Todos passamos por coisas marcantes das quais nos recordamos. A primeira, para mim, foi entrar na pré-escola. Meu irmão mais velho estava na escola, então era a minha vez. Fui andando pelo pátio. Estava tão ansiosa que quase molhei as calças. (Risos) Ao passar pela porta, a professora me deu boas-vindas, e me levou à sala de aula, mostrou meu armário. Todos nos lembramos daqueles armários onde guardamos nossas coisas. Ela disse: "Vá brincar com as outras crianças até que a aula comece". Fui até lá e sentei-me como se estivesse em casa. Eu estava brincando, de repente, o menino perto de mim, que vestia uma camisa branca e bermuda azul, lembro-me como se fosse ontem, ele parou de brincar e disse: "Por que você é tão baixinha?" Eu continuei brincando, não pensei que ele falava comigo. (Risos) Com a voz mais alta, ele disse: "Por que você é tão baixinha?" Eu levantei a cabeça e disse: "Do que você está falando? Vamos brincar, estamos felizes. Estive esperando por isso". Continuamos brincando por um minuto, até que a menina perto dele, de camisa branca e saia rosa, levantou-se com as mãos na cintura e disse: "Por que você é tão diferente?" E eu disse: "Do que você está falando? Não sou diferente e nem baixinha, vamos apenas brincar". Nessa hora, olhei ao redor e vi que estava cercada, as crianças pararam de brincar e estavam olhando para mim. E eu estava pensando algo como "OMG" ou "WTF". (Risos) O que aconteceu? Toda confiança que eu tinha naquela manhã foi murchando ao longo da manhã e as perguntas continuavam. No fim da manhã, antes de ir para casa, a professora nos organizou em um círculo do qual eu percebi que estava fora. Não podia olhar para ninguém. Não podia entender o que aconteceu. Nos anos seguintes, eu odiava sair em público. Eu sentia cada olhar, cada risada, cada dedo apontado, não "o" dedo, mas cada dedo apontado, e eu odiava isso. Me escondia atrás das pernas dos meus pais para não ser vista. Quando criança, você não entende a curiosidade das outras crianças ou a ignorância de um adulto. Ficou claro que o mundo não foi construído para alguém do meu tamanho, de modo literal ou figurado. Eu não tinha anonimato, como vocês devem imaginar, e embora possam ver meu tamanho, todos passamos por dificuldades na vida. Algumas podem ser vistas, como a minha, mas a maioria não. Você não sabe se alguém tem uma doença mental, ou se luta com sua identidade de gênero, cuida de pais idosos, passa dificuldades financeiras. Não se pode ver essas coisas. Como vocês podem ver, um dos meus desafios é meu tamanho. Ver não significa compreender como é ser eu diariamente, ou aquilo que enfrento. Então, estou aqui para refutar um mito. Não acredito que você possa colocar-se no lugar de outra pessoa, e por isso, precisamos adotar outra forma de nos solidarizarmos. Simplesmente nunca saberei como é ser você e você nunca saberá como é ser eu. Não posso encarar seus medos ou perseguir seus sonhos, e você não pode fazer o mesmo por mim, mas podemos apoiar um ao outro. Em vez de tentar pôr-se no lugar do outro, devemos adotar outra forma de nos solidarizarmos. Eu aprendi cedo que precisava fazer algumas coisas de um jeito diferente da maioria, mas também aprendi que eu estava em pé de igualdade em outras, e uma delas era a sala de aula. (Risos) Eu era igual. (Risos) Na verdade, eu era excepcional na sala de aula. Isso foi importantíssimo; descobri enquanto crescia e percebi que não poderia realizar um trabalho físico. Eu precisava de educação. Então me graduei na universidade, mas sentia que para estar a um passo à frente de todos para o trabalho eu precisava de uma pós-graduação, então a consegui. Estava pronta para minha entrevista. Lembram-se de sua primeira entrevista? "O que vestir?" "Quais as perguntas?" "Não esqueça do firme aperto de mãos." Também passei por isso. Então, 24 horas antes da entrevista, uma amiga de infância ligou-me e disse: "Michele, o prédio aonde você vai tem escadas". Ela sabia que eu não podia subir escadas. De repente, meu foco mudou. Particularmente, eu estava preocupada em como chegaria lá. Então, fui mais cedo, achei uma doca de carga e fiz uma ótima entrevista. Eles nem imaginam pelo que passei naquele dia, mas tudo bem. Você deve pensar que meu maior desafio naquele dia foi a entrevista, ou entrar no prédio. Na verdade, o maior desafio naquele dia foi passar pela doca sem ser atropelada. Sou muito vulnerável em certas situações: aeroportos, corredores, estacionamentos, docas de carga. Então preciso ser muito cuidadosa. Preciso me antecipar, ser flexível e me mover rápido de vez em quando. Então, consegui o emprego, e, em minha função atual, viajo bastante. E viajar é um desafio para todos atualmente. Você chega ao aeroporto, passa pela segurança, vai até o portão. "Meu assento é no corredor ou na janela?" "Me colocaram na primeira classe?" Eu, primeiramente, não passo por nada. (Risos) E principalmente não passo pela "TSA", porque passo pela revista pessoal. Não vou comentar sobre isso. Então vou até o portão, e com minha oratória, que segundo meus pais é de nascimento, falo com o agente do portão e digo: "Meu quadriciclo pesa esse tanto, eu tenho uma bateria e posso dirigi-lo até a porta do avião". Um dia antes, também liguei para a cidade aonde ia para saber onde poderia alugar um quadriciclo, caso o meu estragasse. Então, meu caso é um pouco diferente. Quando entro no avião, peço educadamente à comissária que guarde minha mala, e ela me atende. Tento não comer ou beber no avião, pois não quero ter que levantar e caminhar lá dentro, mas às vezes a natureza chama e há algum tempo, tive que atender. Então fui até a frente do avião, e falei com a comissária: "Você pode cuidar da porta? Não alcanço a fechadura". Lá estou eu, fazendo o que preciso, até que a porta se abre. Havia um senhor lá, com uma expressão de horror. Sei que eu tinha a mesma expressão. Quando saí, percebi que ele sentava perto de mim e estava completamente envergonhado. Então, andei calmamente até ele: "Vai se lembrar disso tanto quanto eu?" (Risos) E ele disse: "Acho que sim". (Risos) Provavelmente, ele não fala sobre isso em público, mas eu sim. (Risos) Mas conversamos o resto do voo, acabamos nos conhecendo, nossas famílias, esportes, trabalho, e quando aterrissamos, ele disse: "Michele, vi que sua mala está no bagageiro. Posso pegá-la para você?" Eu disse: "Claro, obrigada". Nos desejamos felicidades, e o mais importante naquele dia é que ele não partiu com aquela vergonha, aquela experiência embaraçosa. Ele não esquecerá, nem eu, mas penso que ele se lembrará mais de nossa conversa e nossas diferentes perspectivas. Viajar ao exterior pode ser mais desafiador em alguns aspectos. Há alguns anos, eu estava em Zanzibar, e chego rodando no quadriciclo. Pense nisso: baixinha, branca, loira e em uma cadeira. Isso não deve acontecer todo dia. Então vou, e com minha oratória, começo a falar com o agente. Amigavelmente perguntei sobre sua cultura e coisas do tipo, e percebi que não havia uma ponte telescópica. Então, tive que dizer: "Além de você levantar minha cadeira, posso precisar de ajuda para subir os degraus". Então, passamos uma hora juntos esperando pelo avião, e foi uma hora magnífica. A perspectiva de ambos mudou naquele dia. E quando peguei o voo, ele deu-me um tapinha nas costas e desejou-me felicidades, e eu o agradeci imensamente. E mais uma vez, creio que ele se lembrará mais dessa experiência do que quando cheguei e havia hesitação. Como percebem, recebo muita ajuda. Poderia não estar onde estou hoje se não fosse pela minha família, meus amigos, meus colegas e muitos estranhos que me ajudam a cada dia de minha vida. E é importante que todos tenhamos uma estrutura de apoio. Pedir ajuda é sinal de força, não de fraqueza. (Aplausos) Todos precisam de ajuda ao longo da vida, mas, tão importante quanto, é que sejamos parte da estrutura de apoio de outras pessoas. Devemos adotar essa forma de retribuição. Nós obviamente temos um papel no nosso próprio sucesso, mas pense no papel que temos no sucesso das outras pessoas, assim como as pessoas fazem por mim todos os dias. É vital que ajudemos uns aos outros, pois a sociedade vem, cada vez mais, isolando as pessoas baseada em preconceitos e ideologias. Precisamos olhar para além da superfície e enfrentar a verdade que ninguém é aquilo que se pode ver. Há mais para nós do que isso, e todos lidamos com coisas que não podem ser vistas. Então, viver uma vida livre de julgamentos permite que todos compartilhemos experiências juntos e tenhamos uma perspectiva diferente, assim como as pessoas a quem mencionei anteriormente. Lembrem-se, os únicos sapatos em que você pode entrar são os seus. Não posso colocar-me nos seus sapatos. E sei que você não cabe no meu pé tamanho um. (Risos) Mas você pode tentar. Porém, podemos fazer melhor que isso. Com compaixão, coragem e compreensão podemos andar lado a lado e nos ajudarmos mutuamente. Pense em como a sociedade pode mudar se fizermos isso em vez de julgar aquilo que você não pode ver. Obrigada. (Aplausos) Obrigada.