Isto é um monte de uns e zeros. É o que chamamos de informação binária. É como os computadores falam. É como armazenam informação. É como computadores pensam. É como computadores fazem tudo o que fazem. Sou pesquisador de segurança cibernética, e meu trabalho é sentar com esta informação e tentar decifrá-la, tentar entender o que significam estes zeros e uns. Infelizmente, não estamos falando apenas dos uns e zeros que estão na tela. Não estamos falando de umas poucas páginas de uns e zeros. Estamos falando de bilhões e bilhões de uns e zeros, mais do que qualquer pessoa poderia compreender. Agora, tão excitante quanto parece, quanto eu comecei com cibernética -- (Risos) quando comecei, não tinha certeza que peneirar uns e zeros era o que eu queria fazer pelo resto da minha vida, porque na minha cabeça, cibernética era manter os vírus longe do computador da minha avó, era evitar que páginas do Myspace fossem invadidas, e talvez, no meu dia mais glorioso, era impedir que informações de cartão de crédito fossem roubadas. Essas eram coisas importantes, mas não era como queria passar minha vida. Mas depois de 30 minutos de trabalho como um contratante de defesa, logo descobri que minha ideia de cibernética estava um pouco ultrapassada. De fato, em termos de segurança nacional, afastar vírus do computador da vovó surpreendentemente tinha baixa prioridade na lista. E isso é porque a cibernética é muito maior que qualquer uma destas coisas. Cibernética é uma parte integral de nossas vidas, porque computadores são uma parte integral de nossas vidas, mesmo que você não tenha um computador. Computadores controlam tudo no seu carro, desde o GPS até os airbags. Eles controlam o telefone. Por isso você pode ligar para 911 e ter alguém na outra linha. Eles controlam toda a infraestrutura da nossa nação. São razão de se ter eletricidade, calefação, água limpa, comida. Eles controlam nossos equipamentos militares, desde armazéns de mísseis a satélites e redes de defesa nucleares. Tudo isso se tornou possível por causa dos computadores, e portanto, por causa da cibernética. E quando algo dá errado, a cibernética pode tornar essas coisas impossíveis. Mas é aqui que eu entro. Grande parte do meu trabalho é defender todas essas coisas, mantê-las funcionando, mas, às vezes, parte do meu trabalho é quebrar uma dessas coisas, porque a cibernética não é só sobre defesa, é também sobre ataque. Estamos entrando em uma era em que falamos de armas cibernéticas. Na verdade, é tão grande o potencial do ataque cibernético que a cibernética é considerada um novo domínio de armamento. Armamento. Não é necessariamente uma coisa ruim. Por um lado, significa que temos um novo fronte para nos defender, mas por outro lado, significa que temos uma nova maneira de atacar, um nova maneira de evitar que pessoas más façam coisas más. Vamos considerar um exemplo disso que é completamente teórico. Suponha que um terrorista queira explodir um edifício, e quer fazê-lo de novo e de novo no futuro. Ele não quer estar no edifício quando ele explodir. Ele usará um telefone celular como um detonador remoto. Agora, a única maneira que tínhamos para impedir o terrorista era com chuva de tiros e perseguição de carros, mas isso já não é mais o caso. Entramos numa era em que podemos detê-lo com o apertar de um botão de uma distância de mais de 1600 km, porque, saiba ele ou não, tão logo decida usar seu celular, ele entra no domínio da cibernética. Um ataque cibernético bem elaborado pode invadir o seu telefone, desbloquear as proteções de sobrecarga de sua bateria, sobrecarregar o circuito, e fazer a bateria superaquecer e explodir. Sem telefone, sem detonador, talvez sem terrorista, tudo com o apertar de um botão a mais de 1600 km de distância. Então, como isso funciona? Tudo volta àqueles uns e zeros. Informação binária faz seu telefone funcionar, e usada corretamente, pode fazer seu telefone explodir. Quando você começa a olhar a cibernética desta perspectiva, passar sua vida peneirando informação binária começa a parecer excitante. Mas há um problema: é difícil, muito, muito difícil, e aqui está o porquê. Pense em tudo que você tem no celular. Você tem as fotos que tirou. Tem as músicas que ouve. Sua lista de contatos, seu email e provavelmente umas 500 apps que nunca usou na vida, e por trás de tudo isso está o software, o código, que controla o seu telefone, e em algum lugar, enterrado dentro do código, está um pequeno pedaço que controla sua bateria, e é disso que estou atrás, mas tudo isso, só um monte de uns e zeros, todos misturados. Em cibernética, isso se chama buscar uma agulha em uma pilha de agulhas, porque é assim mesmo que se parece. Eu procuro por um pedaço chave, mas ele se mistura com todo o resto. Vamos sair dessa situação teórica de fazer o celular de um terrorista explodir, e olhar uma que realmente aconteceu comigo. Não importa o que eu faça, meu trabalho sempre começa por sentar com um monte de informação binária, e procuro sempre por um pedaço chave para fazer algo específico. No caso, eu procurava por um código de alta tecnologia, muito avançado, que era possível hackear, mas que estava enterrado em algum lugar no meio de bilhões de uns e zeros. Infelizmente, eu não sabia exatamente pelo que procurava. Não sabia ao certo como se pareceria, o que torna a busca realmente difícil. Quando tenho que fazer isso, tenho que olhar para vários pedaços da informação binária, e tentar decifrar cada pedaço e ver se é o que procuro. Depois de um tempo, achei que tinha encontrado o pedaço que estava procurando. Pensei: talvez seja isso. Parecia estar certo, mas não tinha certeza. Não sabia o que aqueles uns e zeros representavam. Gastei um tempo tentando entender, mas não estava tendo sorte, finalmente decidi, vou conseguir passar por isso, vou vir no fim de semana, e não vou sair até descobrir o que isso representa. E foi o que fiz. Vim na manhã de sábado, e depois de umas 10 horas, eu tinha todas as peças do quebra-cabeças. Só não sabia como juntá-las. Não sabia o que esses uns e zeros significavam. No marco de 15 horas, comecei a ter uma ideia melhor do que era, mas tinha uma estranha suspeita que aquilo que olhava não tinha relação com o que procurava. Depois de 20 horas, as peças começaram a se encaixar bem devagar -- (Risos) -- naquele momento, eu tinha certeza que estava indo pelo caminho errado, mas não iria desistir. Depois de 30 horas no laboratório, descobri exatamente para o que estava olhando, e eu estava certo, não era o que procurava. Despendi 30 horas juntando os uns e zeros que formavam a figura de um gatinho. (Risos) Perdi 30 horas da minha vida procurando por este gatinho que não tinha relação alguma com o que estava tentando realizar. Eu estava frustrado e exausto. Após 30 horas de laboratório, provavelmente eu estava cheirando mal. Mas em vez de ir para casa e dar por encerrado, dei um passo para trás e me perguntei: "O que deu errado? Como pude cometer um erro tão idiota? Eu sou bom nisso. Eu trabalho com isso. Então o que aconteceu?" Bem, pensei, quando se procura por informação nesse nível, é fácil se desviar do que se está fazendo. É fácil não ver a floresta através das árvores. É fácil entrar na toca de coelho errada e perder um tempo tremendo fazendo a coisa errada. Mas tive essa epifania. Estávamos olhando para os dados de maneira completamente errada desde o primeiro dia. É assim que computadores pensam, uns e zeros. Não é assim que pessoas pensam, mas estávamos tentando adaptar nossas mentes para pensar mais como computadores para poder entender a informação. Em vez de fazer nossas mentes se adaptarem ao problema, deveríamos fazer o problema se adaptar às nossas mentes, porque os cérebros têm um potencial tremendo para analisar grandes quantidades de informação, só não como esta. E se pudéssemos liberar nosso potencial traduzindo isso para o tipo certo de informação? Com essas ideias em mente, corri do laboratório do trabalho para o meu laboratório de casa, que é bem parecido. A principal diferença é que, no trabalho estou rodeado de materiais cibernéticos, e a cibernética parecia ser o problema nessa situação. Em casa, estou rodeado de tudo mais que já aprendi. Então vasculhei pelos livros que encontrei, pelas ideias que me deparei, para ver como poderíamos traduzir um problema de um domínio para outro completamente diferente. A maior questão era, para o quê queremos traduzir? O que nossos cérebros fazem de maneira perfeitamente natural que podemos explorar? Minha resposta foi: visão. Temos uma tremenda capacidade para analisar informação visual. Podemos combinar gradientes de cores, profundidade, todo tipo de sinais diferentes em uma imagem coerente do mundo a nossa volta. É incrível. Se conseguíssemos uma forma de traduzir esses padrões binários para sinais visuais, poderíamos liberar o poder de nossos cérebros para processar esse negócio. Comecei a olhar para a informação binária, e me perguntei, o que faço primeiro quando encontro algo assim? E a primeira coisa que faço, a primeira questão que quero responder é: o que é isso? Não me importa o que faz e como funciona. Tudo que quero saber é: o que é isso? E a maneira para descobrir isso é olhar para pedaços sequenciais de informação binária, e olhar para o relacionamento entre esses pedaços. Quando junto sequencias suficientes, começo a ter uma ideia do que exatamente essa informação deve ser. Então vamos voltar àquela situação de explodir o telefone do terrorista. É assim que texto em inglês se parece em nível binário. É assim que sua lista de contatos se parece se estivesse examinando-a. É muito difícil analisar nesse nível, mas se pegarmos esses pedaços binários que venho tentando encontrar, e os traduzir para uma representação visual, traduzir os relacionamentos, isto é o que teria. É assim que texto em inglês se parece de uma perspectiva de abstração visual. De repente, ela nos mostra a mesma informação que estava nos uns e zeros, mas mostra de uma maneira completamente diferente, uma maneira que compreendemos imediatamente. Podemos ver instantaneamente os padrões aqui. Leva segundos para distinguir padrões aqui, mas horas, dias, para distingui-los em uns e zeros. Leva minutos para qualquer pessoa aprender o que estes padrões representam aqui, mas anos de experiência em cibernética para aprender o que os mesmos padrões representam em uns e zeros. Este pedaço é causado por letras minúsculas seguidas por letras minúsculas dentro de uma lista de contatos. Isso é maiúscula seguida por maiúscula, maiúscula por minúscula, minúscula por maiúscula. Isto é causado por espaços. Isto por trocas de linha. Podemos passar por cada detalhe da informação binária em segundos, no lugar de semanas, meses, nesse nível. É assim que uma imagem se parece no seu celular. Mas é assim que ela se parece em abstração visual. É assim que sua música se parece, mas aqui está sua abstração visual. Mais importante para mim, é assim que o código se parece no seu celular. É por isso que procuro, mas essa é sua abstração visual. Se puder encontrar isso, posso fazer o telefone explodir. Eu poderia levar semanas tentando encontrar isso em uns e zeros, mas levo segundos para distingui-lo em uma abstração visual como essa. Uma das coisas notáveis disso é que nos dá uma maneira inteiramente nova de entender informações novas, coisas que nunca vimos antes. Sei como inglês se parece no nível binário, e como sua abstração visual se parece, mas nuca vi russo binário em toda minha vida. Levaria semanas para descobrir para o que estou olhando em uns e zeros, mas porque nossos cérebros podem instantaneamente distinguir esses padrões sutis dessas abstrações visuais, podemos inconscientemente aplicar isso a novas situações. É assim que russo se parece na abstração visual. Porque sei como uma linguagem se parece, posso reconhecer outras linguagens mesmo quando não sou familiar à elas. É assim que uma fotografia se parece, mas um clip art se parece com isso. É assim que o código em seu telefone se parece, mas é assim que se parece o código em seu computador. Nossos cérebros podem distinguir esses padrões de maneiras que nunca conseguiríamos olhando para os uns e zeros. Mas nós apenas arranhamos a superfície do que pode ser feito com essa abordagem. Só começamos a liberar as capacidades de nossas mentes para processar informação visual Se pegarmos os mesmos conceitos e os traduzirmos para três dimensões, encontramos maneiras inteiramente novas de dar sentido à informação. Em segundos, podemos distinguir um padrão aqui. Podemos ver a cruz associada a código. Podemos ver cubos associados a texto. Podemos distinguir os menores artefatos visuais. Coisas que levariam semanas, meses para encontrar em uns e zeros, são imediatamente aparentes em algum tipo de abstração visual. Conforme continuamos a avançar e a jogar mais e mais informação, o que descobrimos é que somos capazes de processar bilhões de uns e zeros em questão de segundos apenas utilizando a habilidade inata de nossos cérebros para analisar padrões. Então isso é realmente bom e útil, mas tudo que isso me diz é o que estou olhando. Neste ponto, baseado em padrões visuais, posso encontrar o código no telefone. Mas não é o suficiente para explodir a bateria. A próxima coisa que tenho que encontrar é o código que controla a bateria, voltamos ao problema das agulhas. Esse código é muito parecido a qualquer outro código dentro do sistema. Posso não conseguir encontrar o código que controla a bateria, mas há várias coisas similares a ele. Você tem código para controlar a tela, para controlar os botões, o microfone, mesmo que não encontre o código para a bateria, aposto que posso encontrar um desses. O próximo passo no meu processo de análise binária é olhar os pedaços de informação que são similares entre si. É muito, muito difícil fazer isso no nível binário, mas se traduzimos estas similaridades para uma abstração visual, não tenho nem que peneirar os dados. Tudo que tenho que fazer é esperar a imagem aparecer para ver quando são pedaços similares. Sigo estas linhas de similaridade como uma trilha de migalhas de pão para encontrar exatamente o que procuro. Neste ponto do processo, localizei o código responsável por controlar sua bateria, mas isso ainda não é suficiente para explodir um telefone. A última peça do quebra-cabeças é entender como esse código controla sua bateria. Para isso, preciso identificar relacionamentos muito sutis e detalhados dentro da informação binária, outra coisa muito difícil de fazer, olhando para uns e zeros. Mas se traduzimos a informação para uma representação física, podemos sentar e deixar nosso córtex visual fazer todo o trabalho duro. Ele pode encontrar todos os padrões detalhados, todos pedaços importantes, para nós. Ele pode descobrir exatamente como os pedaços desse código trabalham juntos para controlar a bateria. Tudo isso pode ser feito em questão de horas, enquanto o mesmo processo levaria meses no passado. Tudo isso é muito bom numa situação teórica de explodir o telefone de um terrorista. Eu queria descobrir se isso funcionaria de verdade no trabalho que faço todos os dias. Então eu estava brincando com esses mesmos conceitos com alguns dados que olhei no passado, e de novo, tentando encontrar um pedaço de código específico muito detalhado dentro de um pedaço massivo de informação binária, Olhei nesse nível, pensando que estava olhando para a coisa certa, só que percebi que não tinha a conectividade que eu esperava para o código que procurava. De fato, não tenho certeza do que é isso, mas quando voltei um nível e olhei para as similaridades dentro do código vi, isso não tem similaridades com nenhum outro código existente. Não poderia nem ser um código. De fato, desta perspectiva, eu pude dizer: isso não é código. Isso é algum tipo de imagem. E daqui posso ver, não é apenas uma imagem, é uma fotografia. Agora que sei que é uma fotografia, Tenho dúzias de técnicas de tradução binária para visualizar e entender a informação, e em uma questão de segundos, podemos pegar essa informação, passá-la por outra dúzia de técnicas de tradução visual para descobrir exatamente para o que estamos olhando. Eu vi -- (Risos) -- era o maldito gatinho de novo. Tudo isso é possível porque pudemos encontrar um modo de traduzir problemas muito difíceis para algo que nossos cérebros fazem com muita naturalidade. Então, o que isso significa? Bem, para gatinhos, significa que não podem mais se esconder em uns e zeros. Para mim, significa não ter mais fins de semana desperdiçados. Para a cibernética, significa que temos uma maneira radicalmente nova para lidar com os mais impossíveis problemas, significa que temos uma nova arma no cenário em evolução dos armamentos cibernéticos. Mas para todos nós, significa que a engenharia cibernética agora tem a habilidade de ser uma das primeiras a atender a situações de emergência. Quando os segundos contam, liberamos os meios para parar os vilões. Obrigado. (Aplausos)