Os perfumistas podem aprender a diferenciar odores individuais em uma fragrância feita de centenas de aromas. Especialistas de chá são conhecidos por cheirar não apenas o local de origem de um chá, mas a época da colheita e se foi plantada perto de uma ameixeira. A Autoridade de Trânsito de Nova Iorque contratou um especialista responsável apenas por farejar vazamentos de gás no sistema de metrô. Qualquer pessoa pode aprender a cheirar com a sensibilidade desses especialistas? Para a maioria de nós, o que cheiramos é em grande parte involuntário, seja o lixo atrás de um restaurante, o xampu da mulher que sai do elevador enquanto você entra, ou o pão fresquinho de uma padaria. Com alguns milhões de receptores olfativos em nossos narizes, é óbvio que temos a capacidade de cheirar bem. Nós apenas não prestamos atenção o tempo todo. Isso é uma pena, porque podemos perder a chance de fazer fortes ligações emocionais. Os cheiros são muito ligados às emoções e podem despertar memórias de lugares onde passamos há muito tempo e de pessoas que amamos. Felizmente, é possível treinar o cérebro para cheirar melhor. Por exemplo, Helen Keller foi capaz de reconhecer o trabalho de uma pessoa, e em suas palavras, diferenciar o carpinteiro do ferreiro, o pintor do pedreiro ou do químico, com uma simples inspiração. Siga estes passos e você também pode mudar a maneira como o mundo cheira para você. Em primeiro lugar, enfie o nariz nele. Os animais que são famosos por serem grandes cheiradores, como os cães que detectam explosivos e os porcos que localizam trufas subterrâneas, colocam o nariz direto no lugar que eles querem cheirar. Os narizes humanos, por sua vez, estão posicionados no meio do ar, o que nos dá uma desvantagem anatômica. Por isso, ponha seu nariz perto do mundo ao seu redor. Do chão, das superfícies, dos objetos, da comida na sua mão. Aproxime-se de seu cão, de seu parceiro, do livro que você está lendo. Seu nariz não só vai estar perto da fonte de odor, mas o calor de sua respiração vai facilitar seu olfato. Em segundo lugar, cheire com vontade. O olfato acontece no caminho de nossos narizes numa região do tamanho de um selo chamada epitélio olfativo. Ao cheirar, as moléculas de odor são sugadas em nossas narinas até atingir este tecido onde se combinam com nossos receptores de olfato, ou de cheiro. Quando inspiramos normalmente, só um pouco de ar vai chegar lá. Mas uma ou duas cheiradas consistentes vão garantir que mais ar chegue em seus receptores de cheiro. Depois de mais algumas cheiradas, os receptores, que são especialistas em perceber novos cheiros, se desligam temporariamente. Então você pode descansar seu nariz e cheirar novamente mais tarde. Finalmente, pense sobre o cheiro. A maioria dos cheiros passam pela gente despercebidos, mas ao observar o que você está cheirando e ao tentar descrevê-lo, nomeá-lo e localizar sua fonte, você pode expandir seu vocabulário de cheiros. Quando uma molécula de odor liga-se a um receptor de cheiro, ele envia um sinal elétrico a partir dos neurónios sensoriais para os bulbos olfatórios de nosso cérebro. O sinal então segue para outras áreas do cérebro, onde se integra com paladar, memória ou informações emocionais antes de ser registrado como um cheiro para nós. Estudos com fMRI mostram que o tempo extra usado para focar um perfume muda o cérebro de cheiradores experientes. Para eles, perceber e imaginar odores se torna mais automático do que para os não especialistas. Se você quiser começar, pegue ingredientes de sua cozinha: temperos, baunilha ou frutas, mas nunca algo tóxico. Feche os olhos e peça a alguém para trazê-los ao seu nariz. Cheire e tente citar a fonte. Com o tempo, você vai começar a apreciar nuances em odores familiares e reconhecer características de cheiros novos e incomuns. Os perfumistas praticam muito estes passos para se tornarem artistas de odor, mas mesmo se você não quiser ter o mesmo nível de olfato, o resultado espetacular de uma ação comum vai mudar o modo como você sente e experimenta os seus dias.