Eu estava conversando com as minhas meninas e a Joy disse, "Cara! Eu queria que ele largasse do meu pé. O meu pai me liga o tempo todo!" "Você tem sorte que o seu pai liga para você," disse a Jasmine. "Eu não tenho notícias do meu há muitos anos." Naquele momento, eu soube que as meninas precisavam de uma maneira de se sentirem ligadas aos seus pais. No Camp Diva, minha organização sem fins lucrativos, nós temos este tipo de conversa o tempo todo, com o objetivo de ajudar meninas de descendência africana a se preparar para a vida adulta. Estas meninas só precisavam descobrir uma forma adequada de convidar seus pais para partilhar de suas vidas. Então eu perguntei a elas, "Como podemos ajudar outras meninas a ter um relacionamento saudável com seus pais?" "Podemos organizar um baile," uma delas disse em voz alta, e todas as outras concordaram prontamente. Elas começaram então a imaginar a decoração, os convites, os vestidos que usariam, e o que os seus pais poderiam ou não poderiam vestir. (Risos) Antes que eu pudesse piscar os olhos, o plano já estava a caminho. Mas mesmo que pudesse ter feito as meninas irem com calma, eu não teria feito isso, porque uma coisa que eu aprendi depois de uma década trabalhando com meninas jovens é que elas sabem o que precisam. Elas possuem uma sabedoria inerente. Desde que tenham infra-estrutura, orientação e recursos, elas podem construir o que precisam não apenas para sobreviver, mas para crescer e prosperar. Então o nosso baile aconteceu, e as meninas e seus pais vieram. Todos muito bem vestidos. Eles se comportaram muito bem. (Risos) Eles agiram de forma descontraída e brincalhona-- realmente curtiram a companhia uns dos outros. Foi um grande sucesso. E as meninas decidiram que o baile seria um evento anual. Depois de alguns meses, quando chegou a hora de planejar o baile novamente, uma menina, a Brianna, se manifestou e disse, "Meu pai não pode ir ao baile e esta história toda está me deixando triste." "Por que?", as meninas perguntaram. "Porque ele está na prisão", ela admitiu corajosamente. "Ele pode sair só por um dia?", uma das meninas perguntou. (Risos) "E vir de algemas? Isso é pior do que ele não vir." Neste momento, eu me dei conta de uma oportunidade para as meninas se desafiarem e tornarem-se heroínas de suas próprias vidas. E eu perguntei, "O que vocês acham que devemos fazer sobre isso? Nós queremos que todas as meninas possam ir ao baile, certo?" Elas pensaram por um momento e uma delas sugeriu, "Por que nós não fazemos o baile na prisão?" A maioria delas duvidou que isso era possível e disseram, "Você está maluca? Quem vai deixar um bando de meninas bem vestidas––" (Risos) "––entrar numa prisão e dançar com os pais delas vestidos de Spongebobs?" (Era assim que elas chamavam uniforme de presidiários.) Eu respondi, "Ora, ora, meninas, Nós nunca vamos saber se não perguntarmos." Então uma carta foi escrita para o Xerife da cidade de Richmond, assinada por todas as meninas, e eu devo dizer que ele é um xerife muito especial. Ele entrou em contato imediatamente e disse que sempre que há uma chance de trazer famílias para dentro da prisão, suas portas estão sempre abertas, porque de uma coisa ele tinha certeza: quando os pais têm ligação com seus filhos, é menos provável que eles retornem à prisão. Então, 16 presidiários e 18 meninas foram convidados. As meninas usavam seus vestidos de festa, e seus pais trocaram seus uniformes amarelos e azuis por camisas sociais e gravatas. Eles se abraçaram e partilharam um jantar de frango e peixe com serviço de bufê. Riram juntos. Foi lindo. Pais e filhas tiveram a oportunidade de ter contato físico, algo que muitos deles não tinham há muito tempo. Os pais tiveram a chance de brincar com suas filhas, e puxar a cadeira pra elas sentarem e chamá-las para dançar. Até os guardas da prisão choraram.. Mas nós sabíamos que depois da dança aqueles pais continuariam presos. Nós precisávamos criar algo que eles pudessem levar consigo. Nós tivemos a idéia de levar câmeras Flip, para que eles, olhando para a câmera, pudessem entrevistar uns aos outros, registrar suas mensagens, seus pensamentos. Isto seria usado como referencial. Quando eles sentissem saudades, ou distantes, eles poderiam recriar a sensação de ligação através destas imagens. Eu nunca vou esquecer o momento em que uma das meninas olhou nos olhos de seu pai com aquela câmera e disse, "Papai, quando você olha pra mim, o que você vê? Porque nosso pais são como espelhos onde vemos a nossa própria imagem refletida quando nós decidimos que tipo de relacionamento merecemos, e como eles irão nos enxergar pelo resto de nossas vidas. Eu sei bem disso porque eu fui uma das meninas sortudas. Eu sempre tive o meu pai na minha vida. Ele está aqui hoje. (Aplausos) E é por isso que é muito importante para mim garantir que estas meninas tenham contato com seus pais, principalmente as que estão separadas por cercas de arame farpado e portões de ferro. Nós criamos uma forma de ajudar as meninas a fazerem perguntas difíceis a seus pais-- aquelas perguntas guardadas em seus corações-- e demos aos seus pais a liberdade de respondê-las. Porque nós sabemos que aqueles pais vivem com o seguinte pensamento: Que tipo de mulher eu estou preparando para enfrentar este mundo? Só porque um pai está preso não significa que ele precisa estar fora da vida de sua filha. (Aplausos)