Boa tarde.

Eu sou a Mallence, e eu venho
do país mais rico do mundo.

Ele fica localizado no continente
mais rico continente do mundo,

no oeste do continente mais rico do mundo.

Meu país se chama Serra Leoa.

Na superfície, somos abençoados
com uma beleza infinita

e abundância de flora e fauna.

Temos as mais primorosas
plantações de café, cacau,

frutas, vegetais

e borracha.

Tudo o que você imaginar nós temos.

Nós temos também uma diversificada
vida salvagem e vastos recursos marinhos,

cachoeiras e rios que desaguam
nas mais belas praias.

A terra é dourada,
literalmente um verdadeiro paraíso,

que, logicamente,
é habitado pelas mais belas almas.

Nós temos uma herança
cultural muito forte.

Na verdade, foi em Serra Leoa que surgiu
a primeira universidade subsaariana.

Antes disso, havia uma
no reino de Tombuctu,

que foi a primeira universidade do mundo,

após as grandes escolas
gnósticas do Egito e Osiris.

De forma mais profunda,

somos abençoados com verdadeiros tesouros
que os reis e rainhas deste mundo desejam.

Este foi o maior diamante
aluvial já encontrado.

Ele pesa quase mil quilates;
969, para ser precisa.

Esta beleza foi encontrada por uma velha
senhora em seu quintal há quase dois anos,

com 125 quilates.

Algumas pessoas mineram ouro
em seus quintais. É bem comum.

Além de ouro e diamante,

temos aproximadamente 20 metais
preciosos descobertos até hoje.

Recentemente, começamos a explorar
imensas reservas de petróleo

que foram descobertas.

Temos platina;

ilmenita para fabricar titânio;

rutilo para revestir aeronaves;

minério de ferro,

a maior reserva de minério de ferro
da África e a terceira maior do mundo;

tantalita, também conhecida como coltan,
usado nos seus celulares e computadores;

bauxita para a produção de alumínio;

zinco, minério de cromo, cobre, carvão,
fosfatos, potássio, sal, chumbo,

granito, amianto, níquel, zircônio.

Além disso,

temos madeiras requintadas,
como mogno e teca,

e temos os selos mais bonitos do mundo.

(Risos)

É claro que o Ocidente precisa
dos recursos africanos, desesperadamente,

para fazer funcionar aviões, computadores,
telefones celuares e motores.

Além do ouro e dos diamantes, é claro:

que lhes servem como símbolo de status,

para deixar claro seu poder
através da decoração

e para valorizar suas moedas.

Uma coisa me deixa confusa.

Apesar de ter estudado finanças e economia
nas melhores universidade do mundo,

a seguinte questão permanece sem resposta:

por que é que 5 mil unidades da nossa
moeda vale 1 unidade da moeda de vocês,

se somos nós, na verdade,
que possuímos as reservas de ouro?

É evidente que o "socorro" na verdade
não sai do Ocidente para a África

mas da África para o mundo ocidental.

O mundo ocidental é dependente da África
de todas as formas possíveis,

já que os recursos alternativos
são escassos por aqui.

Então, como é que o Ocidente garante

que esses recursos gratuitos
continuem chegando?

Por meio da desestabilização sistemática
das nações africanas mais ricas

e de seus sistemas,

e tudo isto apoiado por grandes
campanhas de relações públicas,

deixando o mundo todo com a impressão
de que a África é pobre e moribunda,

e de que só sobrevive
pela misericórdia do Ocidente.

Parabéns à Oxfam, UNICEF,
Cruz Vermelha, Life Aid

e todas as outras organizações

que realizam continuamente
campanhas publicitárias multimilionárias

mostrando ações de caridade
em meio à aparente pobreza

a fim de perpetuar essa imagem
da Africa para o mundo,

campanhas publicitárias financiadas
por pessoas bem-intencionadas

acreditando que estão ajudando
com as suas doações.

Enquanto uma mão doa
sob as luzes das câmeras,

a outra tira, fora dos holofotes.

Todos nós sabemos
que o dólar não tem valor,

enquanto o euro valha apenas
o intelecto e a tecnologia alemã,

e talvez um pouco de massa italiana.

Como alguém pode esperar doações
de nações que têm tão pouco?

É muito legal da parte de vocês
vir com um papel colorido

em troca do nosso ouro e diamantes.

Em vez disso, vocês deviam vir
de mãos vazias,

cheios de integridade e honra.

Nós queremos repartir com vocês nossa
riqueza e convidá-los a dividir conosco.

Muitos acham que uma África
saudável e empenhada

não dispersaria seus recursos 
de forma tão barata e livre,

o que é lógico.

Claro.

Em vez disso, venderia seus recursos
ao preço de mercado mundial,

o que por sua vez desestabilizaria
e enfraqueceria as economias ocidentais,

estabelecidas no sistema pós-colonial
de alimentação gratuita.

Ano passado, o FMI informou

que seis das dez economias mundias
que crescem mais rápido estão na África,

com base no crescimento
de seus respectivos PIBs.

O Tesouro francês, por exemplo,

vem recebendo em torno U$ 500 bilhões,

ano sim, ano não,

em moeda estrangeira
das reservas de países africanos

com base no débito colonial
que a França os força a pagar.

O ex-presidente francês Jacques Chirac
declarou recentemente numa entrevista:

"Temos que ser honestos e reconhecer
que boa parte do dinheiro em nossos bancos

vem seguramente da exploração
do continente africano".

Em 2008, ele declarou que, sem a África,

a França vai cair para uma posição 
de país de Terceiro Mundo".

Isto é o que acontece no mundo humano,

no mundo em que nós criamos.

Vocês já se perguntaram
como as coisas funcionam na natureza?

Alguém diria que, na evolução,
o mais apto sobrevive.

Entretanto, na natureza,

quando qualquer espécie
está caçando indiscriminadamente,

abusando dos recursos dos quais
dependem para se alimentar,

a seleção natural, cedo ou tarde, 
elimina esse predador,

porque ele perturba o equilíbrio.

Agora que compartilhei
a minha visão com vocês,

gostaria de compartilhar
minhas iniciativas.

Como serra-leonense,
sou especialista em diamantes.

Eu os encontro em sua forma bruta.

O que a natureza criou
da matéria mais escura,

sob a influência do calor e da pressão,

se transforma na mais sólida 
e brilhante das pedras.

Essas pedras têm a consistência 
para sustentar toda uma nação.

Estes serão os nossos futuros líderes.

Eu apresento a vocês
o coletivo criativo FOLORUNSHO

que formei com 21 jovens de rua
que estavam órfãos e desabrigados

devido à guerra civil em Serra Leoa,

e acabaram indo morar nas ruas
aos três anos de idade, em alguns casos,

crescendo à margem da sociedade.

(Vídeo)

"Meu nome é Timothy.
Mas meu nome de gângster é A Fame ."

"Eu sou Donald Williams,
meu apelido é Wanee."

"Meu nome é Patrick Christian Kargbo."

"Meu nome é Allusine Jalloh."
"Meu nome é Momoh Alpha Kamara."

"Meu nome é Lamin Bangura.

Mas nas ruas eles
me chamam de Crazy Exhibit."

"Meu nome é Sahr Morsay."

"Meu nome é Sheku Conteh.
Nas ruas me chamam de DMX."

(Música)

"Eu perdi minha mãe e meu pai
durante a guerra civil em Serra Leoa.

Eu fui criado pela minha avó na vila."

"Aos cinco anos de idade,

minha madrasta me maltratava.

Ela até colocou veneno na minha comida."

"Em nome de Jesus eu rezo, amém.
Esta é a história da minha vida."

"Fomos nós quem formamos a Lion Base.

Nós fomos os primeiros a invadir o lugar,

até outros gângsters chegarem,
depois de algum tempo.

Agora a Lion Base é de dar medo.
É um grupo assustador."

"Você tem o jeito difícil e o jeito fácil.

O jeito fácil é roubar.

O jeito difícil é transportar carga
para pessoas em Dorfcourt

ou recollher o lixo das pessoas."

"Se você não é forte nas ruas,

você vai morrer jovem ou vai acabar mal."

"Em 2001, quando eu vim para as ruas, 
eu fazeia um monte de coisas ruins.

Eu roubava, roubava os telefones
das pessoas, eu vivia uma vida ruim,

até 2010, quando eu conheci Mallence."

"Das ruas, ela me levou
e me colocou numa escola.

Eu vivo bem agora.

Agora, meu objetivo, o que eu quero
fazer no futuro, é estudar direito.

Eu sempre tive esse determinação
de me tornar um advogado.

Este é o meu futuro."

(Música)

"Meu plano para o futuro é conseguir
sustentar minha própria família.

Porque agora eu decidi ir para a escola
e ser um homem de negócios no exterior."

"A vida dura que alguns de meus
companheiros das ruas estão vivendo,

eu desejo que eles mudem
ou possam mudar como eu.

Deixem o estilo de vida ruim para trás,

porque não é assim que 
seres humanos devem viver.

Seres humanos devem ter um propósito,

e desejar um futuro melhor neste mundo."

(Música)

"Não se trata de caridade.
Trata-se de solidariedade!"

(Aplausos)

Esses garotos são minha maior inspiração.

O destino nos uniu.

Eu os conheci num encontro
ocasional em 2010.

Em 2011, todos eles começaram
a viver comigo, 21 no total.

Coisas maravilhosas acontecem quando
criativos se conhecem com respeito mútuo.

Como nós concretizamos isto?

Criatividade, a mesma criatividade
que assegurou suas sobrevivências

sob as mais adversas
circunstâncias nas ruas

e está canalizada por aí

em forma de arte, música, filme e moda.

Eles tornaram possível o impossível.

De Lion Base, em Serra Leoa,

para lojas de luxo em Paris,
Nova Iorque e Berlim.

Isto é o que criamos sozinhos,
sem um único centavo de doações,

sem água encanada, sem energia elétrica.

A maioria deles não sabia ler e escrever
na época em que eu os conheci.

E agora alguns deles estão
estudando direito, engenharia,

se tornando cineastas e por aí vai.

Isto é feito com pura energia,
inspiração e amor em Freetown.

Com criatividade e paixão
como únicos ingredientes,

nós participamos de um mercado global
de competição internacional

e conseguimos chegar às lojas
de departamentos mais exclusivas do mundo,

vestindo símbolos da moda mundial,

e às mais ilustres coleções
e exibições de arte,

em Berlim, Paris, Nova Iorque, Miami.

Um conceito comprovado que produziu
indivíduos autossuficientes,

financiando sua própria formação
em direito, engenharia, cinema e arte,

em apenas três anos.

Um conceito baseado em respeito
mútuo e solidariedade,

modelo que pode ser replicado em qualquer
lugar, sob qualquer circunstância.

Eu apenas tive a visão e a sensibilidade
de reconhecer diamantes brutos,

e estava determinada a provar para o mundo

que a ausência de doações produz
qualidade de uma forma autossuficiente.

Eu acredito que a caridade somente 
cria inferioridade e dependência.

Eu quero servir de ponte
entre dois mundos que eu chamo de casa,

para facilitar uma troca justa
entre dois mundos contrastantes

que se torna poderosa
se o equilíbrio for restabelecido.

Não se trata de caridade.
Trata-se de solidariedade.

Hoje eu convido vocês
a mudarem suas perspectivas.

Ponham em prática suas visões
de um mundo mais positivo.

Nunca vejam falta, vejam abundância,
sempre, em todo lugar,

e vejam o universo cooperar.

Não foquem os problemas, mas as soluções.

Lembrem-se de que nossa percepção
de qualquer situação

é a única coisa que determina o resultado.

Eu sou Mallance.

Eu sou alemã, também.

Mudem sua visão.

(Alemão) Obrigada pela sua atenção.

Obrigada pela atenção.

(Aplausos)