossível de usufruir.
Agora, o zoneamento ali foi enorme,
de modo que eu senti a obrigação de criar
parques magníficos nessas orlas,
e eu passei uma quantidade
incrível de tempo
em cada centímetro quadrado
desse projeto.
Eu queria ter certeza de que havia
caminhos arborizados
da parte alta para a água,
de que havia árvores
e vegetação em toda parte,
e, é claro, muitos e muitos
lugares para se sentar.
Honestamente, eu não tinha ideia
de como isso iria acabar.
Eu tinha que ter fé.
Mas eu pus tudo o que eu tinha
estudado e aprendido
nesses projetos.
E depois que abriu,
eu tenho que lhes falar, foi incrível.
As pessoas vinham
de todas as partes da cidade
para esses parques.
Eu sei que mudaram as vidas
das pessoas que viviam ali,
mas também toda a imagem
que os nova-iorquinos tinham
da sua cidade.
Eu costumo ir lá e ver as pessoas
entrarem nessa pequena balsa
que agora circula entre os bairros,
e eu não sei dizer por quê,
mas eu fico muito emocionada
pelo fato de as pessoas
estarem usufruindo dela
como se tivesse estado sempre lá.
E aqui está um novo parque
na baixa Manhattan.
A margem da água em Manhattan
era uma completa bagunça
antes de 11 de setembro.
Wall Street estava sem litoral
porque não dava para
chegar perto desta borda.
E depois de 11 de setembro,
a cidade tinha muito pouco controle.
Mas eu pensei que, se nós fôssemos
para a Lower Manhattan
Development Corporation
e pegássemos dinheiro para recuperar
esses três quilômetros
de orla degradada,
isso teria um enorme efeito
na reconstrução da baixa Manhattan.
E teve.
A baixa Manhattan finalmente
tinha uma orla públcia
em todos os três lados.
Eu amo de verdade esse parque.
Sabem, as grades têm
que ser maiores agora,
então colocamos guarda-corpo na borda,
e dá para ficar tão perto da água
que você está praticamente nela.
E vejam como a grade amplia
e fica plana para permitir colocar
o seu lanche ou o seu laptop.
E eu adoro quando as pessoas vão lá
e olham para cima e dizem:
"Uau, ali está o Brooklyn,
e está tão perto."
Então, qual é o truque?
Como transformar um parque
em um lugar em que
as pessoas querem estar?
Bem, isso cabe a você,
não como um urbanista,
mas como um ser humano.
Você não faz uso
do seu conhecimento em design.
Você usa a sua humanidade.
Quero dizer, você gostaria de ir para lá?
Você gostaria de estar ali?
Você pode ver dentro dele e fora dele?
Há outras pessoas lá?
Parece verdejante e amigável?
Você pode encontrar um lugar para você?
Bem, agora, por toda
a cidade de Nova Iorque,
há lugares onde vocês podem
encontrar um lugar para vocês.
Onde costumava haver lugares
de estacionamento,
há agora cafés temporários.
Onde o tráfego da Broadway
costumava passar,
há agora mesas e cadeiras.
Onde, há 12 anos, cafés na calçada
não eram autorizados,
eles estão em toda parte.
Mas reivindicar esses espaços
para uso público
não foi fácil,
e é ainda mais difícil
mantê-los dessa forma.
Agora vou contar uma história
sobre um parque muito incomum
chamado High Line.
O High Line era uma ferrovia elevada...
(Aplausos)
O High Line era uma ferrovia elevada
que percorria três bairros
no West Side de Manhattan,
e quando o trem parou de funcionar,
tornou-se uma paisagem auto-semeada,
uma espécie de jardim no céu.
E quando eu o vi pela primeira vez,
honestamente, quando subi
naquele velho viaduto,
apaixonei-me, como
me apaixonaria por uma pessoa,
honestamente.
E quando fui nomeada,
salvar as duas primeiras
seções do High Line
da demolição tornou-se
a minha primeira prioridade
e o meu projeto mais importante.
Eu sabia que se houvesse
um dia em que eu não
me preocupasse com o
High Line, ele viria abaixo.
E o High Line,
mesmo que seja amplamente conhecido agora
e extraordinariamente popular,
é o espaço público
mais contestado na cidade.
Vocês podem ver um belo parque,
mas nem todo mundo o vê.
Sabem, é verdade, interesses comerciais
vão sempre lutar contra o espaço público.
Vocês podem dizer:
"Como é maravilhoso que mais
de quatro milhões de pessoas
venham do mundo todo
para visitar o High Line."
Bem, um construtor enxerga
apenas uma coisa: clientes.
Ei, por que não tirar essas plantações
e ter lojas por todo o High Line?
Não seria espetacular
e não geraria muito mais
dinheiro para a cidade?
Bem, não, não seria espetacular.
Seria um shopping, não um parque.
(Aplausos)
E quer saber, isso pode significar
mais dinheiro para a cidade,
mas uma cidade tem que
tomar a visão de longo prazo,
a visão pelo bem comum.
Mais recentemente,
a última parte do High Line,
a terceira parte do High Line,
a última parte do High Line,
foi confrontada com interesses
da construção civil,
onde alguns dos principais
construtores da cidade
estão construindo mais de
17 milhões de metros quadrados
no Hudson Yards.
E eles vieram até mim e propuseram
que "desmontassem temporariamente"
aquela terceira e última parte.
Talvez o High Line não se encaixasse
na sua imagem de uma
cidade de arranha-céus reluzentes
sobre uma colina.
Talvez estivesse
simplesmente no caminho.
Mas em todo o caso, foram nove meses
de negociação diária ininterrupta
para finalmente obter o acordo assinado
para proibir a sua demolição
e isso foi apenas dois anos atrás.
Então vejam, não importa o quão popular
e bem-sucedido
um espaço público possa ser,
ele nunca pode ser dado como certo.
Espaços públicos sempre...
Ali está "salvo".
Espaços públicos sempre precisam
de defensores vigilantes,
não só para reivindicá-los
a princípio para uso público,
mas para projetá-los
para as pessoas que os utilizam,
e então, para mantê-los, para assegurar
que eles sejam para todos,
que eles não sejam violados, invadidos,
abandonados ou ignorados.
Se há alguma lição
que eu aprendi
na minha vida como urbanista,
é que os espaços públicos têm poder.
Não é apenas o número
de pessoas que os usam,
mas o número ainda maior de pessoas
que se sentem melhor na sua cidade
só por saber que estão nela.
Espaços públicos podem mudar
como você vive em uma cidade,
o que você sente da cidade,
se escolhe uma cidade em vez de outra,
e o espaço público é uma das
razões mais importantes
para ficar em uma cidade.
Acredito que uma cidade de sucesso
é como uma festa incrível.
As pessoas ficam nela
porque estão se divertindo.
Obrigada.
(Aplausos)
Obrigada. (Aplausos)