Isto é uma ambumota.
Isto é a forma mais rápida para chegar
a qualquer emergência médica.
Tem tudo o que uma ambulância tem,
excepto uma cama.
Vejam o desfibrilhador.
Vejam o equipamento.
Todos nós vimos a tragédia ocorrida
em Boston.
Quando olhava para estas fotografias,
voltei alguns anos atrás no passado
para quando eu era uma criança.
Cresci num pequeno bairro em Jerusalém.
Quando tinha seis anos,
regressava da escola
numa sexta à tarde com o
meu irmão mais velho.
Passávamos por uma
paragem de autocarro.
Vimos um autocarro explodir à
frente dos nossos olhos.
O autocarro estava em chamas, e muitos
estavam feridos e mortos.
Lembro-me de um homem idoso
que gritava e chorava para que o
ajudássemos a levantar-se.
Apenas precisava que
alguém o ajudasse.
Estávamos com tanto medo
que simplesmente fugimos.
Enquanto crescia, decidi que queria ser
médico e salvar vidas.
Talvez por causa do que vi quando
era criança.
Quando tinha 15 anos, tirei um curso de
Técnicas de Emergência Médica,
e voluntariei-me para andar
numa ambulância.
Durante dois anos, fui voluntário
numa ambulância em Jerusalém.
Ajudei muitas pessoas,
mas sempre que alguém precisava
realmente de ajuda,
nunca conseguia chegar lá a tempo.
Nunca chegávamos lá.
O trânsito é muito mau.
A distância, e isso tudo.
Nunca chegávamos lá quando alguém
realmente precisava de nós.
Um dia recebemos uma chamada
acerca de um rapaz com sete anos
que se estava a engasgar com um cachorro quente.
O trânsito estava horrível, e vínhamos
do outro lado da cidade na
parte norte de Jerusalém.
Quando chegámos lá,
passados 20 minutos,
fizemos a reanimação cardiorrespiratória.
Chega um médico vindo da
distância de um quarteirão,
manda-nos parar, vê o rapaz,
e manda-nos parar a reanimação.
Naquele segundo declarou
a criança como morta.
Naquele momento, percebi
que a criança tinha morrido sem necessidade.
Se este médico, que vivia à
distância de um quarteirão,
tivesse chegado 20 minutos antes,
sem ter que esperar por ouvir
aquela sirene
vinda da ambulância;
se tivesse ouvido falar do
caso muito antes,
teria salvo esta criança.
Poderia ter corrido aquela distância.
Poderia ter salvo esta criança.
Disse para mim mesmo, tem que haver
uma melhor forma.
Em conjunto com 15 amigos
— éramos todos paramédicos —
decidimos proteger o nosso bairro
de modo a que, quando algo semelhante
ocorresse outra vez,
estivéssemos a caminho do local muito
antes da ambulância.
Fui até ao gerente da empresa
de ambulâncias
e disse-lhe: "Por favor, sempre que
tiver uma chamada
"vinda do nosso bairro,
"temos 15 homens prontos para
"parar tudo que estiverem a fazer
e para correr a salvar vidas.
"Alerte-nos através do pager.
"Compraremos estes pagers,
diga apenas ao expedidor
"para nos enviar os pagers,
que nós correremos para salvar vidas."
Ele riu-se. Eu tinha 17 anos.
Era um miúdo.
E ele disse-me — lembro-me disto
como se fosse ontem —
era bom homem, mas disse-me:
"Rapaz, vai para a escola,
ou vai abrir um quiosque de falafel.
"Não temos interesse nestas
novas aventuras.
"Não temos interesse na vossa ajuda."
E pôs-me para fora da sala.
"Não preciso da tua ajuda" — disse ele.
Eu era um rapaz muito teimoso.
Como podem ver, estou a caminhar como
um doido, "meshugenah".
(Risos e Aplausos)
Portanto, decidi usar a famosa técnica israelita
de que já ouviram falar, "chutzpah" [audácia].
(Risos)
E, no dia seguinte, fui comprar dois
rádios de polícia,
e disse: "Que se lixe, se não me querem
"dar a informação, arranjo-a sozinho."
E fizemos turnos, de quem ia ouvir
os rádios.
No dia seguinte, enquanto
ouvia os rádios,
ouvi uma chamada sobre um
homem de 70 anos
magoado por um carro
à distância de um quarteirão apenas
na estrada principal do meu bairro.
Corri até lá a pé.
Não tinha equipamento médico.
Quando lá cheguei, o homem
de 70 anos
estava deitado no chão, e sangue
jorrava do pescoço.
Ele estava a tomar Varfarina.
Sabia que tinha que parar a hemorragia
ou então ele morreria.
Tirei o meu "quipá" porque não tinha
equipamento médico,
e com muita pressão,
parei a hemorragia.
Ele estava a sangrar pelo pescoço.
Quando a ambulância chegou,
passados 15 minutos,
entreguei-lhes um paciente
que estava vivo.
(Aplausos)
Quando o fui visitar passados dois dias,
deu-me um abraço e estava a chorar
e agradecia-me por lhe ter salvo a vida.
Naquele momento, quando me percebi
que esta era a primeira pessoa
que tinha salvo na minha vida depois de dois
anos de voluntariado na ambulância,
sabia que esta era a missão da minha vida.
Portanto, hoje, passados 22 anos,
temos a United Hatzalah.
(Aplausos)
"Hatzalah" significa "salvamento", para os que
não sabem Hebraico.
Esqueci-me de que não estou em Israel.
Portanto, temos milhares de voluntários
apaixonados por salvar vidas,
e estão espalhados por toda a parte, portanto,
quando chega uma chamada,
param tudo e vão a correr para salvar uma vida.
O nosso tempo de resposta hoje
baixou para menos de três minutos
em Israel.
(Aplausos)
Falo de ataques cardíacos,
falo de acidentes rodoviários,
de ataques de bombas, tiroteios,
o que quer que seja,
mesmo uma mulher às 3h da manhã
que caia em casa e precise que
alguém a ajude.
Em três minutos, teremos alguém de pijama
a correr até a casa dela
para a ajudar a levantar-se.
As razões para o nosso sucesso
são três coisas.
Milhares de voluntários apaixonados
que deixam tudo que fazem
e correm para ajudar pessoas
que nem sequer conhecem.
Não estamos lá para
substituir ambulâncias.
Estamos lá
para actuar no tempo entre a chamada de
emergência e a chegada da ambulância.
E salvamos pessoas que noutros casos
não seriam salvas.
A segunda razão prende-se
com a nossa tecnologia.
Sabem, os israelitas são
bons em tecnologia.
Cada um de nós tem no seu telemóvel,
independentemente do telemóvel,
tem uma tecnologia GPS
feita pela NowForce,
e sempre que chega uma chamada,
os cinco voluntários mais
próximos recebem a chamada,
e chegam ao local muito depressa,
guiados por um guia de trânsito
para chegar lá e não perder tempo.
E isto é uma excelente tecnologia
usada por todo o país
para reduzir o tempo de resposta.
E a terceira coisa são
estas ambumotas.
Estas ambumotas são ambulâncias
sobre duas rodas.
Não transferimos pessoas,
mas estabilizamo-las,
e salvamos-lhes a vida.
Não ficam presas no trânsito.
Até podem andar no passeio.
Nunca ficam, literalmente,
presas no trânsito.
É por isso que chegamos lá
tão rapidamente.
Alguns anos depois de começar
esta organização
numa comunidade judaica,
dois muçulmanos do leste de Jerusalém
ligaram-me.
Pediram-me para se encontrarem comigo.
Queriam reunir-se comigo.
Muhammad Asli e
Murad Alyan.
Quando o Muhammad me contou a sua
história pessoal,
de como o pai, de 55 anos, caiu em casa
ao sofrer uma paragem cardíaca,
e que demorou uma hora para
que a ambulância chegasse,
e viu o pai dele morrer-lhe
à frente dos olhos,
pediu-me: "Por favor comece isto
no leste de Jerusalém."
Pensei: "Vi tantas tragédias, vi tanto ódio,
"e não se trata de salvar judeus.
Não se trata de salvar muçulmanos.
"Não se trata de salvar cristãos.
Trata-se de salvar vidas."
Portanto, segui em frente,
com toda a energia...
(Aplausos)
Portanto, comecei o United Hatzalah
no leste de Jerusalém,
e é por isso que os nomes
United (Unidos)
e Hatzalah combinam bem.
Começámos a salvar
os judeus e árabes.
Os árabes salvavam os judeus.
Os judeus salvavam os árabes.
Algo de especial aconteceu.
Os árabes e os judeus
nem sempre se dão bem,
mas nesta situação,
as comunidades, literalmente,
aconteceu uma situação inacreditável,
as diversidades de repente tinham
um interesse comum:
"Vamos salvar vidas em conjunto."
Os colonos salvavam os árabes, e os árabes
estavam a salvar os colonos.
É um conceito inacreditável que
só poderia funcionar
quando se tem uma causa destas.
E são todos voluntários.
Ninguém recebe dinheiro.
Fazem-no todos com a intenção
de salvar vidas.
Quando o meu pai caiu
há uns anos
após uma paragem cardíaca,
um dos primeiros voluntários
a chegar para salvar
o meu pai
foi um voluntário muçulmano
do leste de Jerusalém
que estava no primeiro curso
para se juntar ao Hatzalah.
E ele salvou o meu pai.
Conseguem imaginar como
me senti naquele momento?
Quando comecei esta organização,
tinha 17 anos.
Nunca imaginei estar a falar
no TEDMED.
Nem sabia o que significava
TEDMED na altura.
Acho que não existia,
mas nunca imaginei,
nunca imaginei que andasse por aí,
e que se vai espalhar por aí,
e no último ano começámos
no Panamá e no Brasil.
Preciso apenas de um parceiro que seja
um pequeno "meshugenah" como eu,
apaixonado por salvar vidas,
e disposto a fazê-lo.
Brevemente vou começá-lo na Índia,
com um amigo que conheci em
Harvard há uns tempos.
O Hatzalah iniciou-se em Brooklyn
através de um judeu hassídico
anos antes de nós em Williamsburg,
e agora está em toda a comunidade
judaica em Nova Iorque,
até na Austrália e no México,
e noutras comunidades judaicas.
Poderá espalhar-se por todo o lado.
É fácil de encontrar.
Até terão visto estes voluntários
em Nova Iorque,
a salvar as vidas no
World Trade Center.
Só no ano passado, tratamos
207 000 pessoas em Israel.
42 000 eram situações de
perigo de vida.
E fizemos a diferença.
Suponho que poderão chamar a isto
um salva vidas "flash mob",
e funciona.
Quando olho aqui à volta,
vejo muitas pessoas que fariam
um esforço,
fariam um esforço para
salvar outras pessoas,
quem quer que fossem,
qualquer que fosse a sua religião,
quem quer que fossem,
de onde quer que viessem.
Todos queremos ser heróis.
Precisamos apenas de uma boa ideia,
de motivação,
e de muita chutzpah (audácia),
e poderemos salvar
milhões de pessoas,
que, de outro modo, não seriam salvas.
Muito obrigado.
(Aplausos)