0:00:06.700,0:00:10.931
Todos sabem que a morte[br]e os impostos são inevitáveis

0:00:10.931,0:00:13.626
mas o que se passa com a decomposição?

0:00:13.931,0:00:16.559
Como todos os que já viram[br]uma múmia sabem,

0:00:16.559,0:00:19.415
os antigos egípcios[br]investiram muito trabalho

0:00:19.415,0:00:21.586
para impedir a decomposição.

0:00:22.196,0:00:25.127
Até que ponto o conseguiram?

0:00:26.042,0:00:29.260
As células vivas[br]estão sempre a renovar-se.

0:00:29.260,0:00:32.271
As enzimas especializadas[br]decompõem estruturas envelhecidas

0:00:32.271,0:00:35.612
e usam as matérias-primas[br]para construir novas estruturas.

0:00:35.612,0:00:38.301
O que acontece quando uma pessoa morre?

0:00:38.730,0:00:41.591
As células mortas deixam de se renovar,

0:00:41.591,0:00:45.179
mas as enzimas continuam a decompor tudo.

0:00:45.179,0:00:47.795
Por isso, se quisermos preservar um corpo

0:00:47.795,0:00:49.881
temos que fazer parar essas enzimas

0:00:49.881,0:00:52.204
antes de os tecidos[br]começarem a decompor-se.

0:00:52.739,0:00:54.443
Os neurónios morrem rapidamente,

0:00:54.443,0:00:58.272
portanto, o cérebro era uma causa perdida[br]para os mumificadores do antigo Egito.

0:00:58.272,0:01:01.658
Assim, segundo Heródoto,[br]o historiador grego,

0:01:01.658,0:01:06.053
iniciavam o processo[br]enfiando um espeto no crânio,

0:01:06.053,0:01:09.146
esmagando o cérebro,[br]extraindo-o pelo nariz

0:01:09.146,0:01:13.868
e injetando três resinas no crânio[br]para impedir a continuação da decomposição.

0:01:14.954,0:01:17.664
O cérebro pode ser[br]o primeiro a degradar-se,

0:01:17.664,0:01:20.598
mas a decomposição[br]das entranhas é muito pior.

0:01:21.122,0:01:26.752
O fígado, o estômago e os intestinos [br]contêm enzimas digestivas e bactérias

0:01:26.752,0:01:31.374
que, logo a seguir à morte,[br]começam a comer o cadáver pelo interior.

0:01:32.127,0:01:36.750
Em primeiro lugar, os sacerdotes removiam [br]os pulmões e os órgãos abdominais.

0:01:36.675,0:01:39.762
Era difícil retirar os pulmões[br]sem danificar o coração

0:01:39.762,0:01:43.343
mas, como se acreditava[br]que o coração era a sede da alma,

0:01:43.343,0:01:45.608
era tratado com cuidados especiais.

0:01:45.608,0:01:47.819
Colocavam as vísceras em jarros,

0:01:47.819,0:01:51.159
cheios de um sal natural,[br]chamado natrão.

0:01:51.787,0:01:56.887
Tal como qualquer sal, o natrão impede[br]a decomposição, matando as bactérias

0:01:56.887,0:02:00.936
e impedindo o trabalho[br]das enzimas digestivas naturais do corpo.

0:02:01.251,0:02:04.573
Mas o natrão não é um sal qualquer.

0:02:04.783,0:02:07.991
É uma mistura de dois sais alcalinos,

0:02:07.991,0:02:10.832
carbonato de sódio e bicarbonato de sódio.

0:02:11.013,0:02:14.814
Os sais alcalinos são especialmente[br]mortíferos para as bactérias.

0:02:14.814,0:02:19.585
Podem transformar as membranas de gordura[br]numa substância rija, tipo sabonária,

0:02:19.585,0:02:22.439
mantendo assim a estrutura do cadáver.

0:02:22.839,0:02:25.201
Depois de tratarem dos órgãos internos,

0:02:25.201,0:02:29.279
os sacerdotes enchiam a cavidade do corpo[br]com sacos de mais natrão

0:02:29.279,0:02:32.153
e lavavam-no bem para desinfetar a pele.

0:02:32.696,0:02:37.569
Depois, o corpo era colocado[br]sobre uma camada de mais natrão

0:02:37.569,0:02:41.343
durante cerca de 35 dias[br]para preservar a carne exterior.

0:02:42.515,0:02:44.583
Quando o corpo era removido,

0:02:44.583,0:02:47.693
os sais alcalinos já tinham sugado[br]o fluido do corpo

0:02:47.693,0:02:50.549
e tinham formado[br]um massa castanha endurecida.

0:02:50.549,0:02:52.861
O cadáver não estava putrefacto,

0:02:52.861,0:02:55.427
mas também não cheirava lá muito bem.

0:02:56.188,0:02:59.188
Por isso, os sacerdotes despejavam[br]resina vegetal sobre o corpo,

0:02:59.188,0:03:00.577
para o impermeabilizar,

0:03:00.577,0:03:04.329
massajavam-no com uma mistura cerosa[br]que incluía óleo de cedro

0:03:04.329,0:03:06.872
e depois embrulhavam-no em linho.

0:03:07.148,0:03:08.863
Por fim, colocavam a múmia

0:03:08.863,0:03:11.304
numa série de caixões [br]encaixados uns nos outros

0:03:11.333,0:03:14.870
e, por vezes, num sarcófago de pedra.

0:03:14.907,0:03:19.180
Até que ponto os antigos egípcios[br]conseguiam impedir a decomposição?

0:03:19.694,0:03:24.634
Por um lado, as múmias não são[br]minimamente corpos humanos intactos.

0:03:24.853,0:03:28.826
O cérebro delas foi esmagado e extraído,

0:03:28.826,0:03:32.742
os órgãos foram retirados [br]e salgados como enchidos,

0:03:32.742,0:03:36.656
e cerca de metade da restante[br]massa corporal evaporou-se.

0:03:37.371,0:03:41.974
No entanto, o que resta está [br]espantosamente bem conservado.

0:03:41.974,0:03:43.948
Ao fim de milhares de anos,

0:03:43.948,0:03:46.582
os cientistas conseguem[br]fazer autópsias às múmias

0:03:46.582,0:03:48.685
para determinar quais as causas da morte

0:03:48.685,0:03:52.920
e, possivelmente, isolar amostras de ADN.

0:03:52.635,0:03:55.458
Isso tem-nos dado novas informações.

0:03:55.458,0:04:00.741
Por exemplo, parece que a poluição do ar[br]era um problema grave no Egito antigo,

0:04:01.370,0:04:05.602
provavelmente por causa das fogueiras[br]dentro de casa, usadas para cozer pão.

0:04:05.612,0:04:08.414
As doenças cardiovasculares[br]também eram comuns,

0:04:08.414,0:04:10.424
tal como a tuberculose.

0:04:11.691,0:04:16.387
Portanto, os antigos egípcios tiveram[br]algum êxito em impedir a decomposição.

0:04:16.473,0:04:20.682
Mas, tal como a morte,[br]os impostos são inevitáveis.

0:04:21.206,0:04:26.136
Quando as múmias eram transportadas,[br]eram taxadas como peixe salgado.