" Mãe, quem são estas pessoas?"
Foi uma pergunta inocente da minha
filha mais nova, Alia,
quando tinha uns três anos.
Estávamos a passear, com o meu marido,
num dos grandes centros comerciais
de Abu Dhabi.
A Alia estava a mirar um grande póster
que estava no meio do centro.
Este apresentava os três governantes
dos Emirados Árabes Unidos.
Quando veio para a minha beira
inclinei-me e expliquei-lhe
que eram os governantes dos EAU
que trabalharam muito
para desenvolver a nação
e manter a sua unidade.
Ela perguntou: "Mãe, porque é que,
aqui onde vivemos
"e no Líbano, onde vive a avó e o avô,
"nunca vemos fotografias de mulheres
poderosas nas paredes?
"As mulheres não são importantes?"
É provavelmente a pergunta mais difícil
que me fizeram na vida,
tanto como mãe como em 16 anos
de vida profissional.
Cresci na minha cidade natal no Líbano,
a mais nova de duas filhas
de um atarefado piloto
e diretor de operações
da linha aérea libanesa
e de uma dona de casa,
mãe e avó super carinhosa.
O meu pai encorajou-me e à minha irmã
para seguirmos os nossos estudos
apesar de a nossa cultura,
na altura, enfatizar
que deviam ser os filhos e não as filhas
a serem motivados profissionalmente.
Fui uma das raras raparigas
da minha geração
que saiu de casa aos 18 anos
para estudar no estrangeiro.
O meu pai nunca teve um filho,
e por isso, de certa forma,
eu assumi esse papel.
Passados uns 20 anos
acho que não me saí nada mal
em fazer o meu pai orgulhoso
do seu suposto filho.
Fiz uma licenciatura e doutoramento
em Engenharia Elétrica,
I&D no Reino Unido,
e consultoria no Médio Oriente,
estive sempre em ambientes
dominados por homens.
Verdade seja dita, nunca encontrei
um modelo com o qual me identificasse.
A geração da minha mãe não esteve
em posições de liderança.
Apareceram alguns homens
encorajadores
mas nenhum compreendia as exigências
e pressões que eu enfrentava,
pressões que tornaram-se particularmente
graves quando tive as minhas duas filhas.
Apesar de as mulheres ocidentais gostarem
de aconselhar as pobres e oprimidas árabes,
elas vivem vidas diferentes
com limitações diferentes.
Por isso as mulheres da minha geração
tornaram-se nos seus próprios modelos.
Lidámos com mais coisas
do que os homens árabes,
e enfrentámos mais intolerância cultural
do que as mulheres ocidentais.
Como resultado, acho que nós,
as pobres e oprimidas mulheres
na realidade, temos para partilhar
algumas lições úteis e suadas,
lições que podem ser úteis
para quem quiser prosperar
no mundo moderno.
Aqui temos três das minhas.
["Converter a m*rda deles
na nossa energia"]
( Risos)
(Aplausos)
Há uma palavra que toda a gente
destaca como a chave para o sucesso:
resiliência
O que é exatamente a resiliência
e como a podemos desenvolver?
Acho que é simplesmente a capacidade
para transformar porcaria em energia.
No meu emprego anterior,
antes da minha empresa atual,
trabalhei com um homem
a que vamos chamar John.
Eu estava na equipa do John
e a esforçar-me imenso,
à espera que ele reparasse
como eu era fantástica
e que me apoiasse
para me tornar social na empresa.
Paralelamente a isto realizava
os meus projetos de consultoria,
escrevia apaixonadamente sobre
a emancipação económica da mulher.
Um dia, fui apresentar a minha pesquisa
a uma sala cheia de alunos de mestrado.
O John fazia parte do público
a ouvir pela primeira vez
os pormenores do meu estudo.
Enquanto prosseguia
com a minha apresentação,
podia vê-lo pelo canto do olho.
Ele estava todo corado
e tinha deslizado pela cadeira,
envergonhado.
Acabei a apresentação
com os aplausos do público
e dirigimo-nos para o carro.
Aí ele explodiu.
"O que fizeste ali foi inaceitável!
"És uma consultora, não és uma ativista!"
Eu disse: "John, não entendo.
"Apresentei alguns índices
de paridade de sexos,
"e algumas conclusões
sobre o mundo árabe.
"Sim, acontece que hoje estamos
em ultimo lugar no índice,
"mas o que é que eu disse
ou apresentei que não fosse factual?"
Ao que ele respondeu:
"As premissas do teu estudo
estão todas erradas.
"O que fazes é perigoso e vai destruir
o tecido social da nossa sociedade."
Ele parou e depois acrescentou:
"Quando as mulheres têm filhos
o lugar delas é em casa."
O tempo parou por um longo momento,
e tudo o que conseguia pensar
e repetia na confusão da minha cabeça era:
"Podes esquecer a parceria, Leila.
"Nunca irá acontecer."
Demorei uns dias a absorver completamente
o incidente e as suas implicações,
mas assim que o fiz,
cheguei a três conclusões.
Primeiro, que isto era um problema dele,
os complexos dele.
Existem muitos como ele
na nossa sociedade,
mas os problemas deles
nunca irão ser os meus.
Segundo, preciso de outro patrono
e depressa.
(Risos)
Já agora, arranjei um e era fantástico.
E terceiro, que iria mostrar ao John
o que as mulheres com filhos podem fazer.
Também apliquei esta lição
à minha vida pessoal.
Assim que progredi na minha carreira,
recebi muitas palavras de encorajamento,
mas também cruzei-me
com mulheres, homens e casais
que claramente tinham problemas
comigo e com o meu marido
por termos optado por ser
um casal com carreira dupla.
Então, aparece este casal bem-intencionado
que nos diz, frontalmente,
numa reunião de família
ou numa reunião de amigos,
que temos de ter a noção
de que não somos uma boa mãe,
com o tempo que investimos
na nossa carreira.
Mentiria se dissesse
que estas palavras não doeram.
Os meus filhos são
o mais importante para mim
e a ideia que poderia estar a falhar-lhes
em qualquer coisa é intolerável.
Mas tal como fiz com o John,
rapidamente lembrei-me
que eram problemas deles,
os complexos deles.
E em vez de responder,
fiz um dos meus grandes sorrisos
e vi, numa luz cintilante,
o seguinte sinal na minha cabeça.
[Sê feliz, isso deixa as pessoas doidas.]
(Aplausos)
Como jovem nestas situações,
temos duas opções.
Podemos decidir interioriza
estas mensagens negativas
que nos estão a ser atiradas
e deixarmo-nos sentir umas fracassadas,
e pensar que o sucesso
é muito difícil de alcançar,
ou podemos decidir ver que a negatividade
dos outros é problema deles
e transformar essa negatividade
na nossa energia pessoal.
Aprendi a escolher sempre
a segunda opção
e descobri que tem-me levado
a ser cada vez mais forte.
E é verdade o que se diz:
"O sucesso é a melhor vingança".
Há mulheres no Médio Oriente
que tiveram sorte em casar com alguém
que apoia a carreira delas.
Correção: Devia dizer "a esperteza,"
porque casamos com quem escolhemos
e é melhor que casemos
com alguém que nos apoie
se desejamos uma carreira longa.
Ainda assim, o homem árabe
não contribui de forma igual em casa.
Não é o que se espera
na nossa sociedade,
e é mesmo desaprovado
por ser pouco viril.
A nossa sociedade continua
a assumir que, para a mulher,
a sua fonte primária de felicidade
deverá ser a felicidade e a prosperidade
dos filhos e do marido.
Ela existe principalmente
para a sua família.
As coisas estão a mudar,
mas ainda vão demorar.
Por agora, significa que a mulher
árabe que trabalha
tem que conseguir manter o lar perfeito,
certificar-se que as necessidades
das crianças estão preenchidas
e gerir as exigências da carreira.
Para alcançar isto, eu descobri,
da maneira mais difícil,
que é necessário aplicar as competências
profissionais na nossa vida pessoal.
Precisamos de trabalhar a nossa vida.
Aqui está o que eu faço
na minha vida pessoal.
Uma coisa a saber sobre o Médio Oriente
é que quase toda a gente
tem acesso a serviços domésticos.
Portanto, o desafio
é como recrutar eficazmente.
Tal como faria na minha vida empresarial,
baseei a seleção
de quem me iria ajudar com os meus filhos,
enquanto estou fora,
em boas referências.
A Cristina trabalhou quatro anos
com a minha irmã
e a qualidade do trabalho dela
estava comprovado.
Ela é agora um membro da nossa família,
está connosco desde
que a Alia tinha seis meses.
Ela certifica-se que corre tudo bem
em casa, enquanto eu trabalho,
e eu certifico-me que lhe dou autonomia
nas melhores condições
para ela e para os meus filhos,
tal como faria o meu melhor
no trabalho.
Esta lição aplica-se a qualquer situação,
seja uma ama, uma creche,
ou uma "babysitter" a tempo parcial,
partilhada com alguém.
Escolham muito bem
e deem-lhes autonomia.
Se repararem no meu calendário,
podem ver que,
em todos os dias da semana,
há uma hora e meia bloqueada,
das 19h às 20h30,
chamada "tempo em família".
Isto é tempo sagrado.
Faço isto desde que a Alia era um bebé.
Faço tudo o que posso
para manter este horário
e estar em casa a passar momentos
de qualidade com os meus filhos,
indagar sobre o dia deles,
verificar os trabalhos de casa,
ler uma história para os adormecer
e dar-lhes muitos beijos e abraços.
Se estiver em viagem,
seja qual for o fuso horário,
utilizo o Skype para contactá-los
mesmo que me encontre a quilómetros.
O nosso filho, Burhan, tem cinco anos,
e está a aprender a ler
e a matemática básica.
Outra confissão:
Descobri que a nossa filha
é mais bem sucedida que eu
a ensiná-lo.
(Risos)
Começou como um jogo, mas a Alia
adora brincar às professoras com o irmão,
e descobri que esses momentos
melhoraram a literacia do Burhan,
aumentando na Alia
o sentido de responsabilidade,
e reforçando os laços entre eles,
todos ficam a ganhar.
As mulheres árabes de sucesso
que conheço
encontraram todas uma abordagem única
para a sua vida funcionar
porque continuam a arcar
com a maior parte
da responsabilidade da casa.
Mas isto não é só sobre
como sobreviver no papel duplo
de ter uma carreira e ser mãe.
Isto também é sobre viver o presente.
Quando estou com os meus filhos,
tento deixar o trabalho para trás.
Em vez de preocupar-me a pensar quantos
minutos vou estar com eles todos os dias,
foco-me em transformar esses minutos
em momentos inesquecíveis,
momentos em que vejo os meus filhos,
escuto-os, crio uma ligação com eles.
[" Unir forças, não competir"]
Não tem sido muito visível
aos olhos do público
como as mulheres
da minha geração cresceram.
Acho que isto explica, até certo ponto,
porque há tão poucas mulheres
na política no mundo árabe.
Por outro lado, no entanto,
é que passamos muito tempo
a desenvolver
uma competência social na sombra,
em cafés, em salas de estar,
ao telefone,
uma competência social
muito importante para o sucesso:
o estabelecimento de redes.
Diria que a mulher árabe média
tem uma grande rede
de amigos e conhecidos.
A maioria deles também são mulheres.
No Ocidente, parece que as mulheres
ambiciosas comparam-se a outras mulheres,
na esperança de se destacarem
como as mais bem sucedidas na sala.
Isso leva ao tão falado
comportamento competitivo
entre as mulheres profissionais.
Se só houver lugar
para uma mulher no topo,
então não há espaço para as outras,
e muito menos para ajudá-las.
As mulheres árabes, no geral,
não caíram nesta ratoeira emocional.
Perante uma sociedade patriarcal,
elas descobriram
que, ajudando-se mutuamente,
todas beneficiam.
No meu anterior emprego, eu era a mulher
mais qualificada do Médio Oriente,
e podia-se pensar que investir
na minha rede de colegas do sexo feminino
não me traria muitos benefícios
e que devia era investir o meu tempo
a desenvolver relações
com colegas homens, com os meus pares.
No entanto devo a outras mulheres
duas das maiores oportunidades que tive.
Foi a chefe de "marketing"
quem sugeriu inicialmente
que eu fosse considerada líder global
para o Fórum Económico Mundial.
Ela sabia do meu mediatismo
e das minhas publicações
e, quando pediram a opinião dela,
ela mencionou o meu nome.
Foi uma jovem consultora,
uma saudita e amiga
que me ajudou a vender o meu primeiro
projeto na Arábia Saudita,
um mercado no qual tive dificuldade
em progredir, por ser mulher.
Ela apresentou-me a um cliente,
e esse encontro levou-me ao primeiro
de muitos projetos na Arábia Saudita.
Hoje, tenho duas mulheres
na minha equipa,
e vejo o sucesso delas como a chave
para o meu próprio sucesso.
As mulheres continuam a progredir,
não muito depressa,
mas estamos a progredir.
O mundo árabe, também está a progredir
apesar dos recentes contratempos.
Só este ano, os EAU nomearam
cinco ministras para o seu ministério,
num total de oito ministras.
É aproximadamente 28% do ministério,
é mais do que muitos países desenvolvidos
podem reivindicar.
Esta é hoje a fotografia preferida
da minha filha.
É, sem dúvida, o resultado
de uma boa liderança,
mas também o resultado
de grandes mulheres árabes
que não desistiram e continuaram
a forçar as barreiras.
É o resultado de mulheres árabes
que decidem todos os dias, tal como eu,
a converter porcaria em energia,
a gerir a sua vida,
para manter o trabalho fora dela,
e a unir forças em vez de competir.
Quando penso no futuro,
desejo que a minha filha,
quando estiver neste palco,
daqui a uns 20 ou 30 anos,
esteja tão orgulhosa
de ser milha filha
como filha do pai.
O que desejo para o meu filho
é que, nessa altura, a expressão
o "filho da mamã"
tenha obtido um significado
completamente diferente
Obrigada.
(Aplausos)