WEBVTT 00:00:06.760 --> 00:00:09.236 Imaginemos que o cérebro era capaz de se reiniciar, 00:00:09.236 --> 00:00:14.414 substituindo as suas células danificadas por células novas e melhoradas. 00:00:14.414 --> 00:00:16.657 Parece algo digno de ficção científica, 00:00:16.657 --> 00:00:20.936 porém esta é uma realidade possível, actualmente em investigação. 00:00:20.936 --> 00:00:24.504 Poderão, um dia, os nossos cérebros repararem-se a si próprios? 00:00:24.504 --> 00:00:28.319 É sabido que as células embrionárias de cérebros jovens em desenvolvimento 00:00:28.319 --> 00:00:30.335 produzem neurónios novos, 00:00:30.335 --> 00:00:33.777 as unidades microscópicas que compõem o tecido cerebral. 00:00:33.777 --> 00:00:39.242 Esses neurónios recém-gerados migram para zonas do cérebro em desenvolvimento, 00:00:39.242 --> 00:00:43.132 fazendo com que este se organize em diferentes estruturas. 00:00:43.132 --> 00:00:44.445 Até há pouco tempo, 00:00:44.445 --> 00:00:50.037 julgava-se que a produção celular parava abruptamente após este crescimento, 00:00:50.037 --> 00:00:52.793 o que levava a que se concluísse que doenças neurológicas, 00:00:52.793 --> 00:00:54.977 como o Alzheimer ou a doença de Parkinson, 00:00:54.977 --> 00:00:59.760 e acidentes cerebrais danosos, como AVCs, eram irreversíveis. 00:00:59.760 --> 00:01:01.623 No entanto, descobertas recentes 00:01:01.623 --> 00:01:06.604 revelam que um cérebro adulto continua a produzir novas células 00:01:06.604 --> 00:01:09.465 em pelo menos três zonas especializadas. 00:01:09.465 --> 00:01:12.421 Este processo, designado neurogénese, 00:01:12.421 --> 00:01:16.083 envolve células cerebrais específicas, as células estaminais nervosas, 00:01:16.083 --> 00:01:17.915 assim como células progenitoras, 00:01:17.915 --> 00:01:22.250 que originam novos neurónios ou substituem os anteriores. 00:01:22.250 --> 00:01:25.209 As três regiões onde a neurogénese foi identificada 00:01:25.209 --> 00:01:29.351 são o giro denteado, envolvido na aprendizagem e na memória, 00:01:29.351 --> 00:01:33.936 a zona sub-ventricular, que pode fornecer neurónios ao bulbo olfactivo 00:01:33.936 --> 00:01:36.856 para estabelecer comunicação entre o nariz e o cérebro, 00:01:36.856 --> 00:01:40.170 e o corpo estriado, que auxilia o controlo do movimento. 00:01:40.170 --> 00:01:43.992 Os cientistas ainda não compreendem na totalidade qual o papel 00:01:43.992 --> 00:01:47.622 desempenhado pela neurogénese em cada uma destas regiões, 00:01:47.622 --> 00:01:51.989 ou o porquê de possuírem esta capacidade, que está ausente no resto do cérebro, 00:01:51.989 --> 00:01:56.739 porém, a mera presença de um mecanismo que gera novos neurónios no cérebro adulto 00:01:56.739 --> 00:01:59.596 abre-nos um mundo de possibilidades. 00:01:59.596 --> 00:02:04.657 Estaremos perante o mecanismo que fará com que o cérebro repare as suas cicatrizes 00:02:04.657 --> 00:02:07.876 semelhante a como uma nova camada de pele cresce sob uma ferida, 00:02:07.876 --> 00:02:11.889 ou uma fractura óssea se sara a si mesma? 00:02:11.889 --> 00:02:13.779 Eis o ponto da situação. 00:02:13.779 --> 00:02:18.050 Certas proteínas e moléculas capazes de simular estas proteínas 00:02:18.050 --> 00:02:20.136 podem ser administradas no cérebro 00:02:20.136 --> 00:02:23.084 para incitar células estaminais nervosas e células progenitoras 00:02:23.084 --> 00:02:26.595 a produzirem mais neurónios nestas três zonas. 00:02:26.595 --> 00:02:28.742 O método ainda precisa de ser aperfeiçoado 00:02:28.742 --> 00:02:31.156 para que a reprodução celular seja mais eficiente 00:02:31.156 --> 00:02:33.077 e um maior número de células sobreviva. 00:02:33.077 --> 00:02:36.416 Contudo, pesquisas indicam que as células progenitoras destas zonas 00:02:36.416 --> 00:02:40.019 são capazes de migrar para locais onde tenha ocorrido uma lesão 00:02:40.019 --> 00:02:43.195 e gerar aí novos neurónios. 00:02:43.195 --> 00:02:45.313 Uma outra abordagem possível e promissora 00:02:45.313 --> 00:02:48.307 é o transplante de células estaminais nervosas humanas, 00:02:48.307 --> 00:02:51.842 de cultivo em laboratório, para tecido danificado, 00:02:51.842 --> 00:02:53.760 tal e qual como fazemos com a pele. 00:02:53.760 --> 00:02:55.668 Actualmente, estão a ser feitos testes 00:02:55.668 --> 00:03:00.820 para apurar se as células transplantadas se podem dividir, diferenciar 00:03:00.820 --> 00:03:06.153 e conseguir dar origem a novos neurónios numa zona de lesão cerebral. 00:03:06.153 --> 00:03:07.345 Foi também descoberto 00:03:07.345 --> 00:03:10.397 que possivelmente seremos capazes de condicionar outras células, 00:03:10.397 --> 00:03:13.738 tais como os astrócitos e os oligodendrócitos 00:03:13.738 --> 00:03:18.653 a comportarem-se como células estaminais nervosas para gerarem neurónios também. 00:03:18.653 --> 00:03:22.990 Assim, daqui a umas décadas, conseguirão os nossos cérebros auto-reparar-se? 00:03:22.990 --> 00:03:24.719 Não podemos afirmá-lo com certeza, 00:03:24.719 --> 00:03:29.066 mas esta premissa tornou-se numa das maiores metas da medicina regenerativa. 00:03:29.066 --> 00:03:31.850 O cérebro humano possui 100 mil milhões de neurónios 00:03:31.850 --> 00:03:37.762 e ainda hoje tentamos desvendar a arquitectura desta placa-mãe biológica. 00:03:37.762 --> 00:03:44.476 Porém, a constante investigação nesta área acerca-nos aos poucos do botão Reiniciar.