Vocês conhecem algum ecologista? Não são muitos, mas cada vez há mais. No meu grupo, sou só eu mas, garanto, vivo muito bem. Nunca consegui convencer ninguém quanto ao tofu, não percebo bem porquê. A transição energética. Se conheceram um ecologista nestes últimos meses, devem ter ouvido falar desta expressão. Apesar da sua popularidade e da publicidade dos "media", a expressão da "alteração climática", da "transição energética" é bastante mal compreendida, mesmo enganadora. É o que vou tentar esclarecer esta noite. A experiência humana ensina-nos que todo o trabalho exige força. Ora, para desmultiplicar essa força o Homem tem recorrido às energias. O abastecimento de energia tornou-se numa preocupação importante. Primeiro, o Homem recorreu à sua própria força, depois à força dos escravos, dos animais, da Natureza e, por fim, recorreu aos combustíveis fósseis, que forneceram uma quantidade de trabalho crescente, com a utilização de máquinas. Foi a revolução industrial. Aliás, a este propósito, sabem que mudámos de era geológica? Entrámos naquilo a que chamamos o "Antropoceno", um conceito partilhado por uma pequena parte da comunidade científica. O Antropoceno pressupõe que todas as atividades humanas, a indústria, a agricultura, a desflorestação, a poluição, a procura de energia, todas essas atividades humanas em conjunto, constituem uma verdadeira força geofísica predominante capaz de alterar os equilíbrios naturais. Eu creio que é necessário tomar consciência deste impacto tecnológico, desta pegada ecológica. Em poucas gerações, essas atividades humanas permitiram-nos aceder a um nível de vida superior, mas colocaram-nos na linha vermelha. Imaginem, por instantes, se todos tivéssemos o nível de vida de um norte-americano médio, precisaríamos de cinco planetas para sobreviver, com todos os recursos. É impossível, a não ser que partamos à conquista de outros planetas no universo. Eu sei que o tema desta noite é "Novas perspetivas" mas vamos deixar de lado tudo o que é Guerra das Estrelas. Vamos concentrar-nos na nossa Terra, o planeta que nos alimenta e que nos abriga. É a Mãe Natureza. Em 2050, em 2050, a população do mundo vai atingir 9000 milhões de indivíduos. As necessidades energéticas vão explodir. Como fazer para oferecer um nível de desenvolvimento seguro a toda a população? Há quem responda diretamente a esta pergunta: "Temos de reduzir a demografia mundial!" Eu não sou contra encorajar políticas de natalidade, mas, para mim, a esse nível, a demografia não é o problema nem a solução. O problema fundamental é o modelo de desenvolvimento que escolhemos. O modelo de desenvolvimento baseia-se num sistema energético, em que vamos buscar a energia da Natureza. Portanto, na nossa escolha energética, optamos entre conservar ou dilapidar o planeta. Vou dar um exemplo muito simples para ilustrar o impacto das atividades humanas nos ecossistemas: a alteração climática. Vocês sabem o que é a alteração climática, com o efeito de estufa. Muito bem. A alteração climática, consoante os locais do globo, tem efeitos diferentes. O degelo dos glaciares, a subida do nível dos mares, secas aqui, inundações ali. Depois, há o aumento da frequência daquilo a que chamamos os fenómenos climáticos extremos. Vou dar um exemplo, puramente ao acaso: os tufões. As Filipinas conhecem bem os tufões. Acabam de sofrer dois, no espaço de um ano. O que, aliás, levou o delegado filipino na ONU, responsável pelo clima, a dizer esta frase, esta semana: "A alteração climática implica um futuro "em que os super tufões deixarão de ser um acontecimento "que só se produz uma vez em cada século". É isto a alteração climática. Primeiro, é uma realidade e, de seguida, é um risco, um risco económico, que custa milhares de milhões, e, depois, custos humanos. A alteração climática vai fazer-nos tomar consciência que passou a hora da reflexão, chegou a hora da ação. E aí, pomos os pés no chão; para agir, recorremos diretamente ao sistema energético. Porque, para reduzir as emissões de gases com efeitos de estufa, é preciso banir rapidamente a utilização dos combustíveis fósseis que são responsáveis pela emissão desses gases. Porque é que eu digo "rapidamente"? Rapidamente porque o sistema climático chegou a um ponto tal de desequilíbrio que nos restam menos de 10 anos para agir. É a comunidade científica que o diz. Menos de 10 anos para agir, para mudar de trajetória. Eu sei que isto parece um pouco catastrófico, mas, vou já tranquilizar-vos: eu sou um catastrófico esclarecido. Um catastrófico esclarecido pode perder a ingenuidade mas não o impede de ser otimista. Aliás, é esse o objetivo da minha palestra. Portanto, para resumir: considerando que as necessidades energéticas vão explodir, temos os países emergentes, com milhões de pessoas da classe média que saem da pobreza, que chegam a galope para melhorar as suas condições de vida. Temo-nos a nós, os países ricos e desenvolvidos que vamos tentar manter o nosso nível de vida, e, atrás de nós, temos 2000 milhões de pessoas que aspiram, legitimamente, aceder a um serviço energético moderno. Portanto, as necessidades vão explodir. Considerando a nossa bulimia pelos combustíveis fósseis e considerando que esses combustíveis fósseis prejudicam os equilíbrios naturais, é preciso mudar de modelo energético — é uma necessidade absoluta. É por isso que se fala de transição energética. A transição energética ainda não começou. Não há nenhuma energia que substitua outra, por enquanto. Desenvolvemos energias novas, renováveis, mas estas estão sobrepostas às anteriores, poluentes. Estamos de acordo. Então, façamos a ronda da mistura energética do futuro. Comecemos pelos combustíveis fósseis. Primeiro que tudo, o petróleo. O petróleo é fácil: as jazidas estão a esgotar-se, é o famoso pico do petróleo: dentro de menos de 50 anos, não deverá restar nenhum petróleo na Terra. O carvão. O carvão assiste atualmente a um enorme desenvolvimento. É um velho rei que, a partir de 2017, vai voltar certamente a ser a energia mais utilizada na Terra, mais do que o petróleo. Ora, o carvão é uma rocha sedimentar, composta por carbono. A sua extração, a sua utilização libertam toneladas e toneladas de CO2. Portanto, na luta pela alteração climática, o carvão: fora. O gás: primeiro, o gás natural. também emite CO2 e metano. Mas, provavelmente, na mistura energética de amanhã, o gás vai conservar um papel importante. Em contrapartida, os gases não convencionais, são, atualmente, os gases de xisto. Sobre os gases de xisto não há nenhum debate: emitem tanto CO2 como o carvão e poluem os lençóis freáticos. Portanto, quanto ao gás de xisto, nem pensar. A seguir, vem o difícil tema da energia nuclear. Na nuclear, temos a fissão nuclear e a fusão nuclear. Estamos de acordo em que a nuclear não emite CO2. Mas tem outros inconvenientes, demasiados inconvenientes. Primeiro, é a inflação dos custos de segurança que vão fazer subir o preço do kilowatt-hora. Depois, temos uma série de acidentes, de riscos de acidentes, como o de Fukushima e, por fim, temos as toneladas de resíduos radioativos que sobram e que dizemos às gerações futuras: "Governem-se, o problema é vosso!" Com estes três argumentos, temos de abandonar a nuclear. Depois, mantém-se o projeto da fusão nuclear. Mas o programa ITER enfrenta colossais dificuldades técnicas, sobretudo, o seu custo faraónico: 20 000 milhões. Mas eu preferia que se dessem 20 000 milhões ao orçamento público para desenvolver a investigação das energias renováveis. Portanto, a fusão nuclear, por enquanto, está fora de questão. Então, as energias renováveis vão ou não permitir-nos viver sustentadamente? Primeiro, temos os painéis solares térmicos e as células fotovoltaicas, No futuro, em 2030, isso será vulgar, existirão por todo o lado. Depois, atingiremos um limite porque as células fotovoltaicas são fabricadas à base de silício proveniente das terras raras na China que virão a faltar no futuro. Depois, temos a energia eólica. Haverá turbinas eólicas por toda a parte, como moinhos a girar e a bater à cadência do mundo, desde a pequena ao fundo do jardim, até ao gigantesco aerogerador, cujas pás ultrapassarão os 50 metros, estarão por todo o lado. Por todo o lado em que o vento seja forte e regular. As eólicas, tal como a solar, são energias intermitentes. O vento não está sempre a soprar, o sol não está sempre a brilhar. É preciso armazenar a energia, De momento, ainda não sabemos fazer esse armazenamento. Portanto, utilizamos sistemas D: há a metanização, e há outros procedimentos como os sistemas STEP. os Sistemas de Transferência de Energia por Bombagem. É muito simples e funciona. Agarramos na água a jusante e criamos uma bacia artificial a montante. Numa altura de vento forte, utilizamos os excedentes de energia para bombar a água de jusante para montante e, numa altura de grande procura, quando já não há vento, libertamos a água que atravessa turbinas hidráulicas clássicas, para compensar. Depois, há todo um conjunto de energias, como a hidroeletricidade que já está muito desenvolvida, a geotermia também e há uma série de energias mais experimentais, como a energia das ondas, das marés, ou os geradores submersos. Mas, no futuro, serão exploradas, minimamente. Como veem, as energias renováveis oferecem muitas possibilidades. No futuro, serão espalhadas por toda a parte, consoante as suas especificidades. Mas as energias renováveis não respondem a esta pergunta: "Se a nossa necessidade energética aumenta sem cessar, "conseguirão compensar o abandono das energias fósseis?" Se quisermos banir as energias poluentes da nossa mistura energética, no futuro, são precisas duas coisas: concentrarmo-nos nas economias de energia e não no consumo exagerado. A eficácia e a sobriedade são as duas chaves da transição energética. A nível da eficácia energética, podemos conseguir ganhos da eficácia em todos os setores, indústria, siderurgia, agricultura, transportes, eletrodomésticos, na forma de trabalhar, no habitat, podemos fazê-lo em todos os setores, A nível do habitat, é um bom exemplo. Todos conhecemos os edifícios de baixo consumo. Os edifícios de baixo consumo são muito simples. Utilizam aquilo a que se chama conceções bioclimáticas. Construímos um edifício em função da orientação da luz, ou favorecemos o máximo isolamento das fachadas, das paredes, do pavimento, do teto. É muito simples e, com estes edifícios, realizamos 80% de economias em energia. Não é pouco. 80% de energia em relação aos edifícios normais. Há outras coisas, os edifícios de energia positiva, são verdadeiras joias da tecnologia. Como o seu nome indica, produzem mais eletricidade do que a que consomem. Depois, há outros exemplos, como as redes inteligentes: As redes inteligentes. Todos conhecemos esta expressão, é o máximo, têm ganhos de eficácia enormes. As redes inteligentes não existem ainda, estão em desenvolvimento, mas são redes de eletricidade que, graças à utilização inteligente das novas tecnologias informáticas, podem gerar em direto, de forma equilibrada, a produção, a distribuição e o consumo. Temos redes inteligentes à escala local, até temos redes inteligentes a um nível superior, à escala europeia, por exemplo, onde vamos ligar numa malha muito fina as energias hidroelétricas da Noruega, a biomassa da Alemanha, com as eólicas em França e os painéis solares de Itália e Espanha. Tudo isso interligado para equilibrar as misturas energéticas. Mas os ganhos em eficácia, por si só, não vão a parte nenhuma. Vou dar um exemplo. Lembro-me que, um dia, um membro da minha família veio ver-me e disse: "Comprei um carro novo". Era um desses carros novos, um carro híbrido. Ele pensava que tinha dado um passo enorme pelo planeta. Mas não. As energias hoje com os carros fazem ganhos de consumo, é certo, mas são mais pesadas, mais potentes. Se as utilizarmos mais vezes, estamos a eliminar esses ganhos. Tudo isto para dizer que a eficácia energética não vai a parte alguma se, simultaneamente, não reduzirmos o nosso consumo. É essa a verdadeira chave. A chave é a sobriedade, evitar consumir. A melhor energia é aquela que não consumimos. A melhor energia é aquela de que não precisamos. Isso implica mudanças radicais, temos consciência disso. É preciso mudar todos os nossos pequenos hábitos de consumo. Mas, com a educação, com as mudanças, é preciso convencer, educar, iniciar, todos podemos fazer isso. Todos podemos reduzir maciçamente o nosso consumo. Se imaginarmos a cidade de amanhã — porque as cidades estão na primeira linha para a transição energética — o lado deslocalizado da transição é muito importante. Se imaginarmos a cidade de amanhã, depende do local onde se situe no mundo, mas nós estamos na Europa, portanto, imaginem uma cidade clássica europeia média. Amanhã, em 2030-2050, todos os centros urbanos serão de peões. Vamos favorecer os transportes comuns, a bicicleta. Ao nível das deslocações casa-trabalho, deixará de ser preciso fazer isso. Graças às novas tecnologias das comunicações, podemos favorecer o trabalho em casa e utilizar todas essas ferramentas para nos mantermos eficazes. Em volta das cidades, haverá cinturas agrícolas de consumo local. Todos teremos bicicletas, consumiremos no local. Todos podemos fazer estas reduções. Há um exemplo que ilustra isto muito bem, é a cidade de Totnes. É bastante conhecida, fica no sul de Inglaterra, toda a gente a conhece. Talvez que os fãs da música a conheçam, graças aos Metronomy que são de Totnes mas, para além do "rock-eletro" e dos "pubs", Totnes é pioneira do movimento das cidades em transição. Um exemplo que já inspirou muitos outros, porque, agora, temos centenas de localidades no mundo que adotaram planos de transição. Temos Portland, Vancouver, Malmö, Copenhaga, em França há Nantes, mesmo em França fazemos a transição energética à escala das cidades. Ao nível do Norte-Pas-de-Calais — não sei se sabem — o Norte-Pas-de-Calais pôs em marcha um grande plano plurianual de transição. E até a China põe em marcha planos de cidades de baixo consumo de carbono. Há iniciativas por toda a parte. Viagem, vão ao encontro dos agentes, regressarão com mil possibilidades inspiradoras. Se fosse preciso resumir esta noite, como conclusão, eu diria que o modelo e a opulência do século XX estão agonizantes. É preciso revoltarmo-nos contra esse velho modelo, e criar outro. A mudança será radical para a nossa geração. Mas eu, pessoalmente, estou muito entusiasmado com a ideia de viver essa mudança e de ser um dos agentes delas. Há centenas de pioneiros que já traçaram as linhas que já fizeram um trabalho enorme de prospeção e de ação. Passemos à ação. Mobilizemos a nossa inteligência pessoal e coletiva. Mobilizemos a nossa energia, a nossa visão, o nosso "savoir-faire". Em todos os setores, em todos os locais podemos fazer esta transição. E talvez que, como há bocado dizia o primeiro orador, talvez que voltemos a dar sentido à palavra "progresso". Se conseguirmos construir uma transição, sempre com este sentido de catastrófico esclarecido, e cheio de criatividade, que nos permitirá no século XX fazer sobreviver mais de 6000 milhões de seres humanos. É este o desafio da nossa geração, conseguir construir esta transição, pôr em marcha, em conjunto, o futuro que se perfila. Obrigado. (Aplausos)