Jambo, bonjour, zdravstvujtye, trayo:
estas são algumas das línguas
de que falei algumas palavras
durante as últimas seis semanas,
quando estive em 17 países,
neste circuito maluco que estou a fazer,
para verificar diversos aspetos
do projeto que estamos a fazer.
Vou falar-vos um pouco dele
daqui a bocado.
Visitei alguns locais espantosos,
locais como a Mongólia, o Camboja,
a Nova Guiné, a África do Sul,
a Tanzânia duas vezes.
Estive aqui há um mês.
A oportunidade de fazer uma volta
relâmpago ao mundo, como esta,
é uma coisa espantosa
por muitas razões.
Vemos coisas incríveis.
E fazemos comparações pontuais
entre povos de todo o globo.
Aquilo que retiramos de tudo isso,
o tipo de coisa que, à primeira vista,
retiramos disso,
é que não somos todos iguais,
embora eu vá falar disso,
mas sobretudo como somos diferentes.
Há muita diversidade por todo o globo.
Há 6000 línguas diferentes
faladas por 6500 milhões de pessoas,
de todas as cores, feitios, tamanhos.
Percorremos uma rua
de qualquer grande cidade,
e ficamos espantados com a diversidade
da espécie humana.
Como explicamos esta diversidade?
É sobre isso que vou falar hoje,
é como estamos a usar
os instrumentos da genética,
a genética da população em especial,
para nos dizer como gerámos
esta diversidade
e quanto tempo isso demorou.
O problema da diversidade humana,
tal como todas as grandes
questões científicas
— como explicar uma coisa como esta? —
pode ser dividida em subquestões.
Podemos investigar
essas pequenas subquestões,
A primeira é uma questão de origens.
Será que todos partilhamos
uma origem comum?
Visto que assim é — e penso que esta
é a premissa que todos fazemos —
quando é que isso aconteceu?
Quando ocorreu a nossa origem
enquanto espécie?
Há quanto tempo andamos
a divergir uns dos outros?
A segunda questão está relacionada,
mas é ligeiramente diferente.
Se saímos todos de uma origem comum,
como é que acabámos por ocupar
todo o globo,
e, nesse processo, gerámos
toda esta diversidade,
as diferentes formas de vida,
o aspeto diferente,
as línguas diferentes em todo o mundo?
A questão da origem, tal como com
muitas outras questões da biologia,
parece ter sido respondida
por Darwin, há cem anos.
Lemos em "A Origem do Homem":
"Em cada grande região do mundo,
"os mamíferos atuais estão relacionados
com as espécies extintas da região.
"É provável que a África tenha sido
habitada por primatas extintos
"intimamente relacionados com
o gorila e o chimpanzé,
"Estas duas espécies
são as mais próximas do homem,
"assim, é mais provável
que os nossos progenitores iniciais
"tenham vivido em África".
Pronto, podemos voltar para casa
— a questão da origem está arrumada.
Nem por isso. Porque Darwin estava
a falar dos nossos antepassados distantes,
dos nossos antepassados
comuns aos primatas.
E é sabido que os primatas
tiveram origem no continente africano.
Há 23 milhões de anos, aparecem
no registo fóssil.
A África estava desligada das outras
massas terrestres naquela época,
dados os caprichos das placas tectónicas,
flutuando pelo Oceano Índico,
colidindo com a Eurásia
há cerca de 16 milhões de anos
e depois tivemos
o primeiro êxodo africano.
Os primatas saíram naquela época
e acabaram no sudeste asiático,
e deram os gibões e os orangotangos.
Os que se mantiveram em África
deram os gorilas, os chimpanzés e nós.
Olhando para os nossos antepassados
comuns com os primatas
é muito claro que começámos aqui,
olhando para o registo fóssil.
Mas essa não é a pergunta
que estou a fazer.
Estou a falar dos nossos
antepassados humanos,
de coisas que pudéssemos reconhecer
como sendo como nós
se estivessem sentados aqui nesta sala.
Se estivessem a espreitar
por cima do nosso ombro,
não nos assustariam.
E quanto aos antepassados humanos?
Se recuarmos bastante no tempo,
temos antepassados comuns
com todas as coisas vivas na Terra.
O ADN liga-nos a todos, temos
antepassados comuns com a barracuda.
com as bactérias e os cogumelos,
se recuarmos bastante no tempo
— mais de mil milhões de anos.
Mas o que queremos saber
são os antepassados humanos.
Como é que estudamos isso?
Historicamente, tem sido estudado
usando a ciência da paleoantropologia.
Escavando coisas enterradas no solo
e baseando-nos, sobretudo, na morfologia
— na forma que as coisas têm,
sobretudo na forma do crânio — e dizendo:
"Este é mais parecido connosco do que este
portanto este deve ser meu antepassado.
"Deve ser deste
que eu descendo diretamente".
Penso que o terreno da paleoantropologia
dá-nos muitas possibilidades
fascinantes sobre a nossa ancestralidade,
mas não nos dá as probabilidades
que queremos, enquanto cientistas.
O que é que eu quero dizer?
Vemos aqui um ótimo exemplo.
Estas são três espécies
extintas de hominídeos,
potenciais antepassados humanos.
Todos escavados na garganta de Olduvai,
pela família Leakey.
São todos, mais ou menos,
da mesma época.
Da esquerda para a direita:
o Homo erectus, o Homo habilis
e o Australopiteco — agora
chamado Paranthropus boisei,
o australopitecíneo robusto.
Três espécies extintas,
no mesmo local, na mesma época.
Ou seja, os três não podiam
ser todos nossos antepassados diretos.
Com qual destes sujeitos
estaremos relacionados?
É uma possibilidade
quanto à nossa ancestralidade,
mas não são as probabilidades
que procuramos.
Uma abordagem diferente tem sido
observar a morfologia nos seres humanos,
usando os únicos dados que havia
disponíveis até há pouco tempo
— mais uma vez, sobretudo
a forma do crânio.
A primeira pessoa a fazer isso,
sistematicamente, foi Linnaeus,
Carl von Linné, um botânico sueco,
que, no século XVIII, se encarregou
de categorizar todos
os organismos vivos do planeta.
Vocês acham que têm um trabalho difícil?
Ele fez um ótimo trabalho.
Categorizou cerca de 12 000 espécies
em "Systema Naturae".
Foi ele que usou o termo Homo sapiens
— o "homem sábio" em latim.
Mas, olhando para o mundo
da diversidade dos seres humanos, disse:
"Segundo parece, nós aparecemos
em subespécies discretas, ou categorias".
E falou dos africanos, dos americanos
e dos asiáticos e dos europeus
e de uma categoria flagrantemente racista
a que chamou "Monstrosus",
que incluía, praticamente, todos
os povos de que não gostava,
incluindo seres imaginários,
como os duendes.
(Risos)
É fácil ignorar isto, como sendo talvez
uma meditação bem intencionada
mas ignorante de um cientista
do século XVIII
a trabalhar na era pré-Darwin.
Mas, se aprenderam antropologia física
há 20 ou 30 anos, em muitos casos
terão aprendido
essa mesma classificação da humanidade,
as raças humanas que, segundo os
antropólogos físicos de há 30 a 40 anos
— Carlton Coon é o melhor exemplo —
vêm divergindo umas das outras
— isto é já na era pós-Darwin —
ao longo de um milhão de anos,
desde a época do Homo erectus.
Mas em que dados se baseavam?
Muito poucos, muito poucos.
Na morfologia e em muitos palpites.
O que eu quero dizer hoje
aquilo de que vou falar,
é duma nova abordagem a este problema.
Em vez de dar palpites
sobre a nossa ancestralidade,
de escavar coisas no terreno,
possíveis antepassados,
e afirmar coisas com base
na antropologia
— que não percebemos totalmente,
nem sabemos quais as causas genéticas
desta variação morfológica —
o que precisamos de fazer
é mudar o foco do problema.
Porque o que estamos a considerar
é um problema genealógico,
ou seja, uma pergunta genealógica.
O que tentamos fazer é construir
uma árvore genealógica
para todos os que vivem hoje.
Como qualquer genealogista vos dirá,
toda a gente tem um membro da família
que tentou construir uma árvore
genealógica, saber o passado.
Começamos no presente, com
as relações que conhecemos.
Os irmãos têm pais em comum.
Os primos têm avós em comum.
Pouco a pouco, vamos recuando
no passado,
acrescentando parentes
cada vez mais distantes.
Por fim, por mais que procuremos
nos registos da igreja ou onde for,
encontramos aquilo a que os genealogistas
chamam uma "parede de tijolo".
Daí em diante, não sabemos nada
sobre os nossos antepassados
e entramos no reino misterioso
e escuro, a que chamamos História,
em que pressentimos o nosso caminho
com uma orientação sussurrada.
Quem eram estas pessoas
que existiam antes?
Não temos registos escritos.
Bom, temos sim senhor.
Escrito no nosso ADN,
no nosso código genético,
temos um documento histórico
que nos leva ao passado
aos primeiros dias da nossa espécie.
É isso que estudamos.
Agora, uma rápida introdução ao ADN.
Suponho que nem toda a gente
na plateia é geneticista.
O ADN é uma molécula linear,
muito comprida,
uma versão codificada de como fazer
outra cópia de nós mesmos.
É o nosso esquema.
É composto por quatro subunidades:
A, C, G e T, como lhe chamamos.
É a sequência destas subunidades
que define esse esquema.
Qual é o seu comprimento?
São milhares de milhões de subunidades.
Um genoma haploide — temos
duas cópias dos nossos cromossomas —
um genoma haploide tem uns 3200
milhões de nucleótidos de comprimento.
Tudo junto, se juntarmos tudo,
são mais de 6000 milhões
de nucleótidos de comprimento.
Se tirarmos todo o ADN
de uma célula do corpo
e o esticarmos de uma ponta à outra
terá cerca de dois metros de comprimento.
Se tirarmos todo o ADN
de todas as células do corpo,
e o esticarmos de uma ponta à outra
atingirá daqui até à Lua
e de volta à Terra, milhares de vezes.
É muita informação.
Assim, quando copiamos a molécula de ADN
para o passarmos, é um trabalho difícil.
Imaginem o livro mais grosso
que puderem, tipo "Guerra e Paz".
Agora, multipliquem-no por 100.
Imaginem copiá-lo à mão.
Trabalham sem parar
até altas horas da noite,
são muito cuidadosos, bebem café
e estão a prestar muita atenção,
mas, por vezes,
quando estão a copiá-lo à mão,
fazem um pequeno erro,
um erro de ortografia
— substituem um E por um I,
ou um T por um C.
O mesmo acontece com o nosso ADN,
quando passa de geração em geração.
Não acontece com frequência.
Temos incorporado um mecanismo de revisão.
Mas se acontece e essa alteração
é transmitida de geração em geração,
torna-se uma marca de descendência.
Se partilhamos
uma dessas marcas com alguém,
significa que partilhamos
um antepassado no passado,
a primeira pessoa
que teve essa alteração no ADN.
É procurando o padrão
da variação genética,
o padrão dessas marcas nas pessoas
do mundo inteiro
e analisando as épocas relativas
quando ocorreram na nossa história
que conseguimos construir uma árvore
genealógica para todos os que vivem hoje.
Estes são dois pedaços de ADN
usados amplamente no nosso trabalho.
O ADN mitocondrial, que traça uma linha
puramente materna de ascendência.
Recebemos o nosso ADN da nossa mãe
e da mãe da nossa mãe,
e por aí fora até à primeira mulher.
O cromossoma Y, a parte do ADN
que dá origem a um homem,
traça uma linha puramente
paterna da ascendência.
Toda a gente nesta sala,
toda a gente do mundo inteiro,
encaixa numa linhagem
algures nestas árvores.
Apesar de estas serem versões
simplificadas das verdadeiras árvores,
são complicadas,
por isso, vamos simplificá-las.
Combinamo-las, para ficarem
com o aspeto de uma árvore,
com a raiz em baixo
e os ramos virados para cima.
Qual é a mensagem importante?
A coisa que nos chama a atenção
em primeiro lugar
é que as linhagens mais antigas
nas árvores genealógicas
encontram-se em África,
entre os africanos.
Isso significa que os africanos
têm vindo a acumular
esta diversidade mutacional
há mais tempo.
Isso significa que somos
originários de África.
Está escrito no nosso ADN.
Cada pedaço de ADN que observamos
tem maior diversidade em África
do que fora de África.
Em certa altura do passado,
um subgrupo de africanos
saiu do continente africano
e povoou o resto do mundo.
Mas há quanto tempo partilhamos
esta ancestralidade?
Foi há milhões de anos,
como podemos suspeitar
olhando para toda esta incrível variação
por todo o mundo?
Não, o ADN conta uma história muito clara.
Nos último 200 000 anos
todos partilhávamos um antepassado,
uma única pessoa,
a Eva Mitocondrial, já devem
ter ouvido falar dela — em África,
uma mulher africana que deu origem a toda
a diversidade mitocondrial do mundo atual.
Mas o mais espantoso
é que, se olharmos para o cromossoma Y,
o lado masculino da história,
o Adão do cromossoma Y,
só apareceu há cerca de 60 000 anos.
São apenas cerca de 2000 gerações humanas,
um piscar de olhos num sentido evolutivo.
Isso diz-nos que ainda estávamos todos
a viver em África nessa época.
Foi um homem africano que deu origem
à diversidade de cromossomas Y
no mundo inteiro.
Foi só nos últimos 60 000 anos
que começámos a gerar
esta incrível diversidade
que observamos pelo mundo fora.
É uma história espantosa.
Todos fazemos parte duma
alargada família africana.
Isto parece ser muito recente.
Porque é que não começámos
a sair de África mais cedo?
Porque é que o Homo erectus
evolui em espécies separadas,
ou melhor, subespécies, em todo o mundo?
Porque é que parece que saímos
de África há tão pouco tempo?
Essa é a pergunta difícil
— as perguntas "porquê?"
especialmente em genética
e no estudo da história em geral,
são sempre as importantes,
as que são mais difíceis de responder.
Quando tudo o mais falha,
fala-se do tempo.
O que se passava no clima mundial
por volta de há 60 000 anos?
Vamos entrar na pior parte
da última idade do gelo.
A última idade do gelo
começou há cerca de 120 000 anos.
Aumentou e diminuiu e começou
a acelerar por volta de há 70 000 anos.
Muitos indícios, de sedimentos
e de tipos de pólen,
isótopos de oxigénio, etc.
Atingimos o auge do último glaciar
há cerca de 16 000 anos
mas, a partir de há 70 000 anos,
as coisas estavam a ficar muito feias,
estava a ficar muito frio.
O hemisfério norte tinha uma
enorme massa crescente de placas de gelo.
A cidade de Nova Iorque, Chicago, Seattle,
tudo estava sob uma placa de gelo.
A maioria da Grã-Bretanha,
toda a Escandinávia, cobertas por gelo
com vários quilómetros de espessura.
A África é o continente
mais tropical do planeta
— cerca de 85% situa-se entre
os trópicos de Câncer e de Capricórnio —
e ali não há muitos glaciares,
exceto nas altas montanhas
na África Oriental.
O que é que se passava aqui?
Não estávamos cobertos de gelo em África.
Pelo contrário, a África estava
numa seca, nessa época.
Isto é um mapa paleoclimatológico
do aspeto de África,
há 60 a 70 mil anos,
reconstruído a partir
de todos os indícios que já referi.
A razão para isso é que o gelo
absorve a humidade da atmosfera.
Se pensarem na Antártida, tecnicamente
é um deserto, muito pouca precipitação.
Todo o mundo estava a secar.
Os níveis do mar estavam a descer
e a África estava a tornar-se um deserto.
O Saara era muito maior
nessa época do que é hoje.
O habitat humano estava reduzido
a umas pequenas bolsas,
em comparação com o que temos hoje.
A evidência dos dados genéticos
é que a população humana nesta época,
há cerca de uns 70 000 anos,
se reduziu para menos de 2000 indivíduos.
Quase nos extinguimos,
Estávamos presos pela ponta dos cabelos.
Então, aconteceu uma coisa.
Uma grande ilustração.
Reparem em alguns instrumentos de pedra.
Os da esquerda são de África,
de há cerca de um milhão de anos.
Os da direita são dos neandertais,
nossos primos distantes
— não são antepassados diretos —
que viviam na Europa
e datam de há uns 50 ou 60 mil anos.
Correndo o risco de ofender
qualquer paleoantropólogo
ou antropólogo físico aqui presente,
não há grande alteração entre
os dois grupos de instrumentos de pedra.
Os da esquerda são quase iguais
aos da direita.
Estamos num período de longa
estase cultural de há um milhão de anos
até há uns 60 a 70 mil anos.
Os estilos não são muito diferentes.
Os indícios são que a forma de vida humana
não mudou muito durante este período.
Mas, depois, há 50, 60 ou 70 mil anos,
algures nesta região,
ocorre uma coisa caótica.
Aparece a arte.
Os instrumentos de pedra
passam a ser delicadamente trabalhados,
indicando que os seres humanos
começam a especializar-se
em determinadas espécies de presas,
em determinadas épocas do ano.
O tamanho da população começa a aumentar.
Provavelmente, segundo
muitos linguistas pensam,
aparece nesta época a linguagem moderna,
uma linguagem sintática
— sujeito, verbo, complemento direto —
usada para transmitir ideias,
tal como estou a fazer agora.
Tornamo-nos muito mais sociais.
As redes sociais expandem-se.
Esta mudança de comportamento permitiu-nos
sobreviver nas condições piores em África
e permitiram-nos começar
a expandirmo-nos pelo mundo.
Temos falado, nesta conferência,
das histórias de êxito em África.
Querem ouvir a suprema história
africana de êxito
Olhem para o espelho. Somos nós.
A razão de estarmos vivos
é que a alteração no nosso cérebro
ocorreu em África
provavelmente algures na região
onde nos encontramos aqui mesmo,
há cerca de 60 a 70 mil anos,
o que nos permitiu sobreviver em África
e expandir-nos para fora dela.
Uma primeira migração costeira
ao longo da costa sul da Ásia,
que partiu de África há uns 60 000 anos,
chegando à Austrália,
muito rapidamente há 50 000 anos.
Uma migração, um pouco mais tarde,
para o Médio Oriente.
Deviam ser caçadores da savana.
Quem for numa das visitas
depois das palestras,
verá o que é uma verdadeira savana.
É basicamente um armário de carne.
Pessoas que se tinham especializado
em matar animais,
em caçar animais nestas savanas
repletas de carne,
foram subindo, seguindo as pradarias
até ao Médio Oriente
há cerca de 45 000 anos,
durante uma das raras
fases húmidas no Saara,
migrando para leste,
seguindo as pradarias,
porque era a isso que se tinham
adaptado para subsistir.
Quando chegaram à Ásia central,
chegaram ao que era efetivamente
uma estepe de alta qualidade,
uma pradaria de alta qualidade.
Naquela época
— durante a última idade do gelo —
as pradarias estendiam-se
desde a Alemanha até à Coreia
e todo o continente estava cheio delas.
Entraram na Europa
há cerca de 35 000 anos.
e, por fim, um pequeno grupo migrou
através do pior clima imaginável
— a Sibéria —
no interior do Círculo Ártico,
durante a última idade do gelo
— a temperatura era talvez
de -70, -80, ou mesmo -100 C —
migrando para a América,
chegando finalmente à última fronteira.
Uma história impressionante
que aconteceu a partir de África.
As mudanças que nos permitiram fazer isso,
a evolução deste cérebro altamente
adaptável que todos temos hoje,
que nos permitiu criar novas culturas,
que nos permitiu desenvolver a diversidade
que vemos numa viagem turbilhão
como a que eu acabo de fazer.
Esta história que vos contei
é literalmente uma viagem turbilhão
de como povoámos o mundo
— as grandes andanças paleolíticas
da nossa espécie.
É a história que contei, há uns anos,
no meu livro "The Journey of Man"
e num filme que fizemos,
com o mesmo título.
Quando estávamos a terminar esse filme
— produzido em conjunto
com a National Geographic —
comecei a falar com gente
da National Geographic sobre este livro.
Ficaram muito interessados.
Gostaram do filme mas disseram:
"Sabem, vemos isto como o tipo
duma nova vaga
"no estudo das origens humanas;
de onde viemos todos nós,
"usando os instrumentos do ADN
para mapear as migrações em todo o mundo.
"O estudo das origens do homem
está no nosso ADN
"e queremos elevá-lo ao próximo nível.
"O que queremos fazer a seguir?"
Esta é a grande questão
que a National Geographic vai abordar.
Eu disse: "Sabem, o que eu fiz aqui
"foi um esboço muito grosseiro
de como migrámos por todo o planeta.
"Baseia-se em poucos milhares
de pessoas que serviram de exemplo,
"meia dúzia de populações
do mundo inteiro.
"Estudei alguns marcadores genéticos
e há imensos buracos neste mapa.
"Estamos a ligar os pontos.
"Precisamos de reforçar
muito mais a nossa amostra
"— centenas de milhares de amostras
de ADN, de pessoas do mundo inteiro".
Foi esta a génese do Projeto Genográfico.
O projeto arrancou em abril de 2005.
Tem três componentes.
Obviamente, a ciência é um dos principais.
Fazemos investigação no terreno
no mundo inteiro, com povos indígenas,
pessoas que viveram no mesmo local
durante um longo período de tempo
e mantêm uma ligação
com o local onde vivem
coisa que muitos de nós perderam.
Os meus antepassados vêm de todo
o norte da Europa.
Eu vivo na costa leste dos EUA,
quando não ando a viajar.
De onde sou? De parte alguma.
Os meus genes estão todos misturados.
Mas há pessoas que mantêm esse elo
com os seus antepassados
que nos permitem contextualizar
os resultados do ADN.
É esse o foco da investigação no terreno.
Instituímos 10 centros
por todo o mundo,
com geneticistas de topo.
Mas, além disso, queremos abrir
este estudo a toda a gente, no mundo.
Quantas vezes já participaram
num grande projeto científico?
No Projeto do Genoma Humano,
ou na missão da Sonda a Marte.
Neste caso, também podem.
Podem ir à nossa página "web"
Nationalgeographic.com/genographic.
Podem encomendar um "kit",
Podem testar o vosso ADN.
Podem apresentar esses resultados
a uma base de dados,
e falar-nos um pouco do vosso
passado genealógico,
mandar analisar os dados
dentro do esforço científico.
Isto é um empreendimento
sem fins lucrativos,
o dinheiro que angariamos,
depois de cobrarmos
o custo dos testes
e dos componentes do "kit"
é introduzido no projeto.
A maior parte vai para um Legacy Fund.
É uma entidade de beneficência,
uma entidade que concede bolsas
que dão dinheiro a grupos indígenas
por todo o mundo
para projetos educativos
e culturais, da iniciativa deles.
Usam esses fundos para fazerem
diversos projetos
e vou mostrar-vos alguns exemplos.
Como fazemos o projeto?
Temos cerca de 25 000 amostras,
recolhidas em povos indígenas
de todo o mundo.
O mais espantoso tem sido
o interesse por parte do público:
210 000 pessoas encomendaram
"kits" de participação
desde que arrancámos há dois anos,
o que significa cerca
de cinco milhões de dólares.
A maior parte — pelo menos metade —
vai para o Legacy Fund.
Já atribuímos as primeiras bolsas Legacy
no total de uns 500 000 dólares.
Projetos em todo o mundo
— documentação de poesia oral
na Serra Leoa,
preservação de padrões de tecidos
tradicionais em Gaza,
revitalização da língua
no Tajiquistão, etc., etc.
O projeto está a andar muito bem
e aconselho-vos a visitar
a página "web" e ver esse espaço.
Muito obrigado.
(Aplausos)