Bom pessoal, muito tem se discutido sobre a universidade do futuro, né? E eu acho que existe um senso comum que é favorável a essa faculdade do futuro porque, se a gente for parar pra pensar, 100 anos atrás, as coisas eram totalmente diferentes do que são hoje, as nossas relações, [a forma] como a gente se movia, enfim, mas, se a gente for olhar a sala de aula, ela era assim 100 anos atrás e, hoje, ela continua da mesma forma. Pode ter mudado a foto... era preto e branco e agora tem uma resolução melhor, é colorida... mas é basicamente a mesma coisa. E o ponto é: eu estou sendo universitário agora, hoje, e eu vou ter uma formação que não está de acordo com as demandas dessa nossa nova realidade porque a minha universidade é do passado? Ou melhor, como eu posso ter a melhor formação universitária possível com o que eu tenho em mãos agora? E essa é uma pergunta que eu venho me fazendo. Eu sou estudante aqui da UFRJ, sou um universitário, e é uma pergunta bastante difícil de responder, mas eu acho que eu tenho algumas visões e conclusões, que podem servir como dicas, que eu gostaria de compartilhar aqui. Então, vamos pensar sobre o universitário do futuro, em vez da universidade do futuro. E, pra começar, vale a pena a gente entender como esse modelo educacional que a gente tem atualmente nasceu, e isso tem muito a ver com o período em que ele foi estabelecido, que foi um período marcado pelo fordismo, pelo modo de produção que priorizava a escala frente à qualidade, que priorizava a uniformidade frente à personalização, por meio de linhas de produção. E faz bastante sentido, se a gente for parar pra pensar, porque, nessa época, conhecimento era um bem extremamente escasso. Conhecimento não era acessível, estava em poucos lugares, e um desses lugares era justamente a universidade. Então, o papel da universidade era disseminar, de maneira escalável, esse conhecimento, ainda que fosse de forma superficial, pra levar aquele que conseguia o seu canudo de papel pro mercado de trabalho, se escolhesse esse caminho, ou pra academia, se quisesse de fato se aprofundar e produzir conhecimento. Então, se eu for me colocar nesse modelo de educação, eu, como estudante de relações internacionais, entro na faculdade, me jogam lá numa sala de aula, pra cursar Relações Internacionais 1, minha primeira matéria. Eu curso Relações Internacionais 1, 2, 3 e 4 no primeiro período e, assim que eu alcançar a matéria Relações Internacionais 35, eu tenho direito a um papel que fala que eu sou um graduado. Enfim, o problema é que isso deixa de funcionar quando o conhecimento deixa de ser escasso e o conhecimento passa a ser abundante. Se antes era um "metal precioso", como o ouro, agora é uma commodity. A gente tem acesso e o que separa a gente de praticamente todo o conhecimento que o homem produziu é só a internet, é uma pesquisa no Google... E aí, eu não falo informação. Não é saber qual é a altura do Everest ou, enfim... É ver artigos, estudar artigos, ter acesso a aulas, a livros, e, ainda que isso exija uma curva de aprendizado, está lá. E também tem um segundo ponto extremamente importante, e que muda desde que foi formado aquele nosso modelo educacional ultrapassado que é a capacidade de realização, que deixou de ser extremamente onerosa e complexa e, hoje, é mais acessível. Por realização, quero dizer realmente fazer coisas. Então, por exemplo, como era produzir um protótipo de qualquer coisa 100 anos atrás, quando nasceu aquele modelo de formação de linha? Era praticamente impossível. Você tinha que alugar um laboratório, você tinha que ficar um tempo correndo atrás, mas hoje a gente consegue fazer um protótipo real com uma impressora 3-D pessoal. Ou, como era vender alguma coisa? Vamos supor que você queira vender algo. Um tempo atrás, você teria que abrir uma loja física, uma burocracia danada, e hoje você pode montar um "e-commerce" em duas horas, ou vender pela página do Facebook. Você pode mobilizar pessoas em torno de uma causa através das redes sociais. Pode divulgar sua música sem precisar de uma gravadora pra pagar o cara da rádio pra tocar o seu som, enfim. Mas a mágica acontece quando a gente soma abundância, conhecimento abundante, e maior capacidade de realização, isso pra faculdade, mas também pro universitário. O universitário, agora, tem o privilégio de conseguir ter experiências, de estar em um ambiente que é [propício] a experiências novas, e isso é fantástico. Eu também comecei a perceber que alguns universitários perceberam que podiam usar isso ao seu favor, e começaram a ter uma... a achar o seu propósito, a fazer algo que fazia sentido e que os movia. Era muito interessante que, sempre com essa formação pautada em experiências, e não pautada naquela linha de produção, eles estavam atrás de experiências relevantes pra si. E algo em comum entre eles era achar um interesse dentro da universidade e, aí, partir pra algum tipo de realização, essa realização que, no início, em quase todos os casos, é um pouco difícil, tem problemas, mas quem consegue superar esses problemas melhora, se desenvolve, evolui, busca novos interesses, fica bom naquilo que faz e acha de fato o seu propósito, além de produzir algo relevante. Eu, como não sou egoísta, vou dividir algumas histórias de alguns universitários que optaram por essa formação orientada à experiência. Então, primeiro, o Paulo, que foi aluno aqui do CT, da UFRJ, de engenharia. Ele mesmo teve dificuldade em passar pelo ciclo básico e percebeu que outros colegas também tinham, que isso era um baita problema... alunos com potencial acabam repetindo matérias... e ele resolveu desenvolver um método próprio pra ajudar esses estudantes. Ele conseguiu. Depois de errar um pouco, de melhorar o seu produto, conseguiu chegar num método extremamente eficiente, que hoje a maioria dos alunos desses cursos usa pra passar nessas matérias. E isso deu origem à sua empresa, "Responde Aí", que hoje é uma das principais "start-ups" de educação no Brasil. Ou também o Rubens, que é graduando de comunicação aqui da UFRJ, que, numa matéria em que precisava fazer um curta, usou ao máximo aquilo que a universidade lhe ofereceu, contatos, produção, pesquisa, a força de trabalho dos seus colegas, pra produzir algo que ele considerava da melhor qualidade. Isso fez com que aquele trabalho de escola chegasse à seleção oficial de Cannes, o que é incrível. Ou também o Lucas, estudante de engenharia, que tinha um tio com um problema motor e precisava de uma prótese que custava cerca de US$ 20 mil e não tinha condição pra pagar. Ele, com a ajuda de professores, desenvolveu uma prótese bem mais barata, mais escalável e que solucionava essa dor, e hoje é algo economicamente viável. Há outros exemplos também: o do João, que sempre gostou de jornalismo, jornalismo aprofundado, diferente, e por isso começou uma revista digital que produzia conteúdo da maneira que ele achava que fazia sentido, e, graças a essa sua revista, ele chegou num trabalho dos sonhos, um estágio na revista que mais admirava, na "Piauí". Ou a Juliana, de São Paulo, que tinha alguns problemas na comunidade em que vivia e conseguiu, com a ajuda de colegas universitários, com a ajuda de professores, criar uma ONG que ajuda as pessoas da sua comunidade. Ou até o Solon, que sempre gostou de administração de empresas e cursa engenharia no IME. E lá, ele teve um resultado sensacional na empresa júnior, conseguiu achar do que gostava de fato e, atualmente, está no maior banco de investimentos do país, fazendo algo de que gosta, fazendo um trabalho relevante. Então, aquela pergunta do começo, "como a gente pode extrair o máximo da universidade", uma pergunta difícil de responder e que acho que eu não tenho capacidade de responder ainda, a gente pode perceber que, nesses casos, os estudantes tiraram o melhor da universidade, conseguiram extrair o máximo, acharam algo que fazia sentido pra eles e começaram a produzir coisas relevantes. E isso porque eles usaram essas novas ferramentas que estão disponíveis pra nossa geração, em vez de esperar que a universidade desse essa formação pra eles. E essa é a mensagem que eu quero deixar: se a universidade é uma organização extremamente grande, burocrática, avessa a mudanças, secular, o estudante universitário é o indivíduo, e o indivíduo pode mudar simplesmente com a sua vontade. E, pelo que me parece, quando essa vontade é de realizar experiências, ele alcança resultados legais rápido e com bastante eficácia. Então, esse é o convite que eu quero fazer pra vocês. Muito obrigado. (Aplausos)