Parte 4: Perguntas & Expressar e Receber Gratidão Esta manhã você fez uma referência ao "lamento de girafa", e [mencionou] que há uma forma diferente de pedir desculpas a alguém, e gostaria de saber como se faz isso. - Está bem, vamos ver primeiramente o que quero dizer com "lamento de girafa". Pense em algo que você tenha feito, que desejava não ter feito. [Risos] E identifique... Tente lembrar-se de como falou consigo própria, quando o disse, ou fez, o que quer que tenha feito. Então, o que é que você fez, que desejou não ter feito, depois de o ter feito? E dê-me um exemplo do que disse para si mesma quando o fez. Tem algum em mente? - Ok. [Uma vez] estava a sentir-me defensiva e critiquei alguém. - Então, o que fez foi: você disse algumas coisas a outra pessoa que desejou não ter dito. - Certo. Ok, e o que é que disse a si mesma quando fez isso? - Normalmente, no momento, sinto-me defensiva comigo mesma. - Não, quero saber concretamente... para este exercício, preciso de saber concretamente o que diz a si mesma quando se comporta de uma forma que não gosta. - Isto é muito importante para responder à sua pergunta sobre o "lamento de girafa". - É muito importante para identificar o que o seu educador interno lhe está a dizer. Está a ver? Todos nós temos um educador interno, cuja função é educar-nos quando somos menos que perfeitos. Agora, a maioria de nós cometeu o erro de enviar o nosso educador interno para uma academia chacal cruel de educadores internos. e por isso, é importante estar-se consciente de como o nosso educador interno fala connosco. É por isso que lhe estou a perguntar. Quando você disse o que disse ao seu marido, o que é que o seu educador interno... Como é que o seu educador interno tentou educá-la? O que é que lhe disse em relação ao que tinha feito? - No momento ou depois? - Qualquer um deles. - Bem, o ponto em que comecei a sentir remorso ou arrependimento foi depois. - Em qualquer ponto, o que disse a si mesma em relação àquilo que tinha feito? - Ok. Disse que era uma pessoa má... - Agora, isso é suficiente. Está a ver? O seu educador interno tenta educá-la através da penitência. Através de fazê-la odiar-se a si mesma pelo que fez. Usa uma linguagem que implica que existem coisas como uma pessoa má. Tudo bem. Agora, se você pedir desculpas a partir dessa energia, isso é chacal. Qualquer pedido de desculpas que venha do pensamento de que você fez algo de errado não fará bem a si nem à outra pessoa. Está a seguir o meu raciocínio até agora? - Bem, eu sei que me faz sentir mal. - Sim, não sabe bem. E quero mesmo que você se sinta mal nesta situação, mas quero que sinta um mal doce. Um mal doce que vai ajudá-la a aprender com isto sem que se odeie a si mesma. Quando você tem pensamentos de que é uma pessoa má, isso é um sentir-se mal feio. É um sentir-se mal punitivo. Que vai, primeiramente, fazer com que se torne difícil aprender. E mesmo que aprenda, vai ser às custas do próprio ódio, então qualquer mudança que fizer terá um custo elevado. Então, esse é o seu educador interno. Esse foi o seu educador interno a falar consigo quando você disse que é uma pessoa má. Agora, estivemos a aprender hoje que todos os julgamentos são expressões de necessidades, certo? Então, o seu educador interno tem boas intenções. Ele realmente tem boas intenções. Ele quer que você aprenda com isto de um modo que vai servir a vida. Ele tem boas intenções, é só a sua linguagem que não presta. Ok? Então, nós não queremos ouvir o que o nosso educador interno pensa de nós. Queremos ouvir a necessidade que não está a ser atendida, e que está a tentar chamar a nossa atenção. Então, qual é a necessidade que o seu educador interno está a tentar chamar à sua atenção e que você não atendeu do modo como se comportou? - Aaah... uma necessidade de... ... estar num relacionamento com a outra pessoa? - Uma necessidade... em que tipo de relacionamento? De entendimento mútuo, respeito? - Certo. - Então, não satisfez a sua necessidade de respeitar e entender a outra pessoa. - Isso. - E como se sente quando essa necessidade não está satisfeita? - Culpada. - Então você ainda está com a imagem da "pessoa má" na cabeça. Se ainda pensa que é má... se ainda houver qualquer pensamento a acontecer, essa culpa vem do julgamento. - Bem, sinto-me separada e isolada. Mas como se sente? Que emoção sente por não atender às suas próprias necessidades de entendimento e respeito? Veja, a culpa vem dessa imagem de uma pessoa má. Que sentimento vem de não atender à sua necessidade de responder a esta pessoa com respeito e entendimento? - Tristeza. - Isso é uma dor doce. É isso o lamento de girafa. Então, se você disser à outra pessoa "Sabes, pelo modo como falo contigo, sinto-me muito triste." "Não satisfaz a minha necessidade de te respeitar e de te entender." Consegue ver? Aqui não há nenhuma imagem de que sou uma pessoa má. Estou triste. Não correspondi à minha própria necessidade de te respeitar e te entender. Confirme com a outra pessoa o que ela preferiria ouvir. Se ela preferiria ouvir um lamento de girafa, ou o pedido de desculpas de que você é uma pessoa má. Sim. - Estou a ter um pouco de dificuldade ao tentar encontrar-me neste modelo. Parece que tudo está... mesmo que estejamos a falar a um nível de sentimentos, tudo parece como se... estou a interpretá-lo assim, pelo menos, tipo num... ...nível mental em oposição a um nível emocional, e acho que vou muito pela minha intuição, e estou a tentar chegar lá de alguma forma. E então, preciso de ajuda com isso. Basicamente, diga-me como poderia ser capaz de usar esta técnica na minha vida diária, para fazê-la... não. Bem, para que seja natural, sabe? Não é natural para mim operar desta forma. - A primeira coisa que lhe recomendaria seria mudar a palavra "natural" para "habitual". - Fazer o quê? - Mudar a palavra "natural" para "habitual". Penso que este processo é natural, mais natural do que o modo como você foi treinado a pensar. Então, Gandhi disse: "É muito perigoso misturar as palavras 'natural' e 'habitual'". Ele disse: "Fomos treinados para sermos bastante habituais em comunicarmos de maneiras que são bastante artificiais". Então, não consigo imaginar uma forma mais natural de se comunicar do que falar sobre o que está vivo em nós. É simplesmente o que estamos a sentir e a necessitar. - Quando lhe apetece dizer... Se me apetecer dizer "não", dizer "não" parece-me bem a mim, mas o que você estava a dizer antes... - O que quer dizer com "bem" em "Está bem em dizer-se 'não'"? - O que quer dizer com "o que eu quero dizer"? [Risos] Podemos ir para frente e para trás. - Perdão? - Podemos andar para frente e para trás perguntando um ao outro... - Sim, então deixe-me ser mais específico. Quando você diz "não", prevejo que ao dizer "não", mais frequentemente do que você gostaria, a outra pessoa vai reagir a si de uma maneira que não vai ser do seu melhor interesse. Mas se você falar da necessidade por trás do "não", isso será menos provável de acontecer. - Logo, então, se compreendendo o que está a dizer, você está a tentar... A ideia é eu comunicar de um modo em que a outra pessoa comunicaria de volta de um modo que seria do meu melhor interesse? - Estou a dizer que o propósito deste processo é satisfazer as necessidades de todos, e que as necessidades são satisfeitas pelas pessoas ao darem de boa vontade, e não a partir de uma motivação coerciva. E também digo que quando você diz "não", isso atrapalha a probabilidade de que as necessidades de todos sejam satisfeitas. Se você disser a necessidade que o impede de dizer "sim" prevejo uma maior probabilidade de que as necessidades de todos sejam satisfeitas - Então, se estou a entender o que quer dizer é simplesmente expressar as minhas necessidades sem dizer o "não"? - Estou dizer que a necessidade é uma expressão mais clara daquilo que quer dizer do que "não". Torna-se mais claro e mais ligado à vida quando diz a necessidade que o faz evitar dizer "sim", em vez de apenas dizer "não". E é menos provável que seja interpretado como uma rejeição, como se estivesse na defensiva... Ao dizer apenas o "não" por si só, prevejo que seja mais provável obter interpretações que não são do seu melhor interesse. - Às vezes quando não escuto um "não" vejo isso como sendo tipo uma resposta passivo-agressiva a algo que eu possa querer. Alguém... por exemplo, digamos que marco um encontro com alguém e em vez de dizerem "não", simplesmente não aparecem. E depois dão-me uma razão do porquê de não aparecerem. - Sim. Não estou a sugerir isso. Não estou a sugerir essa resposta. Estou a sugerir que teria gostado que essa pessoa lhe tivesse dito, honestamente, naquele momento, qual era a sua necessidade. Acho que se eles tivessem feito isso, você não teria acabado nessa situação. Disseram um "sim" que não era assim. - Alguma pessoas não dirão "Tenho receio". - Desculpe? - Digamos que a razão é que eles têm medo de o dizer. - Isso vai depender bastante do que lhes aconteceu no passado, quando disseram "não", qualquer que tenha sido o modo como o disseram. Se eles não tiveram respostas muito empáticas no passado, então é provável que tenham medo de serem honestos quanto a isso no presente. - Vejo o valor em tudo isto. Vejo mesmo. Acho que é a ideia de ser algo do tipo sentimental, intuitivo. à qual que não estou muito acostumado. - O que está a tentar descobrir, se estou a entender, é como realmente colocar isso num idioma que você possa usar diariamente e sentir-se confortável com ele. - É uma forma de o colocar, sim. - Pois bem, nos nossos treinos, primeiro mostramos às pessoas como desenvolver essa literacia e, em seguida, como o traduzir para a sua maneira usual de falar. Tive um estudante que viajava comigo, e ele queria dar-me gratidão. Ok? E ele gostou de algo que fiz. Eu estava a trabalhar no duro com o grupo. E durante o intervalo, ele disse "ditador!". Aquilo foi "girafa" porque ele sabia que eu sabia ao que é que ele estava a reagir. Sabia que eu não ouviria um julgamento. Sabia que eu adivinharia ali o que ele sentia e necessitava. Então, ele podia dizer-me isso: "ditador!" Depois de sabermos realmente identificar com clareza os nossos sentimentos, necessidades, pedidos, então podemos começar a colocá-los numa linguagem que possa conectar-nos com as pessoas com quem falamos. Mas neste momento do dia, depois de um dia, ainda estou a trabalhar com vocês para ter certeza que entenderam o que é um sentimento e uma necessidade, pois se não o entenderem verdadeiramente, será muito difícil saber como colocá-los no vosso próprio idioma. - Acho que sou um chacal novaiorquino em recuperação. [risadas] Tenho a impressão que pedir desculpa não é verdadeiramente o melhor modo de se ser girafa. Gostaria de saber se você poderia modelar... Gostaria que você modelasse para mim um reconhecimento de ficar em falta, pecar corajosamente... - Se você se lembra, anteriormente mostrei um exemplo onde exemplifiquei uma pessoa a dizer "Sinto-me triste. Gostaria de ter respondido com mais compreensão do que o fiz". - Então você não está a usar a palavra "desculpa". Está a dizer "estou triste". Não é tanto a palavra "desculpa". O que mudámos foi o pensamento de que fiz alguma coisa errada, de que foi mau. É esse "pensamento" que é o problema, e o "desculpa" advém desse pensamento. Então, não é apenas que eu não digo "desculpa"; digo "estou triste", se estou triste. A palavra "desculpa" não significa quase nada. As pessoas podem dizer isso e não sentir nada. Diz-se isso para comprar perdão. Se estiver a sentir-me triste, digo isso: "Estou triste. Gostaria de... ter estado mais consciente das tuas necessidades", por exemplo, quando não levei as necessidades da pessoa em consideração. Mas não vou dizer "Desculpa, não fui muito atencioso". Não existe auto-culpa. Não fiz nada de errado. Não existe tal coisa de se fazer alguma coisa de errado. O que fiz não estava em harmonia com as minhas necessidades. Quero lamentar isso. "Estou triste. Gostaria de ter estado mais consciente das tuas necessidades". - Algo do género. Isto deu-lhe um bom exemplo? - Sem dúvida. Obrigado. - Tenho uma pergunta. Aqui, à sua esquerda. Tenho uma situação com a minha parceira íntima em que muitas vezes quando nos encontramos, discutimos muito e tenho esta necessidade... que você disse antes que era inapropriada: quero que ela seja feliz. - Eu não disse que era inapropriada. Disse que não era exequível. - Ok, está bem. É o que ela passa a vida a dizer-me. [Risos] - Se vais dizer-me para ser feliz, diz-me a ação para chegar lá. Isso eu posso fazer. Se me disseres uma ação que prevês que se eu a realizar serei feliz no final, isso ajudaria bastante. Diz-me a ação. Não me digas apenas para ser feliz. Não me digas para ter confiança em mim mesmo. Diz-me o que gostarias que eu fizesse para sentir essa confiança. A acção vai-me levar lá, mas dizer-me apenas o que sentir coloca-me num círculo paradoxal. - Ok. Uma outra coisa seria que... quando estamos juntos, não tenho necessariamente vontade de ir a algum lado com ela, se ela não está num bom humor na hora ou se existe alguma tensão... - Então empatiza com o porquê de eu não estar de bom humor e acabarei por ficar. Mas dizer-me que tenho que estar de bom humor para que queiras sair comigo coloca-me num humor ainda pior. [risos} - Ok. - Estou a pensar se há momentos em que... Estou aqui. Estou a sentir alguma ansiedade quanto a uma viagem na qual vou visitar a minha mãe em breve e temos uma dinâmica em que ela quer mesmo muito ajudar-me a perceber todos os detalhes do que estou a fazer durante a minha visita, e gostaria de poder ficar em paz. - Deixe-me mostrar-lhe como fazer isso. - E tenho medo que se eu falar assim para ela, tornará as coisas muito piores. - Ok. Vamos ensinar-lhe como... se piorar, vamos mostrar-lhe como desfrutar mesmo assim. Mas primeiro, deixe-me mostrar-lhe, a primeira coisa a fazer se quisermos que uma pessoa considere outro comportamento diferente daquele que estão a ter, comece a comunicação mostrando-lhe que o que ela está a fazer é a coisa mais preciosa que ela poderia estar a fazer. Desta forma: empatia. Comece por empatizar com a intenção da sua mãe em se comportar como ela faz. - Mãe, imagino que quando intervéns e queres mostrar-me todas as coisas que podem ser feitas, importas-te mesmo muito com o meu divertimento nesta viagem e queres ter certeza que me dás apoio nisso. - Ah, sim, sim, bla, bla... - Sim, então, é mesmo muito importante para ti que eu me divirta e tu queres contribuir para isso? - Sim. Esse é o primeiro passo. Está a ver? É o que quero dizer com começar mostrando que entende. Quanto mais estivermos preocupados com esse comportamento mais importante é começar com isto. É por isso que quando trabalho em prisões, e esta pessoa tem abusado sexualmente de alguém, ou violou alguém, se eu gostaria que ela encontrasse outra forma de se comportar, a primeira coisa que tenho de fazer é assegurar-me que ela não se odeie por ter feito o que fez. Quanto mais se odiarem pelo que fizeram, mais vão continuar a fazê-lo. Então, começo por empatizar com as suas necessidades em fazê-lo. Ok. Então você entendeu esse passo. O próximo passo... aquele com o qual começámos o dia... Eu diria honestamente como me sinto. "Mãe, sinto-me desfeita neste momento porque estou grata pela tua intenção. Mas... Tenho mesmo necessidade de fazer as minhas próprias escolhas aqui, porque penso que seria muito difícil para outra pessoa saber verdadeiramente aquilo que preciso e necessito deste espaço para o descobrir eu mesma. Então, poderias dizer-me aquilo que me ouviste dizer, mãe, para que possa ver se me estou a fazer entender? [risos] Então agora sei que a mãe não me ouviu. Agora sei que a mãe não ouviu as minhas necessidades. Ela provavelmente ouviu uma rejeição. Ela provavelmente ouviu que não é valorizada. Mas é importante que eu não pense que a sua reacção é por causa do que eu disse. Se expressar os meus sentimentos e necessidades, seria impossível para uma pessoa reagir assim, se eles o ouvissem. Eles teriam recebido um presente. Teriam os olhos de uma criança a receber prendas do Pai Natal. Isso não se parece com o como a mãe se sente neste momento. - Então, mãe, poderias dizer-me aquilo que acabaste de me ouvir dizer? - Tu não me queres. - Então, ouviste aquilo como uma rejeição, mãe? - Claro. De que outro modo poderia tê-lo ouvido? - Bem, obrigado por me dizeres que o ouviste como uma rejeição, mãe. Reparem que eu não disse "não foi isso que eu disse". Estão a ver? Se quisermos que as pessoas nos entendam de forma diferente, nunca lhes digam "estás a interpretar-me mal". Nunca digam "não foi isso que eu disse". Digam "obrigado por me dizeres que foi isso o que ouviste." Estou ver que não fui clara. Gostaria de tentar outra vez, mãe, porque eu valorizo mesmo muito a tua oferta de ajuda, mas tenho uma necessidade de ter as minhas necessidades claras e de estruturar o meu próprio tempo. Podes dizer-me o que me ouviste dizer? - Então achas que não tenho nenhuma inteligência quanto a ajudar-te. - Obrigado por me dizeres que é isso o que estás a ouvir, mãe. Gostaria que o ouvisses de modo diferente. Gostaria que apenas ouvisses as minhas necessidades. Que tenho uma necessidade de resolver as coisas por mim mesma, e estruturar o meu próprio tempo. Poderias dizer-me aquilo que ouviste? - Então tu... ...tens uma necessidade de esclarecer por ti própria aquilo que queres e de perceber as coisas. - Obrigado mãe. Vêem quão fácil é ter empatia de um chacal? Apenas 3 puxões de orelha e consegui. Não é? Agora, existem uns chacais de 8 puxões de orelhas, também, eu sei. Mas consigo dizer pelo quão doce você é que a sua mãe é um chacal de 3 puxões. - Obrigado. [Risos] - Sim... - Você mencionou anteriormente, esta manhã, sobre apreciar o sofrimento. Poderia elaborar quanto a isso? - Oh, sim. Isso é muito importante. Obrigado por me relembrar com esse assunto. Ok. Um amigo seu diz-lhe isto: "Sou um nada. Nunca vou chegar a lado nenhum. Olha, sou um assistente administrativo aos 45. O meu irmão está à frente da sua empresa, a minha irmã é uma advogada de topo, e eu sou um nada." Ok? Agora, para apreciarmos esta pessoa a sofrer, temos de nos libertar de dois tipos de responsabilidade. Primeiro, que não causámos a dor. E queremos libertar-nos disso, especialmente quando a outra pessoa está a tentar fazer-nos crer que fomos nós a causar a dor. Então, se esta pessoa tivesse começado "e tu és culpado quanto a tudo isto de eu não ser nada." Especialmente quando uma pessoa diz isso, não queremos de modo nenhum pensar que causámos a dor desta pessoa, porque não se pode causar dor psicológica a outra pessoa. Bem, neste caso a pessoa não estava a dizer isso, logo, é bastante fácil de libertarmo-nos a nós próprios de nos sentirmos responsáveis, mas o segundo é que é difícil. Pensar que temos de o concertar. Fazer a pessoa sentir-se melhor. Quanto mais pensamos que é o nosso dever fazer uma pessoa sentir-se melhor, mais vamos piorar as coisas. Porque não se pode concertar as pessoas. A boa notícia é que não têm de fazê-lo. Existe uma energia curativa muito poderosa sempre disponível, se não a bloquearmos. E como bloqueamos a energia? Tentando concertar as coisas nós próprios. Então, como ajudamos essa energia a fazer o seu trabalho? Através da empatia. Empatia requer presença, apenas estar presente. Quando estamos apenas presentes, quando estamos a lembrar-nos do conselho do Buddha "Não faças algo. Fica lá." Quando fazemos isso, e essa energia opera através de nós, existe uma conexão preciosa entre essa pessoa e nós. E essa conexão preciosa é aquilo que quero dizer com apreciar a dor, apreciar essa conexão preciosa. E quer esteja essa pessoa a sentir alegria ou dor, se estivermos presentes ali com eles, é isso o que quero dizer. Mas bloqueamos essa bela energia sempre que intervimos e pensamos que temos de concertar as coisas. Então, se dissermos "pronto, pronto, pronto. Vais sentir-te melhor. Vais ultrapassar isso" fazemos pior. Quando começamos a dar conselhos, fazemos pior. Então, com que é que isto se parece? "Então, estás a sentir-te mesmo desencorajado e gostarias mesmo de ter alcançado mais na tua vida neste momento do que aquilo que alcançaste. - Sim, sim, tive todas as oportunidades, e olha para mim. Simplesmente nunca dei utilidade a nada. - Pois, então estás mesmo desencorajado e frustrado, e gostarias mesmo de ter dado um uso diferente a algumas coisas que não deste. - Pois." Vejam, estou apenas presente. Não estou a tentar concertá-lo. E quando isso acontece, existe uma conexão muito preciosa. É isso o que quero dizer com apreciar. E essa conexão preciosa faz a cura. Não o teu conselho, não o teu seja o que for. Sim... - Pode clarificar a distinção entre empatizar, e tipo encorajar e apoiar a telenovela de... sabe, alguém que está... alguém que está a sofrer, e por vezes ao estar-se ali, é tipo um encorajar subtil, ao invés de... - O encorajar subtil que eu penso que está a referir-se acontece quando esta pessoa está a falar daquilo que lhe aconteceu, pela quinquagésima vez que você ouve a história. Logo, se estou realmente a ouvi-los, não ouço o que dizem sobre o passado, porque sei que quanto mais falarem sobre o passado, menos cura vai acontecer. Então interrompo, mas interrompo para trazer a conversa para a vida. Eles estão a falar sobre o passado, e eu interrompo e digo "desculpa-me, mas soa-me a que, neste momento, ainda estás a sentir-te magoada, porque a tua necessidade de respeito não foi satisfeita nisso. Vêem? Porque apenas deixá-los falar sobre o passado e fazer-lhes questões sobre o que aconteceu, sobre o passado é apenas manter a novela a fluir. Então interrompo quando eles falam do passado porque não nos curamos a falar do passado, curamos ao falar daquilo que está vivo em nós neste momento, estimulado pelo passado mas é aquilo que está aqui agora, e quando conecto a esse nível eles não vão continuar a falar sobre isso. Eles vão curar. Última questão e depois vou abordar o assunto que gostaria de cobrir antes de acabarmos. Sim? - Você fala de ter... vamos ver... se outra pessoa não pode causar a nossa dor emocional... - Exacto. - ...e eu penso no abuso com que cresci e que vejo em muitas famílias e o sofrimento que experienciei pela vida fora, na minha recuperação e tudo isso... - E outras pessoas foram um estímulo para o seu sofrimento e você era um participante pelo modo como lidava com isso. Por exemplo, se me segui-se no meu trabalho, você veria isso muito claramente. Em sítios como Ruanda, Burundi, Serra Leoa, estou a trabalhar com pessoas cujas famílias foram mortas. Algumas dessas pessoas têm tanta raiva que tudo aquilo para o qual vivem, momento a momento, é a possibilidade de vingança. Outros não têm nenhuma raiva, nunca tiveram raiva. Exactamente o mesmo estímulo. Têm sentimentos profundos, mas não fúria. Então não é o estímulo que determina a nossa reacção emocional. Essa parte depende de nós. Trabalho com algumas mulheres, infelizmente muitas, que foram violadas. E algumas sentem vergonha, uma vergonha profunda. algumas sentem raiva, algumas sentem outras coisas. Logo, com o mesmo estímulo, se sentem vergonha, raiva ou outras coisas, depende de como as pessoas o recebem. Estou a trabalhar com uma mulher do Ruanda que teve... ela ouviu os seus três filhos serem mortos porque ela meteu-se debaixo do lavatório, escondida debaixo do lavatório, a tempo, as crianças não chegaram ao esconderijo a tempo, foram mortas, ela ouviu-os, ouviu o seu marido a ser morto e o seu irmão. Ela teve que ficar ali debaixo 11 dias para salvar a sua vida porque eles ficaram na casa após terem morto a família. Esta mulher tem sentimentos profundos, mas nem uma vez ela teve o tipo de raiva que a faria querer vingar-se. Ela colocou todo o seu sentimento e muitos deles em proteger... prevenir que isto acontecesse a outra pessoa. Está a ver? Então, o modo como ela o encarou leva-a a querer prevenir que isto aconteça a outra pessoa. Ela veio ao meu workshop porque queria saber como lidar com a raiva contra ela por outras pessoas na sua tribo que estão furiosos com ela por ela não se juntar aos seus esforços de matar as outras pessoas. O mesmo estímulo, reacções bem diferentes. - Ok, então eu tinha este estímulo e algures aprendi como lidar com isso do modo como tive que lidar com isso, e agora estou a aprender a mudar isso. - Sim. A pior coisa, claro, seria, independentemente de como escolheu lidar com isso, é pensar que há algo de errado com o como escolheu lidar com isso. Não estou a querer que entremos numa de certo ou errado. Estou apenas a dizer que independentemente daquilo que nos aconteça... A outra pessoa é responsável pelo que fez, não estou a dizer que a outra pessoa não tem responsabilidade. - Essa é a minha questão quanto a responsabilidade pelo resultado. - A outra pessoa é responsável pelo que fez e porque o fez. Nós somos responsáveis pelo como lidamos com isso. Ok? - Estou apenas a indagar como uma criança se torna responsável... Quero dizer... A primeira coisa que faço é, não quereria ensinar à criança a lição que acabei de lhe ensinar a si até que eu tivesse dado àquela criança toda a empatia que ela precisasse e adivinharia que seria muita. Então, consigo ver-me a lidar com um longo tempo a ouvir a dor enorme desta criança como resultado disto. Mas então, no decorrer disto, veria esta criança a ter alguma dor criada pelo como ela olhava para a coisa. Então veria que ela está a criar dor em cima de dor, pelo modo como olhava para a coisa. Então, depois de a criança ter tido toda a empatia que ela ou ele necessitava, então faria o que pudesse para conseguir que ela o visse de um modo que não criasse dor desnecessária para eles próprios. Isto é um bebé chacal, sim. Ok, agora o que eu gostaria de fazer no tempo precioso que nos resta é lidar com uma parte muito importante de girafa, porque não queria que vocês ficassem com a ideia de que a Comunicação Não Violenta está apenas interessada em resolução de conflitos, porque está igualmente interessada em celebração. Como podemos celebrar a vida? De facto, a parte que deixei para os dez minutos finais é, em alguns aspectos, a parte mais importante porque é onde obtemos o combustível para ficarmos girafa naquilo que é frequentemente um mundo muito chacalista. E então, vai ser bastante difícil fazer esta transformação radical de volta à nossa natureza em muitas situações, a não ser que estejamos a receber bastante combustível. Agora, de onde vem o combustível? O combustível vem da celebração. E que tipo de celebração? Vem de se dizer obrigado em girafa. Vamos ver agora, nos últimos minutos, como celebramos ao dizer obrigado em girafa. Expressando gratidão em girafa. E primeiro gostaria de vos lembrar de como os chacais dizem obrigado. "Fizeste um bom trabalho nesse relatório." "És uma pessoa muito simpática." "Tu és bom dançarino." Conseguem ver porque é chacal? Julgamentos moralistas. Julgamentos moralistas positivos são igualmente tão violentos, nas minhas estimativas, quanto os negativos. Nomeadamente, eles reforçam a ideia de que o negativo existe. Se digo que és uma pessoa gentil, estou a insinuar que existe tal coisa como uma pessoa não gentil. Também estou a insinuar que sou o juiz que sabe a diferença. Então, acabaram-se os louvores e elogios, ok? Acabou-se os louvores e elogios. Especialmente quando a intenção é recompensar. Essa é a derradeira desumanização, usar o agradecimento como uma recompensa. Dizê-lo com o propósito de tentar reforçar alguma coisa. Para conseguir que a pessoa continue a fazê-lo. É como enviar... O que se passa numa escola de obediência para cães? Punições e recompensas. Fazer um elogio ou louvor com o propósito de reforço é dar ao cão um... algo para comer para reforçá-lo a fazer algo. As pessoas não são para esse tratamento. E destrói a beleza do agradecimento, quando as pessoas têm que indagar: "Isto está a ser dito a partir daquela energia?" - Mas funciona! - O quê, chacal? - Estudos em gestão indicam que se os gerentes elogiarem e louvarem os empregados diariamente, a produção sobe. Estudos em escolas mostram que se os professores louvarem e elogiarem os estudantes diariamente, eles trabalham mais. - Chacal, dá outra olhadela à pesquisa. Penso que vais ver que isso apenas funciona por um período muito curto de tempo, até que as pessoas vejam a manipulação, e depois já não funciona mais. E destrói a beleza do agradecimento porque agora já nem podes confiar na gratidão sem indagar se está a ser usada como reforço, como recompensa. - Bem, e se eu quiser aumentar a auto-estima da outra pessoa, que mal tem isso? - Chacal, tu não vês a ironia nisso? - Quê? - Se a outra pessoa só consegue gostar de si própria quando a elogias, eles não têm auto-estima. Acabaste de a viciar às tuas recompensas. Que eles apenas se sentem bem quando dizes algo sobre eles. Eles não têm auto-estima. Ok. Como é que uma girafa diz "obrigado"? Ou gratidão? Primeiro, existem três coisas que estão envolvidas numa expressão de girafa de gratidão que nos dão energia para continuarmos a ser uma girafa. A primeira coisa numa expressão de girafa de gratidão é: trazemos à atenção desta outra pessoa, concretamente aquilo que fizeram que tornou a vida mais maravilhosa para nós. Isso é o que precisamos de fazer diariamente. Precisamos de trazer a nossa consciência e atenção ao poder que cada um de nós tem para fazer a vida mais maravilhosa. Cada um de nós é um gerador de força. Temos palavras que têm o poder de contribuir para tornar as vidas das pessoas mais maravilhosas. Temos tacto, podemos tocar nas pessoas de modos que podem fazer a vida mais maravilhosa. Podemos providenciar serviços para pessoas. Somos geradores de força. Quanto mais nos lembrar-mos disto, não iremos cair em nenhuns jogos violentos. Porque haveríamos de usar a nossa energia de outra forma que não a fazer a vida mais maravilhosa, quando nos lembramos que temos esse poder? Então, isso é uma coisa que temos que tornar clara na nossa expressão de gratidão especificamente o que a pessoa fez, não uma generalidade vaga. Por exemplo uma mulher em Geneva, Suíça, veio ter comigo no fim de um workshop. Ela disse-me o seguinte: "Você é brilhante." Eu disse: "Não ajuda." Ela disse: "O que quer dizer?" Eu disse: "Sabe, senhora, fui chamado muitos nomes na minha vida, fui mesmo. Alguns positivos e outros muito menos que positivos. E nunca me lembro de aprender algo valioso com alguém a dizer-me aquilo que sou. Acho que há zero valor informativo em dizerem-nos aquilo que somos. e um grande perigo, pode crer. E é tão perigoso acreditar-se que se é esperto quanto acreditar-se que se é estúpido. Ambos reduzem-nos a uma coisa. Somos muito mais do que qualquer uma delas. Mas posso ver nos seus olhos que quer expressar alguma gratidão. - Sim! - E eu quero recebê-la mas, não me ajuda que me digam o que eu sou. - O que é que precisa de ouvir? - O que é que eu fiz para tornar a vida mais maravilhosa para si? - Bem, você é tão inteligente. - Não, não ajuda. Não ajuda. O que é que eu fiz? - Ah, já o estou a perceber. Ela abre o seu bloco de notas, ela mostrou-me duas coisas que eu tinha dito e que ela escreveu. Ela pôs uma estrela grande ao lado. Estão a ver? Isso já me ajuda. Ok. Isso ajuda-me a saber que de algum modo, eu ter dito aquelas duas coisas fez a vida desta pessoa mais maravilhosa. Então essa é a primeira coisa que precisamos de dizer em apreciação. Precisamos de trazer à atenção da pessoa concretamente aquilo que ela fez que nos tornou a vida mais maravilhosa. Segundo: no momento em que estamos a dar a gratidão, dizer o que sentimos naquele momento quanto à pessoa ter feito aquilo. Então eu disse a esta mulher: "Poderia dizer-me como se sente agora como resultado de eu ter dito essas duas coisas? Ela disse "Esperançosa e aliviada." "Oh, esperançosa e aliviada..." Isso dá-me muito mais do que dizer-me o que sou, que sou brilhante. Simplesmente saber que de algum modo eu ter dito aquelas duas coisas, agora esta pessoa sente-se esperançosa e aliviada. Agora, quando eu ouvir a terceira coisa, vou ser capaz de desfrutar mesmo esta gratidão. Eu disse: "Que necessidades suas foram preenchidas por eu ter dito o que disse, e que a deixa a sentir-se esperançosa e aliviada?" E essa é a terceira coisa que precisamos de ver na gratidão de uma girafa. Ela disse: "Tenho um filho com 18 anos. Nunca consegui conectar-me com ele. Tem sido muito doloroso que nunca conseguimos conectar-nos, e tenho necessitado de alguma direcção, para me ajudar a conectar com ele. Aquelas duas coisas que disse satisfizeram a minha necessidade de uma direcção concreta." Então, se ela tivesse expressado a sua gratidão em girafa, ela teria dito: "Marshall, quando você disse aquelas duas coisas," (mostrou-me o que eram as duas coisas) "deixou-me a sentir esperançosa e aliviada, atendeu a uma necessidade minha de conectar com o meu filho de um modo que eu quero." Ok? É assim que dizemos gratidão em girafa. Essas três coisas. E também é importante como recebemos a gratidão. Deixem-me mostrar-vos como um chacal recebe gratidão. "Chacal, quando me ofereceste uma boleia agora mesmo, para onde quero ir a seguir, sinto-me muito grato porque tenho mesmo uma necessidade de passar mais tempo com a minha família, e se apanhasse o autocarro teria menos uma hora. - Não é nada. "De rien." Se quiserem aterrorizar um chacal, expressem amor ou apreço por ele. Mesmo! Se quiserem mesmo assustar um chacal, nunca vi nada que assustasse tanto pessoas que falam à chacal do que gratidão sincera ou amor. "Porque é que ficas tão nervoso, chacal, quando o ouves?" - Bem, não sei se o mereço. Vejam, chacais têm este conceito perigoso nas suas cabeças: Merecer. É um conceito muito violento. Implica que tens que merecer o apreço. Mereces mesmo um castigo se te comportares de um certo modo. Vêem, o conceito de merecer é um ingrediente chave num estilo de vida violento. Se acreditarem no merecer, pensam que certas coisas são de valor, e montam um sistema económico muito destrutivo. Montam um sistema correccional destrutivo. Um conceito muito perigoso. - Bem, essa não é a única razão. - Por que outra razão ficas tão assustado quando ouves gratidão, chacal? - Que há de errado em ser-se humilde? - Então queres ter uma necessidade de humildade? - Sim. - Bem, sabes chacal, existem diferentes tipos de humildade. Temo que o teu tipo é uma humildade de chacal. Acho que o teu tipo é o tipo ao qual Golda Meir, a primeira ministra de Israel, estava a reagir quando ela disse a um dos seus políticos: "Não seja tão humilde, você não é assim tão bom." Mas a principal razão pela qual acredito que a gratidão é tão assustadora para muitos de nós a recebermos, está escrita de forma linda e poética em "Um Curso em Milagres" onde eles dizem "é a nossa luz, não a nossa escuridão, aquilo que mais nos assusta." Tendo sido educados nesta forma de chacal de nos odiarmos a nós próprios, a pensarmos que há algo de errado em nós, é um grande salto até vermos realmente aquilo que eu estava a dizer, que temos um poder enorme para fazer a vida maravilhosa. E não há nada que gostamos mais de fazer do que exercer esse poder. Infelizmente, é um salto mesmo grande para chegarmos lá. Mas podemos chegar lá. Então, é assim que dizemos gratidão: observação, sentimento e necessidade. A mesma literacia. Verifiquem que vem do coração para o celebrarem, e nunca para o louvor, elogio, recompensa. Então, alguns comentários finais ou questões antes de o nosso tempo terminar? Estou grato pelo vosso tempo e atenção que me deram.