1 00:00:00,586 --> 00:00:02,601 Tenho uma pergunta: 2 00:00:02,601 --> 00:00:05,926 Quem é que aqui se lembra de quando se apercebeu, pela primeira vez, 3 00:00:05,926 --> 00:00:09,149 de que iria morrer? 4 00:00:09,149 --> 00:00:10,493 Eu lembro-me. 5 00:00:10,493 --> 00:00:14,758 Eu era ainda rapaz, e o meu avô tinha acabado de morrer. 6 00:00:14,758 --> 00:00:18,693 Lembro-me de estar deitado na cama, à noite, alguns dias mais tarde, 7 00:00:18,693 --> 00:00:21,640 a tentar compreender o que tinha sucedido. 8 00:00:22,467 --> 00:00:24,945 O que significava ele ter morrido? 9 00:00:24,945 --> 00:00:26,686 Para onde é que ele tinha ido? 10 00:00:26,686 --> 00:00:30,194 Era como se um buraco se tivesse aberto na Realidade 11 00:00:30,194 --> 00:00:32,399 e o tivesse engolido. 12 00:00:32,399 --> 00:00:35,149 Mas então ocorreu-me a pergunta realmente chocante: 13 00:00:35,149 --> 00:00:38,839 Se ele morreu, também isso me iria acontecer a mim? 14 00:00:38,839 --> 00:00:42,250 Iria aquele buraco na Realidade abrir-se e engolir-me? 15 00:00:42,250 --> 00:00:43,919 Ir-se-ia abrir por baixo da minha cama 16 00:00:43,919 --> 00:00:46,223 e engolir-me durante o sono? 17 00:00:46,910 --> 00:00:51,277 A certa altura, todas as crianças se tornam conscientes da morte. 18 00:00:51,277 --> 00:00:53,220 Isso pode acontecer de formas diferentes, claro, 19 00:00:53,220 --> 00:00:55,530 e, normalmente, acontece por fases. 20 00:00:55,530 --> 00:00:58,357 A nossa ideia da morte desenvolve-se à medida que crescemos. 21 00:00:58,357 --> 00:01:02,903 Se procurarem nos recantos da vossa memória, 22 00:01:02,903 --> 00:01:06,143 poder-se-ão lembrar de algo como o que senti 23 00:01:06,143 --> 00:01:09,372 quando o meu avô morreu e quando me apercebi 24 00:01:09,372 --> 00:01:11,209 de que isso me poderia acontecer a mim também, 25 00:01:11,209 --> 00:01:13,727 a sensação de que, por detrás de tudo isto, 26 00:01:13,727 --> 00:01:15,707 o vazio está à espera. 27 00:01:17,040 --> 00:01:19,167 E este desenvolvimento na infância 28 00:01:19,167 --> 00:01:22,145 reflete o desenvolvimento da nossa espécie, 29 00:01:22,145 --> 00:01:25,225 tal como houve um objetivo no vosso desenvolvimento 30 00:01:25,225 --> 00:01:28,742 enquanto crianças, quando o vosso sentido do Eu e do tempo 31 00:01:28,742 --> 00:01:31,410 se tornou suficientemente sofisticado 32 00:01:31,410 --> 00:01:34,963 ao ponto de compreenderem que são mortais. 33 00:01:34,963 --> 00:01:38,643 Assim, a certa altura na evolução da nossa espécie, 34 00:01:38,643 --> 00:01:41,701 em alguns humanos primitivos o sentido do Eu e do tempo 35 00:01:41,701 --> 00:01:43,840 tornou-se suficientemente sofisticado 36 00:01:43,840 --> 00:01:47,198 para se tornarem os primeiros humanos a aperceber-se de que: 37 00:01:47,198 --> 00:01:49,188 "Vou morrer". 38 00:01:50,382 --> 00:01:52,668 Isto é, se quiserem, a nossa maldição. 39 00:01:52,668 --> 00:01:56,606 É o preço que pagamos por sermos tão inteligentes. 40 00:01:56,606 --> 00:01:58,784 Temos de viver com o conhecimento 41 00:01:58,784 --> 00:02:01,401 de que a pior coisa que poderá alguma vez acontecer 42 00:02:01,401 --> 00:02:03,130 um dia certamente acontecerá: 43 00:02:03,130 --> 00:02:04,688 o fim de todos os nossos projetos, 44 00:02:04,688 --> 00:02:07,848 as nossas esperanças, os nossos sonhos, o nosso mundo individual. 45 00:02:07,850 --> 00:02:10,498 Cada um de nós vive na sombra 46 00:02:10,498 --> 00:02:12,888 de um apocalipse pessoal. 47 00:02:13,183 --> 00:02:15,713 Isso é assustador. É aterrador. 48 00:02:15,713 --> 00:02:18,182 Por isso, procuramos uma saída. 49 00:02:18,182 --> 00:02:21,523 No meu caso, como eu tinha cerca de cinco anos de idade, 50 00:02:21,523 --> 00:02:24,358 isso significava perguntar à minha mãe. 51 00:02:24,358 --> 00:02:26,885 Quando comecei a perguntar pela primeira vez 52 00:02:26,885 --> 00:02:28,866 o que acontece quando morremos, 53 00:02:28,866 --> 00:02:30,853 os adultos à minha volta, nessa altura, 54 00:02:30,853 --> 00:02:33,900 responderam-me com uma típica mistura inglesa de estranhezas 55 00:02:33,900 --> 00:02:37,165 e de cristianismo meio sentido 56 00:02:37,165 --> 00:02:38,900 e a frase que mais ouvi 57 00:02:38,900 --> 00:02:40,555 foi que o avô estava agora 58 00:02:40,555 --> 00:02:43,200 "lá em cima a observar-nos" 59 00:02:43,200 --> 00:02:45,888 e que, se eu morresse também, o que, claro, não iria acontecer, 60 00:02:45,888 --> 00:02:48,737 então também eu iria lá para cima, 61 00:02:48,737 --> 00:02:50,769 o que fez com que a morte parecesse 62 00:02:50,769 --> 00:02:52,623 um elevador existencial. 63 00:02:52,623 --> 00:02:53,851 (Risos) 64 00:02:53,851 --> 00:02:56,410 Isto não me parecia muito plausível. 65 00:02:56,410 --> 00:02:59,635 Eu costumava ver um noticiário televisivo para crianças, naquela altura, 66 00:02:59,635 --> 00:03:01,893 e esta era a Era da Exploração Espacial. 67 00:03:01,893 --> 00:03:04,206 Havia sempre foguetões a subirem pelo céu acima, 68 00:03:04,206 --> 00:03:06,746 em direção ao espaço, indo lá acima. 69 00:03:06,746 --> 00:03:09,135 Mas nenhum dos astronautas, quando regressavam, 70 00:03:09,135 --> 00:03:12,211 alguma vez mencionou ter encontrado o meu avô 71 00:03:12,211 --> 00:03:14,774 ou quaisquer outras pessoas falecidas. 72 00:03:14,774 --> 00:03:16,251 Mas eu estava assustado, 73 00:03:16,251 --> 00:03:18,543 e a ideia de tomar o elevador existencial 74 00:03:18,543 --> 00:03:20,130 para ir ver o meu avô 75 00:03:20,130 --> 00:03:21,911 soava melhor do que eu ser engolido 76 00:03:21,911 --> 00:03:24,401 pelo vazio durante o sono. 77 00:03:24,696 --> 00:03:27,104 Por isso, eu acreditava nisso, de qualquer forma, 78 00:03:27,104 --> 00:03:29,628 mesmo apesar de não fazer muito sentido. 79 00:03:29,628 --> 00:03:32,695 E este processo de raciocínio por que passei em criança, 80 00:03:32,695 --> 00:03:34,757 e pelo qual tenho passado muitas vezes desde então, 81 00:03:34,757 --> 00:03:36,336 incluindo em adulto, 82 00:03:36,336 --> 00:03:38,149 é o produto do que os psicólogos 83 00:03:38,149 --> 00:03:40,239 chamam um preconceito. 84 00:03:40,239 --> 00:03:43,339 Um preconceito é a forma como, sistematicamente, 85 00:03:43,339 --> 00:03:45,257 entendemos mal as coisas, 86 00:03:45,257 --> 00:03:47,819 as formas como erramos no cálculo, no juízo, 87 00:03:47,819 --> 00:03:51,200 distorcemos a realidade, ou vemos o que queremos ver. 88 00:03:51,200 --> 00:03:53,527 O preconceito de que estou a falar 89 00:03:53,527 --> 00:03:54,940 funciona assim: 90 00:03:55,211 --> 00:03:57,296 Confrontem pessoas com o facto 91 00:03:57,296 --> 00:03:58,817 de que elas vão morrer 92 00:03:58,817 --> 00:04:01,850 e elas acreditarão em praticamente qualquer história 93 00:04:01,850 --> 00:04:03,716 que lhes diga que isso não é verdade 94 00:04:03,716 --> 00:04:06,244 e que elas podem, em vez disso, viver para sempre, 95 00:04:06,244 --> 00:04:09,189 mesmo que isso signifique tomar o elevador existencial. 96 00:04:10,259 --> 00:04:14,678 Vemos isto como o maior preconceito de todos. 97 00:04:14,678 --> 00:04:16,379 Isto tem sido demonstrado 98 00:04:16,379 --> 00:04:18,916 em mais de 400 estudos empíricos. 99 00:04:19,208 --> 00:04:21,813 Estes estudos são engenhosos, mas simples. 100 00:04:21,813 --> 00:04:23,739 Eles funcionam assim: 101 00:04:23,739 --> 00:04:25,386 Temos dois grupos de pessoas 102 00:04:25,386 --> 00:04:28,120 semelhantes em todos os aspetos relevantes 103 00:04:28,120 --> 00:04:30,692 e lembramos a um grupo de que eles irão morrer 104 00:04:30,692 --> 00:04:33,513 mas não ao outro e, depois, comparamos o comportamento deles. 105 00:04:33,513 --> 00:04:37,194 Portanto, estamos a observar como isto influencia o comportamento 106 00:04:37,194 --> 00:04:39,983 quando as pessoas se tornam conscientes da sua mortalidade. 107 00:04:40,931 --> 00:04:43,808 E de todas as vezes, obtemos o mesmo resultado: 108 00:04:43,808 --> 00:04:46,843 as pessoas que foram consciencializadas da sua mortalidade 109 00:04:46,843 --> 00:04:48,871 estão mais abertas a acreditar em histórias 110 00:04:48,871 --> 00:04:50,795 que lhes digam que podem escapar à morte 111 00:04:50,795 --> 00:04:52,333 e viver para sempre. 112 00:04:52,698 --> 00:04:54,891 Aqui está um exemplo: um estudo recente 113 00:04:54,891 --> 00:04:57,392 incidiu sobre dois grupos de agnósticos 114 00:04:57,392 --> 00:04:59,414 — isto é, pessoas que estão indecisas 115 00:04:59,414 --> 00:05:01,850 quanto às suas crenças religiosas. 116 00:05:01,850 --> 00:05:05,295 A um grupo foi pedido para pensar sobre "estar-se morto". 117 00:05:05,295 --> 00:05:08,671 Ao outro grupo foi pedido para pensar sobre "estar-se só". 118 00:05:08,671 --> 00:05:11,641 Foram então questionados outra vez sobre as suas crenças religiosas. 119 00:05:11,641 --> 00:05:14,661 Aqueles a quem tinha sido pedido para pensarem sobre "estar-se morto" 120 00:05:14,661 --> 00:05:18,520 foram depois duas vezes mais propensos a expressarem fé 121 00:05:18,520 --> 00:05:19,860 em Deus e Jesus. 122 00:05:19,860 --> 00:05:21,586 Duas vezes mais propensos. 123 00:05:21,586 --> 00:05:24,207 Mesmo que antes fossem todos igualmente agnósticos. 124 00:05:24,207 --> 00:05:26,142 Mas meta-se neles o medo da morte, 125 00:05:26,142 --> 00:05:27,969 e correm para Jesus. 126 00:05:29,836 --> 00:05:33,408 Isto mostra que, lembrar às pessoas a morte, 127 00:05:33,408 --> 00:05:36,488 fá-las propensas a acreditar, apesar das evidências. 128 00:05:36,488 --> 00:05:38,644 Isto funciona não só para a religião 129 00:05:38,644 --> 00:05:40,724 mas para qualquer tipo de sistema de crenças 130 00:05:40,724 --> 00:05:44,167 que prometa a imortalidade de alguma maneira, 131 00:05:44,167 --> 00:05:46,150 quer seja tornar-se famoso 132 00:05:46,150 --> 00:05:47,482 ou ter filhos, 133 00:05:47,482 --> 00:05:48,924 ou até o nacionalismo, 134 00:05:48,924 --> 00:05:52,136 que nos promete que podemos viver como parte de um Todo maior. 135 00:05:52,136 --> 00:05:54,180 Este é um preconceito que modelou 136 00:05:54,180 --> 00:05:56,545 o curso da História da Humanidade. 137 00:05:57,372 --> 00:05:59,865 A teoria por detrás deste preconceito 138 00:05:59,865 --> 00:06:01,567 nos mais de 400 estudos 139 00:06:01,567 --> 00:06:03,426 é chamada de "teoria de gestão do terror" 140 00:06:03,426 --> 00:06:04,777 e a ideia é simples. 141 00:06:04,777 --> 00:06:06,458 É simplesmente isto. 142 00:06:06,458 --> 00:06:08,351 Nós desenvolvemos os nossos pontos de vista do mundo 143 00:06:08,351 --> 00:06:10,734 isto é, as histórias que contamos a nós próprios 144 00:06:10,734 --> 00:06:13,314 acerca do mundo e do nosso lugar nele, 145 00:06:13,314 --> 00:06:17,465 de forma a ajudar-nos a gerir o terror da morte. 146 00:06:18,484 --> 00:06:20,387 E estas histórias de imortalidade 147 00:06:20,387 --> 00:06:23,184 têm milhares de diferentes manifestações. 148 00:06:23,184 --> 00:06:26,820 Mas creio que, por detrás da aparente diversidade, 149 00:06:26,820 --> 00:06:29,641 há apenas, na verdade, quatro formas básicas 150 00:06:29,641 --> 00:06:33,321 que estas histórias de imortalidade podem assumir. 151 00:06:33,321 --> 00:06:35,287 Podemos vê-las a repetirem-se a si mesmas 152 00:06:35,287 --> 00:06:38,101 através da História, apenas com ligeiras variações 153 00:06:38,101 --> 00:06:40,901 que refletem o vocabulário da época. 154 00:06:40,901 --> 00:06:42,704 Vou apresentar brevemente 155 00:06:42,704 --> 00:06:45,662 essas quatro formas básicas de história da imortalidade. 156 00:06:45,662 --> 00:06:47,336 Quero tentar dar-vos alguma noção 157 00:06:47,336 --> 00:06:51,140 do modo como são recontadas por cada cultura ou geração 158 00:06:51,140 --> 00:06:53,693 usando o vocabulário da sua época. 159 00:06:53,693 --> 00:06:56,218 A primeira história é a mais simples. 160 00:06:56,218 --> 00:06:58,389 Queremos evitar a morte 161 00:06:58,389 --> 00:07:00,666 e o sonho de o fazer neste corpo, 162 00:07:00,666 --> 00:07:02,174 neste mundo, para sempre, 163 00:07:02,174 --> 00:07:05,074 é o primeiro e mais simples tipo de história da imortalidade. 164 00:07:05,474 --> 00:07:07,793 Pode parecer, a princípio, pouco plausível 165 00:07:07,793 --> 00:07:11,835 mas, na verdade, quase todas as culturas na História da Humanidade 166 00:07:11,835 --> 00:07:13,949 tiveram algum mito ou lenda 167 00:07:13,949 --> 00:07:16,719 de um elixir da vida ou de uma fonte da juventude 168 00:07:16,719 --> 00:07:20,663 ou de algo que nos prometa manter-nos vivos para sempre. 169 00:07:22,453 --> 00:07:24,324 O Antigo Egito teve mitos assim, 170 00:07:24,324 --> 00:07:26,569 a Antiga Babilónia, a Antiga Índia. 171 00:07:26,569 --> 00:07:29,691 Ao longo da História da Europa, encontramo-los no trabalho dos alquimistas, 172 00:07:29,691 --> 00:07:32,164 e claro que ainda acreditamos nisso hoje, 173 00:07:32,164 --> 00:07:36,101 só que contamos esta história usando o vocabulário da ciência. 174 00:07:36,426 --> 00:07:37,867 Então, há cem anos, 175 00:07:37,867 --> 00:07:39,804 as hormonas tinham acabado de ser descobertas, 176 00:07:39,804 --> 00:07:42,160 e as pessoas esperavam que os tratamentos hormonais 177 00:07:42,160 --> 00:07:44,168 fossem curar o envelhecimento e a doença. 178 00:07:44,168 --> 00:07:47,470 Agora, em vez disso, depositamos as nossas esperanças nas células estaminais, 179 00:07:47,470 --> 00:07:49,463 na engenharia genética e na nanotecnologia. 180 00:07:49,463 --> 00:07:53,361 Mas a ideia de que a ciência pode eliminar a morte 181 00:07:53,361 --> 00:07:57,770 é apenas mais um capítulo na história do elixir mágico, 182 00:07:57,770 --> 00:08:00,988 uma história que é tão antiga como a civilização. 183 00:08:02,327 --> 00:08:05,220 Mas apostarmos tudo na ideia de encontrar o elixir 184 00:08:05,220 --> 00:08:06,632 para nos manter vivos para sempre 185 00:08:06,632 --> 00:08:08,450 é uma estratégia arriscada. 186 00:08:08,450 --> 00:08:10,595 Quando olhamos para a História 187 00:08:10,595 --> 00:08:13,352 para todos os que procuraram um elixir no passado, 188 00:08:13,352 --> 00:08:15,286 a única coisa que eles têm agora em comum 189 00:08:15,286 --> 00:08:16,975 é que estão todos mortos. 190 00:08:16,975 --> 00:08:18,248 (Risos) 191 00:08:18,248 --> 00:08:21,706 Portanto, precisamos de um plano alternativo, e é exatamente este tipo de plano B 192 00:08:21,706 --> 00:08:25,103 que o segundo tipo de história da imortalidade oferece: 193 00:08:25,103 --> 00:08:26,954 É a ressurreição. 194 00:08:26,954 --> 00:08:29,371 Reside na ideia de que eu sou este corpo, 195 00:08:29,371 --> 00:08:31,268 eu sou este organismo físico. 196 00:08:31,268 --> 00:08:33,358 Ela aceita que vou ter de morrer 197 00:08:33,358 --> 00:08:35,360 mas diz que, apesar disso, 198 00:08:35,360 --> 00:08:37,287 eu posso erguer-me e voltar a viver. 199 00:08:37,287 --> 00:08:39,584 Por outras palavras, posso fazer o que Jesus fez. 200 00:08:39,879 --> 00:08:42,680 Jesus morreu, esteve três dias no túmulo 201 00:08:42,680 --> 00:08:44,870 e depois ergueu-se e voltou a viver. 202 00:08:45,409 --> 00:08:48,215 A ideia de que todos nós podemos ser ressuscitados e voltar a viver 203 00:08:48,215 --> 00:08:50,520 é uma crença ortodoxa, não apenas para os cristãos 204 00:08:50,520 --> 00:08:53,249 mas também para os judeus e para os muçulmanos. 205 00:08:53,249 --> 00:08:55,387 Mas o nosso desejo de acreditar nesta história 206 00:08:55,387 --> 00:08:57,301 está tão profundamente entranhado 207 00:08:57,301 --> 00:08:59,347 que o estamos a reinventar outra vez 208 00:08:59,347 --> 00:09:00,944 para a era científica, 209 00:09:00,944 --> 00:09:03,697 por exemplo, com a ideia da criogenia. 210 00:09:03,697 --> 00:09:05,270 É a ideia de que, quando morremos, 211 00:09:05,270 --> 00:09:07,373 podemo-nos fazer congelar, 212 00:09:07,373 --> 00:09:08,971 e depois, a dado momento, 213 00:09:08,971 --> 00:09:11,124 quando a tecnologia tiver avançado suficientemente, 214 00:09:11,124 --> 00:09:13,414 podemos ser descongelados, intervencionados e reanimados 215 00:09:13,414 --> 00:09:14,773 e, deste modo, ressuscitados. 216 00:09:14,773 --> 00:09:17,282 E assim, algumas pessoas creem num Deus Omnipotente 217 00:09:17,282 --> 00:09:19,231 que os irá ressuscitar para viverem outra vez, 218 00:09:19,231 --> 00:09:22,200 e outras pessoas creem que será um cientista omnipotente a fazê-lo. 219 00:09:23,217 --> 00:09:25,931 Mas para outros, toda a ideia de ressurreição, 220 00:09:25,931 --> 00:09:27,925 de sair da sepultura, 221 00:09:27,925 --> 00:09:30,592 é demasiado parecida com um mau filme de "zombies". 222 00:09:30,592 --> 00:09:33,618 Elas acham o corpo demasiado sujo, demasiado pouco fiável 223 00:09:33,618 --> 00:09:35,618 para garantir a vida eterna. 224 00:09:35,618 --> 00:09:37,857 Por isso, depositam as suas esperanças 225 00:09:37,857 --> 00:09:40,818 na terceira e mais espiritual história da imortalidade, 226 00:09:40,818 --> 00:09:43,320 a ideia de que podemos abandonar o nosso corpo 227 00:09:43,320 --> 00:09:45,051 e viver como alma. 228 00:09:45,529 --> 00:09:47,544 A maioria das pessoas na Terra 229 00:09:47,544 --> 00:09:49,213 creem que têm uma alma 230 00:09:49,213 --> 00:09:51,666 e a ideia é central a muitas religiões. 231 00:09:51,666 --> 00:09:54,490 Mas ainda que, na sua forma atual, 232 00:09:54,490 --> 00:09:55,852 na sua forma tradicional, 233 00:09:55,852 --> 00:09:58,100 a ideia de alma seja ainda imensamente popular, 234 00:09:58,100 --> 00:09:59,602 apesar disso, estamos de novo 235 00:09:59,602 --> 00:10:01,610 a reinventá-la para a era digital, 236 00:10:01,610 --> 00:10:03,520 por exemplo, com a ideia 237 00:10:03,520 --> 00:10:05,146 de que podemos abandonar o nosso corpo 238 00:10:05,146 --> 00:10:07,366 carregando a nossa mente, a nossa essência, 239 00:10:07,366 --> 00:10:09,287 o nosso verdadeiro Eu, para um computador, 240 00:10:09,287 --> 00:10:12,404 e viver assim como um "avatar" no éter. 241 00:10:14,120 --> 00:10:15,975 Mas, claro que há céticos que dizem que, 242 00:10:15,975 --> 00:10:17,758 se olharmos para a evidência da ciência, 243 00:10:17,758 --> 00:10:19,419 particularmente a neurociência, 244 00:10:19,419 --> 00:10:21,196 sugere-nos que a nossa mente, 245 00:10:21,196 --> 00:10:22,915 a nossa essência, o nosso verdadeiro Eu, 246 00:10:22,915 --> 00:10:25,302 está muito dependente de uma parte em particular 247 00:10:25,302 --> 00:10:27,488 do nosso corpo, isto é, o nosso cérebro. 248 00:10:27,488 --> 00:10:30,440 E tais céticos podem encontrar conforto 249 00:10:30,440 --> 00:10:32,406 no quarto tipo de história da imortalidade 250 00:10:32,406 --> 00:10:34,563 e que é o legado, 251 00:10:34,563 --> 00:10:36,373 a ideia de que se pode viver para sempre 252 00:10:36,373 --> 00:10:38,373 através do eco que deixamos no mundo, 253 00:10:38,373 --> 00:10:40,643 como o grande guerreiro grego Aquiles, 254 00:10:40,643 --> 00:10:43,264 que sacrificou a sua vida a combater em Tróia 255 00:10:43,264 --> 00:10:45,899 de forma a ganhar uma fama imortal. 256 00:10:46,447 --> 00:10:48,878 A busca de fama é generalizada 257 00:10:48,878 --> 00:10:50,854 e popular agora mais do que nunca. 258 00:10:50,854 --> 00:10:52,294 Na nossa era digital 259 00:10:52,294 --> 00:10:54,470 é ainda mais fácil de conseguir. 260 00:10:54,470 --> 00:10:56,198 Vocês não precisam de ser grandes guerreiros como Aquiles 261 00:10:56,198 --> 00:10:57,865 ou grandes reis ou heróis. 262 00:10:57,865 --> 00:11:01,302 Tudo o que precisam é de ter uma ligação de Internet e um gato engraçado. 263 00:11:01,302 --> 00:11:02,913 (Risos) 264 00:11:02,913 --> 00:11:05,264 Mas algumas pessoas preferem deixar um legado biológico 265 00:11:05,264 --> 00:11:07,969 mais tangível — filhos, por exemplo. 266 00:11:08,340 --> 00:11:10,445 Ou gostam, esperam continuar a viver 267 00:11:10,445 --> 00:11:12,840 como parte de um Todo maior, 268 00:11:12,840 --> 00:11:14,446 uma nação ou família ou tribo, 269 00:11:14,446 --> 00:11:16,294 o seu conjunto de genes. 270 00:11:16,877 --> 00:11:18,494 Mas, mais uma vez, há céticos 271 00:11:18,494 --> 00:11:20,120 que duvidam que o legado 272 00:11:20,120 --> 00:11:22,113 seja, realmente, a imortalidade. 273 00:11:22,113 --> 00:11:23,946 Woody Allen, por exemplo, que disse: 274 00:11:23,946 --> 00:11:26,807 "Eu não quero viver para sempre nos corações dos meus compatriotas. 275 00:11:26,807 --> 00:11:28,996 "Quero viver para sempre no meu apartamento." 276 00:11:28,996 --> 00:11:31,545 Então, esses foram os quatro tipos básicos 277 00:11:31,545 --> 00:11:32,928 de histórias de imortalidade, 278 00:11:32,928 --> 00:11:34,536 e tentei apenas dar algum sentido 279 00:11:34,536 --> 00:11:36,776 ao modo como elas são recontadas por cada geração 280 00:11:36,776 --> 00:11:38,598 com ligeiras variações, apenas, 281 00:11:38,598 --> 00:11:40,747 para se ajustarem à moda da época. 282 00:11:40,747 --> 00:11:44,149 E o facto de elas continuarem a existir desta forma, 283 00:11:44,149 --> 00:11:47,206 numa forma tão semelhante mas em sistemas de crença tão diferentes, 284 00:11:47,206 --> 00:11:48,697 sugere, penso eu, 285 00:11:48,697 --> 00:11:51,117 que deveríamos ser céticos da verdade 286 00:11:51,117 --> 00:11:54,547 contida em qualquer versão destas histórias. 287 00:11:55,230 --> 00:11:57,360 O facto de algumas pessoas acreditarem 288 00:11:57,360 --> 00:11:59,940 num Deus Omnipotente que as irá ressuscitar para voltarem a viver 289 00:11:59,940 --> 00:12:03,303 e outros acreditarem que um cientista omnipotente o irá fazer 290 00:12:03,303 --> 00:12:06,645 sugere que nem uns nem outros realmente acreditam nisso 291 00:12:06,645 --> 00:12:09,124 face à evidência. 292 00:12:09,124 --> 00:12:11,584 Pelo contrário, nós acreditamos nestas histórias 293 00:12:11,584 --> 00:12:13,637 porque estamos inclinados a acreditar nelas, 294 00:12:13,637 --> 00:12:15,439 e estamos inclinados a acreditar nelas 295 00:12:15,439 --> 00:12:18,404 porque temos muito medo da morte. 296 00:12:19,657 --> 00:12:21,746 Por isso, a questão é: 297 00:12:21,746 --> 00:12:25,210 "Estamos condenados a viver a única vida que temos 298 00:12:25,210 --> 00:12:28,833 "modelada pelo medo e pela negação 299 00:12:28,833 --> 00:12:31,847 "ou podemos ultrapassar este preconceito?" 300 00:12:31,847 --> 00:12:34,375 Bem, o filósofo grego Epicuro 301 00:12:34,375 --> 00:12:36,216 achou que podíamos. 302 00:12:36,216 --> 00:12:39,642 Ele argumentou que o medo da morte é natural 303 00:12:39,642 --> 00:12:41,605 mas não é racional. 304 00:12:42,110 --> 00:12:44,663 "A morte" — disse ele — "nada é para nós, 305 00:12:44,663 --> 00:12:47,513 "porque quando estamos vivos, a morte não existe, 306 00:12:47,513 --> 00:12:50,920 "e quando a morte chega, não existimos nós ." 307 00:12:51,266 --> 00:12:53,256 Ora isto é frequentemente citado, mas é difícil 308 00:12:53,256 --> 00:12:55,491 de apreender realmente, de interiorizar, de facto, 309 00:12:55,491 --> 00:12:59,299 porque é esta ideia de deixarmos de existir que é difícil de imaginar. 310 00:12:59,784 --> 00:13:01,711 Por isso, dois mil anos mais tarde, 311 00:13:01,711 --> 00:13:04,707 outro filósofo, Ludwig Wittgenstein explicou assim: 312 00:13:05,394 --> 00:13:08,320 "A morte não é um acontecimento na vida. 313 00:13:08,320 --> 00:13:11,980 "Nós não vivemos para ter experiência da morte. 314 00:13:11,980 --> 00:13:13,574 "E por isso" — acrescentou — 315 00:13:13,574 --> 00:13:15,970 "neste sentido, a vida não tem fim." 316 00:13:16,242 --> 00:13:19,389 Por isso, era natural para mim em criança 317 00:13:19,389 --> 00:13:21,643 ter medo de ser engolido pelo vazio, 318 00:13:21,643 --> 00:13:23,583 mas não era racional, 319 00:13:23,583 --> 00:13:25,542 porque ser engolido pelo vazio 320 00:13:25,542 --> 00:13:27,820 não é algo que algum de nós 321 00:13:27,820 --> 00:13:30,498 alguma vez vá experienciar em vida. 322 00:13:30,985 --> 00:13:33,436 Agora, ultrapassar este preconceito não é fácil 323 00:13:33,436 --> 00:13:36,569 porque o medo da morte está tão profundamente entranhado em nós. 324 00:13:36,569 --> 00:13:40,782 No entanto, quando vemos que o medo em si não é racional, 325 00:13:40,782 --> 00:13:45,816 e quando expomos as maneiras como ele nos pode influenciar, 326 00:13:45,816 --> 00:13:49,654 então podemos, pelo menos, começar a tentar minimizar a influência 327 00:13:49,654 --> 00:13:51,891 que tem nas nossas vidas. 328 00:13:52,908 --> 00:13:56,317 Ajuda ver a vida como se fosse um livro: 329 00:13:56,725 --> 00:13:59,255 tal como um livro está limitado pela capa e contracapa, 330 00:13:59,255 --> 00:14:00,576 pelo princípio e pelo fim, 331 00:14:00,576 --> 00:14:04,036 assim as nossas vidas estão limitadas pelo nascimento e pela morte. 332 00:14:04,036 --> 00:14:07,664 E ainda que um livro seja limitado pelo princípio e pelo fim, 333 00:14:07,664 --> 00:14:10,087 ele pode abarcar paisagens distantes, 334 00:14:10,087 --> 00:14:13,160 figuras exóticas, aventuras fantásticas. 335 00:14:13,160 --> 00:14:16,353 E mesmo que um livro seja limitado pelo princípio e pelo fim, 336 00:14:16,353 --> 00:14:18,262 as personagens dentro dele 337 00:14:18,262 --> 00:14:21,322 não conhecem os limites dos horizontes. 338 00:14:21,322 --> 00:14:24,209 Elas apenas conhecem os momentos que criam a sua história, 339 00:14:24,209 --> 00:14:26,810 mesmo quando o livro é fechado. 340 00:14:27,358 --> 00:14:29,355 Assim, as personagens de um livro 341 00:14:29,355 --> 00:14:32,758 não têm medo de chegar à última página. 342 00:14:32,758 --> 00:14:35,620 Long John Silver não tem medo 343 00:14:35,620 --> 00:14:38,165 que vocês acabem o vosso exemplar da "Ilha do Tesouro". 344 00:14:38,165 --> 00:14:39,702 E assim deve ser convoso. 345 00:14:39,702 --> 00:14:41,749 Imaginem o livro das vossas vidas, 346 00:14:41,749 --> 00:14:44,700 a sua capa e contracapa, o seu princípio e fim, o vosso nascimento e morte. 347 00:14:44,700 --> 00:14:47,016 Vocês apenas conseguem conhecer os momentos intermédios 348 00:14:47,016 --> 00:14:48,733 os momentos que criam a vossa vida. 349 00:14:48,733 --> 00:14:50,846 Não faz sentido terem medo 350 00:14:50,846 --> 00:14:52,796 do que está fora das capas, 351 00:14:52,796 --> 00:14:54,249 seja antes do vosso nascimento 352 00:14:54,249 --> 00:14:56,242 seja depois da vossa morte. 353 00:14:56,242 --> 00:14:58,606 Não precisam de se preocupar com o tamanho do livro 354 00:14:58,606 --> 00:15:02,097 ou se é uma banda desenhada ou um épico. 355 00:15:02,097 --> 00:15:03,778 A única coisa que importa 356 00:15:03,778 --> 00:15:06,737 é que façam dele uma boa história. 357 00:15:07,065 --> 00:15:08,417 Obrigado. 358 00:15:08,417 --> 00:15:11,549 (Aplausos)