Em seguida nós temos um bom amigo meu.
Ele passou por muita coisa.
Fez uma busca profunda.
Ele trabalhou para achar sua própria cura,
e usa sua história para nos ajudar
aqui a achar a nossa.
Senhoras e senhores,
meu bom amigo, Sr. Sam Johnson.
(Aplausos)
Minha história é sobre
minha filha, minha heroína.
Eu nasci e cresci em Charleston,
na Carolina do Sul.
Não foi fácil crescer no Sul.
Ser chamado de "preto",
ver meu pai machucar minha mãe,
e ser espancado com um cabo de extensão.
Comecei a me entorpecer com ódio e raiva.
Me lembro que a pior surra que já levei
foi por não ter defendido
meu irmão pequeno na escola.
Eu estava deitado no meu quarto.
Meu pai correu em minha direção,
me agarrou,
e começou a me bater por todo o corpo
com um cabo de extensão.
Ele gritava: "Nunca deixe ninguém machucar
seu irmão ou sua família".
Ele continuava a me bater sem parar.
Eu disse: "Me desculpa.
Nunca mais vai acontecer".
Mas ele não parava. Continuava
me chicoteando com o cabo de extensão.
Então eu disse a meu pai:
"Vá em frente e me mate".
Foi quando minha mãe entrou,
agarrou o cabo de extensão,
e não soltou mais.
Eu disse para mim mesmo que jamais
seria espancado daquele jeito de novo.
Eu tinha vergões por todo o meu corpo:
alguns na forma de S,
outros em forma de O.
Havia carrancas e sorrisos.
Comecei a procurar ajuda, ficar zangado,
me tornei amargo.
Odiava o mundo; odiava todos.
Amava minha família, mas havia um conflito
porque meu pai era
o monstro e meu inimigo.
Eu me lembro de voltar para casa
do trabalho quando eu tinha 18 anos,
e meu pai segurava uma faca
na garganta da minha mãe.
Havia muito sangue nas mãos dela,
pois ela segurava a lâmina para impedir
que ele cortasse a sua garganta.
Eu olhei para meu pai e disse:
"Está sempre agredindo minha mãe.
Venha brigar comigo".
Eu me lembro dele gritando para minha mãe,
e dizendo a ela para largar a faca
porque ele iria me matar.
Eu olhei para minha mãe
e disse: "Larga a faca, mãe".
Ela disse: "Menino, se eu soltar
a faca seu pai vai me matar".
Eu sabia que tinha chamado a atenção dele
porque ele estava com muita raiva,
e estava determinado a tirar
a faca da mão da minha mãe.
Então, apenas a olhei nos olhos,
e sabia que Deus estava comigo,
e disse: "Mãe, por favor. Solta a faca".
Ela soltou.
Meu pai veio com a faca
para cortar minha garganta.
Eu saí do caminho. Ela tinha
um pequeno estojo ao lado dela.
Eu agarrei o estojo e bati na cabeça dele.
Ao longo dos anos
eu machuquei muitas pessoas.
E causei muitos danos.
Eu disse para minha filha que contaria
para ela quando ela fizesse seis anos.
Ela veio me visitar um dia, no fim
de semana do seu aniversário,
e disse: "Pai, estou com seis anos".
Eu disse: "Eu sei que você tem seis anos".
Ela disse: "Não pai, tenho seis anos".
Eu disse: "Eu sei que você tem seis.
Te mandei um cartão e dinheiro".
Ela disse: "Não, pai. Tem que me dizer
porque está na prisão".
Eu senti meu coração pular para fora
do peito ao olhar para ela e sua mãe.
Então, me sentei e disse à minha filha
exatamente porque estava na prisão.
Minha filha de seis anos
me agarrou, me abraçou,
e me disse o quanto ela me amava.
Pareceu que algo estalou dentro de mim.
Parecia que meu coração havia se aberto,
e pela primeira vez na minha vida,
eu pude ver o dano que havia causado
à minha família e à minha filha.
Eu fui egoísta pensando que, porque
elas estavam do lado de fora, estavam bem,
e eu era aquele que estava
sofrendo porque estava na prisão.
Naquele momento, disse para minha esposa
que eu precisava sair da prisão.
Foi quando comecei a procurar
os programas aqui em San Quentin.
Entrei em programas como o VOEG, Grupo
de Educação de Infratores de Vítimas.
Entrei na Aliança para a Mudança,
um curso de justiça social.
Entrei no Controle de Raiva
que ensina como identificar meus gatilhos.
E entrei no "Ame a realidade"
da Byron Katie,
porque resistia em perceber
onde eu deveria estar.
Estava aqui. Estava lutando
contra esse processo.
Meu estilo de vida me levou a uma estrada
que me trouxe para a prisão.
Foi difícil; comecei
a trabalhar em várias coisas.
Entrei no MAC, Conselho Consultivo
para Homens, aprendi a falar com pessoas;
a me reunir com o diretor
e sua administração.
Com minha família, amor,
e apoio incondicional, eu cresci.
Eu me tornei o homem que está
aqui diante de vocês, um homem mudado.
Um homem com amor e compaixão.
Minhas visitas se tornaram
um pouco mais animadas.
Gostaria de compartilhar algo
com vocês para encerrar.
Semanas depois da minha transformação,
minha filha apareceu.
Quatro anos de idade, De’rihya.
Eu costumava caminhar, com a De'rihya
no meu ombro, na sala de visitas.
Caminhando.
Esse é um dos momentos
mais felizes da minha vida,
que realmente me fez saber
que a minha família me amava.
Caminhando pela sala de visitas,
senti algo molhado
no topo da minha cabeça.
Eu disse: "O que você está fazendo?"
Ela disse: "Nada".
(Risos)
Continuei andando pela sala
de visitas, caminhando.
Senti de novo.
E percebi que minha filha estava
lambendo a minha cabeça.
(Risos)
Eu disse a ela: "É melhor
você parar. Isso é feio".
(Risos)
Palavras erradas.
Ela me lambeu mais uma vez, e me mordeu.
(Risos)
Eu gritei: "Ai!"
E ela ficou rindo.
E notei que todos na sala de visitas
estavam rindo também.
Estavam observando o tempo todo
minha filha fazer o que estava fazendo.
E perguntei: "Por que você me mordeu?"
Ela disse: "Pai, a sua cabeça
parece um caramelo".
(Risos)
E é por isso que ela me mordeu.
(Risos)
O amor da minha família,
a esperança e orações
me transformaram na pessoa
que está na frente de vocês.
E com isso quero agradecer-lhes muito.
Namastê e que Deus esteja
com todos vocês.
(Aplausos)