Como surgiu a Rússia,
por que ela é tão grande
e quais são as diferenças
entre ela e seus vizinhos?
As respostas estão na história épica
de guerreiros marítimos,
invasores nômades
e o apogeu e a queda de um Estado
medieval conhecido como Rus Kievana.
No primeiro milênio,
um grande número de tribos se espalhou
pelos densos bosques do Leste Europeu.
Por não terem sistema ortográfico algum,
muito do que sabemos sobre eles
vem de três principais fontes:
evidências arqueológicas,
relatos de estudiosos do Império
Romano e do Oriente Médio
e, por fim, uma história épica
chamada Crônica Primária,
compilada, no século 12,
por um monge chamado Nestor.
Essas fontes nos dizem que essas tribos
que tinham uma língua eslava em comum
e religião politeísta
se separaram, por volta do século 7,
em lados oeste, sul e leste,
o último se estendendo
desde o Rio Dniestre
ao Rio Volga e ao Mar Báltico.
Como conta a história de Nestor, após anos
de subjugação aos vikings do norte,
que, a propósito, não usavam
capacetes com chifres em batalhas,
as tribos regionais se rebelaram
e expulsaram os escandinavos,
mas, deixadas à própria sorte,
elas se viraram umas contra as outras.
Esse caos fez com que, ironicamente,
as tribos procurassem os estrangeiros
que tinham acabado de expulsar
e os convidassem a retornar
e estabelecer a ordem.
Os vikings aceitaram e enviaram
um príncipe chamado Rurik
e seus dois irmãos para comandar.
Com o filho de Rurik, Oleg,
expandindo seu reino para o sul,
e mudando o legislativo para Kiev,
um antigo posto avançado
do império cazar,
o Rus Kievana nasceu,
e "Rus" provavelmente vem de uma antiga
palavra nórdica para "homens que remam".
O novo principado mantinha
relações complexas com seus vizinhos,
alternando entre alianças e guerras
com os Impérios Cazar e Bizantino,
e com tribos vizinhas.
A religião teve um papel
importante na política
e, como reza a lenda, em 987,
o príncipe de Rus Kievana, Vladimir I,
decidiu que era hora de abandonar
o paganismo eslavo,
e enviou emissários para que explorassem
as crenças dos vizinhos.
Dissuadido pela proibição
do álcool pelo islã
e pela expulsão do judaísmo
da Terra Santa,
o governante optou
pelo cristianismo ortodoxo
após ouvir relatos extraordinários
sobre suas cerimônias.
A conversão de Vladimir e seu casamento
com a irmã do imperador bizantino,
bem como o comércio constante
ao longo da rota do Volga,
fizeram com que a relação entre as duas
civilizações se estreitasse.
Missionários bizantinos criaram
um alfabeto para as línguas eslavas
baseado numa caligrafia grega antiga,
enquanto guerreiros "rus vikings" serviam
como guardiões de elite
do império bizantino.
Durante várias gerações,
o Rus Kievana floresceu com sua
riqueza de recursos e comércio.
Membros de sua nobreza se casaram
com governantes europeus importantes,
e residentes de algumas cidades
gozavam de grande cultura,
instrução e até liberdades democráticas
incomuns para a época.
Mas nada dura para sempre.
Disputas fratricidas
sobre sucessão de poder
começaram a dissolver o poder central,
conforme cidades cada vez
mais independentes,
governadas por príncipes rivais,
disputavam o controle.
A Quarta Cruzada
e a queda de Constantinopla
devastaram o comércio essencial
à riqueza e ao poder do Rus Kievana,
enquanto as cruzadas teutônicas
ameaçavam territórios do norte.
O golpe final, no entanto, viria do leste.
Consumidos por suas disputas,
os príncipes do Rus Kievana
deram pouca atenção aos rumores
de uma horda misteriosa e incontrolável,
até 1237, quando 35 mil arqueiros
a cavalo, liderados por Batu Khan,
varreram as cidades do Rus Kievana,
saqueando Kiev e depois seguindo
até a Hungria e a Polônia.
A era do Rus Kievana tinha chegado ao fim,
com seu povo agora dividido.
No leste, que permaneceu
sob controle dos mongóis,
um remoto posto de comércio,
conhecido como Moscou,
cresceria e desafiaria
o poder dos "khans",
conquistando partes
de seu império fragmentado
e, de várias formas, tendo êxito.
Após absorver outros territórios
do leste do Rus Kievana,
foi reclamado o nome antigo,
em sua forma grega: "Ruscia".
Enquanto isso, as regiões a oeste,
cujos líderes haviam evitado a destruição
através de manobras políticas
até que a horda se retirasse,
viram-se sob a influência
da Polônia e da Lituânia.
Pelos séculos seguintes,
as antigas terras do Rus Kievana,
povoadas por eslavos,
governadas por vikings,
ensinadas por gregos
e separadas por mongóis
desenvolveriam diferenças
na sociedade, na cultura e na língua,
que permanecem até hoje.