Para além das histórias extraordinárias, das personagens inéditas que cativam crianças e adultos, o que há de mais extraordinário na ficção científica é afinal o que ela tem de real. Perante as inovações atuais, certas visões da ficção científica têm, por vezes, qualquer coisa de muito perturbador, especialmente nos domínios da biologia e da medicina, com temas como a cura instantânea, a procura da imortalidade, a criação de clones ou de robôs, que são domínios em que, paralelamente, os progressos científicos têm sido os mais extraordinários, até reunir hoje a ciência e a ficção científica. Hoje em dia, os super-homens, os corpos humanos aumentados, os robôs, atravessaram os ecrãs e os livros para entrar na nossa realidade. Amanhã, essas invenções que outrora nos pareciam impossíveis, serão um facto da nossa vida quotidiana. Claro que, evidentemente, tudo o que brotou do cérebro dos artistas ainda não foi inventado, longe disso. Os carros voadores, como em "O quinto elemento", ainda não existem e, infelizmente, o céu ainda não é uma escapatória para todos os engarrafamentos terrestres. Igualmente, o "skateboard", que encontramos em "O Regresso ao Futuro". ainda não é uma opção, infelizmente. No entanto, quando olhamos para as inovações, para as invenções que foram imaginadas pelos escritores e pelos realizadores, que são o elo direto com o corpo humano, aí as coisas são muito mais impressionantes. Por exemplo, a armadura robótica que aumenta 10 vezes a força muscular, como em "RoboCop", "Iron Man" ou "Avatar", essa armadura já não pertence à ficção científica. Sociedades americanas, como a Argo Medical Technologies, ou a Ekso Bionics, já produzem exoesqueletos motorizados. São armaduras que foram desenvolvidas para ajudar e reeducar pessoas acidentadas ou deficientes. É um mercado que é muito considerável. Está avaliado em mais de dez mil milhões de dólares, nos próximos dez anos. Portanto, ainda não acabámos de ouvir falar dos exoesqueletos e de nos aproximarmos de "RoboCop". Igualmente, o eletroímã que está colocado junto do coração de Tony Stark, aliás Iron Man, e que é alimentado por uma bateria de automóvel, esse eletroímã afasta-se pouco a pouco da ficção científica. Ao fim de quinze anos de investigação, o primeiro coração artificial, totalmente biocompatível, foi inventado pela sociedade francesa Carmat. Esta invenção incrível vai ajudar no tratamento da insuficiência cardíaca. Na Europa e nos Estados Unidos da América, há mais de 20 milhões de pessoas que sofrem de insuficiência cardíaca. É a única doença cardiovascular que está em progressão e, infelizmente, a sua evolução ainda é frequentemente desfavorável. Existem muitos outros exemplos de invenções na ficção científica que estão em vias de se generalizar. Por exemplo, no universo de "Star Trek". Penso que todos se lembrarão do doutor McCoy e do seu famoso tricorder médico, que é utilizado para detetar a saúde de um paciente. Pois bem, há três anos, uma sociedade americana lançou-se num projeto relativamente semelhante. Desenvolveram um mini aparelho de diagnóstico, uma espécie de "scanner" multifunções, de utilização muito simples. Dá as medidas da temperatura, as taxas de oxigenação do sangue, do ritmo respiratório e do pulso. Todas as informações são transmitidas a um "smartphone", um telefone inteligente, através do "Bluetooth". Parece até que tem uma precisão de 99%. Um outro campo extremamente impressionante, que se julgava ser totalmente irrealizável ainda há pouco tempo, é aquilo a que chamamos a robótica de assistência. Os progressos científicos fizeram verdadeiros assistentes a partir de robôs muito mais simpáticos e tranquilizadores do que o Terminator. Como, por exemplo, esse famoso Ri-Man que foi escrito em 2006, no Japão, que foi concebido especialmente para ajudar as pessoas idosas. Ele ouve. Ele vê. Ele cheira. Ele pode ocupar-se das pessoas que perderam a autonomia. Mas o progresso vai ainda mais longe. Claro que a ficção científica se interessou pelo cérebro e imaginou todos os tipos de operações milagrosas nesse órgão que é tão sensível e tão fascinante. No seu livro "O Jogo Final", que data de 1985 que, aliás, foi adaptado a um filme recentemente, - talvez tenham visto esse filme - o autor, Orson Scott Card, imaginou uma operação cirúrgica ao cérebro que devia ser realizada por um robô de quatro braços. Mesmo aí, a realidade junta-se à ficção. A sociedade francesa MedTech, que tenho o prazer de dirigir, está a desenvolver e a conceber robôs cirúrgicos que tornam as operações ao cérebro, mais seguras. mais precisas e menos invasivas. No entanto, é indispensável a presença do cirurgião ao lado dos nossos robôs durante as operações cirúrgicas. Atualmente, os nossos robôs permitem tratar ou reduzir os efeitos de doenças, como a epilepsia, a doença de Parkinson, a distonia e até certas patologias das costas. A investigação científica, que continua a avançar, permite imaginar coisas absolutamente espantosas. Claro que não é fácil imaginar o que nos espera dentro de 10, 15, 20, 50 anos. Dito isto, se olharmos pelo lado das obras das recentes obras de ficção científica, há algumas invenções que se desenham no nosso espírito e, portanto, nos laboratórios de investigação. Prevemos já aptidões totalmente inéditas do cérebro como, por exemplo, capacidades de controlo à distância. Projetos de investigação deixam entrever novas perspetivas de utilização do cérebro pelo homem, que redefinem totalmente a nossa relação com o corpo e, portanto, com o mundo. Investigadores em robótica trabalham, por exemplo, num projeto chamado "Virtual Embodiment and Robotic re-Embodiment " V.E.R.E. Trata-se de um sistema que permite controlar um robô à distância através do pensamento. Controlado a partir dum laboratório de investigação em Israel, um robô efetuou tarefas extremamente simples em França. Em breve, estes testes serão realizados em paralíticos. Robôs do tamanho de seres humanos deverão em breve fazer a sua aparição em determinados laboratórios de investigação. Ainda mais impressionante, as experiências de cérebro para cérebro. Investigadores em Seattle aperfeiçoaram a primeira forma de telepatia operacional. Quer dizer, desenvolveram uma primeira interface de homem para homem, que permite transmitir um sinal cerebral duma pessoa para outra, de modo totalmente não invasivo. O primeiro pôde assim controlar certos movimentos da mão do seu colega. Os investigadores não têm intenção de ficar por aqui. Neste momento, pretendem ter uma verdadeira conversa entre os dois encéfalos, que a comunicação não seja apenas unidirecional, mas bidirecional. Os cientistas em questão fizeram questão de sublinhar que esta invenção não tem vocação para ser utilizada numa pessoa sem o seu consentimento o que, hão de concordar, é muito mais tranquilizador. A revolução do cérebro é um dos principais desafios do século XXI. Ainda na fase de investigação, os avanços e as descobertas relativas ao cérebro fascinam tanto quanto assustam. Porque o cérebro é o local da humanidade, da consciência, do poderio do homem, Mas também do seu controlo. Sem cair numa espécie de desconfiança sistemática, talvez fosse útil ter presente as previsões e os alertas dos grandes escritores e dos grandes autores da ficção científica. Sem o domínio da tecnologia, a ciência não servirá plenamente os homens. É pois absolutamente essencial que a ética médica integre plenamente e preveja as revoluções médicas de hoje e de amanhã, para que a ciência se mantenha sempre e apenas ao serviço do homem e da sua felicidade. Obrigado. (Aplausos)