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Compañeros de Viaje

  • 0:19 - 0:30
    Companheiros de viagem
  • 0:32 - 0:36
    Desde o momento em que
    nascemos, e até antes,
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    estamos acompanhados.
  • 0:40 - 0:42
    Somos acompanhados pela família
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    e, normalmente, por profissionais
    de saúde.
  • 0:45 - 0:49
    Começa o apego, tão necessário
    para sobreviver
  • 0:49 - 0:52
    e também o desapego, dando
    lugar a uma dança
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    na qual ambos estarão
    mais ou menos presentes
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    ao longo da nossa vida.
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    Nascemos muito vulneráveis,
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    dependentes do mundo que nos rodeia
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    e assim começa a nossa viagem...
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    aprendendo com outros e de outros,
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    recolhendo a história e
    construindo a própria.
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    O princípio e o final da vida
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    são situações de emoções intensas
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    e de muita fragilidade física.
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    Ambas as experiências são
    de grande transcendência
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    para as pessoas que as partilham.
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    A nossa sociedade mudou,
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    vivemos mais anos e o período
    final alonga-se.
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    Estamos numa sociedade envelhecida,
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    e com modelos, formas
    e estilos de vida tais
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    que cada vez haverá mais pessoas
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    que se encontrarão sós
    no final da vida.
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    Desde meados do século passado,
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    profissionais da saúde como
    Elisabeth Kübler-Ross
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    e Cicely Saunders,
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    tomaram consciência de
    que, nos hospitais,
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    os doentes terminais tinham necessidades
    que não eram atendidas.
  • 2:11 - 2:13
    Os profissionais não
    se ocupavam deles,
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    considerando que já
    não os podiam curar.
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    Ao interessarem-se pelos
    desesperançados,
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    verificaram que podiam melhorar
    radicalmente a sua situação,
  • 2:23 - 2:25
    tanto no tratamento da dor
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    como na atenção às suas necessidades
    afetivas e espirituais.
  • 2:30 - 2:34
    Desde então, acumulou-se
    muito conhecimento
  • 2:34 - 2:37
    no campo profissional dos
    cuidados paliativos.
  • 2:40 - 2:43
    Neste documentário, tentaremos
    transmitir esta informação
  • 2:44 - 2:48
    assim como experiências e testemunhos
    de pessoas que já passaram por isso,
  • 2:49 - 2:52
    de modo a que possam ser úteis
    para acompanhar e cuidar.
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    Este documentário dirige-se
    sobretudo ao acompanhante.
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    Quando a cura é improvável,
    as prioridades mudam.
  • 3:04 - 3:08
    O afetivo e o espiritual convertem-se
    no mais importante.
  • 3:08 - 3:11
    E apesar da certeza de que
    o tempo de vida se reduz,
  • 3:11 - 3:13
    também é possível alargá-lo.
  • 3:14 - 3:16
    É possível viver uma vida
    inteira em poucas semanas.
  • 3:17 - 3:22
    Os doentes costumam reconsiderar
    o fundamental da sua existência.
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    Procuram reconciliar-se
    e despedir-se.
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    Precisam de estabelecer o legado
    que deixam aos outros
  • 3:31 - 3:34
    e ponderar, de acordo
    com as suas convicções,
  • 3:34 - 3:38
    sobre o sentido da vida
    e a transcendência.
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    O acompanhante também enfrenta
  • 3:42 - 3:45
    os temas mais importantes
    da sua existência
  • 3:45 - 3:48
    e terá a oportunidade de finalizar
  • 3:48 - 3:51
    da melhor maneira a sua relação
    com a pessoa doente.
  • 4:02 - 4:03
    Eu levei a minha mãe às urgências.
  • 4:04 - 4:10
    Um trinta de novembro, pensando
    que teria uma infeção grave,
  • 4:10 - 4:15
    e que, depois de a estabilizarem,
    a mandariam para casa.
  • 4:16 - 4:19
    O pior nem sequer é dizerem-nos
    que a nossa mãe tem cancro.
  • 4:19 - 4:23
    Para mim, o pior foi terem-me
    dito que tinha cancro e
  • 4:24 - 4:28
    que não se podia fazer nada,
    absolutamente nada por ela.
  • 4:28 - 4:30
    Nada mais para além
    de esperar a morte.
  • 4:31 - 4:34
    Até saber o diagnóstico
  • 4:34 - 4:37
    há um período de incerteza
    de uns dias, algum tempo,
  • 4:37 - 4:42
    que é muito difícil de
    suportar, realmente.
  • 4:42 - 4:47
    Todos os dias me levantava
    e pensava:
  • 4:48 - 4:52
    será hoje? Será amanhã?
  • 4:53 - 5:00
    Era como se essa incerteza me
    estivesse a comer por dentro.
  • 5:00 - 5:04
    Pois, o que hei de dizer? Senti
    o corpo todo a tremer, percebes?
  • 5:05 - 5:08
    mas pronto, pronto. Isto é meu.
  • 5:08 - 5:10
    Eu tenho-o e acabou-se.
  • 5:10 - 5:12
    Quando a desordem inicial,
  • 5:12 - 5:15
    devida ao impacto da notícia,
    se começa a superar,
  • 5:16 - 5:19
    é altura de nos organizarmos
    e tomarmos decisões.
  • 5:20 - 5:24
    Toda a família fica afetada porque
    é necessário cuidar do doente
  • 5:24 - 5:28
    e substituí-lo nas funções
    que tinha anteriormente.
  • 5:29 - 5:32
    Na família, se se mexe uma parte,
  • 5:32 - 5:35
    todo o conjunto se mexe em
    uníssono para o compensar.
  • 5:36 - 5:38
    Onde queria estar,
    como queria estar...
  • 5:38 - 5:41
    nós falávamos com ele
    e com essa informação,
  • 5:41 - 5:44
    juntávamo-nos, os quatro irmãos,
    e víamos o que fazer.
  • 5:44 - 5:47
    Por causa da nova situação, é preciso
    fazer algumas mudanças.
  • 5:48 - 5:52
    Por exemplo, uma pessoa que não
    tratava das coisas da casa,
  • 5:52 - 5:55
    tem de começar a ocupar-se
    se houver filhos,
  • 5:56 - 5:59
    os filhos também têm de reestruturar
    um pouco a sua vida.
  • 6:00 - 6:03
    É importante que o doente
    partilhe toda a informação
  • 6:03 - 6:06
    e possa tomar as suas
    próprias decisões.
  • 6:07 - 6:09
    E, claro, eu sabia que
    o impacto de dizer
  • 6:10 - 6:12
    "tu tens cancro" ia
    ser muito grande.
  • 6:13 - 6:16
    A minha preocupação era: quem lhe
    vai dizer, como o vai fazer?
  • 6:16 - 6:18
    Dizemos-lhe a verdade, não dizemos?
  • 6:18 - 6:21
    Acabamos por nos conformar,
    um pouco contrariados,
  • 6:21 - 6:23
    mas depois vimos que foi o melhor.
  • 6:25 - 6:28
    Além do mais, ele assim teria
    gostado e assim foi.
  • 6:28 - 6:30
    Ele quis saber a verdade
    em todos os momentos.
  • 6:30 - 6:35
    Atrevo-me a dizer que, as
    decisões que fomos tomando,
  • 6:36 - 6:38
    se não cem por cento dos casos,
  • 6:38 - 6:41
    noventa e oito por cento,
    foram tomadas pelo meu pai.
  • 6:41 - 6:43
    E eu julgo que cada vez
    mais se vai incluindo
  • 6:44 - 6:46
    os doentes e os cuidadores,
  • 6:46 - 6:50
    para poderem participar nas decisões
    de recusa de tratamento,
  • 6:50 - 6:54
    e preferir abordagens paliativas a
    partir de outras fases da doença.
  • 6:55 - 6:58
    E foi então que ele disse, olha
    eu não quero mais quimio,
  • 6:58 - 7:00
    se me puderem dar radio, sim.
  • 7:00 - 7:04
    Mas eu, que pela segunda vez, vejo
    que a quimio não me faz nada,
  • 7:05 - 7:07
    não quero saber mais
    nada da quimio.
  • 7:07 - 7:10
    Então, foi quando a oncologista disse,
    deixo a decisão nas suas mãos.
  • 7:11 - 7:15
    Através do testamento vital
    é possível registar decisões
  • 7:15 - 7:20
    relativas a um momento futuro
    no qual não as possa expressar.
  • 7:21 - 7:25
    As instruções prévias, é o que
    a pessoa quer que se faça
  • 7:25 - 7:28
    quando não possa decidir
    por ela própria.
  • 7:28 - 7:30
    Eu definiria de uma
    maneira simples,
  • 7:31 - 7:34
    que o testamento vital não é mais
    do que prolongar a autonomia
  • 7:34 - 7:36
    e a capacidade de
    decidir do doente,
  • 7:37 - 7:40
    quando está num momento no
    qual já não pode decidir.
  • 7:40 - 7:43
    O testamento vital não se destina a
    quando uma pessoa se pode expressar.
  • 7:43 - 7:46
    Mesmo que uma pessoa tenha
    feito um testamento vital,
  • 7:46 - 7:49
    prevalecerá o que disser
    naquele momento.
  • 7:50 - 7:52
    Uma das decisões que é
    preciso tomar é sobre
  • 7:52 - 7:56
    se vai viver a última etapa
    no hospital ou em casa.
  • 7:57 - 8:01
    Evidentemente, uma coisa que
    nos satisfez muitíssimo,
  • 8:01 - 8:04
    à família mais próxima,
  • 8:04 - 8:08
    foi respeitar que, ele sempre
    nos disse o que queria,
  • 8:09 - 8:10
    que queria morrer em casa.
  • 8:11 - 8:12
    E cumpriu-se o seu desejo.
  • 8:13 - 8:18
    Também podemos pensar: claro,
    isso não é assim tão fácil
  • 8:18 - 8:23
    Se não se consegue controlar essa
    doença e é necessário interná-lo,
  • 8:23 - 8:27
    mas chega um momento em que
    já não podemos fazer nada,
  • 8:27 - 8:29
    porque é que há de
    morrer num hospital?
  • 8:31 - 8:33
    Depois veio outra fase,
    que começou no verão,
  • 8:33 - 8:37
    quando a oncologista lhe disse
    que já não podia fazer mais,
  • 8:37 - 8:39
    Disse-lhe que já não lhe
    podia dar mais medicação,
  • 8:40 - 8:41
    porque a doença se tinha agravado
  • 8:42 - 8:45
    e tinha de passar a outros
    médicos de paliativos,
  • 8:45 - 8:48
    que o iam acompanhar
    no processo seguinte.
  • 8:49 - 8:54
    Foi quando a médica
    responsável decidiu,
  • 8:54 - 8:58
    que o melhor, visto que já
    não haveria mais tratamento,
  • 8:59 - 9:01
    eram os cuidados paliativos.
  • 9:02 - 9:07
    Os cuidados paliativos destinam-se
    especificamente
  • 9:08 - 9:15
    a aliviar o sofrimento, a melhorar
    a qualidade de vida, dar conforto
  • 9:16 - 9:21
    aos pacientes e às suas famílias,
    amigos próximos que cuidam deles,
  • 9:22 - 9:26
    com doenças crónicas
    muito avançadas,
  • 9:27 - 9:30
    ou em fase, como nós
    dizemos, terminal.
  • 9:30 - 9:32
    Não existe um momento determinado,
  • 9:32 - 9:37
    é quando se vê claramente que as possibilidades
    de tratamento curativo
  • 9:38 - 9:40
    se vão perdendo.
  • 9:40 - 9:42
    Em princípio, são os
    profissionais de saúde
  • 9:42 - 9:45
    que solicitam a intervenção de uma
    equipa de cuidados paliativos.
  • 9:45 - 9:47
    Mas isto não impede que
    em certas ocasiões,
  • 9:47 - 9:50
    em que o profissional não peça
    estes serviços, que a família,
  • 9:50 - 9:53
    tendo conhecimento deles, possa
    entrar em contacto connosco.
  • 9:53 - 9:56
    No nosso caso, é uma equipa
    de atendimento domiciliário.
  • 9:56 - 9:59
    O nosso trabalho é ver
    e atender os pacientes,
  • 9:59 - 10:01
    sobretudo nas suas casas.
  • 10:02 - 10:04
    Em relação aos cuidados, as
    necessidades da família são:
  • 10:04 - 10:07
    em primeiro lugar, saber
    que o podem fazer.
  • 10:07 - 10:11
    Podem fazer-se muitas coisas, e
    cuidar engloba tudo o que se faz,
  • 10:11 - 10:14
    que é dar ferramentas à família,
  • 10:14 - 10:17
    dar ferramentas ao paciente,
    para que sintam
  • 10:17 - 10:19
    que existe um propósito
    para estarem ali.
  • 10:20 - 10:24
    E que o mais básico, como aquecer
    o creme no micro-ondas
  • 10:24 - 10:27
    numa taça, para que não sinta
    o frio quando lho pões,
  • 10:27 - 10:28
    isso é cuidar.
  • 10:28 - 10:31
    Ensinar a família a preparar
    algumas refeições,
  • 10:31 - 10:32
    o não obrigar o paciente a comer,
  • 10:33 - 10:33
    isso é cuidar.
  • 10:34 - 10:36
    É dizer-lhes: estão a fazer
    as coisas muito bem,
  • 10:36 - 10:37
    isso é cuidar.
  • 10:37 - 10:40
    A educação sanitária nos
    seus aspetos mais básicos,
  • 10:40 - 10:47
    como a higiene, os tratamentos,
    saber como movê-los na cama.
  • 10:47 - 10:50
    Nós ensinamos-lhes uma
    parte muito básica
  • 10:51 - 10:54
    e, normalmente, eles ensinam-nos
    muito mais coisas,
  • 10:54 - 10:58
    porque quem conhece verdadeiramente
    o paciente é a família,
  • 10:58 - 11:01
    e por vezes encontram soluções
    tão interessantes
  • 11:01 - 11:03
    que apetece dizer "vamos
    registar a patente disto".
  • 11:03 - 11:08
    Ou seja, julgo que o que mais precisam
    é de segurança no que podem fazer.
  • 11:08 - 11:13
    Saber o que devo fazer
    se tem febre,
  • 11:13 - 11:18
    se existe algum sítio onde
    o levar, a quem devo ligar.
  • 11:19 - 11:24
    Toda essa informação que me deram,
    deu-me muita segurança.
  • 11:24 - 11:27
    Na ajuda ao controlo da dor,
  • 11:27 - 11:29
    os familiares têm dois papéis.
  • 11:29 - 11:33
    Por um lado, o meramente técnico
    de ministrar os analgésicos,
  • 11:34 - 11:36
    as doses e com as regras
  • 11:36 - 11:38
    ditadas pelos profissionais
    que o atendem,
  • 11:39 - 11:41
    e normalmente as pessoas
    fazem-no bem.
  • 11:41 - 11:45
    Mas também há outras medidas
    não farmacológicas
  • 11:46 - 11:50
    que ajudam os pacientes a
    ter um bom controlo da dor.
  • 11:50 - 11:53
    Por exemplo, para que o paciente esteja
    descansado, se sinta acompanhado,
  • 11:54 - 11:56
    possa comunicar com
    os seus familiares...
  • 11:57 - 12:00
    A prática de cuidados paliativos
    evoluiu muito
  • 12:01 - 12:04
    e ajuda os doentes a viver
    a etapa final sem dor
  • 12:05 - 12:07
    e, ao mesmo tempo, com lucidez.
  • 12:08 - 12:11
    Quando existe um cancro, uma
    qualquer doença terminal
  • 12:12 - 12:15
    não há justificação para que
    o doente sofra com dores,
  • 12:15 - 12:18
    pois existem meios suficientes
    para que o doente não sofra.
  • 12:19 - 12:24
    Pareceu-nos fundamental o contributo
    dado pela questão dos paliativos,
  • 12:24 - 12:26
    o contributo nesse momento,
    tal como ele estava,
  • 12:26 - 12:29
    porque ele começava a enfrentar
    a hipótese de morrer asfixiado...
  • 12:30 - 12:36
    O analgésico típico para pacientes
    em final de vida, é a morfina.
  • 12:36 - 12:39
    E em relação à morfina existe uma
    ideia errada muito negativa.
  • 12:39 - 12:46
    A morfina adormece, a morfina
    anula a lucidez,
  • 12:46 - 12:50
    a morfina torna o paciente
    toxicomaníaco...
  • 12:50 - 12:54
    bom, eu creio que é preciso
    afastar todas estas coisas.
  • 12:54 - 12:56
    Porque todos sabemos,
    neste momento,
  • 12:57 - 13:01
    que a morfina usada em pacientes
    com dor de intensidade severa,
  • 13:01 - 13:03
    não diminui a lucidez.
  • 13:03 - 13:06
    A sedação paliativa só é aplicada
  • 13:06 - 13:09
    em último recurso perante
    dores intratáveis.
  • 13:11 - 13:19
    A sedação paliativa consiste em ministrar
    fármacos sedativos suficientes
  • 13:20 - 13:24
    com a intenção de reduzir o nível
    de consciência do paciente,
  • 13:25 - 13:30
    o suficiente para
    assegurar conforto,
  • 13:31 - 13:35
    e controlar o sofrimento,
    a dor, o sufoco, a agitação
  • 13:36 - 13:41
    Para tratar sintomas que não podemos
    controlar de outra forma,
  • 13:41 - 13:43
    a que chamamos sintomas
    refratários.
  • 13:44 - 13:48
    E para garantir que as pessoas
    possam morrer sem dor,
  • 13:48 - 13:53
    possam morrer sem agitação ou
    sem dificuldades respiratórias,
  • 13:53 - 13:55
    que é algo que aterroriza
    as pessoas, não é?
  • 13:56 - 14:01
    Também é muito importante saber que
    sedação terminal não é a eutanásia.
  • 14:01 - 14:05
    Que a sedação terminal não é colaborar
    no suicídio assistido,
  • 14:05 - 14:09
    que a sedação terminal é uma ferramenta
    terapêutica, como se diz,
  • 14:10 - 14:16
    é um processo completamente legal.
  • 14:16 - 14:17
    Estas duas circunstâncias,
  • 14:18 - 14:22
    são as mais frequentes para indicar
    uma sedação paliativa.
  • 14:22 - 14:25
    Normalmente, está-se próximo
    do final da vida
  • 14:26 - 14:32
    e esgotaram-se, também,
    outras soluções
  • 14:32 - 14:37
    que não impliquem uma redução do
    nível de consciência do paciente.
  • 14:38 - 14:41
    Para além da dor física, pode-se
    sofrer por vários motivos,
  • 14:42 - 14:44
    emocionais, de origem social...
  • 14:44 - 14:48
    Portanto, a assistência não se
    esgota no alívio da dor física,
  • 14:48 - 14:52
    a uma dor total corresponde
    uma "medicina total"
  • 14:52 - 14:54
    que abarque todas as necessidades.
  • 14:55 - 14:57
    Eu considero os cuidados paliativos
  • 14:57 - 15:00
    um direito fundamental da pessoa.
  • 15:00 - 15:05
    Provavelmente, se revirmos a declaração
    universal dos direitos humanos,
  • 15:06 - 15:12
    estão lá todas estas necessidades
    de atenção no final de vida,
  • 15:12 - 15:15
    para preservar a dignidade
    e o sentido da vida.
  • 15:17 - 15:19
    O doente e a sua família
    embarcam num processo
  • 15:20 - 15:23
    de muita instabilidade
    e intensidade emotivas.
  • 15:24 - 15:28
    Bom, às vezes tudo isso parece
    uma montanha russa,
  • 15:29 - 15:34
    porque são momentos muito importantes
    e ao mesmo tempo muito difíceis.
  • 15:35 - 15:41
    Sentimos raiva, culpa, pensamos
    que estamos a exagerar,
  • 15:41 - 15:45
    que vai recuperar-se,
    mantemos a esperança,
  • 15:45 - 15:49
    e depois, se calhar ao fim de dez
    minutos, a esperança quebra-se
  • 15:49 - 15:52
    e voltamos a sentir
    raiva outra vez.
  • 15:53 - 15:56
    Podem distinguir-se etapas ou
    passos que são bastante comuns,
  • 15:56 - 16:01
    ainda que cada pessoa viva as coisas
    à sua maneira, podendo variar a ordem,
  • 16:01 - 16:04
    a duração de cada passo ou
    a existência de alguns.
  • 16:05 - 16:11
    A situação de cuidar de um
    doente com doença avançada,
  • 16:11 - 16:13
    é, para o familiar,
    para o cuidador,
  • 16:13 - 16:16
    uma situação de desgaste
    físico e emocional.
  • 16:17 - 16:20
    Ao receber a notícia, frequentemente
    começa-se por negá-la,
  • 16:21 - 16:24
    dizendo, por exemplo,
    "deve ser um erro".
  • 16:25 - 16:27
    É importante procurar a maneira
  • 16:27 - 16:31
    de a comunicar ao doente com
    franqueza, mas com tato.
  • 16:32 - 16:33
    Desde o início do verão,
  • 16:34 - 16:38
    todo o processo durou dois meses,
    num primeiro momento não aceitou,
  • 16:39 - 16:44
    a médica disse-lhe que
    sim...e ele "não".
  • 16:44 - 16:48
    Podemos compreender que é uma
    notícia difícil de assumir
  • 16:48 - 16:51
    e a negação cumpre a
    função de amortecedor,
  • 16:51 - 16:55
    que permite uma distância,
    até que, psicologicamente,
  • 16:55 - 16:59
    se encontre preparado para
    aceitar a nova situação.
  • 17:00 - 17:02
    O doente tem direito à informação,
  • 17:03 - 17:06
    mas também tem direito a não saber
  • 17:06 - 17:09
    ou a ir sabendo de acordo
    com o seu ritmo pessoal.
  • 17:10 - 17:13
    O direito a saber não implica
    a obrigação de saber.
  • 17:13 - 17:18
    Outro tipo de negação é a que
    se produz à volta do paciente
  • 17:18 - 17:21
    ao fazer de conta que a
    morte não vai acontecer.
  • 17:22 - 17:26
    É o que se chama "a conspiração
    do silêncio".
  • 17:29 - 17:32
    Muitas vezes, os familiares,
    com o objetivo de proteger,
  • 17:32 - 17:35
    não querem falar com o doente
    do mau prognóstico
  • 17:35 - 17:38
    ou do fim de vida.
  • 17:38 - 17:46
    Isto coloca os doentes numa
    jaula de incomunicação,
  • 17:46 - 17:50
    que muitas vezes leva a um
    pior controlo sintomático.
  • 17:51 - 17:53
    Se o doente puder falar
    abertamente das coisas,
  • 17:53 - 17:57
    ser-lhe-á mais fácil controlar
    os sintomas em geral
  • 17:57 - 17:58
    e, sobretudo, a dor.
  • 18:00 - 18:03
    Aos doentes, aos pacientes, quando estão
    com um grave problema de saúde
  • 18:03 - 18:05
    ou no final da vida,
  • 18:05 - 18:07
    sei que em muitas ocasiões,
    vós, os cuidadores,
  • 18:07 - 18:10
    tentais ser tão cuidadosos,
    que acabais por dizer,
  • 18:10 - 18:13
    "não lhe mostramos isto não
    vá a situação alterar-se".
  • 18:13 - 18:16
    Eu dir-vos-ia que, com
    toda a liberdade,
  • 18:16 - 18:19
    sobretudo deveis estar atentos aos
    gestos, aos sinais que eles enviam,
  • 18:19 - 18:23
    e a partir daí, responder-lhes
    na forma de perguntas,
  • 18:23 - 18:25
    e sentindo-se escutados,
  • 18:25 - 18:28
    a relevância, a centralidade
    que tem tudo isso.
  • 18:28 - 18:32
    Aceitar a doença e a morte não
    é o mesmo que resignar-se.
  • 18:33 - 18:37
    A resignação é passiva e paralisa
    perante o sofrimento.
  • 18:38 - 18:42
    Mas a aceitação que
    a morte é inevitável,
  • 18:43 - 18:45
    abre o caminho para
    mudar as coisas.
  • 18:45 - 18:48
    Digo a todos os que estiverem assim,
    nas mesmas circunstâncias,
  • 18:48 - 18:50
    que o encarem desse modo.
  • 18:50 - 18:52
    Não é nada de mais.
  • 18:52 - 18:56
    Além do mais, ainda que uma pessoa
    queira pensar outra coisa,
  • 18:56 - 19:00
    não vai haver outra
    coisa, é o que há.
  • 19:01 - 19:07
    Por isso, não vale a pena dar
    muitas voltas ao assunto.
  • 19:08 - 19:12
    Inicialmente, o doente
    pode reagir com raiva,
  • 19:12 - 19:16
    surge muito frequentemente
    a pergunta "porquê a mim?" .
  • 19:16 - 19:19
    Nesse primeiro momento,
    ele não aceitou.
  • 19:19 - 19:23
    Passaram-se alguns dias de
    negação, depois de raiva.
  • 19:24 - 19:26
    Começou a ficar muito zangado.
  • 19:26 - 19:30
    Esta ira pode ir contra si mesmo,
    contra os profissionais de saúde,
  • 19:30 - 19:34
    contra familiares ou acompanhantes,
    contra Deus...
  • 19:34 - 19:37
    O mais normal é que a
    raiva seja projetada
  • 19:37 - 19:41
    contra as pessoas de que mais
    gosta e que cuidam mais dele.
  • 19:42 - 19:45
    Impaciência, frustração,
    irritabilidade
  • 19:46 - 19:49
    e isto é suportado pelo
    familiar no dia a dia.
  • 19:50 - 19:54
    Então, o familiar pode zangar-se
    com o paciente,
  • 19:55 - 20:01
    e isso também gera uma ambivalência
    que é um bocado difícil.
  • 20:01 - 20:04
    Como é que me posso zangar com
    uma pessoa que vai morrer?
  • 20:05 - 20:10
    Mas o que acontece é que
    a pessoa está irritada
  • 20:10 - 20:16
    e custa um bocado perceber,
    que esta pessoa...
  • 20:16 - 20:19
    não é a pessoa que fala,
    quem fala é a doença.
  • 20:20 - 20:23
    Pondo de lado alguns momentos de
    mau génio, que também os houve,
  • 20:23 - 20:25
    de me responder mal e assim.
  • 20:26 - 20:30
    Mas eu compreendia-o, já
    tinha males que chegassem,
  • 20:30 - 20:32
    era contra isso que ele lutava.
  • 20:32 - 20:37
    Eu não sentia que estivesse contra
    mim, em nenhum momento,
  • 20:37 - 20:41
    era uma forma de desabafar,
    de se aliviar, de dizer,
  • 20:41 - 20:44
    "Mas porque é que me calhou a mim?
    Porque é que estou aqui fechado?
  • 20:44 - 20:46
    Porque é que estou a sofrer assim?"
  • 20:47 - 20:49
    Era simplesmente isso,
    uma descarga,
  • 20:49 - 20:54
    uma forma de soltar toda a angústia
    que o paciente leva.
  • 20:54 - 20:56
    Não é necessário rever os cuidados,
  • 20:56 - 21:02
    não é caso para sentir-se mal pensando
    que não se está a fazer bem.
  • 21:02 - 21:05
    Mas ele estava consciente e recuava
  • 21:05 - 21:07
    e pedia-me perdão constantemente.
  • 21:07 - 21:10
    "Eu não quero, às vezes
    estou nervoso,
  • 21:10 - 21:17
    custa-me aceitar, vou morrer
    e não quero", dizia.
  • 21:18 - 21:22
    Era que eu teria querido para mim
  • 21:23 - 21:27
    e o que eu quereria para mim
    foi o que tentei dar-lhe.
  • 21:29 - 21:34
    E também podemos transmitir
    emoções ou sentimentos,
  • 21:34 - 21:36
    que nos façam sentir
    culpados, não é?
  • 21:36 - 21:38
    Quando se vê que a pessoa
    está a sofrer muito,
  • 21:39 - 21:42
    pode-se desejar que morra
    para que não sofra
  • 21:42 - 21:44
    e depois pode ser difícil
    lidar com isso.
  • 21:45 - 21:51
    Quando, na verdade, é muito justo
    querer que a pessoa não sofra,
  • 21:52 - 21:54
    mas é um tipo de sentimento
  • 21:54 - 21:57
    que talvez não seja
    socialmente aceite
  • 21:59 - 22:03
    e por isso geram um pouco de culpa.
  • 22:03 - 22:08
    Um dos sentimentos mais inapropriados
    ou menos práticos,
  • 22:08 - 22:10
    por assim dizer,
  • 22:10 - 22:12
    é o sentimento de culpa.
  • 22:12 - 22:16
    E só prestaremos cuidados
    de qualidade
  • 22:16 - 22:19
    se estivermos bem.
  • 22:20 - 22:22
    Negociação.
  • 22:22 - 22:24
    Ocorre um diálogo interno,
  • 22:25 - 22:28
    como se se estivesse a
    negociar a sua situação.
  • 22:28 - 22:32
    Costuma estar relacionada com assuntos
    pendentes e despedidas.
  • 22:33 - 22:37
    Mas uma vez celebrado o casamento,
  • 22:37 - 22:40
    "eu já cumpri e tudo
    o que vier agora..."
  • 22:40 - 22:42
    e a mim disse-mo "tudo
    o que me acontecer",
  • 22:43 - 22:46
    "já não me importa, se
    tiver de morrer, morro,
  • 22:46 - 22:50
    se este é o meu final
    já não me importa".
  • 22:50 - 22:54
    "Eu já cumpri com a minha
    filha, convosco,
  • 22:55 - 22:57
    não quis estragar este dia
    tão bonito à minha filha".
  • 22:57 - 22:59
    "E tudo o que acontecer agora..."
  • 23:01 - 23:03
    Ao aceitar que a situação
    é inevitável
  • 23:03 - 23:05
    passa-se por uma espécie
    de depressão
  • 23:06 - 23:08
    que muitas vezes não
    se pode evitar.
  • 23:10 - 23:14
    Se se permite expressar a dor,
    isso ajuda à aceitação final.
  • 23:16 - 23:18
    Nesse sentido, não servem para nada
  • 23:19 - 23:21
    as atitudes positivas forçadas
  • 23:21 - 23:23
    ou fingir para dar ânimo.
  • 23:24 - 23:26
    Muitas vezes são necessárias
    poucas palavras,
  • 23:27 - 23:32
    mas o que sempre ajuda é estar
    presente, disponível.
  • 23:34 - 23:35
    Falámos de todas estas coisas.
  • 23:36 - 23:38
    Falámos de todos os nossos medos,
  • 23:38 - 23:40
    de todas as nossas preocupações.
  • 23:41 - 23:43
    Abrimos totalmente
    os nossos corações.
  • 23:44 - 23:47
    É importante abrir os corações...
  • 23:47 - 23:50
    Quero dizer, há coisas que
    às vezes nos parecem enormes
  • 23:50 - 23:54
    e que parecem tão importantes
    e depois não são importantes.
  • 23:54 - 23:57
    Então, essa necessidade de falar,
    de ser ouvido sem julgar
  • 23:57 - 23:59
    o que ele estava a contar.
  • 23:59 - 24:06
    Essa foi também uma necessidade
    muito forte que eu vi nele.
  • 24:07 - 24:11
    O distanciamento é o descanso
    no fim da viagem.
  • 24:11 - 24:15
    Além disso, quando
    chegar o momento,
  • 24:15 - 24:18
    julgo que vou até estar
    contente e tudo,
  • 24:19 - 24:21
    quando chegar o momento.
  • 24:22 - 24:26
    Porque sei que vou
    descansar também.
  • 24:27 - 24:29
    O doente reduz a sua
    atividade ao mínimo,
  • 24:29 - 24:34
    fala pouco e perde interesse
    por aquilo que o rodeia.
  • 24:34 - 24:37
    Deseja estar só ou com uma
    companhia muito reduzida.
  • 24:38 - 24:41
    Isto acontece porque se está
    a preparar para partir
  • 24:42 - 24:45
    e o acompanhante pode sofrer
    ao sentir-se ignorado
  • 24:46 - 24:48
    se não compreende esta
    etapa de distanciamento.
  • 24:48 - 24:50
    Precisa de se virar para si mesmo
  • 24:51 - 24:56
    e de se ir preocupando menos
    pelos que estão à sua volta.
  • 24:56 - 24:59
    Às vezes, isso faz com que
    os cuidadores se sintam mal.
  • 24:59 - 25:02
    Fá-los sentir que já não são úteis,
  • 25:02 - 25:05
    ou fá-los sentir que essa
    pessoa de quem gostam tanto
  • 25:06 - 25:08
    já não precisa tanto deles.
  • 25:10 - 25:12
    É preciso deixá-los partir.
  • 25:12 - 25:14
    E para os deixar partir
  • 25:14 - 25:17
    é preciso permitir-lhes
    esse desligamento.
  • 25:18 - 25:21
    Sentir que os entes queridos
    não aceitam a morte do doente,
  • 25:22 - 25:24
    pode provocar angústia.
  • 25:25 - 25:27
    É importante "dar-lhe
    licença" para partir.
  • 25:28 - 25:32
    O que se deve fazer é deixar
    partir a outra pessoa.
  • 25:33 - 25:37
    E que parta tranquila,
    pelos que ficam.
  • 25:40 - 25:43
    E disse-nos muitas vezes, não
    quero que choreis por mim,
  • 25:43 - 25:47
    porque me fareis sofrer, quando estiver
    lá em cima, se chorais por mim.
  • 25:47 - 25:49
    Quando chegar o momento
    já estarei preparado.
  • 25:50 - 25:53
    Como gostas tanto dessa
    pessoa e lhe queres bem,
  • 25:53 - 25:57
    dizes-lhe que sim, que
    vá, que descanse,
  • 25:57 - 26:02
    que estamos com ele e que vamos
    gostar dele para sempre.
  • 26:03 - 26:07
    De facto, quando estávamos
    todos com ele,
  • 26:07 - 26:10
    demos-lhe licença para partir,
  • 26:10 - 26:12
    dissemos-lhe que podia partir.
  • 26:12 - 26:15
    Eu disse-lhe, papá, podes
    ir, está tudo bem.
  • 26:15 - 26:20
    Estamos todos bem
    e foste fantástico.
  • 26:21 - 26:23
    Eu gostava de falar um pouco sobre
  • 26:23 - 26:26
    o legado que nos deixou
    a mulher de um paciente
  • 26:26 - 26:28
    que acompanhámos na sua casa.
  • 26:28 - 26:32
    Era um paciente muito jovem,
    de trinta e sete anos,
  • 26:32 - 26:34
    diagnosticado com
    um cancro no fígado
  • 26:34 - 26:37
    e a sua mulher acompanhou-o sempre.
  • 26:37 - 26:39
    Desde o início do diagnóstico,
    até ao fim.
  • 26:40 - 26:43
    Ela, com esse desenho,
    quis representar…
  • 26:45 - 26:48
    a linha violeta é
    a linha da doença,
  • 26:48 - 26:50
    desde o diagnóstico até à morte
  • 26:51 - 26:53
    e todos esses bonequinhos
    que aparecem por baixo
  • 26:53 - 26:56
    da linha da doença e da morte,
  • 26:56 - 26:59
    são todos os profissionais de saúde
  • 26:59 - 27:02
    que foram acompanhando
    o doente no hospital,
  • 27:02 - 27:05
    as equipas de psicólogos,
    os cirurgiões.
  • 27:06 - 27:08
    No momento em que entra,
  • 27:08 - 27:10
    já na fase final da doença,
  • 27:10 - 27:12
    a equipa de cuidados paliativos.
  • 27:13 - 27:16
    E no final ele decidiu recorrer
  • 27:16 - 27:19
    a uma unidade de cuidados paliativos
    hospitalares para morrer
  • 27:19 - 27:21
    e também eles estão representados
  • 27:21 - 27:23
    no final desta doença, não é?
  • 27:23 - 27:25
    Este é o paciente, Carlos,
  • 27:25 - 27:30
    ia acompanhando Laura a
    percorrer esta doença,
  • 27:30 - 27:33
    que tinha chegado à meta,
    ao final da sua vida.
  • 27:34 - 27:38
    Ela, com este desenho, quis agradecer-nos
    o acompanhamento
  • 27:38 - 27:42
    que teve da parte da nossa equipa
    e dos restantes profissionais
  • 27:42 - 27:45
    que a acompanharam neste
    longo processo.
  • 27:45 - 27:49
    "Para todos os integrantes do ESAD,
    tornais fácil o que é difícil"
  • 27:49 - 27:52
    Que é de certo modo
    um dos nossos lemas.
  • 27:52 - 27:59
    E depois de passar esses
    dias de agonia com Carlos,
  • 27:59 - 28:02
    essas dores tão fortes e esses dias
  • 28:02 - 28:05
    que para nós foram muito
    cinzentos e muito escuros,
  • 28:05 - 28:08
    quando chegou a equipa de paliativos,
    de repente a casa,
  • 28:08 - 28:14
    eu tive a sensação de que
    tinha chegado o sol, a luz.
  • 28:14 - 28:17
    As equipas de cuidados paliativos,
  • 28:17 - 28:20
    prestaram-me um serviço estupendo,
  • 28:20 - 28:24
    incrível, porque me
    trataram como...
  • 28:24 - 28:28
    São os meus anjos terapêuticos,
    de facto.
  • 28:29 - 28:33
    Sempre que chegava o dia,
    era um dia alegre para nós.
  • 28:35 - 28:39
    Mais, houve um longo período de
    quinze dias em que não viriam
  • 28:39 - 28:41
    e eu só dizia: "não vêm nos
    próximos quinze dias?"
  • 28:41 - 28:44
    Não pode ser, precisamos
    de vocês semanalmente,
  • 28:44 - 28:49
    vocês dão-nos uma injeção de vida,
    uma injeção de esperança...
  • 28:49 - 28:52
    Tem a ver com sentires que partilhas
    sangue e pele com outros seres
  • 28:53 - 28:55
    que te abrigam quando está frio,
    que recolhem as tuas lágrimas
  • 28:55 - 28:59
    num potezinho para as transformar
    numa poção curativa.
  • 28:58 - 29:02
    Por isso, obrigado por nos iluminares
    com um raio de esperança,
  • 29:02 - 29:04
    por nos fazeres reparar
    que um braço amigo
  • 29:04 - 29:06
    pousa nos nossos ombros para
    nos acompanhar no caminho.
  • 29:06 - 29:09
    No bom caminho de um mundo
    diferente e melhor.
  • 29:09 - 29:11
    Muitíssimo obrigado.
  • 29:14 - 29:16
    Olha, agora ajudam-me com carinho,
  • 29:19 - 29:21
    Podes ver como gostam de mim,
  • 29:22 - 29:28
    não me falta nada em cima
    da mesa. Nada me falta.
  • 29:29 - 29:32
    Do que é que eu precisava?
    Eu julgo que precisava
  • 29:32 - 29:35
    de tudo o que me deram.
    Deram-me tudo!
  • 29:36 - 29:39
    Precisava de ferramentas
    internas, que me davam,
  • 29:39 - 29:42
    precisava de ânimo, que me davam,
    precisava de desabafar
  • 29:42 - 29:46
    e vinham ver-me e eu podia
    falar com eles e desabafar.
  • 29:46 - 29:48
    às vezes chorava, às vezes ria,
  • 29:48 - 29:52
    às vezes partilhava
    experiências bonitas.
  • 29:52 - 29:57
    Estão a viver uma situação igual
    à nossa, com outro familiar,
  • 29:57 - 30:00
    estão na mesma situação que nós.
  • 30:00 - 30:03
    E por isso cria-se uma
    espécie de cumplicidade,
  • 30:04 - 30:08
    de relação de amizade.
  • 30:09 - 30:13
    Mas é uma relação de amizade
    que inclui o apoio,
  • 30:13 - 30:16
    inclui o darem-te ânimo,
  • 30:17 - 30:19
    a preocupação pelo teu familiar.
  • 30:20 - 30:22
    Histórias que se redescobrem,
  • 30:23 - 30:27
    histórias para as quais se volta
    a encontrar significado.
  • 30:28 - 30:32
    Encontros. São histórias
    de encontros.
  • 30:32 - 30:34
    Quando a vida se torna difícil,
  • 30:34 - 30:39
    voltamo-nos a encontrar com a
    verdade dos que temos ao redor.
  • 30:39 - 30:42
    E porque é que nos voltamos
    a reencontrar?
  • 30:43 - 30:46
    Porque estivemos muitos
    momentos juntos, a falar,
  • 30:46 - 30:47
    de falarmos sós os dois,
  • 30:48 - 30:52
    de dizermos coisas que se calhar
    não nos tínhamos dito.
  • 30:52 - 31:00
    Quando um cuidador ou cuidadora
    diz a uma pessoa doente:
  • 31:01 - 31:02
    "teria voltado a escolher-te,
  • 31:02 - 31:06
    mesmo sabendo tudo o que
    íamos passar juntos".
  • 31:07 - 31:11
    E mesmo sabendo-o, voltaria
    a escolher-te outra vez
  • 31:11 - 31:14
    para viver esta parte
    da minha vida contigo.
  • 31:14 - 31:17
    Sentiu-me muito próxima,
    sentiu-me presente.
  • 31:17 - 31:20
    Sentiu o meu carinho,
    sentiu, sentia-o.
  • 31:20 - 31:22
    Dizia-me: "Eu não sabia que
    gostavas tanto de mim".
  • 31:23 - 31:33
    A cada momento vem o meu filho,
    a minha nora e estou na cama.
  • 31:35 - 31:37
    Estou na cama
  • 31:39 - 31:41
    E não sabem se estou a dormir
    ou se estou acordado
  • 31:42 - 31:46
    e abraça-se a mim e dá-me um beijo.
  • 31:48 - 31:49
    Dá-me um beijo.
  • 31:58 - 31:59
    Meu Deus!
  • 32:04 - 32:05
    Isso vale muito.
  • 32:07 - 32:11
    Cada pessoa é diferente. E por
    isso é também uma adaptação
  • 32:11 - 32:15
    a um conhecimento das necessidades
    daquela pessoa.
  • 32:16 - 32:18
    Mas pode-se sempre preguntar.
  • 32:19 - 32:21
    Há alguma coisa em que achas
    que te possa ajudar?
  • 32:22 - 32:25
    Acompanhar simplesmente,
    estando ali, disponível.
  • 32:26 - 32:29
    Pode haver uma mudança e
    às vezes apenas é preciso
  • 32:30 - 32:35
    que a outra pessoa
    saiba que estás ali.
  • 32:36 - 32:44
    Ou seja, não se trata de dizer
    nada, trata-se de ouvir.
  • 32:45 - 32:47
    Precisava de estar sozinho e
    passava muito tempo sozinho,
  • 32:47 - 32:53
    mas não se incomodava
    se eu lá estivesse.
  • 32:53 - 32:57
    Ou seja, se eu me aproximava
    e simplesmente dávamos a mão
  • 32:57 - 33:01
    e ficávamos em silêncio,
    ele agradecia muitíssimo.
  • 33:02 - 33:06
    Mais do que dizer, eu recordava-lhe,
    o ver do sol em cada manhã,
  • 33:07 - 33:10
    e dizia: outro dia que vejo o
    sol, outro dia que amanheceu.
  • 33:11 - 33:15
    O que vos dizia antes, sobre
    a luz ser tão importante.
  • 33:15 - 33:19
    O acompanhante tem a oportunidade
    de se reconciliar
  • 33:19 - 33:22
    e fechar também a etapa que
    viveu junto do doente.
  • 33:23 - 33:28
    Queria dizer que sim,
    é muito importante
  • 33:29 - 33:33
    que nos possamos despedir
    de uma pessoa
  • 33:33 - 33:37
    que sabemos que vai falecer;
    se passarem por essa situação,
  • 33:37 - 33:38
    é bom que se despeçam dela
  • 33:38 - 33:40
    que comuniquem com ela
  • 33:41 - 33:43
    e com o resto da família.
  • 33:43 - 33:46
    Parece-me importante para que
    quando essa pessoa falte
  • 33:46 - 33:48
    se lide melhor com situação.
  • 33:48 - 33:51
    O acompanhante pode prestar
    atenção ao cuidado da sua
  • 33:51 - 33:55
    própria situação interna para
    que possa dar o melhor de si.
  • 33:55 - 33:58
    Essas ferramentas foram
    muito úteis para mim.
  • 33:59 - 34:03
    Todo o trabalho com a atenção,
    com a reconciliação.
  • 34:03 - 34:07
    E nos últimos tempos, todo o trabalho
    com cerimónias, com pedidos.
  • 34:10 - 34:12
    Aprender a retirar carga
    dramática às situações.
  • 34:13 - 34:15
    Aprender a rir-se num dado momento,
  • 34:15 - 34:17
    inclusivamente na adversidade.
  • 34:18 - 34:21
    Uma característica que ele tinha,
    e de que toda a família partilha,
  • 34:21 - 34:22
    é o sentido de humor.
  • 34:23 - 34:26
    Isso parece-me muito importante
    no processo pelo qual passámos,
  • 34:26 - 34:28
    foi muito importante.
  • 34:28 - 34:30
    Para as pessoas que estão como eu?
  • 34:31 - 34:34
    Levantem-se de manhã, riam muito,
  • 34:34 - 34:37
    contem anedotas e não liguem
    ao que os outros pensam.
  • 34:38 - 34:40
    E acabou-se. E no dia
    em que morrermos,
  • 34:40 - 34:42
    que me enterrem para
    não cheirar mal.
  • 34:43 - 34:46
    A pessoa está viva e precisa
    que os que estão ao redor
  • 34:46 - 34:50
    a tratem como viva, não como
    uma pessoa que vai morrer.
  • 34:51 - 34:53
    Depois vou à escola de adultos,
  • 34:53 - 34:56
    às três da tarde. Falo
    com um, falo com outro.
  • 34:56 - 34:59
    Hoje, por ser sexta, quando
    se acaba a escola, vamos
  • 34:59 - 35:02
    ao café, a nossa segunda casa.
    E tomamos o nosso cafezinho.
  • 35:03 - 35:06
    Falamos, rimos, de tudo.
    E assim passo o tempo.
  • 35:06 - 35:08
    O mais satisfatória possível,
  • 35:08 - 35:12
    no sentido de não
    o obrigar a comer.
  • 35:12 - 35:15
    Se quisesse comer que comesse,
    senão, não havia problema.
  • 35:15 - 35:18
    No fim, custava-lhe muito
    comer, alimentar-se
  • 35:18 - 35:21
    e eu passava a vida na cozinha
  • 35:21 - 35:22
    tentando fazer pratos diferentes
  • 35:22 - 35:24
    para ver qual o mais adequado...
  • 35:24 - 35:28
    em vez de estar mais atenta
    a outras coisas que me dizia,
  • 35:28 - 35:33
    estar mais atenta ao seu
    cansaço, ao esgotamento,
  • 35:33 - 35:38
    a que já não aguentava mais, perdia
    tempo com outras coisas.
  • 35:38 - 35:44
    Este tempo de convivência,
    de partilha, realmente
  • 35:44 - 35:49
    eu diria que ajuda muito.
  • 35:51 - 35:53
    É uma oportunidade de
    crescimento interno,
  • 35:54 - 35:58
    de aprendizagem e de ganhar
    coerência pessoal.
  • 36:10 - 36:12
    Mas quando a doença nos para,
  • 36:12 - 36:14
    de repente começam a surgir
    muitas perguntas.
  • 36:14 - 36:17
    Perguntas relacionadas com
    algo tão simples como
  • 36:17 - 36:21
    "Porque é que me acontece a
    mim?" "Era o momento certo?"
  • 36:22 - 36:24
    porque parece que era uma idade
    na qual talvez não se esperasse
  • 36:24 - 36:28
    estar imobilizado pela doença
    ou estar próximo da morte.
  • 36:28 - 36:32
    Ou perguntamo-nos se tivemos
    uma vida razoavelmente boa,
  • 36:32 - 36:33
    tentando fazer o bem à nossa volta.
  • 36:34 - 36:37
    E sentimos que a vida nos trata
    injustamente com estas doenças.
  • 36:38 - 36:40
    Estamos num cenário onde aparecem
  • 36:40 - 36:41
    perguntas pelo sentido,
  • 36:42 - 36:43
    perguntas pelos valores,
  • 36:44 - 36:47
    também perguntas sobre
    se me encontro em paz
  • 36:48 - 36:51
    na minha relação com os outros,
    na relação comigo mesmo
  • 36:51 - 36:53
    ou na relação com um
    ser transcendente.
  • 36:54 - 36:58
    Qualquer pessoa, independentemente
    das suas crenças ou ateísmo,
  • 36:58 - 37:01
    pode sentir necessidade
    de se reconciliar
  • 37:01 - 37:03
    ou de dar sentido à sua vida.
  • 37:03 - 37:05
    Gostaria de clarificar que
    a dimensão espiritual
  • 37:06 - 37:08
    nem sempre tem um
    conteúdo religioso.
  • 37:08 - 37:11
    Mais, em muitos casos há pessoas
  • 37:12 - 37:14
    que têm uma vivência espiritual
  • 37:14 - 37:16
    sem uma aproximação ao religioso.
  • 37:16 - 37:21
    Todas as pessoas têm uma visão
    espiritual das coisas,
  • 37:21 - 37:25
    ainda que nem sempre seja reconhecida,
    nem sempre lhe demos nome,
  • 37:25 - 37:28
    porque essas dimensões que
    têm os seres humanos,
  • 37:28 - 37:31
    que aparecem, mas que normalmente
    caminhamos com elas
  • 37:31 - 37:33
    é como o ar que também não vemos,
  • 37:33 - 37:35
    sabemos que existe e
    que nos ajuda a viver.
  • 37:36 - 37:39
    O preconceito ou a timidez no
    momento de falar destes temas
  • 37:39 - 37:42
    podem bloquear algo que é
    fundamental ter em conta.
  • 37:43 - 37:45
    Às vezes o problema está
    no próprio cuidador,
  • 37:45 - 37:47
    que não ousa falar disso,
  • 37:47 - 37:49
    porque sabe que significa
    entrar numa situação
  • 37:49 - 37:53
    de comunicação profunda e, às
    vezes, de comunicação dolorosa,
  • 37:53 - 37:55
    porque tem a ver com "despedir-se",
  • 37:55 - 37:57
    tem a ver com o fim.
  • 37:58 - 38:01
    Não se trata de fazer uma terapia
    ou direção espiritual.
  • 38:01 - 38:03
    Sabes o que não me ajuda?
  • 38:04 - 38:10
    Quando as pessoas querem
    impor as suas crenças,
  • 38:11 - 38:14
    a sua forma de ver a vida.
  • 38:14 - 38:16
    Por exemplo, a religião.
  • 38:17 - 38:19
    Eu sou agnóstico, por exemplo,
  • 38:20 - 38:24
    e respeito muito os
    que têm uma religião.
  • 38:24 - 38:26
    Respeito-os muito, realmente,
  • 38:26 - 38:29
    mas não sou nada religioso.
  • 38:30 - 38:35
    Prefiro ver a morte, desde
    fora do âmbito da religião.
  • 38:35 - 38:38
    Trata-se de acompanhar enquanto
    o próprio doente
  • 38:38 - 38:42
    vai encontrando os seus temas
    e argumentos particulares.
  • 38:43 - 38:49
    Então, entrou o sol, fechou
    os olhos e disse,
  • 38:49 - 38:54
    estou na praia do céu, ao solzinho.
  • 38:55 - 38:57
    Isso vai ajudar, sobretudo,
    a não bloquear.
  • 38:58 - 39:02
    Isto acontece-nos no plano emocional
    e também no espiritual.
  • 39:02 - 39:05
    Ou seja, a importância
    no acompanhamento,
  • 39:05 - 39:08
    que a pessoa possa pôr em palavras
    tudo o que está viver.
  • 39:09 - 39:11
    Explorar seria a palavra
    chave para acompanhar.
  • 39:12 - 39:15
    Porque ao explorar, permite-se
    que o outro expresse as dúvidas,
  • 39:15 - 39:19
    as inquietudes, os recursos,
    as capacidades, os medos.
  • 39:19 - 39:23
    Creio que essa é a forma mais
    fundamental de acompanhar.
  • 39:24 - 39:31
    Quando a Victoria morreu, podem imaginar,
    a minha dor foi tremenda.
  • 39:32 - 39:36
    Emocionalmente, estava destroçada
    porque não parava de chorar,
  • 39:37 - 39:45
    mas aconteceu algo impressionante
    e essa experiência,
  • 39:45 - 39:49
    esse registo que comentava antes,
    de que as pessoas me aconchegavam.
  • 39:50 - 39:53
    Eu sentia-me aconchegada,
    protegida,
  • 39:53 - 39:56
    senti-o do mesmo modo
    mas a partir de dentro,
  • 39:56 - 40:00
    havia algo que me acompanhava.
  • 40:01 - 40:03
    Não sei... a vida.
  • 40:04 - 40:05
    Era uma sensação de sentido,
  • 40:09 - 40:12
    de que a vida estava comigo
    e que a vida continuava connosco,
  • 40:12 - 40:14
    e que a vida me apoiava
    nesse momento
  • 40:14 - 40:19
    mais do que em qualquer outro
    momento da minha vida
  • 40:20 - 40:21
    e de todo este processo.
  • 40:23 - 40:25
    Muitas pessoas acham que não podem
    ajudar os entes queridos,
  • 40:26 - 40:28
    porque não sabem o que
    fazer, o que dizer,
  • 40:29 - 40:31
    porque manifestam os seus temores
  • 40:31 - 40:34
    e pensam que não tem
    nada a oferecer.
  • 40:34 - 40:36
    Mas o simples facto de escutar
  • 40:36 - 40:39
    e acompanhar é já uma grande ajuda.
  • 40:40 - 40:41
    Quando as pessoas se sentem,
  • 40:41 - 40:44
    e nós nos sentimos,
    escutados, acolhidos,
  • 40:44 - 40:46
    nesses processos é como se
    se libertasse o espírito,
  • 40:46 - 40:48
    como se se libertasse a alma.
  • 40:48 - 40:51
    E isso é uma autentica
    maravilha, é uma dádiva.
  • 40:51 - 40:55
    Por outro lado, não se trata apenas
    da ajuda dada pelo acompanhante.
  • 40:56 - 40:59
    Sinto-me orgulhoso sobretudo
    por, nestes últimos tempos,
  • 40:59 - 41:01
    ter-lhes dado a tranquilidade
  • 41:01 - 41:06
    para que eles possam enfrentar
    isto com mais sossego,
  • 41:06 - 41:11
    que eles não tenham
    esse medo da morte.
  • 41:11 - 41:14
    Eu sei que para eles, sobretudo
    para os meus filhos,
  • 41:14 - 41:17
    é um tema muito forte, porque uma tem
    quinze e o outro vinte e um anos.
  • 41:17 - 41:22
    Mas eu sei que vão ser fortes
  • 41:22 - 41:25
    e vão saber enfrentar
  • 41:25 - 41:31
    e vão saber estar ao meu
    lado até ao último momento
  • 41:32 - 41:35
    e eu vou ficar-lhes
    extremamente grato.
  • 41:36 - 41:38
    Impressionante foi vê-lo,
    depois de todo o processo,
  • 41:38 - 41:40
    depois de ter morrido.
  • 41:40 - 41:43
    E ficou com uma paz...
  • 41:44 - 41:48
    Ficou com uma cara de alegria,
  • 41:48 - 41:50
    tinha cara de alegria.
  • 41:50 - 41:54
    Tinha um sorriso de tranquilidade
    e de alegria
  • 41:54 - 41:58
    que nos fazia felizes
  • 41:58 - 42:00
    por termos podido levar a cabo
  • 42:00 - 42:02
    entre todos o que ele
    tinha querido...
  • 42:06 - 42:08
    A proximidade do fim,
  • 42:08 - 42:11
    costuma implicar uma reconstrução
    da própria vida.
  • 42:11 - 42:14
    Valoriza-se o que se fez,
    o que se deixou de fazer...
  • 42:15 - 42:18
    Encontrar um significado para a
    vida, sentir que "valeu a pena",
  • 42:18 - 42:20
    ajuda a recompor a
    própria biografia
  • 42:21 - 42:23
    com base nas coisas mais positivas.
  • 42:24 - 42:29
    Poder assim reviver,
    de alguma maneira,
  • 42:29 - 42:32
    momentos que foram felizes.
  • 42:33 - 42:37
    Poder agradecer a quem quer
    que seja, ou a ninguém,
  • 42:38 - 42:41
    realmente este tempo
    passado juntos.
  • 42:42 - 42:45
    Recuperar as histórias
    de todas essas pessoas
  • 42:45 - 42:47
    que estão à nossa volta
  • 42:47 - 42:50
    e que, realmente, vale
    a pena escutar,
  • 42:51 - 42:54
    não só por ser benéfico
    para a outra pessoa,
  • 42:54 - 42:56
    estás a ajudá-la
  • 42:57 - 43:00
    a organizar a sua vida
  • 43:00 - 43:03
    e reconciliar-se com muitas coisas,
  • 43:03 - 43:05
    mas também para nós próprios...
  • 43:07 - 43:09
    porque nos transmite
    uma história de vida,
  • 43:10 - 43:11
    que a nós, com certeza,
  • 43:12 - 43:13
    nos vai ajudar em muitas ocasiões,
  • 43:13 - 43:16
    de facto, para mim é das
    coisas mais gratificantes
  • 43:16 - 43:18
    com que me deparei,
  • 43:18 - 43:21
    parte dessa pessoa fica em mim.
  • 43:21 - 43:23
    Também se faz uma
    revisão do legado,
  • 43:23 - 43:25
    o que se deixa a outros ao partir.
  • 43:26 - 43:29
    O que se fez pode continuar
    na família,
  • 43:29 - 43:30
    mas também se pode tratar
  • 43:30 - 43:33
    de um legado intelectual
    ou artístico,
  • 43:33 - 43:37
    de avanço social ou no âmbito
    profissional, etc.
  • 43:37 - 43:39
    Há pouco tempo, uma
    pessoa contava-me
  • 43:39 - 43:41
    que trabalhou muito
    em investigação.
  • 43:41 - 43:44
    Saber que tinha contribuído um
    pouco para a ciência implicava
  • 43:44 - 43:47
    que algo de si ia permanecer quando
    ele já cá não estivesse.
  • 43:48 - 43:51
    Estava, de algum modo, a transcender
    a sua própria experiência
  • 43:51 - 43:53
    mais além de si mesmo.
  • 43:53 - 43:55
    Esta também é uma dimensão chave.
  • 43:55 - 43:58
    Os cuidadores podem dizer
    à pessoa que está doente,
  • 43:59 - 44:02
    olha, quando tu não estiveres cá, vais
    continuar a estar de outra forma,
  • 44:03 - 44:06
    para nós foste um tesouro,
    foste uma dádiva.
  • 44:07 - 44:09
    Pode-se elaborar um documento,
  • 44:09 - 44:12
    um álbum, um testamento escrito,
  • 44:12 - 44:16
    uma gravação de vídeo
    ou de voz, ou seja,
  • 44:16 - 44:20
    um suporte físico onde
    registar as recordações.
  • 44:20 - 44:24
    Fez até um vídeo para a despedida.
  • 44:25 - 44:28
    Colocou as suas imagens
    e também imagens de nós
  • 44:28 - 44:30
    e colocou as suas canções.
  • 44:32 - 44:36
    Estávamos na casa mortuária e estávamos
    com ele, porque eu sabia
  • 44:36 - 44:40
    que o Carlos... estava com ele nos
    trabalhos que ele tinha realizado,
  • 44:41 - 44:42
    estava ali connosco.
  • 44:42 - 44:46
    Não queria que houvesse lágrimas...
  • 44:46 - 44:49
    A evocação e a expressão
    também se podem apoiar
  • 44:49 - 44:52
    em materiais como fotografias,
    música...
  • 44:55 - 44:58
    Esta fotografia é um
    dos maiores apoios
  • 44:58 - 45:02
    pelo qual o meu pai
    começou, e eu quis
  • 45:02 - 45:05
    que ele se apoiasse nas coisas
    positivas e construídas
  • 45:05 - 45:07
    e no seu propósito.
  • 45:07 - 45:10
    Ele tinha um propósito bem definido
    que era o de cuidar.
  • 45:10 - 45:12
    Ele cuidava de plantas, de
    animais, cuidou da família,
  • 45:12 - 45:15
    cuidou dos filhos e
    cumpriu esta missão.
  • 45:15 - 45:18
    Então disse para nos apoiarmos
    nas coisas positivas.
  • 45:18 - 45:20
    Acontece que nunca tínhamos
    agradecido ao meu pai
  • 45:20 - 45:23
    por tudo o que fez por nós desde
    que a minha mãe morreu.
  • 45:23 - 45:25
    Então, dedicamos-lhe este texto:
  • 45:25 - 45:28
    "Obrigado pelo teu esforço,
    por seres um lutador,
  • 45:28 - 45:31
    um exemplo para todos, por tomares
    as rédeas e cuidares desta família,
  • 45:32 - 45:34
    obrigado por tudo
    isto e muito mais".
  • 45:37 - 45:39
    Sente-se a necessidade
    de fechar o ciclo vital.
  • 45:41 - 45:43
    Também a reconciliação
    com outras pessoas
  • 45:43 - 45:46
    principalmente com aquelas
    de quem gostamos
  • 45:46 - 45:48
    mas com a vida... as
    coisas que fizemos
  • 45:49 - 45:51
    ou as coisas que deixamos por
    fazer, porque às vezes...
  • 45:52 - 45:56
    sentimos, como mudamos as
    prioridades nesses momentos
  • 45:57 - 46:00
    e preocupam-nos mais outras
    coisas mais fundamentais,
  • 46:01 - 46:05
    há ocasiões em que uma
    pessoa sente que não...
  • 46:06 - 46:08
    que não fez certas coisas
    que deveria ter feito
  • 46:09 - 46:11
    mas também valorizamos
    o que fizemos.
  • 46:12 - 46:14
    Para a pessoa que acompanha
    ou para os entes queridos
  • 46:14 - 46:16
    que acompanham esse doente,
  • 46:16 - 46:21
    também é importante despedir-se bem,
    resolver as coisas e reconciliar-se
  • 46:21 - 46:24
    ... porquê? Bem, porque
    a vida termina
  • 46:24 - 46:27
    mas a relação com essa
    pessoa vai continuar,
  • 46:27 - 46:32
    e isto ajuda a que o processo
    de luto seja mais fácil.
  • 46:32 - 46:35
    A única coisa importante,
    que é fundamental,
  • 46:35 - 46:37
    que é nuclear na vida das pessoas,
  • 46:37 - 46:39
    é podermo-nos sentir
    amados e poder amar.
  • 46:40 - 46:43
    É poder dizer, valeu a pena estar
    contigo e caminhar contigo,
  • 46:44 - 46:46
    termos caminhado juntos.
  • 46:48 - 46:52
    A proximidade da morte e o progressivo
    desapego pela vida,
  • 46:52 - 46:56
    pode colocar o doente em condições
    de aprofundar a sua experiência
  • 46:57 - 47:01
    tanto de comunicação com os outros,
    como sobre o sentido da sua vida
  • 47:01 - 47:03
    e a possibilidade
    da transcendência.
  • 47:04 - 47:06
    Eu acho que ele estava a preparar-se
    para esse momento.
  • 47:07 - 47:10
    E por isso acredito
    que esse silêncio,
  • 47:10 - 47:13
    raro nele, que nunca
    parava de falar,
  • 47:15 - 47:20
    era isso, o aceitar da sua
    partida, que ia embora.
  • 47:21 - 47:25
    Porque, como é óbvio, quando
    se dá um momento assim,
  • 47:25 - 47:28
    em que já esperas o teu fim,
    consideras muitas coisas.
  • 47:29 - 47:31
    E aí ele exteriorizou muita coisa.
  • 47:31 - 47:34
    Extremamente enriquecedor. Muito.
  • 47:35 - 47:38
    A morte não tem de ser necessariamente
    aterradora ou triste.
  • 47:39 - 47:41
    Transformando as condições,
  • 47:41 - 47:45
    muitas pessoas podem chegar a
    aceitá-la numa profunda paz.
  • 47:45 - 47:48
    Durante os dois anos,
    houve uma evolução,
  • 47:49 - 47:51
    em que eu próprio tenho
    dificuldade em acreditar.
  • 47:51 - 47:56
    Primeiro, o golpe,
    o impacto de saber
  • 47:56 - 48:01
    que me diagnosticaram uma
    doença destas, tão dura.
  • 48:03 - 48:08
    E depois foi, realmente,
    em menos de um ano,
  • 48:09 - 48:14
    admitir a doença com
    esta naturalidade.
  • 48:15 - 48:18
    Sem nenhum tipo de ansiedade,
  • 48:19 - 48:26
    nenhum tipo de medo do que pudesse
    advir, pelo contrário.
  • 48:27 - 48:29
    Sim. Esteve completamente
    tranquilo.
  • 48:29 - 48:34
    Foi uma morte muito suave.
  • 48:35 - 48:38
    Não fez nenhum tipo
    de gesto nem nada.
  • 48:39 - 48:42
    Bem. Muito tranquilo. Agarrando-o,
    agarrava-o fisicamente.
  • 48:42 - 48:46
    Eu coloquei a mão no seu peito,
  • 48:46 - 48:48
    peguei numa mão, o meu irmão
    pegou na outra mão.
  • 48:49 - 48:55
    Estávamos todos a acompanhá-lo.
  • 48:57 - 49:02
    E a minha irmã disse: "Pai, se
    soubesses que era tão fácil,
  • 49:02 - 49:04
    com certeza terias partido antes."
  • 49:10 - 49:13
    Em relação a esse momento,
    o que perceciono e que sinto
  • 49:13 - 49:16
    é que ele realmente
    morreu como queria.
  • 49:17 - 49:19
    E morreu em paz.
  • 49:19 - 49:26
    Essa placidez na morte foi muito
    facilitada pela equipa,
  • 49:27 - 49:29
    estando presente, sabendo
    atuar nesse momento.
  • 49:30 - 49:35
    E passou rapidamente
    da vida à morte em nada,
  • 49:35 - 49:37
    num suspiro.
  • 49:37 - 49:43
    Ele fechou os olhos e
    assim foi, assim foi.
  • 49:56 - 49:59
    Não identifico o acompanhamento
    do fim da vida
  • 49:59 - 50:01
    apenas como o acompanhamento
    nestes últimos meses,
  • 50:01 - 50:05
    neste caso três, mas sim
    os dois últimos anos.
  • 50:05 - 50:09
    Para mim, agradeço por ter tido
  • 50:09 - 50:13
    a oportunidade, nesses dois anos,
    de fazer todo o processo.
  • 50:13 - 50:18
    É a confirmação, por experiência,
    de que existe algo mais
  • 50:19 - 50:23
    do que o que vemos com estes olhos,
  • 50:23 - 50:25
    do que vejo com estes olhos
    e do que sinto com este...
  • 50:27 - 50:31
    talvez transcendência e
    a experiência de "nós".
  • 50:32 - 50:38
    Não acho que isto se pudesse ter
    sido ultrapassado sem o apoio,
  • 50:40 - 50:46
    a ligação, a união entre tantas
    pessoas que me acompanharam.
  • 50:47 - 50:50
    E, sem dúvida, não
    o trocaria por nada.
  • 50:51 - 50:54
    Mais, se tivesse de voltar
    a passar por isso,
  • 50:54 - 50:57
    imagino que voltaria a fazê-lo.
  • 50:58 - 51:01
    Sentir-me bem comigo mesma.
  • 51:01 - 51:03
    Ou seja, eu fiz tudo
    o que tinha que fazer.
  • 51:03 - 51:06
    Essa paz, essa tranquilidade de dizer,
    fiz tudo o que tinha que fazer.
  • 51:07 - 51:10
    Considero-me forte, mas não pensei
    que pudesse ser tão forte.
  • 51:10 - 51:14
    Mas quando uma pessoa se encontra
    numa situação assim,
  • 51:14 - 51:18
    nunca se sabe até onde vai chegar,
    até onde pode chegar.
  • 51:19 - 51:21
    Enfrentei a vida olhos nos olhos.
  • 51:21 - 51:27
    Enfrentei a vida olhos
    nos olhos e ...
  • 51:27 - 51:32
    dizer "Calhou-me viver
    isto e sigo em frente".
  • 51:32 - 51:36
    Foram momentos muito importantes
    na minha vida.
  • 51:37 - 51:39
    Foram momentos em
    que qualquer coisa,
  • 51:40 - 51:41
    pegar-lhe na mão simplesmente,
  • 51:42 - 51:45
    ou simplesmente passear no
    hospital pelo corredor,
  • 51:45 - 51:49
    ou qualquer coisa. Era viver
    as coisas muito intensamente.
  • 51:50 - 51:52
    A generosidade das pessoas
  • 51:52 - 51:55
    que me permitiram acompanhá-las
    nestes momentos.
  • 51:56 - 52:01
    Julgo que é realmente
    um ato de generosidade,
  • 52:01 - 52:05
    poder participar num momento
    importante das famílias.
  • 52:06 - 52:09
    Cada pessoa que morre
    e que eu tenha tratado,
  • 52:09 - 52:13
    claro, há uma parte de mim
    que vai com aquela pessoa.
  • 52:14 - 52:17
    Há uma parte de mim que pode ir.
  • 52:18 - 52:24
    Mas, não sei, o que te
    fica naquele momento,
  • 52:24 - 52:29
    de ter podido ajudar aquela pessoa,
    é tão grande que eu...
  • 52:29 - 52:36
    não sei, pensava que no coração
    não podia haver muitas pessoas.
  • 52:38 - 52:42
    Eu pensava que não podias
    amar tantas pessoas.
  • 52:42 - 52:46
    E a verdade é que,
    quanto mais amas,
  • 52:47 - 52:49
    mais pessoas cabem no teu coração.
  • 52:50 - 52:54
    A certa altura, eu
    decidi continuar.
  • 52:56 - 52:58
    Creio que dá muito sentido
    à minha vida.
  • 53:00 - 53:05
    Que me confronta menos com
    a minha própria morte,
  • 53:05 - 53:07
    ainda que pense na minha morte
  • 53:07 - 53:12
    ao estar presente muitas vezes
    na morte dos pacientes.
  • 53:13 - 53:17
    É uma escola de vida, não
    é uma escola de morte.
  • 53:17 - 53:19
    É uma escola de vida.
  • 53:19 - 53:24
    Porque eu não lido com corpos,
    lido com pessoas vivas.
  • 53:24 - 53:29
    Quando continuamente vemos pessoas
    a morrer e vemos como se despedem
  • 53:30 - 53:34
    como valorizam os detalhes,
    os momentos, os sorrisos.
  • 53:34 - 53:36
    Vemos tudo isso nos pacientes.
  • 53:37 - 53:39
    Aí começamos a valorizar,
    falo por mim,
  • 53:40 - 53:41
    o sentido das coisas
  • 53:41 - 53:44
    e a importância que têm as coisas
    na minha vida pessoal.
  • 53:45 - 53:48
    E o valor da vida
    e o valor de amar,
  • 53:49 - 53:51
    é o que aprendemos aqui, realmente
  • 53:51 - 53:53
    e não tem preço.
  • 53:53 - 53:57
    Dizem: "que horror, como
    podes trabalhar nisto?"
  • 53:57 - 54:00
    "Como podes estar nisto
    há quinze anos
  • 54:00 - 54:03
    e ir contente para o trabalho?
    Isto é horrível!"
  • 54:03 - 54:06
    "Todo o dia com a morte, todo
    o dia com a doença grave,
  • 54:06 - 54:08
    todo o dia com o sofrimento..."
  • 54:09 - 54:13
    E, realmente, há que dizer que
    quando mudas o ponto de vista,
  • 54:13 - 54:16
    quando aprendemos a ver os doentes
  • 54:16 - 54:18
    não como uma pessoa
    que tens de curar,
  • 54:18 - 54:21
    mas sim como uma pessoa
    a quem temos de ajudar,
  • 54:21 - 54:23
    de acompanhar no final da vida.
  • 54:23 - 54:26
    Vemos a utilidade de estar ali,
  • 54:26 - 54:29
    como médico e também como pessoa,
  • 54:29 - 54:32
    acompanhando-o, é tão
    gratificante que,
  • 54:32 - 54:37
    realmente nos ajuda a que o dia a
    dia seja muito mais gratificante
  • 54:37 - 54:39
    do que em muitas outras
    especialidades médicas.
  • 54:39 - 54:41
    E foi o que eu tentei fazer.
  • 54:41 - 54:45
    Viver a minha vida o melhor
    possível, ter uma família.
  • 54:45 - 54:50
    ter uma família que gosta de
    mim e da qual eu gosto também
  • 54:51 - 54:55
    e com isso estou mais do
    que satisfeito com a vida.
  • 54:56 - 54:58
    Estou satisfeito, satisfeito.
  • 54:59 - 55:02
    Por isso, a todos os que estiverem
    nas minhas circunstâncias,
  • 55:02 - 55:04
    envio um abraço
  • 55:05 - 55:07
    e espero receber o vosso também.
  • 55:09 - 55:12
    Sobretudo, fico com os sorrisos.
  • 55:12 - 55:15
    No meio da tristeza,
    no meio da pena
  • 55:16 - 55:19
    e no meio da dor emocional,
  • 55:19 - 55:25
    esse momento em que se cria uma
    ligação e nasce um sorriso.
  • 55:26 - 55:29
    O sorriso sereno dos doentes
    em muitos momentos.
  • 55:29 - 55:31
    Parece mentira, mas
  • 55:31 - 55:33
    as declarações de
    amor mais bonitas,
  • 55:33 - 55:39
    vi-as entre casais que se despedem.
  • 55:39 - 55:46
    Casais que se cuidam na
    última fase da doença.
Title:
Compañeros de Viaje
Description:

Versión completa de 56 minutos. Disponibles subtítulos en español e inglés.
Blog: compviaje.blogspot.com.es
El interés de este documental es ayudar a las personas que acompañan a sus seres queridos al final de la vida. Cuenta con información y testimonios tanto de profesionales de paliativos como de enfermos y acompañantes.

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Video Language:
Spanish, Argentinian
Duration:
56:39
Manuel Silva Afonso edited Portuguese subtitles for Compañeros de Viaje
Manuel Silva Afonso edited Portuguese subtitles for Compañeros de Viaje
Manuel Silva Afonso edited Portuguese subtitles for Compañeros de Viaje
Manuel Silva Afonso edited Portuguese subtitles for Compañeros de Viaje
Manuel Silva Afonso edited Portuguese subtitles for Compañeros de Viaje
Manuel Silva Afonso edited Portuguese subtitles for Compañeros de Viaje
Manuel Silva Afonso edited Portuguese subtitles for Compañeros de Viaje
Maggie S (Amara staff) edited Portuguese subtitles for Compañeros de Viaje
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