Vou diretamente ao que interessa. Quem já ouviu dizer que, para sermos sãos e fortes temos que comer de tudo? Levantem a mão. Estou a ver que quase todos levantaram a mão. E está certo. Quase todos temos interiorizada esta mensagem: "Para ser saudável, tenho que comer de tudo". Não é verdade? Pois bem, não é. Estou a dizer-vos que não é. Essa mensagem é falsa. É um conselho muito antigo, que atualmente já não se pode dar. Provavelmente, há muito mais de 50 anos que não deveríamos andar a comer de tudo. A indústria, os progressos tecnológicos, industriais, facilitaram-nos muito a produção de alimentos e isso trouxe-nos vantagens. Reparem, temos alimentos com uma caducidade maior. Mas para este tipo de alimentos, se poderem conservar até serem consumidos. necessitam de um processamento industrial, um tratamento térmico. Também temos uma melhor distribuição dos alimentos. Hoje em dia, na mesma frutaria, podemos comprar laranjas e mandarinas que foram cultivadas nos nossos campos. Mas também kiwis que são originários da China, ou mangas, que vinham da Índia, papaias, líchias... Isso não vos surpreende? Além disso, temos alimentos com uma melhor organolepsia. O que é isso? São alimentos a que a indústria alimentar melhorou a cor, o sabor, o aroma, ou mesmo a textura. Vou dar um exemplo. Não sei se alguém aqui se lembra destes gelados que se desfaziam totalmente mal os tirávamos do congelador. Eram como qualquer gelo. Quais são os gelados de que mais gostamos, atualmente? Os que mais se vendem. São precisamente os gelados que demoram um pouco mais a derreter. Aguentam-se mais tempo. São gelados que têm uma textura mais suave, mais cremosa. Gelados que têm um sabor doce mais intenso, que perduram mais tempo no paladar, não é? É isso que queremos, é isso que temos! Uns gelados com mais gordura e mais açúcares acrescentados. Tudo isto tem muito que ver com as modas, Reparem, trouxe-vos alguns exemplos do que a indústria alimentar é capaz de fazer por nós. Há alguns países em que há estas bolachinhas, desculpem, com forma de hambúrgueres. Para quem goste dos salgados, encontrei uns caranguejos secos e muito bem temperados e para os que prezam a saúde temos umas tiras de lulas secas também muito bem temperadas. Reparem que disse lulas, há muita gente que pensa que as lulas têm proteínas e pouca gordura. Muito bem. Mas aqui, as lulas estão muito salgadas e comem-se com chocolate quente. Porque o "marketing" da indústria alimentar é imparável. Temos chocolates, já os mostro, dentro de instantes. Chocolates de chá verde, chocolates de vinagre de maçã, chocolates de batata-doce, chocolates de wasabi. Querem mais? Reparem nestas imagens! [Bebida de castanha!] [Melancia salgada?] [Bebida de manjericão?] [Pepsi e iogurte??] [Leite e morango...] [Frango + waffles] Agora, pensem um pouco comigo. Quantos ingredientes naturais acham que estes produtos contêm? Quase nada, não é? Devem estar todos a pensar: "Toda a gente sabe que estes produtos não são saudáveis. E têm razão. Não são. Mas que se passa com estes? Um iogurte para bebés, a partir dos 8 meses, rico em cálcio, magnésio, zinco e com 10 gr de açúcar por iogurte. Pouco mais do que cabe num pacotinho de açúcar para o café. Ou um caldo de cozido, 100% natural, feito com menos de 3% de carne e com quase 2 gr de sal por ração. E dou-vos um último exemplo. Uma barrita de cereais para crianças. Nas especificações, indica-se especificamente que estão elaboradas com açúcar, com edulcorantes, com muitas outras coisas! E que, aliás, se vendem nas farmácias. Reparem, se lermos a lista dos ingredientes nos rótulos destes produtos, vamos perceber que parvos somos, porque não nos enganam. Tenho que ser clara, deixamo-nos enganar! O nosso metabolismo não está preparado para que a nossa alimentação se baseie nos ingredientes contidos neste tipo de alimentos, supostamente saudáveis, porque eles também contêm açúcares simples, gorduras saturadas, gorduras produzidas industrialmente e um sem fim de aditivos em quantidades que podem fazer o nosso corpo entrar em colapso, se aborreça e reaja provocando doenças, Esta doenças que traduzo em obesidade, diabetes, colesterol, hipertensão, etc. A conceção do nosso corpo é a melhor que podemos ter do ponto de vista evolutivo. No entanto, nas palavras do Dr. Campillo: "As doenças que hoje nos matam "são consequência da incompatibilidade "entre essa conceção e o uso que lhe damos". Vou dar-vos um exemplo muito simples. O nosso corpo e o nosso metabolismo estão adaptados para andar, para correr, para nos sentarmos quando estamos cansados, para dormirmos deitados. Mas, quando forçamos o corpo a permanecer sentado, durante muitas horas, produz-se uma diminuição da irrigação sanguínea nos músculos e nas articulações das pernas. Com o tempo, vão aparecer as dores, as inflamações, doenças. Mas acontece o mesmo com a alimentação! Quando obrigamos o nosso corpo a alimentar-se, a nutrir.se com alimentos que não o nutrem, mas que o obrigam a funcionar em condições de sobrecarga, os intestinos, o fígado, o pâncreas, as artérias, o coração, etc., ressentem-se disso e adoecem. A solução não está em ir à farmácia e tomar medicamentos para o colesterol ou para o açúcar. Essa não é a solução. O que eu quero dizer-vos é que o ser humano desenvolveu-se, evoluiu muito mais rapidamente do que o seu próprio corpo. Não precisamos de ter uma grande base científica. O que é preciso é ter senso comum, na altura de comprar e consumir alimentos. Temos que fazer com que esta imagem seja cada vez mais frequente. Seja muito frequente, Termos consciência do que consumimos leva-nos ao autocontrolo. O consumo responsável não só nos vai garantir uma melhor qualidade de vida, mas, para além disso, vamos contribuir para a sustentabilidade do planeta. Na próxima vez que queiram dar fruta aos vossos filhos, comprem-na no mercado, aos quilos, e não em saquinhos. Quando tiverem sede e quiserem hidratar-vos, bebam água em vez de uma bebida açucarada. E quando precisarem dos benefícios do chá, não comam um chocolate. Porque, não podemos comer de tudo! Obrigada. (Aplausos)