O teu cão adora deitar-se no sofá, mas tu também, por isso decides enxotá-lo e preparas-te para um serão agradável. Afinal de contas, tu és uma pessoa. És um ser inteligente e não uma criatura de instintos. Fazes planos, sonhas e oh... O teu cão acabou de te enganar e sente-se contente por isso? Ou estava só a seguir os seus instintos? Há alguma diferença? No que estará a pensar? Bem, isso depende do que entendemos por "pensar" e dos critérios usados para o avaliar. Aristóteles e Descartes usam os critérios de instinto e inteligência para distinguir animais de seres humanos. Aristóteles acreditava que o homem era dotado de razão, e que os animais seguiam apenas instintos para a sua sobrevivência e reprodução. Quase 2000 anos depois, Descartes sugeriu uma versão mais radical desta ideia, defendendo que os animais, ao seguirem instintos, eram iguais a autómatos, que respondem de forma mecânica a estímulos do meio circundante. Mas o consenso contra a inteligência animal começou a desmoronar-se com a Teoria da Evolução de Darwin. Darwin sugeriu que a inteligência poderia evoluir de instintos mais simples. Ele observara minhocas e como estas decidiam arrastar folhas irregulares para as suas galerias e supôs que talvez os seres humanos usassem meios parecidos para resolver problemas parecidos. E se, segundo pensava, os seres humanos descendiam de criaturas mais simples, então talvez as nossas mentes se encontrassem no lado oposto do espetro, diferenciando-se das anteriores em grau mas não em natureza. Experiências recentes revelam a capacidade de espécies resolverem problemas difíceis e confirmam a hipótese inicial de Darwin. Os elefantes usam objetos para alcançarem locais inacessíveis. Os corvos fazem as suas ferramentas e usam a deslocação da água para obterem recompensas. Os polvos conseguem abrir frascos depois de verem como se faz, e conseguem mesmo lembrar-se de como o fazer meses depois. Estas tarefas implicam a consideração de aspetos de um problema independentemente da situação imediata, e a retenção da estratégia para o futuro. Mas mesmo sabendo que os animais conseguem resolver problemas complexos, como podemos saber no que pensam, ou mesmo, se estão a pensar em algo? Os behavioristas, como Pavlov e Thorndike argumentam que os animais que aparentam pensar habitualmente estão apenas a responder a recompensas ou castigos. Foi o caso do Hans Esperto, um cavalo com uma capacidade incrível para resolver problemas matemáticos. Na realidade Hans não tinha um dom especial para a matemática, mas para ler gestos não-verbais involuntários do seu treinador e saber quando parar de bater com a pata. O Hans até podia não saber contar, mas isso significa que não pensava? Afinal de contas, ele interpretava as subtilezas de mensagens sociais uma qualidade que partilhava com muitos animais não-humanos. Os elefantes reconhecem outros elefantes depois de anos sem convívio e aparentam fazer luto quando um morre. As abelhas comunicam através de uma dança especial rápida para indicar a localização e a qualidade de uma fonte de alimento a outras abelhas. Os chimpanzés fazem uso de estratagemas elaborados, o que sugere que não só pensam, como percebem que outros também pensam. E há ainda o papagaio cinzento Alex, que usava linguagem humana para distinguir cores e formas de objetos ausentes, e compreender conceitos abstratos, como maior e mais pequeno. Isso parece-se muito com inteligência, e não apenas com o produto de máquinas irracionais. Mas ao passo que um animal não-humano consegue resolver problemas e comunicar, nos seres humanos, pensar também envolve a consciência, a capacidade de refletir sobre ações e não simplesmente executá-las. Até à data nenhum estudo demonstrou que, ao ter inteligência para nos enganar, o nosso cão também fica contente por o ter feito. O que queremos realmente saber é como é ser cão, ou polvo, ou corvo. Filósofos da mente chamam a isto o Problema Difícil, porque, apesar de conseguirmos descrever como é ser-se humano, ninguém fala a língua dos cavalos. E até mesmo um papagaio como o Alex não seria capaz de explicar o que sente quanto às cores que refere. E se a consciência assumir formas diferentes? Seríamos capazes de identificar a consciência das abelhas? Como podemos ter a certeza que as outras pessoas têm consciência? Se calhar, não passam de zombies eficientes. De qualquer forma, a mente dos animais testa os limites da nossa compreensão e, se a entendermos, poderá desvendar mais sobre a nossa mente do que sobre a deles.