[Script Info] Title: [Events] Format: Layer, Start, End, Style, Name, MarginL, MarginR, MarginV, Effect, Text Dialogue: 0,0:00:04.45,0:00:06.78,Default,,0000,0000,0000,,A Arte... Dialogue: 0,0:00:06.78,0:00:08.13,Default,,0000,0000,0000,,...em questão. Dialogue: 0,0:00:13.88,0:00:16.30,Default,,0000,0000,0000,,Um homem... Dialogue: 0,0:00:16.32,0:00:18.28,Default,,0000,0000,0000,,...nos rochedos... Dialogue: 0,0:00:20.77,0:00:23.75,Default,,0000,0000,0000,,...afastado da cidade. Dialogue: 0,0:00:23.81,0:00:25.81,Default,,0000,0000,0000,,Um quadro de Giovanni Bellini. Dialogue: 0,0:00:27.76,0:00:30.56,Default,,0000,0000,0000,,Um herói em busca de inspiração \Nnuma bela paisagem? Dialogue: 0,0:00:32.50,0:00:33.64,Default,,0000,0000,0000,,Melhor do que isso: Dialogue: 0,0:00:34.38,0:00:37.96,Default,,0000,0000,0000,,o campeão absoluto da vida simples \Ne da harmonia com a Natureza... Dialogue: 0,0:00:38.02,0:00:39.50,Default,,0000,0000,0000,,...São Francisco de Assis... Dialogue: 0,0:00:39.68,0:00:43.18,Default,,0000,0000,0000,,...numa paisagem onde se manifesta o fantástico! Dialogue: 0,0:00:43.28,0:00:45.04,Default,,0000,0000,0000,,Dois sóis iluminam a cena: Dialogue: 0,0:00:45.06,0:00:48.68,Default,,0000,0000,0000,,um, na direção para onde se volta o Santo, Dialogue: 0,0:00:48.82,0:00:50.16,Default,,0000,0000,0000,,outro, ao fundo... Dialogue: 0,0:00:52.56,0:00:57.38,Default,,0000,0000,0000,,...e as palmas das suas mãos sangram. Dialogue: 0,0:00:57.44,0:00:59.48,Default,,0000,0000,0000,,Estas últimas lembram um milagre Dialogue: 0,0:00:59.50,0:01:04.06,Default,,0000,0000,0000,,que os predecessores de Bellini não hesitaram \Nem representar de forma espetacular: Dialogue: 0,0:01:04.14,0:01:05.76,Default,,0000,0000,0000,,criaturas celestes, Dialogue: 0,0:01:05.80,0:01:06.94,Default,,0000,0000,0000,,raios de luz, Dialogue: 0,0:01:09.38,0:01:11.04,Default,,0000,0000,0000,,feridas abertas. Dialogue: 0,0:01:12.26,0:01:15.08,Default,,0000,0000,0000,,Então, porquê esta discrição? Dialogue: 0,0:01:15.20,0:01:19.62,Default,,0000,0000,0000,,Passaram 250 anos depois da morte \Nde São Francisco. Dialogue: 0,0:01:19.70,0:01:23.96,Default,,0000,0000,0000,,O quadro, imensamente luxuoso, passou \Npelas mãos de dirigentes de Veneza, Dialogue: 0,0:01:24.02,0:01:26.28,Default,,0000,0000,0000,,...entre os quais, um mercador banqueiro, riquíssimo: Dialogue: 0,0:01:26.32,0:01:30.08,Default,,0000,0000,0000,,acreditarão eles, verdadeiramente, na pobreza \Ndefendida por São Francisco? Dialogue: 0,0:01:30.16,0:01:35.30,Default,,0000,0000,0000,,Bellini, pintor e sábio da Renascença, será reticente \Nem relação aos milagres Dialogue: 0,0:01:35.30,0:01:39.52,Default,,0000,0000,0000,,que perturbam a ordem normal da Natureza? Dialogue: 0,0:01:39.56,0:01:44.15,Default,,0000,0000,0000,,Ou será que São Francisco não passa de um pretexto \Npara pintar uma paisagem magnífica? Dialogue: 0,0:01:44.16,0:01:45.78,Default,,0000,0000,0000,,"Bellini - São Francisco no deserto" Dialogue: 0,0:01:45.80,0:01:47.64,Default,,0000,0000,0000,,"Mais paisagem do que milagre?" Dialogue: 0,0:01:49.45,0:01:51.26,Default,,0000,0000,0000,,Parte 1: "O milagre natural" Dialogue: 0,0:01:52.75,0:01:57.10,Default,,0000,0000,0000,,Reproduzir o milagre {\i1}natural{\i0}, é essa \Na vontade de Bellini? Dialogue: 0,0:01:57.20,0:02:01.30,Default,,0000,0000,0000,,Em primeiro plano, é o espaço sagrado do santo, \Nretirado na montanha... Dialogue: 0,0:02:01.30,0:02:03.30,Default,,0000,0000,0000,,...ao pé de uma gruta mobilada. Dialogue: 0,0:02:04.45,0:02:07.10,Default,,0000,0000,0000,,Em segundo plano, uma paisagem campestre Dialogue: 0,0:02:07.10,0:02:10.75,Default,,0000,0000,0000,,separada por um relevo escarpado Dialogue: 0,0:02:10.75,0:02:12.75,Default,,0000,0000,0000,,e esta barreira vegetal. Dialogue: 0,0:02:22.40,0:02:28.35,Default,,0000,0000,0000,,E, por trás de um rio manso, \Na civilização urbana: Dialogue: 0,0:02:28.35,0:02:30.85,Default,,0000,0000,0000,,uma cidade... Dialogue: 0,0:02:30.85,0:02:34.45,Default,,0000,0000,0000,,...e edifícios empoleirados no alto das colinas, Dialogue: 0,0:02:34.45,0:02:38.25,Default,,0000,0000,0000,,sob um céu sereno. Dialogue: 0,0:02:38.25,0:02:40.25,Default,,0000,0000,0000,,Solidamente de pé, no seu hábito de burel, Dialogue: 0,0:02:40.25,0:02:43.05,Default,,0000,0000,0000,,o santo está, ao mesmo tempo, \Ndentro e fora do mundo, Dialogue: 0,0:02:43.05,0:02:45.45,Default,,0000,0000,0000,,fixando uma misteriosa fonte de luz. Dialogue: 0,0:02:45.45,0:02:48.05,Default,,0000,0000,0000,,É este o sol de outono? Dialogue: 0,0:02:48.05,0:02:51.35,Default,,0000,0000,0000,,Visto que ele permanece \Nde boca aberta ou que canta, Dialogue: 0,0:02:51.35,0:02:55.80,Default,,0000,0000,0000,,vendo-se este coelho desorientado, fora da sua toca, Dialogue: 0,0:02:55.80,0:02:59.60,Default,,0000,0000,0000,,o bordão e as sandálias abandonadas atrás dele, Dialogue: 0,0:03:01.15,0:03:03.35,Default,,0000,0000,0000,,ou esta folhagem iluminada de frente... Dialogue: 0,0:03:03.35,0:03:06.85,Default,,0000,0000,0000,,...enquanto que as paredes distantes \Npermanecem na sombra... Dialogue: 0,0:03:08.45,0:03:12.40,Default,,0000,0000,0000,,...inclinamo-nos a esperar um acontecimento\Ninesperado. Dialogue: 0,0:03:12.40,0:03:17.35,Default,,0000,0000,0000,,É a aparição do anjo, do serafim, \Na São Francisco? Dialogue: 0,0:03:17.35,0:03:20.10,Default,,0000,0000,0000,,Segundo a lenda, ele fez da noite, dia, Dialogue: 0,0:03:20.10,0:03:22.75,Default,,0000,0000,0000,,para surpresa dos pastores em redor. Dialogue: 0,0:03:26.55,0:03:29.30,Default,,0000,0000,0000,,Eis o que poderia explicar porque \Né que a cidade dorme: Dialogue: 0,0:03:29.30,0:03:31.30,Default,,0000,0000,0000,,não se vê vivalma! Dialogue: 0,0:03:33.25,0:03:37.45,Default,,0000,0000,0000,,Mas aqui, não há nenhum traço físico do serafim: Dialogue: 0,0:03:37.45,0:03:39.45,Default,,0000,0000,0000,,a luminosidade poderia vir de um cometa, Dialogue: 0,0:03:43.85,0:03:46.90,Default,,0000,0000,0000,,e aquela, em plano de fundo, do sol. Dialogue: 0,0:03:50.90,0:03:52.85,Default,,0000,0000,0000,,A audácia do pintor vai mesmo mais longe. Dialogue: 0,0:03:52.85,0:03:55.85,Default,,0000,0000,0000,,A essência do milagre eram estes cinco estigmas, Dialogue: 0,0:03:55.85,0:03:58.80,Default,,0000,0000,0000,,as mesmas feridas infligidas a Cristo na cruz, Dialogue: 0,0:03:58.80,0:04:01.75,Default,,0000,0000,0000,,que São Francisco recebeu ajoelhado. Dialogue: 0,0:04:03.20,0:04:05.15,Default,,0000,0000,0000,,Mas aqui o santo está de pé Dialogue: 0,0:04:05.15,0:04:07.45,Default,,0000,0000,0000,,e os estigmas foram pintados tão superficialmente Dialogue: 0,0:04:07.45,0:04:11.20,Default,,0000,0000,0000,,sobre o pé esquerdo, que se apagaram. Dialogue: 0,0:04:11.20,0:04:13.20,Default,,0000,0000,0000,,E eles são de sangue humano! Dialogue: 0,0:04:14.95,0:04:20.05,Default,,0000,0000,0000,,Ora, as primeiras biografias [do santo] evocam a carne metamorfoseada em pregos [acastanhados]... Dialogue: 0,0:04:20.05,0:04:22.55,Default,,0000,0000,0000,,..e uma ferida de lado, Dialogue: 0,0:04:22.55,0:04:25.35,Default,,0000,0000,0000,,que distinguia o Cristo dos outros crucificados... Dialogue: 0,0:04:25.35,0:04:27.35,Default,,0000,0000,0000,,...não está representada no quadro. Dialogue: 0,0:04:30.45,0:04:33.55,Default,,0000,0000,0000,,A estigmatização torna-se mesmo {\i1}metafórica{\i0}: Dialogue: 0,0:04:33.55,0:04:37.10,Default,,0000,0000,0000,,os raios de luz e a perspetiva, que atravessam \NSão Francisco Dialogue: 0,0:04:37.10,0:04:38.80,Default,,0000,0000,0000,,os braços afastados... Dialogue: 0,0:04:38.80,0:04:45.15,Default,,0000,0000,0000,,...evocam uma crucificação {\i1}virtual{\i0} neste crucifixo, \Nsituado na margem do quadro. Dialogue: 0,0:04:45.15,0:04:47.20,Default,,0000,0000,0000,,A {\i1}recordação{\i0} do milagre está, portanto ali, Dialogue: 0,0:04:47.20,0:04:50.20,Default,,0000,0000,0000,,mas não necessariamente o {\i1}próprio{\i0} milagre. Dialogue: 0,0:04:51.10,0:04:55.70,Default,,0000,0000,0000,,O verdadeiro tema do quadro é, portanto, \Na relação do santo com a Natureza, Dialogue: 0,0:04:55.70,0:05:02.00,Default,,0000,0000,0000,,Como é que uma paisagem tranquila pode roubar \No protagonismo a uma intervenção divina? Dialogue: 0,0:05:03.81,0:05:05.90,Default,,0000,0000,0000,,Parte 2: "A Natureza contra a Cidade?" Dialogue: 0,0:05:06.70,0:05:10.37,Default,,0000,0000,0000,,Não se encontram nem rio nem cidade \Nao pé do verdadeiro Monte Alverne, Dialogue: 0,0:05:10.37,0:05:12.37,Default,,0000,0000,0000,,o principal local de retiro do santo. Dialogue: 0,0:05:14.05,0:05:15.85,Default,,0000,0000,0000,,Esta paisagem não é, portanto, natural, Dialogue: 0,0:05:15.85,0:05:18.30,Default,,0000,0000,0000,,mas uma {\i1}ficção{\i0} criada por Bellini ! Dialogue: 0,0:05:19.20,0:05:22.65,Default,,0000,0000,0000,,Esta cidade, representa a antiga vida de Francisco: Dialogue: 0,0:05:28.47,0:05:32.87,Default,,0000,0000,0000,,a vida de um «miúdo rico» arrogante, proveniente \Nde uma família de mercadores de tecidos. Dialogue: 0,0:05:34.25,0:05:37.00,Default,,0000,0000,0000,,A vida, igualmente, de uma nova classe burguesa Dialogue: 0,0:05:37.00,0:05:39.00,Default,,0000,0000,0000,,que faz a prosperidade das cidades italianas Dialogue: 0,0:05:39.00,0:05:41.00,Default,,0000,0000,0000,,graças ao comércio e à finança Dialogue: 0,0:05:41.00,0:05:43.00,Default,,0000,0000,0000,,e que se inquieta pela sua saúde. Dialogue: 0,0:05:43.37,0:05:46.57,Default,,0000,0000,0000,,Uma vida à qual São Francisco vira as costas: Dialogue: 0,0:05:46.57,0:05:48.57,Default,,0000,0000,0000,,ele renuncia aos seus bens; Dialogue: 0,0:05:51.12,0:05:55.02,Default,,0000,0000,0000,,no quadro, a ponte que leva à cidade \Nestá, simbolicamente, cortada; Dialogue: 0,0:05:57.95,0:06:01.00,Default,,0000,0000,0000,,cada nó do [cordão do] seu hábito de burel \Nrepresenta um voto: Dialogue: 0,0:06:01.00,0:06:02.42,Default,,0000,0000,0000,,pobreza... Dialogue: 0,0:06:02.42,0:06:04.07,Default,,0000,0000,0000,,castidade... Dialogue: 0,0:06:04.07,0:06:07.25,Default,,0000,0000,0000,,obediência... Dialogue: 0,0:06:07.25,0:06:10.72,Default,,0000,0000,0000,,...que o santo põe visivelmente em prática: Dialogue: 0,0:06:10.72,0:06:13.77,Default,,0000,0000,0000,,- Um modesto jarro à guisa de refeição Dialogue: 0,0:06:13.77,0:06:15.77,Default,,0000,0000,0000,,- Um sino portátil à guisa de igreja Dialogue: 0,0:06:16.65,0:06:20.15,Default,,0000,0000,0000,,- Um livro e um pergaminho como \Núnica ocupação do estudioso... Dialogue: 0,0:06:20.15,0:06:22.82,Default,,0000,0000,0000,,- Uma garça-real como símbolo \Nde fidelidade à Igreja... Dialogue: 0,0:06:22.82,0:06:24.82,Default,,0000,0000,0000,,...ou da antiga vida de luxúria Dialogue: 0,0:06:24.82,0:06:30.15,Default,,0000,0000,0000,,e o burro, como transporte e símbolo \Ndo corpo servil. Dialogue: 0,0:06:30.15,0:06:33.67,Default,,0000,0000,0000,,Mas a cidade também não é diabolizada: Dialogue: 0,0:06:33.67,0:06:37.05,Default,,0000,0000,0000,,- o burro, lembra que Jesus voltou a Jerusalém; Dialogue: 0,0:06:37.05,0:06:41.47,Default,,0000,0000,0000,,- e o pastor, que é necessário pregar onde \N"as ovelhas tresmalhadas" se encontram. Dialogue: 0,0:06:43.70,0:06:49.35,Default,,0000,0000,0000,,São Francisco oferece-lhes um modelo a seguir: \No da {\i1}gratidão{\i0}. Dialogue: 0,0:06:49.35,0:06:52.22,Default,,0000,0000,0000,,O olho está virado para a luz: Dialogue: 0,0:06:53.42,0:06:58.57,Default,,0000,0000,0000,,tal como o pássaro, ele parece cantar um hino \Ndestinado ao Criador... Dialogue: 0,0:06:58.57,0:07:01.77,Default,,0000,0000,0000,,...e o seu corpo é um eco da inclinação do loureiro. Dialogue: 0,0:07:04.02,0:07:06.45,Default,,0000,0000,0000,,Mas esta Natureza também não é \Num jardim do Éden... Dialogue: 0,0:07:06.45,0:07:10.85,Default,,0000,0000,0000,,...pois o trabalho manual responde \Nao dom providencial da Natureza: Dialogue: 0,0:07:10.85,0:07:13.67,Default,,0000,0000,0000,,- a gruta torna-se uma casa, Dialogue: 0,0:07:13.67,0:07:15.67,Default,,0000,0000,0000,,- a vinha, uma pérgola, Dialogue: 0,0:07:17.57,0:07:20.27,Default,,0000,0000,0000,,- uma concavidade natural do terreno \Ntransforma-se em jardim, Dialogue: 0,0:07:20.82,0:07:22.92,Default,,0000,0000,0000,,- a fonte, numa conduta. Dialogue: 0,0:07:25.25,0:07:29.07,Default,,0000,0000,0000,,Não se podendo imitar o {\i1}sacrifício{\i0} \Nde Cristo na cruz... Dialogue: 0,0:07:29.07,0:07:34.17,Default,,0000,0000,0000,,...Bellini propõe a via {\i1}moderada{\i0} \Nda oração e da dádiva. Dialogue: 0,0:07:34.17,0:07:36.17,Default,,0000,0000,0000,,Uma capela... Dialogue: 0,0:07:36.17,0:07:38.17,Default,,0000,0000,0000,,...ou um quadro religioso... Dialogue: 0,0:07:38.17,0:07:41.07,Default,,0000,0000,0000,,...são um meio para o rico exercer a caridade... Dialogue: 0,0:07:41.07,0:07:43.07,Default,,0000,0000,0000,,...na esperança de ir para o céu. Dialogue: 0,0:07:43.37,0:07:47.87,Default,,0000,0000,0000,,E na época do quadro, os franciscanos introduzem \Nas [agências de crédito] "Monte di Pietà" na Itália, Dialogue: 0,0:07:47.87,0:07:49.87,Default,,0000,0000,0000,,para emprestar dinheiro aos mais pobres. Dialogue: 0,0:07:50.57,0:07:54.82,Default,,0000,0000,0000,,A pobreza de São Francisco transformou-se \Nnuma {\i1}economia baseada na dádiva{\i0} Dialogue: 0,0:07:54.82,0:07:56.82,Default,,0000,0000,0000,,que contribui para o poder dos franciscanos. Dialogue: 0,0:07:57.80,0:08:00.85,Default,,0000,0000,0000,,Eles controlam centenas de edifícios \Nno centro das cidades Dialogue: 0,0:08:00.85,0:08:03.57,Default,,0000,0000,0000,,e já deram dois papas à Igreja. Dialogue: 0,0:08:04.25,0:08:08.37,Default,,0000,0000,0000,,Então, Bellini não passa de um servidor \Ndo pensamento franciscano? Dialogue: 0,0:08:09.70,0:08:11.86,Default,,0000,0000,0000,,Parte 3: "A religião da Natureza" Dialogue: 0,0:08:13.86,0:08:16.92,Default,,0000,0000,0000,,Bellini não inventou a paisagem sagrada. Dialogue: 0,0:08:17.92,0:08:20.00,Default,,0000,0000,0000,,Tradicionalmente, é um fundo estilizado Dialogue: 0,0:08:20.00,0:08:22.00,Default,,0000,0000,0000,,que denota que a {\i1}santa personagem{\i0} pertence Dialogue: 0,0:08:22.00,0:08:25.35,Default,,0000,0000,0000,,a um {\i1}outro espaço{\i0}, diferente \Ndaquele do espetador. Dialogue: 0,0:08:25.87,0:08:29.77,Default,,0000,0000,0000,,Mas, desde o início do século XV que o interesse \Npela paisagem se reforça Dialogue: 0,0:08:29.77,0:08:31.77,Default,,0000,0000,0000,,na arte italiana e francesa. Dialogue: 0,0:08:33.50,0:08:35.87,Default,,0000,0000,0000,,Disso é testemunho esta história de Santo António: Dialogue: 0,0:08:37.30,0:08:42.27,Default,,0000,0000,0000,,Enquanto que a maior parte dos episódios adotam \Num céu dourado ou um cenário de igreja, Dialogue: 0,0:08:42.37,0:08:46.15,Default,,0000,0000,0000,,naqueles em que o santo é posto à prova, \Ncom tentações terrestres no deserto, Dialogue: 0,0:08:46.15,0:08:48.82,Default,,0000,0000,0000,,as paisagens tornam-se autênticas. Dialogue: 0,0:08:48.82,0:08:50.82,Default,,0000,0000,0000,,Como no deserto de São Francisco: Dialogue: 0,0:08:50.82,0:08:52.82,Default,,0000,0000,0000,,temos um céu verdadeiro, em {\i1}dégradés{\i0} de: Dialogue: 0,0:08:52.82,0:08:54.82,Default,,0000,0000,0000,,azul, amarelo e branco. Dialogue: 0,0:08:55.62,0:08:57.10,Default,,0000,0000,0000,,E, graças ao ponto de vista elevado, Dialogue: 0,0:08:57.10,0:09:00.15,Default,,0000,0000,0000,,o olhar pode explorar um território \Nem profundidade. Dialogue: 0,0:09:03.02,0:09:06.45,Default,,0000,0000,0000,,E, na mesma época, os pintores flamengos \Nvão ainda mais longe Dialogue: 0,0:09:06.45,0:09:09.32,Default,,0000,0000,0000,,na interligação do sagrado e do profano: Dialogue: 0,0:09:09.32,0:09:13.57,Default,,0000,0000,0000,,Van Eyck representa a Virgem, diretamente \Nem frente de quem encomendou o quadro, Dialogue: 0,0:09:13.57,0:09:15.77,Default,,0000,0000,0000,,o Chanceler Rolin. Dialogue: 0,0:09:15.77,0:09:18.87,Default,,0000,0000,0000,,Graças à paisagem em plano de fundo, Dialogue: 0,0:09:18.87,0:09:22.32,Default,,0000,0000,0000,,este homem político compara a imagem \Nidealizada do seu domínio Dialogue: 0,0:09:22.32,0:09:23.67,Default,,0000,0000,0000,,...a uma cidade ideal... Dialogue: 0,0:09:23.67,0:09:25.67,Default,,0000,0000,0000,,...de que a Virgem seria a rainha. Dialogue: 0,0:09:27.40,0:09:30.57,Default,,0000,0000,0000,,Apesar destas ameias que a separam \Ndo mundo profano, Dialogue: 0,0:09:30.57,0:09:33.67,Default,,0000,0000,0000,,ela é quase {\i1}instrumentalizada{\i0} \Npelo poder político! Dialogue: 0,0:09:34.35,0:09:38.57,Default,,0000,0000,0000,,Como evitar que a paisagem não destrua \Na {\i1}distância necessária{\i0} Dialogue: 0,0:09:38.57,0:09:41.45,Default,,0000,0000,0000,,entre o profano e o sagrado? Dialogue: 0,0:09:41.45,0:09:43.07,Default,,0000,0000,0000,,Para contornar este problema, Dialogue: 0,0:09:43.07,0:09:45.90,Default,,0000,0000,0000,,Bellini faz a síntese de três soluções \Npara este problema. Dialogue: 0,0:09:48.00,0:09:49.15,Default,,0000,0000,0000,,Primeira solução: Dialogue: 0,0:09:49.15,0:09:52.40,Default,,0000,0000,0000,,recorrer um pavimento e a sólidas balaustradas, Dialogue: 0,0:09:52.40,0:09:56.05,Default,,0000,0000,0000,,para isolar o Cristo ressuscitado, \Ndo comum dos mortais... Dialogue: 0,0:09:57.50,0:10:00.17,Default,,0000,0000,0000,,...ou a Virgem e os mártires, do mundo terrestre, Dialogue: 0,0:10:00.17,0:10:02.17,Default,,0000,0000,0000,,com os seus eremitas e centauros. Dialogue: 0,0:10:04.00,0:10:06.22,Default,,0000,0000,0000,,Como nesta "Transfiguração", Dialogue: 0,0:10:06.22,0:10:08.47,Default,,0000,0000,0000,,onde uma ravina e uma barreira de madeira Dialogue: 0,0:10:08.47,0:10:10.47,Default,,0000,0000,0000,,nos separam do monte onde \Nse desenrola o milagre... Dialogue: 0,0:10:12.90,0:10:18.57,Default,,0000,0000,0000,,...aqui, só os acidentes de terreno são suficientes \Npara desempenhar este papel de separadores. Dialogue: 0,0:10:20.47,0:10:23.80,Default,,0000,0000,0000,,Além disso, a variedade e a precisão dos detalhes Dialogue: 0,0:10:23.80,0:10:25.80,Default,,0000,0000,0000,,fazem esquecer o seu caráter {\i1}fictício{\i0}: Dialogue: 0,0:10:27.35,0:10:30.40,Default,,0000,0000,0000,,nós acreditamos verdadeiramente que vemos \Nas belezas da Natureza. Dialogue: 0,0:10:32.95,0:10:35.72,Default,,0000,0000,0000,,Uma Natureza tão agradável que nos parece boa, Dialogue: 0,0:10:35.72,0:10:38.47,Default,,0000,0000,0000,,e tão {\i1}boa{\i0} que pensamos que \Nela foi criada {\i1}para nós{\i0} Dialogue: 0,0:10:38.47,0:10:39.82,Default,,0000,0000,0000,,por um autor divino. Dialogue: 0,0:10:41.82,0:10:46.20,Default,,0000,0000,0000,,Segunda solução: distinguir {\i1}as santas personagens{\i0}. Dialogue: 0,0:10:46.20,0:10:49.75,Default,,0000,0000,0000,,Mais do que empregar a tradicional auréola... Dialogue: 0,0:10:49.75,0:10:52.87,Default,,0000,0000,0000,,Bellini confere a São Francisco \Numa atitude misteriosa. Dialogue: 0,0:10:54.20,0:10:59.25,Default,,0000,0000,0000,,O mistério reside no contraste entre uma \N{\i1}presença física{\i0} extremamente forte e nítida... Dialogue: 0,0:10:59.25,0:11:02.10,Default,,0000,0000,0000,,...que se destaca num berço de rocha clara... Dialogue: 0,0:11:02.10,0:11:05.02,Default,,0000,0000,0000,,...e uma {\i1}atitude de êxtase{\i0}: Dialogue: 0,0:11:05.02,0:11:09.37,Default,,0000,0000,0000,,Ele está {\i1}diante de nós{\i0} e, no entanto, \Na sua atenção está {\i1}noutro lado{\i0}. Dialogue: 0,0:11:11.87,0:11:14.62,Default,,0000,0000,0000,,Terceira solução: a luz. Dialogue: 0,0:11:14.62,0:11:18.00,Default,,0000,0000,0000,,Bellini aplica camadas de tinta muito finas, \Nsobrepostas, Dialogue: 0,0:11:18.00,0:11:20.00,Default,,0000,0000,0000,,que criam efeitos de transparência... Dialogue: 0,0:11:25.37,0:11:29.02,Default,,0000,0000,0000,,Mas, igualmente, a impressão de luminescência \Nde certas superfícies, Dialogue: 0,0:11:29.02,0:11:31.02,Default,,0000,0000,0000,,como a pedra: Dialogue: 0,0:11:31.02,0:11:34.65,Default,,0000,0000,0000,,camadas claras, profundas, iluminam a superfície. Dialogue: 0,0:11:36.70,0:11:39.02,Default,,0000,0000,0000,,O São Francisco de Bellini aparece, portanto, Dialogue: 0,0:11:39.02,0:11:41.22,Default,,0000,0000,0000,,como um dos subtis ancestrais do «fantástico»: Dialogue: 0,0:11:42.85,0:11:47.25,Default,,0000,0000,0000,,no cenário de uma Natureza vulgar, \Na atitude de uma personagem, Dialogue: 0,0:11:47.25,0:11:49.75,Default,,0000,0000,0000,,uma atmosfera luminosa, Dialogue: 0,0:11:49.75,0:11:51.42,Default,,0000,0000,0000,,e pormenores estranhos Dialogue: 0,0:11:51.42,0:11:53.42,Default,,0000,0000,0000,,sugerem a presença do sobrenatural. Dialogue: 0,0:11:59.18,0:12:01.18,Default,,0000,0000,0000,,Próximo episódio: "O Jovem Cavaleiro", \Nde Carpaccio: Dialogue: 0,0:12:01.18,0:12:04.50,Default,,0000,0000,0000,,"As promessas de um jovem cavaleiro." Dialogue: 0,0:12:04.50,0:12:10.00,Default,,0000,0000,0000,,Mais informações em: www.canal-educatif.fr Dialogue: 0,0:12:11.71,0:12:14.13,Default,,0000,0000,0000,,Escrito e realizado por: Dialogue: 0,0:12:14.13,0:12:16.61,Default,,0000,0000,0000,,Produzido por: Dialogue: 0,0:12:16.61,0:12:18.96,Default,,0000,0000,0000,,Consultor científico: Dialogue: 0,0:12:18.96,0:12:21.36,Default,,0000,0000,0000,,Este filme existe graças ao apoio de mecenas (porque não você?) e do Ministério da Cultura e da Comunicação Dialogue: 0,0:12:21.36,0:12:23.76,Default,,0000,0000,0000,,Voz-off: Dialogue: 0,0:12:23.76,0:12:26.16,Default,,0000,0000,0000,,Montagem e videografismo: Dialogue: 0,0:12:26.16,0:12:28.56,Default,,0000,0000,0000,,Pós-produção e Som: Dialogue: 0,0:12:28.56,0:12:30.96,Default,,0000,0000,0000,,Seleção musical: Dialogue: 0,0:12:30.96,0:12:33.36,Default,,0000,0000,0000,,Música: Dialogue: 0,0:12:33.36,0:12:35.76,Default,,0000,0000,0000,,Créditos fotográficos: Dialogue: 0,0:12:35.76,0:12:38.16,Default,,0000,0000,0000,,Agradecimentos:\NTradução de: Isabel Vaz Belchior Dialogue: 0,0:12:38.16,0:12:38.16,Default,,0000,0000,0000,,Um filme do CED