Chris Anderson:
Esta é uma entrevista diferente.
Já que uma foto vale mais
do que mil palavras,
decidi pedir ao Bill e à Melinda
que desenterrassem dos seus arquivos
algumas imagens que ajudassem a explicar
um pouco daquilo que eles têm feito.
Vamos fazer assim.
Vamos começar com esta foto.
Melinda, quando e onde foi isto,
e quem é o simpático homem ao seu lado?
Melinda: Com os óculos grandes, certo?
Foi em África, a nossa primeira viagem.
A primeira vez que lá estivemos
no outono de 1993.
Já estávamos noivos, estávamos para casar.
Casámos uns meses depois.
Nesta viagem queríamos ver
os animais e a savana africana.
Foi incrível!
Bill nunca tinha estado
tanto tempo sem trabalhar.
Mas o que nos tocou foram as pessoas
e a pobreza extrema.
Começámos a pensar:
É preciso ser assim?
No final da viagem fomos a Zanzibar.
Fomos passear na praia,
coisa que fazíamos muitas vezes
quando namorávamos.
Naquela época, já pensávamos
que a fortuna que resultara da Microsoft
devia retornar à sociedade,
mas foi naquela caminhada pela praia
que começámos a falar
do que podíamos fazer
e como pôr isso em prática.
CA: Considerando que essa viagem
levou à criação da maior fundação
privada do mundo,
foi uma viagem muito cara
para umas simples férias.
(Risos)
MG: Acho que sim. Nós gostámos.
CA: Qual de vocês foi
o principal instigador?
Ou foi ideia de ambos?
Bill Gates: Scho que estávamos animados
de que haveria uma fase da nossa vida
em que trabalharíamos juntos
e descobriríamos como devolver
esse dinheiro à sociedade.
Nessa fase, estávamos
a falar dos mais pobres,
de como poderíamos causar
um grande impacto neles.
O que é que não estava a ser feito?
Havia muitas coisas que não sabíamos.
A nossa ingenuidade era inacreditável,
quando olhamos para o passado.
Mas tínhamos um certo entusiasmo
de que aquela época seria a fase
— a fase pós-Microsoft —
da nossa filantropia.
MG: Bill pensava que
essa fase seria aos 60 anos
mas ele ainda não tem 60.
Portanto, há coisas que mudam entretanto.
CA: Tudo começou aí,
mas depois acelerou.
Isso foi em 1993.
Mas só em 1997 é que a fundação começou.
MA: Sim, em 1997 lemos um artigo
sobre a diarreia que causava
a morte de crianças no mundo inteiro,
e pensámos:
"Não é possível.
"Nos EUA, basta ir à farmácia."
Começámos a reunir cientistas
e começámos a estudar a população,
as vacinas,
o que havia funcionado
e o que havia falhado.
Foi então que começámos.
Foi no fim de 1998, início de 1999.
CA: Vocês tinham muito dinheiro
e um mundo com muitos problemas diferentes.
Como é que decidiram o que escolher?
BG: Bom, decidimos escolher duas causas,
em que houvesse
maior injustiça a nível global.
Vimos ali crianças a morrer,
crianças que não tinham
nutrição suficiente para se desenvolver,
e países que estavam parados,
porque a mortalidade era altíssima.
Os pais tinham tantos filhos
que o crescimento populacional era enorme.
Aquelas crianças estavam tão doentes
que não podiam ser educadas
e não podiam sair dali.
Foi essa a nossa causa global.
Nos EUA, nós dois tivemos
uma educação excelente.
Vimos que os EUA só podem cumprir
a promessa de oportunidades iguais
tendo um sistema excecional de educação.
Quanto mais aprendíamos, mais percebíamos
que não estávamos a cumprir essa promessa.
Assim, escolhemos essas duas coisas.
Tudo que a fundação faz
está concentrado nesses dois pontos.
CA: Eu pedi-vos que escolhessem uma imagem
que achassem que ilustram o vosso trabalho,
Melinda, esta foi a que você escolheu.
Fale um pouco sobre ela.
MG: Uma das coisas
que adoro fazer quando viajo
é ir às zonas rurais
e falar com as mulheres,
seja em Bangladesh, na Índia,
nos longínquos países em África.
Apareço como uma mulher ocidental anónima.
Não digo quem sou. Vou de calças de caqui.
Estava sempre a ouvir as mulheres,
inúmeras vezes, em cada viagem:
"Quero usar aquela injeção."
Começava a conversar
com elas sobre vacinas infantis
e elas voltavam à mesma:
"Mas, e a injeção que recebi?"
Era uma injeção que lhes davam,
chamada Depo-Provera
um contracetivo.
Vim-me embora e conversei
com especialistas de saúde global.
Eles disseram: "Os contracetivos
"são enviados para os países
em desenvolvimento."
Foi preciso pesquisar nos relatórios,
e a equipa acabou por me trazer isto:
quando uma coisa que as mulheres
em África querem usar
está esgotada durante
mais de 200 dias no ano
percebe-se porque é que
as mulheres me diziam:
"Eu caminhei 10 km sem o meu marido saber,
"cheguei à clínica, e não havia lá nada."
Também havia preservativos
armazenados em África,
por causa do trabalho
relacionado com a SIDA
que os EUA e outros países apoiavam.
Mas as mulheres repetiam-me sempre:
"Não posso convencer o meu marido
a usar um preservativo.
"Nem que lhe diga que ele tem SIDA
ou que eu tenho SIDA,
"e preciso dessa injeção,
porque assim posso espaçar
"os nascimentos dos meus filhos,
posso alimentá-los
"e ter hipótese de educá-los."
CA: Melinda, você é católica romana,
e já esteve envolvida com frequência
neste assunto controverso
e na questão do aborto‚
de ambos os lados.
Como é que se movimenta nesse meio?
MG: Acho que esse é
um ponto muito importante.
Nós tínhamo-nos afastado dos contracetivos
enquanto sociedade global.
Sabíamos que 210 milhões de mulheres
diziam que queriam ter
acesso aos contracetivos,
até mesmo os contracetivos
que temos nos EUA.
Mas não estávamos a fornecer-lhos,
por causa da controvérsia
política no nosso país.
Para mim, isso era um crime.
Continuei a tentar encontrar alguém
que pudesse voltar a pôr
esse tema à discussão global.
Finalmente percebi que
era eu que tinha de fazer isso.
Embora eu seja católica,
acredito em contracetivos,
da mesma maneira que a maioria
das católicas nos EUA
dizem usar contracetivos.
Não podia deixar que essa controvérsia
fosse a coisa que nos prendia.
Costumávamos ter um consenso nos EUA
sobre contracetivos.
Por isso voltámos a esse consenso global,
e arrecadámos 2,6 mil milhões de dólares
em volta do problema dessas mulheres.
(Aplausos)
CA: Bill, este é o seu gráfico.
Sobre o que é?
BG: Bom, o meu gráfico tem números.
(Risos)
Gosto mesmo deste gráfico.
Esse é o número de crianças
que morrem, em cada ano
antes de completarem 5 anos.
O que vemos é de facto
uma história de um êxito extraordinário,
pouco conhecida.
Estamos a ter um progresso incrível.
Passámos de 20 milhões,
— pouco tempo depois de eu ter nascido —
para chegar hoje a cerca de 6 milhões.
Em grande parte, esta
é uma história de vacinação.
A varíola estava a matar
uns milhões de crianças por ano.
Foi erradicada, e esse número
caiu para zero.
O sarampo também
matava uns milhões por ano.
Agora está em poucas
centenas de milhares.
De qualquer forma, este é um gráfico
em que queremos fazer
com que aquele número continue.
E isso será possível,
usando a ciência de novas vacinas,
e fazendo as vacinas chegar às crianças.
Podemos acelerar esse progresso.
Na última década,
esse número caiu mais rapidamente
do que em qualquer outro
momento na história.
Adoro o facto de podermos dizer:
"Se nós inventamos novas vacinas,
"podemos levá-las para lá,
"usar os últimos conhecimentos
que temos sobre as vacinas,
"e fazer com que sejam bem distribuídas.
"Podemos fazer um milagre".
CA: Quer dizer, você faz os cálculos,
e funciona, creio eu.
Literalmente, milhares de crianças
que são salvas todos os dias
em comparação com o ano anterior.
Isso não é divulgado.
Por exemplo. um acidente aéreo
com 200 ou mais mortes
é uma história muito mais divulgada.
Isso não o deixa irritado?
BG: Deixa, porque é uma coisa
que acontece silenciosamente.
É uma criança, uma criança de cada vez.
Em 98% dos casos
não tem nada a ver com desastres naturais.
Mas é incrível a caridade das pessoas,
quando veem um desastre natural.
É incrível a forma como as pessoas pensam:
"Podia ser eu" e o dinheiro aparece.
Estas causas têm sido um pouco invisíveis.
Agora que estão a ser divulgados
os "Objetivos de
Desenvolvimento do Milénio",
estamos a ver um certo aumento
na generosidade.
O objetivo é fazer com que esse número
chegue quase a um milhão,
o que deve ser possível na nossa geração.
CA: Talvez fosse preciso alguém
que gostasse de números e gráficos
em vez de um grande rosto triste
para as pessoas se envolverem.
Este ano, você usou isso na sua carta,
usou esse argumento
para dizer que essa ajuda,
— ao contrário do que as pessoas pensam,
que essa ajuda não tem valor —
está a ser eficaz.
BG: Sim, as pessoas percebem
que há ajudas que eram bem intencionadas
mas que não funcionaram bem.
Há um investimento de risco
e algumas coisas bem intencionadas
não deram certo.
Lá por causa disso não devemos dizer
que é uma má tentativa
porque não termos um registo perfeito,
Devemos olhar para qual
era o nosso objetivo.
Como estamos a tentar melhorar a nutrição,
a sobrevivência, o analfabetismo
para esses países
poderem cuidar de si, e dizer:
"Isto está a correr bem!",
Temos que ser mais inteligentes.
Podemos gastar em ajudas
de modo mais inteligente.
Não se trata de uma panaceia.
Acho que podemos fazer melhor
do que capital de risco,
incluindo grandes acertos como este.
CA: O conhecimento popular
diz que é muito difícil casais
trabalharem juntos.
Como é que vocês gerem isso?
MG: Já muitas mulheres me disseram:
"Acho que não conseguiria
trabalhar com o meu marido.
"Simplesmente não daria certo."
Mas sabe, nós gostamos.
A fundação tem sido
uma grande experiência para nós.
É uma jornada de aprendizagem continua.
Não viajamos juntos
com tanta frequência para a fundação,
como costumávamos fazer
quando Bill trabalhava na Microsoft.
Fazemos mais viagens em separado.
Mas, quando chego a casa,
sei que Bill estará interessado
no que aprendi,
seja sobre mulheres ou meninas
ou qualquer novidade
sobre a distribuição de vacinas,
ou sobre uma pessoa
que é uma grande líder.
Ele ouve e interessa-se mesmo.
E ele sabe que, quando chega a casa,
mesmo que o assunto seja
o discurso que fez,
ou os dados, ou o que aprendeu,
eu interesso-me mesmo.
Acho que temos uma relação
muito colaborante.
Mas não passamos o tempo todo juntos,
isso é verdade.
(Risos)
CA: Mas agora estão,
e sentimo-nos felizes por estarem.
Melinda, no início, era você
quem administrava o projeto
como um todo.
Há 6 anos, suponho,
Bill passou a dedicar-se a tempo inteiro,
quando saiu da Microsoft.
Deve ter sido difícil
ajustar-se a essas mudanças. Não foi?
MG: Sim. Na verdade,
acho que os empregados da fundação
ficaram mais ansiosos do que eu
quanto à vinda do Bill.
Eu estava entusiasmada.
Obviamente, Bill tomou essa decisão
antes de ela ser anunciada em 2006.
Foi uma decisão só dele.
Foi de novo, numa viagem de férias
quando caminhávamos na praia,
que ele começou a pensar no assunto.
Para mim, o entusiasmo de Bill
em colocar o seu cérebro e o seu coração
na solução desses
grandes problemas globais,
dessas desigualdades,
para mim era excitante.
O pessoal da fundação sentia
uma certa angústia quanto a isso.
(Aplausos)
CA: Isso é ótimo.
MG: Mas isso acabou
três meses depois de ele chegar.
BG: Incluindo alguns dos empregados.
MG: Foi o que eu disse, os empregados...
BG: Estou a brincar!
MG: Os empregados não se foram embora.
BG: Alguns foram, mas...
(Risos)
CA: Sobre o que é que vocês discutem?
Domingo, 11 horas,
vocês não estão a trabalhar.
Que tipo de assunto surge?
Que tipo de discussão?
BG: Como construímos
a fundação juntos, desde o início,
isto é uma grande parceria.
Eu fiz isso com Paul Allen
nos primeiros anos da Microsoft.
Também fiz com Steve Ballmer,
quando a Microsoft cresceu
e agora com Melinda,
de maneira ainda mais forte.
Os dois lados iguais, é uma parceira.
Falamos de coisas em que
devíamos investir mais,
quais os grupos que estão a funcionar bem.
Ela tem muitas ideias.
Conversa muito com os empregados.
Fazemos as diferentes viagens
que ela descreveu.
Há muita colaboração.
Não me lembro de nada
em que qualquer de nós
tenha tido uma opinião predominante
sobre isto ou aquilo.
CA: E você, Melinda? Consegue?
(Risos)
Nunca se sabe.
MG: Bom, a questão é esta:
Nós vemos as coisas de diferentes ângulos.
Acho que isso é muito bom.
Bill olha para os dados globais e diz:
"Eu quero agir com base
nestas estatísticas globais."
Eu olho para as coisas
de forma mais intuitiva.
Encontro-me com muitas pessoas no terreno.
Bill ensinou-me a agarrar nisso
e a comparar com os dados globais
para ver se se ajustam,
Ensinei-lhe a olhar para os dados,
encontrar-se com as pessoas e entender:
Consegue entregar aquela vacina ou não?
Consegue convencer uma mulher
a dar a vacina
de poliomielite ao seu filho?
Porque a parte da distribuição
é tão importante quanto a parte científica.
Então, ao longo do tempo,
acho que tem sido uma combinação
dos nossos pontos de vista.
Sinceramente, o trabalho
é melhor por causa disso.
CA: Então, em vacinas e poliomielite etc.,
vocês têm tido um sucesso extraordinário.
E quanto a fracassos?
Podem falar sobre um fracasso
e talvez sobre o que aprenderam com ele?
BG: Sim. Felizmente, podemos
aguentar alguns fracassos,
porque claro que tivemos fracassos.
Fazemos muito trabalho
envolvendo remédios ou vacinas
e sabemos que vamos ter
vários fracassos.
Por exemplo, uma coisa
a que demos muita publicidade
foi procurar um preservativo melhor.
Bom, tivemos centenas de ideias.
Algumas haviam de dar certo.
Fomos ingénuos, claro que fui,
sobre uma droga
para uma doença na Índia,
Leishmaniose visceral.
Pensei: "Quando eu arranjar esta droga,
"podemos acabar com a doença."
O problema é que era precisa
uma injeção diária durante 10 dias.
Acabou por demorar mais três anos
do que esperávamos.
Por fim, não havia nenhuma maneira
de a administrar.
Felizmente, descobrimos que,
se exterminássemos o mosquito,
talvez tivéssemos êxito.
Mas tínhamos gasto cinco anos.
Desperdiçámos cinco anos
e cerca de 60 milhões de dólares,
num percurso que acabou
por ter resultados muito modestos.
CA: Vocês estão a gastar cerca
de mil milhões de dólares por ano
em educação, segundo suponho.
No mínimo, essa história
deve ser muito longa e complexa.
Há algum fracasso
que vocês possam comentar?
MG: Eu diria que uma grande lição
logo no início
foi que pensávamos que a resposta
eram as escolas pequenas.
Claro que elas ajudam.
Reduzem a taxa de evasão escolar.
Também há menos violência
e crime nessas escolas.
Mas o que aprendemos com esse trabalho,
e o que acabou por ser
um aspecto fundamental,
é um excelente professor
à frente de uma sala de aulas.
Se não tivermos um professor competente
à frente da sala de aula,
não interessa qual é o tamanho do edifício,
não vamos alterar
a trajetória de qualquer aluno,
se ele ficará apto ou não
para a universidade.
(Aplausos)
CA: Melinda, aqui é você
e a sua filha mais velha, Jenn.
A foto foi tirada há cerca
de 3 semanas, suponho.
Onde foi isso?
MG: Nós fomos à Tanzânia.
A Jenn já tinha ido à Tanzânia.
Todos os nossos filhos
já foram a África algumas vezes,
E fizemos uma coisa muito diferente.
Decidimos passar duas noites
e três dias com uma família.
Anna e Sanare são os pais.
Convidaram-nos para ficar
na sua boma [aldeia]
Acho que as cabras já tinham estado a viver
naquela pequena cabana
antes de lá chegarmos.
Ficámos com a família,
e aprendemos, muito a sério,
como é a vida na Tanzânia rural.
A diferença entre uma visita
de meio dia ou duma tarde inteira
ou passar a noite foi
uma diferença profunda.
Vou explicar do que estou a falar.
Tinham seis filhos.
Eu estava com Anna na cozinha,
— naquele dia cozinhámos
durante quase cinco horas —
Falando com ela, soube que
ela e o marido tinham planeado
o espaço entre os nascimentos dos filhos.
Era uma relação com muito amor.
Era um guerreiro maasai e a sua esposa,
que decidiram casar.
Tinham nitidamente respeito
e amor um pelo outro.
Dos seus seis filhos,
os dois do meio eram gémeos, de 13 anos,
um menino, e uma menina chamada Grace.
Quando saímos para cortar lenha
e fazer todas as coisas
que a Grace e a mãe faziam,
Grace não era uma criança,
não era uma adolescente,
mas ainda não era uma adulta.
Era muito, muito tímida.
Ela queria falar comigo e com Jenn.
Tentámos um contato, mas ela era tímida.
À noite, contudo,
quando se apagaram
todas as luzes na Tanzânia rural
— não havia lua naquela noite,
era a primeira noite, sem estrelas —
Jenn saiu da nossa cabana
com a lanterna de testa acesa,
Grace saiu imediatamente
em busca do tradutor,
chegou ao pé de Jenn e disse:
"Quando te fores embora,
"posso ficar com a tua lanterna
"para poder estudar à noite?"
CA: Oh! uau!
MG: E o pai da menina contou-me
que receava que, ao contrário do filho,
que já tinha passado nos exames,
ela não se tinha saído muito bem
devido às tarefas de casa,
e ainda não estava na escola pública.
E disse: "Não sei como
vou pagar a educação dela.
"Não posso pagar uma escola particular,
"e ela talvez acabe na fazenda,
como a minha mulher."
Portanto, eles sabem
qual a diferença profunda
que a educação pode ter.
CA: Esta é uma outra foto
dos seus outros dois filhos,
Rory e Phoebe,
juntamente com Paul Farmer.
Criar três crianças
quando se é a família mais rica do mundo
parece ser uma experiência social
sem muita dificuldade.
(Risos)
Como é que vocês geriram isso?
Qual tem sido a vossa abordagem?
BG: Eu diria que, de modo geral
as crianças têm uma boa educação,
mas precisamos de ter a certeza
de que eles têm a noção das suas capacidades
e do que irão fazer.
A nossa filosofia tem consistido
em sermos muito claros
— quase todo dinheiro vai para a fundação —
e ajudá-los a encontrar uma coisa
de que eles gostem realmente.
Queremos um equilíbrio,
em que eles tenham
a liberdade para fazer tudo
mas sem terem muito dinheiro,
para que não acabem por não fazer nada.
Até aqui, eles têm sido trabalhadores
e estão animados em poder
escolher a sua própria direção.
CA: Vocês, obviamente, têm protegido
a privacidade deles, por razões óbvias.
Estou curioso: porque é que
me autorizaram
a mostrar esta foto aqui no TED?
MG: Bom, é interessante.
À medida que amadurecem
e percebem que
o princípio de nossa família é a
responsabilidade,
percebem que estamos
numa situação incrível
só porque vivemos nos EUA
e porque têm uma ótima educação.
E temos a responsabilidade
de devolver ao mundo.
À medida que crescem, nós ensinamos-lhes
— já estiveram em tantos países do mundo —
E eles dizem:
"Queremos que as pessoas saibam
"que acreditamos no que vocês fazem.
"Podem apresentar-nos mais ao público".
Por isso, temos a permissão
deles para mostrar esta foto.
Talvez Paul Farmer a coloque
nalgum dos seus trabalhos.
Mas eles também se importam muito
com a missão da fundação.
CA: Vocês ganharam
facilmente dinheiro suficiente
— apesar da vasta contribuição
para a fundação —
para os tornar multimilionários.
É esse o plano que têm para eles?
BG: Não. Não. Eles não terão nada disso.
Eles precisam de ter o sentimento
de que é o seu trabalho que é
significativo e importante.
Lemos um artigo há muito tempo,
antes de nos casarmos,
onde Warren Buffett falava sobre isso.
Estamos convencidos de que
torná-los multimilionários
não seria um favor nem para a sociedade,
nem para eles mesmos.
CA: Falando em Warren Buffett,
aconteceu uma coisa incrível em 2006,
quando o vosso único rival
para a pessoa mais rica da América
de repente decidiu dar 80%
da sua fortuna à vossa fundação.
Como é que isso aconteceu?
Imagino que há a versão longa e a curta.
Temos tempo para a curta.
BG: Certo. Warren era um amigo próximo,
e ia fazer com que a sua mulher, Suzie,
doasse toda a fortuna.
Infelizmente, ela morreu antes dele,
e ele adora delegar...
(Risos)
Ele disse:
"Se houver alguém a fazer
uma coisa bem feita,
"disposto a fazê-lo de graça,
talvez esteja tudo bem".
Nós ficámos estupefactos.
MG: Ficámos estupefactos.
BG: Não estávamos à espera.
Foi realmente incrível.
A doação de Warren permitiu que
aumentássemos a nossa ambição
naquilo que a fundação pode
fazer drasticamente.
Metade dos recursos que temos
vem da alucinante generosidade de Warren.
CA: Vocês comprometeram-se,
até ao final do projeto,
a dar à fundação 95%
da vossa fortuna, ou mais.
BG: Sim.
CA: Essa relação, é incrível.
(Aplausos)
Ultimamente, você e Warren
têm tentado convencer
outros multimilionários e pessoas com êxito
a fazerem o mesmo,
a doar mais da metade
dos seus bens por filantropia.
Como está esse projeto?
BG: Bom, temos cerca de 120 pessoas
que já disseram aderir à ideia.
O que é ótimo é que nos reunimos anualmente
e falamos sobre isso.
Contratamos pessoas?
O que é que lhes vamos dar?
Não tentamos homogeneizar o processo.
A beleza da filantropia
é a fantástica diversidade envolvida.
As pessoas doam para certas coisas.
Olhamos e dizemos "Uau!"
Mas isso é ótimo.
É esse o papel da filantropia:
captar diferentes abordagens
incluindo um único foco, como a educação.
Precisamos de mais experiência.
Mas tem sido maravilhoso,
conhecer essas pessoas,
partilhar da sua jornada
para a filantropia,
como envolvem os seus filhos,
o que estão a fazer de diferente.
Tem sido muito melhor
do que imaginávamos.
Agora, parece que tudo continuará
a aumentar nos próximos anos.
MG: Mostrar às pessoas que outras pessoas
estão a mudar o mundo com filantropia.
Quer dizer, são pessoas que criaram
os seus próprios negócios,
que colocam o seu engenho
em ideias incríveis.
Se eles colocam as suas ideias
e os seus cérebros
por trás da filantropia, certamente
podem mudar o mundo.
Eles começam a ver outros
a fazê-lo, e dizem:
"Uau, eu quero fazer
isso com o meu dinheiro."
Para mim, essa é a parte incrível.
CA: Parece-me que é realmente muito difícil,
para algumas pessoas,
descobrir como gastar tanto dinheiro
noutra coisa qualquer.
Provavelmente há
alguns multimilionários na plateia
e certamente algumas pessoas bem sucedidas.
Estou curioso. Quer desafiá-los?
Porquê doar?
BG: É a coisa mais gratificante
que já fizemos
e não podemos levá-lo connosco
e se não for bom para os nossos filhos,
vamos unir-nos e pensar
no que podemos fazer.
O mundo é um lugar muito melhor
por causa dos filantropos do passado.
A tradição dos EUA aqui,
— que é a mais forte —
é invejada em todo o mundo.
Parte da razão por que sou tão otimista
é porque penso que
a filantropia vai aumentar
e agarrar nalgumas das coisas
em que os governos não são tão bons
a administrar e a descobrir.
A filantropia pode lançar alguma luz
na direção certa.
CA: O mundo tem uma terrível desigualdade,
um problema de desigualdade crescente
que parece ser estrutural.
Parece-me que, se mais pessoas como vocês
escolherem a abordagem
que vocês escolheram,
isso faria uma grande diferença
tanto no problema, como
na perceção desse problema.
Isso faz sentido?
BG: Sim. Se você tirar aos mais ricos
e der aos mais pobres, isso é bom.
É uma forma de tentar
equilibrar e isso é justo.
MG: Mas temos que mudar os sistemas.
Nos EUA, estamos a tentar
mudar o sistema de ensino
de maneira que seja justo para todos
e funcione para todos os estudantes.
Isso, para mim, muda
o equilíbrio da desigualdade.
BG: Isso é o mais importante.
(Aplausos)
CA: Bom, acho que a maior parte
das pessoas aqui
e milhões de pessoas em todo o mundo
respeitam a trajetória
que a vossa vida tomou,
e a forma espetacular com que
vocês moldaram o futuro.
Muito obrigado por virem ao TED,
por partilharem conosco,
e por tudo que vocês fazem.
BG: Obrigado.
MG: Obrigada.
(Aplausos)
BG: Obrigado
MG: Muito obrigada.
BG: Bom trabalho.
(Aplausos)