O que eu faço no Twitter é garantir a confiança dos usuários, proteger seus direitos e mantê-los a salvo, tanto uns dos outros quanto, às vezes, deles mesmos. Vamos falar sobre como é a escala no Twitter. Em Janeiro de 2009, vimos mais de dois milhões de novos tuítes a cada dia nessa plataforma. Em Janeiro de 2014, tivemos mais de 500 milhões. Vimos dois milhões de tuítes em menos de seis minutos. É um aumento de 24.900%. Agora, a grande maioria da atividade no Twitter não causa problemas a ninguém. Não envolve risco. Meu trabalho é perceber e evitar atividades que possam causar problemas. Parece bastante simples, certo? Vocês talvez achem que é fácil, porque agora mesmo eu disse que a atividade mais intensa no Twitter não causa problemas. Para que gastar tanto tempo procurando calamidades em potencial em meio a atividades inofensivas? Pela escala do Twitter, uma chance em um milhão ocorre 500 vezes por dia. É a mesma de outras companhias que lidam com este tipo de escala. Para nós, os casos extremos, como essas situações raras, que nunca vão ocorrer, estão mais para uma rotina. Digamos que 99,999% dos tuítes não sejam um risco para ninguém. Não representam uma ameaça. Talvez as pessoas estejam documentando suas viagens como o coração da Barreira de Corais da Austrália, ou tuitando sobre o show em que estão, ou estejam compartilhando fotos de bichinhos fofinhos. Excluindo esses 99,999%, aquela porcentagem mínima de tuítes restantes chega a, aproximadamente, 150.000 por mês. A enorme escala com que estamos lidando é um desafio. Sabem o que faz o meu trabalho ser particularmente desafiador? As pessoas fazem coisas esquisitas. (Risos) E eu tenho de entender o que elas estão fazendo, se há ou não um risco envolvido e por quê, geralmente sem ter muita noção em termos de contexto ou de situação. Vou mostrar alguns exemplos do que eu já encontrei durante meu tempo no Twitter -- estes são exemplos reais — de situações que, a princípio, pareciam moleza, mas, na verdade, a questão era uma coisa completamente diferente. Os detalhes foram mudados para proteger os inocentes e, em alguns casos, os culpados Vamos pegar leve para começar. ["E aí, vadia"] Se você visse um tuíte que só dissesse isso, você poderia pensar: "Parece ser um abuso." Afinal, por que você iria querer receber uma mensagem assim, "E aí, vadia"? Agora, eu tento estar relativamente ligada nas últimas modas e memes, então eu sabia que o "e aí, vadia" também era um cumprimento comum entre amigos, além de ser uma referência popular ao "Breaking Bad". Tenho de admitir que eu não estava esperando encontrar um quarto caso. Acabou que também é usado no Twitter quando as pessoas estão brincando de cachorrinho. (Risos) E, na verdade, nesse caso, não só não era abuso, como, tecnicamente, é também um cumprimento muito adequado. (Risos) Então, certo, determinar se algo é ou não é abusivo, sem ter um contexto, é definitivamente difícil. Consideremos os "spams". Este é um exemplo de uma conta com um comportamento de "spammer" clássico, mandando exatamente a mesma mensagem a milhares de pessoas. Apesar de ser um exemplo que eu fiz usando a minha conta, vemos contas fazendo isso o tempo todo. Parece fácil de resolver. Deveríamos apenas suspender automaticamente as contas que apresentam este comportamento. Acontece que há algumas exceções à essa regra. Pois pode ser que a mensagem seja uma notificação de que você assinou para saber quando a Estação Espacial Internacional estiver passando, porque você pretende sair e ver se a enxerga. Você não vai ter essa chance se, por um erro, suspendermos a conta pensando que se trata de "spam". Certo. Vamos parar de brincar. De volta à minha conta, de novo exibindo comportamente clássico. Desta vez, mandando a mesma mensagem com "link". Costuma ser uma sinal de uma coisa chamada "phishing", alguém que tenta roubar as informações da conta de outra pessoas, levando-as a outro "site". Bem óbvio que não é coisa boa. Queremos e nos esforçamos para supender contas que se envolvem nessa atividade. Por que, então, isto complica as coisas? Bom, pode ser um simples passante que conseguiu gravar um vídeo de um policial agredindo um protestante pacífico e está tentando deixar o mundo saber o que está acontecendo. Nós não queremos apostar na chance potencial de silenciar aquela mensagem crucial por classificá-la como "spam" e suspender a conta. Significa que avaliamos centenas de parâmetros, quando observamos o comportamento das contas, e, mesmo assim, ainda podemos entender errado e ter de reconsiderar. Agora, com os tipos de desafios que enfrento, é essencial que eu não só antecipe, mas também desenvolva proteções contra o inesperado. E este não é um trabalho só para mim, ou para o Twitter, mas para vocês. É um trabaho para todos que estão construindo ou criando algo que acham que será incrível e que permitirá que as pessoas façam coisas incríveis. Então, que fazer? Eu paro e penso: "Como tudo isto poderia dar terrivelmente errado?" Eu visualizo a catástofre. E é duro. Há meio que uma dissonância cognitiva inerente a fazer isso, como quando você escreve seus votos de casamento ao mesmo tempo em que o acordo pré-nupcial. (Risos) Mas ainda assim você tem de fazer, principalmente se você se casa com 500 milhões de tuítes por dia. O que eu quero dizer com "visualizar catástrofre"? Eu tento pensar em como algo, digamos, benigno e inocente como a foto de um gato pode causar a morte de alguém, e em o que fazer para evitar que aconteça. Aliás, esse é meu próximo exemplo. Este é meu gato, Eli. Queríamos dar aos usuários a capacidade de adicionar fotos aos tuítes. Um imagem vale mais que mil palavras. Você só tem 140 caracteres. Com uma foto no seu tuíte, olha quanto conteúdo você tem. Há montes de coisas ótimas que você pode fazer adicionando uma foto a um tuíte. Meu trabalho é pensar nelas. É pensar o que poderia dar errado. Como esta imagem poderia me matar? Bom, temos aqui uma possibilidade. Há mais coisa na foto do que só um gato. Há dados geográficos. Quando você tira uma foto no "smartphone" ou numa câmera digital, há várias informações adicionais salvas com a imagem. Na verdade, esta imagem contém o equivalente a isto, mais especificamente, a isto. Claro, é improvável que alguém vá tentar me localizar e me fazer mal, apenas pelos dados associados à imagem, com a foto que tirei do meu gato, mas parto do princípio de que o pior vai acontecer. É por isso que, quando lançamos as fotos no Twitter, decidimos remover os dados geográficos delas. (Aplausos) Se começo imaginando o pior e trabalho retroativamente, posso assegurar que as proteções que construímos funcionem nos casos esperados e também nos inesperados. Levando em conta que passo dia e noite imaginando o pior que pode acontecer, não seria de surpreender se minha visão de mundo fosse meio macabra. (Risos) Não é. A maioria esmagadora das interações que eu observo -- e eu vejo um monte, acreditem -- são positivas: pessoas oferecendo ajuda ou se conectando, ou compartilhando informações umas com as outras. Só que, para aqueles que lidam com a escala, para nós que temos a tarefa de manter as pessoas seguras, precisamos imaginar que o pior vai acontecer, porque, para nós, uma chance em um milhão é uma chance bem grande. Obrigada. (Aplausos)